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sábado, 18 de junho de 2011

A VIDA DO APÓSTOLO PAULO



“Ele era um homem de pequena estatura”, afirmam os Atos de Paulo, escrito
apócrifo do segundo século, “parcialmente calvo, pernas arqueadas, de
compleição robusta, olhos próximos um do outro, e nariz um tanto curvo.”
Se esta descrição merecer crédito, ela fala um bocado mais a respeito desse
homem natural de Tarso, que viveu quase sete décadas cheias de
acontecimentos após o nascimento de Jesus. Ela se encaixaria no registro do
próprio Paulo de um insulto dirigido contra ele em Corinto. “As cartas, com efeito,
dizem, são graves e fortes; mas a presença pessoal dele é fraca, e a palavra
desprezível” (2 Co 10:10).
Sua verdadeira aparência teremos de deixar por conta dos artistas, pois não
sabemos ao certo. Matérias mais importantes, porém, demandam atenção - o que
ele sentia, o que ele ensinava, o que ele fazia.
Sabemos o que esse homem de Tarso chegou a crer acerca da pessoa e obra de
Cristo, e de outros assuntos cruciais para a fé cristã. As cartas procedentes de
sua pena, preservadas no Novo Testamento, dão eloqüente testemunho da
paixão de suas convicções e do poder de sua lógica. Aqui e acolá em suas cartas
encontramos pedacinhos de autobiografia. Também temos, nos Atos dos
Apóstolos, um amplo esboço das atividades de Paulo. Lucas, autor dos Atos, era
médico e historiador gentio do primeiro século. Assim, enquanto o teólogo tem
material suficiente para criar intérminos debates acerca daquilo em que Paulo
acreditava, o historiador dispõe de parcos registros. Quem se der ao trabalho de
escrever a biografia de Paulo descobrirá lacunas na vida do apóstolo que só
poderão ser preenchidas por conjeturas. A semelhança de um meteoro brilhante,
Paulo lampeja repentinamente em cena como um adulto numa crise religiosa,
resolvida pela conversão. Desaparece por muitos anos de preparação.
Reaparece no papel de estadista missionário, e durante algum tempo podemos
acompanhar seus movimentos através do horizonte do primeiro século. Antes de
sua morte, ele flameja até entrar nas sombras além do alcance da vista.
Sua Juventude:
Antes, porém, que possamos entender Paulo, o missionário cristão aos gentios, é
necessário que passemos algum tempo com Saulo de Tarso, o jovem fariseu.
Encontramos em Atos a explicação de Paulo sobre sua identidade: “Eu sou judeu,
natural de Tarso, cidade não insignificante da Cilícia” (At 21:39). Esta afirmação
nos dá o primeiro fio para tecermos o pano de fundo da vida de Paulo.
A) Da Cidade de Tarso. No primeiro século, Tarso era a principal cidade da
província da Cilícia na parte oriental da Ásia Menor. Embora localizada cerca de
16 km no interior, a cidade era um importante porto que dava acesso ao mar por
via do rio Cnido, que passava no meio dela. Ao norte de Tarso erguiam-se
imponentes, cobertas de neve, as montanhas do Tauro, que forneciam a madeira
que constituía um dos principais artigos de comércio dos mercadores tarsenses.
Uma importante estrada romana corria ao norte, fora da cidade e através de um
estreito desfiladeiro nas montanhas, conhecido como “Portas C-licianas”. Muitas
lutas militares antigas foram travadas nesse passo entre as montanhas.
Tarso era uma cidade de fronteira, um lugar de encontro do Leste e do Oeste, e uma
encruzilhada para o comércio que fluía em ambas as direções, por terra e por mar.
Tarso possuía uma preciosa herança. Os fatos e as lendas se entremesclavam,
tornando seus cidadãos ferozmente orgulhosos de seu passado.
O general romano Marco Antônio concedeu-lhe o privilégio de libera civitas
(“cidade livre”) em 42 a.C. Por conseguinte, embora fizesse parte de uma
província romana, era autônoma, e não estava sujeita a pagar tributo a Roma. As
tradições democráticas da cidade-estado grega de longa data estavam
estabelecidas no tempo de Paulo. Nessa cidade cresceu o jovem Saulo. Em seus
escritos, encontramos reflexos de vistas e cenas de Tarso de quando ele era
rapaz. Em nítido contraste com as ilustrações rurais de Jesus, as metáforas de
Paulo têm origem na vida citadina. O reflexo do sol mediterrânico nos capacetes e
lanças romanos teriam sido uma visão comum em Tarso durante a infância de
Saulo. Talvez fosse este o fundo histórico para a sua ilustração concernente à
guerra cristã, na qual ele insiste em que “as armas da nossa milícia não são
carnais, e, sim, poderosas em Deus, para destruir fortalezas” (2 Co 10:4).
Paulo escreve de “naufragar” (1 Tm 1:19), do “oleiro” (Rm 9:21), de ser conduzido
em “triunfo” (2 Co 2:14). Ele compara o “tabernáculo terrestre” desta vida a um
edifício de Deus, casa não feita por mãos, eterna, nos céus” (2 Co 5:1). Ele toma
a palavra grega para teatro e, com audácia, aplica-a aos apóstolos, dizendo: “nos
tornamos um espetáculo (teatro) ao mundo” (1 Co- 4:9).Tais declarações refletem
a vida típica da cidade em que Paulo passou os anos formativos da sua meninice.
Assim as vistas e os sons deste azafamado porto marítimo formam um pano de
fundo em face do qual a vida e o pensamento de Paulo se tornaram mais
compreensíveis. Não é de admirar que ele se referisse a Tarso como “cidade não
insignificante”.Os filósofos de Tarso eram quase todos estóicos. As idéias
estóicas, embora essencialmente pagãs, produziram alguns dos mais nobres
pensadores do mundo antigo. Atenodoro de Tarso é um esplêndido
exemplo.Embora Atenodoro tenha morrido no ano 7 d.C., quando Saulo não
passava de um menino pequeno, por muito tempo o seu nome permaneceu como
herói em Tarso. E quase impossível que o jovem Saulo não tivesse ouvido algo a
respeito dele.Quanto, exatamente, foi o contato que o jovem Saulo teve com esse
mundo da filosofia em Tarso? Não sabemos; ele não no-lo disse. Mas as marcas
da ampla educação e contato com a erudição grega o acompanham quando
homem feito. Ele sabia o suficiente sobre tais questões para pleitear diante de
toda sorte de homens a causa que ele representava. Também estava cônscio dos
perigos das filosofias religiosas especulativas dos gregos. “Cuidado que ninguém
vos venha a enredar com sua filosofia e vãs sutilezas, conforme a tradição dos
homens... e não segundo Cristo”,foi sua advertência à igreja de Colossos (Cl 2:8).
B) Cidadão Romano. Paulo não era apenas “cidadão de uma cidade não
insignificante”, mas também cidadão romano. Isso nos dá ainda outra pista para o
fundo histórico de sua meninice.
Em At 22:24-29 vemos Paulo conversando com um centurião romano e com um
tribuno romano. (Centurião era um militar de alta patente no exército romano com
100 homens sob seu comando; o tribuno, neste caso, seria um comandante
militar.) Por ordens do tribuno, o centurião estava prestes a açoitar Paulo. Mas o
Apóstolo protestou: “Ser-vos-á porventura lícito açoitar um cidadão romano, sem
estar condenado?” (At 22:25). O centurião levou a notícia ao tribuno, que fez mais
inquirição. A ele Paulo não só afirmou sua cidadania romana mais explicou como
se tornara tal: “Por direito de nascimento” (At 22:28). Isso implica que seu pai fora
cidadão romano.Podia-se obter a cidadania romana de vários modos. O tribuno,
ou comandante, desta narrativa, declara haver “comprado” sua cidadania por
“grande soma de dinheiro” (At 22:28). No mais das vezes, porém, a cidadania era
uma recompensa por algum serviço de distinção fora do comum ao Império
Romano, ou era concedida quando um escravo recebia a liberdade.
A cidadania romana era preciosa, pois acarretava direitos e privilégios especiais
como, por exemplo, a isenção de certas formas de castigo. Um cidadão romano
não podia ser açoitado nem crucificado.Todavia, o relacionamento dos judeus
com Roma não era de todo feliz. Raramente os judeus se tornavam cidadãos
romanos. Quase todos os judeus que alcançaram a cidadania moravam fora da
Palestina.
C) De Descendência Judaica. Devemos, também, considerar a ascendência
judaica de Paulo e o impacto da fé religiosa de sua família. Ele se descreve aos
cristãos de Filipos como “da linhagem de Israel, da tribo de Benjamim, hebreu de
hebreus; quanto à lei, fariseu” (Fp 3:5). Noutra ocasião ele chamou a si próprio de
“israelita da descendência de Abraão, da tribo de Benjamim” (Rm 11:1).
Dessa forma Paulo pertencia a uma linhagem que remontava ao pai de seu povo,
Abraão. Da tribo de Benjamim saíra o primeiro rei de Israel, Saul, em
consideração ao qual o menino de Tarso fora chamado Saulo.
A escola da sinagoga ajudava os pais judeus a transmitir a herança religiosa de
Israel aos filhos. O menino começava a ler as Escrituras com apenas cinco anos
de idade. Aos dez, estaria estudando a Mishna com suas interpretações
emaranhadas da Lei. Assim, ele se aprofundou na história, nos costumes, nas
Escrituras e na língua do seu povo. O vocabulário posterior de Paulo era
fortemente colorido pela linguagem da Septuaginta, a Bíblia dos judeus
helenistas.
Dentre os principais “partidos” dos judeus, os fariseus eram os mais estritos (veja
o capítulo 5, “Os Judeus nos Tempos do Novo Testamento”). Estavam decididos
a resistir aos esforços de seus conquistadores romanos de impor-lhes novas
crenças e novos estilos de vida. No primeiro século eles se haviam tornado a
“aristocracia espiritual” de seu povo. Paulo era fariseu, “filho de fariseus” (At 23.6).
Podemos estar certos, pois, de que seu preparo religioso tinha raízes na lealdade
aos regulamentos da Lei, conforme a interpretavam os rabinos. Aos treze anos
ele devia assumir responsabilidade pessoal pela obediência a essa Lei.
Saulo de Tarso passou em Jerusalém sua virilidade “aos pés de Gamaliel”, onde
foi instruído “segundo a exatidão da lei.“ (At 22:3). Gamaliel era neto de Hillel, um
dos maiores rabinos judeus. A escola de Hilel era a mais liberal das duas
principais escolas de pensamento entre os fariseus. Em Atos 5:33-39 temos um
vislumbre de Gamaliel, descrito como “acatado por todo o povo”.
Exigia-se dos estudantes rabínicos que aprendessem um ofício de sorte que
pudessem, mais tarde, ensinar sem tornar-se um ônus para o povo. Paulo
escolheu uma indústria típica de Tarso, fabricar tendas de tecido de pêlo de
cabra. Sua perícia nessa profissão proporcionou-lhe mais tarde um grande
incremento em sua obra missionária. Após completar seus estudos com Gamaliel,
esse jovem fariseu provavelmente voltou para sua casa em Tarso onde passou
alguns anos. Não temos evidência de que ele se tenha encontrado com Jesus ou
que o tivesse conhecido durante o ministério do Mestre na terra. Da pena do
próprio Paulo bem como do livro de Atos vem-nos a informação de que depois ele
voltou a Jerusalém e dedicou suas energias à perseguição dos judeus que
seguiam os ensinamentos de Jesus de Nazaré. Paulo nunca pôde perdoar-se
pelo ódio e pela violência que caracterizaram sua vida durante esses anos.
“Porque eu sou o menor dos apóstolos”, escreveu ele mais tarde, “ pois persegui
a igreja de Deus” (1 Co 15:9). Em outras passagens ele se denomina
“perseguidor da igreja” (Fp 3:6), “como sobremaneira eu perseguia a igreja de
Deus e a devastava” (Gl 1:13).
Uma referência autobiográfica na primeira carta de Paulo a Timóteo jorra alguma
luz sobre a questão de como um homem de consciência tão sensível pudesse
participar dessa violência contra o seu próprio povo. “em outro tempo era
blasfemo e perseguidor e insolente. Mas obtive misericórdia, pois o fiz na
ignorância, na incredulidade” (1 Tm 1:13). A história da religião está repleta de
exemplos de outros que cometeram o mesmo erro. No mesmo trecho, Paulo
refere a si próprio como “o principal” dos pecadores”(1 T 1:15), sem dúvida
alguma por ter ele perseguido a Cristo e seus seguidores.
D) A Morte de Estevão. Não fora pelo modo como Estevão morreu (At 7:54-60), o
jovem Saulo podia ter deixado a cena do apedrejamento sem comoção alguma,
ele que havia tomado conta das vestes dos apedrejadores. Teria parecido apenas
outra execução legal.Mas quando Estevão se ajoelhou e as pedras martirizantes
choveram sobre sua cabeça indefensa, ele deu testemunho da visão de Cristo na
glória, e orou: “Senhor, não lhes imputes este pecado” (Atos 7:60).
Embora essa crise tenha lançado Paulo em sua carreira como caçador de
hereges, é natural supor que as palavras de Estevão tenham permanecido com
ele de sorte que ele se tornou “caçado” também —caçado pela consciência.
E) Uma Carreira de Perseguição. Os eventos que se seguiram ao martírio de
Estevão não são agradáveis de ler. A história é narrada num só fôlego: “Saulo,
porém, assolava a igreja, entrando pelas casas e, arrastando homens e mulheres,
encerrava-os no cárcere” (Atos 8:3).
Sua Conversão:
A perseguição em Jerusalém na realidade espalhou a semente da fé. Os crentes
se dispersaram e em breve a nova fé estava sendo pregada por toda a parte (cf.
Atos 8:4). “Respirando ainda ameaças e morte contra os discípulos do Senhor”
(Atos 9:1), Saulo resolveu que já era tempo de levar a campanha a algumas das
“cidades estrangeiras” nas quais se abrigaram os discípulos dispersos. O
comprido braço do Sinédrio podia alcançar a mais longínqua sinagoga do império
em questões de religião. Nesse tempo, os seguidores de Cristo ainda eram
considerados como seita herética.
Assim, Saulo partiu para Damasco, cerca de 240 km distante, provido de
credenciais que lhe dariam autoridade para, encontrando os “que eram do
caminho, assim homens como mulheres, os levasse presos para Jerusalém”
(Atos 9:2).
Que é que se passava na mente de Saulo durante a viagem, dia após dia, no pó
da estrada e sob o calor escaldante do sol? A auto-revelação intensamente
pessoal de Romanos 7:7-13 pode dar-nos uma pista. Vemos aqui a luta de um
homem consciencioso para encontrar paz mediante a observância de todas as
pormenorizadas ramificações da Lei.
Isso o libertou? A resposta de Paulo, baseada em sua experiência, foi negativa.
Pelo contrário, tornou-se um peso e uma tensão intoleráveis. A influência do
ambiente helertístico de Tarso não deve ser menosprezada ao tentarmos
encontrar o motivo da frustração interior de Saulo. Depois de seu retorno a
Jerusalém, ele deve ter achado irritante o rígido farisaísmo, muito embora
professasse aceitá-lo de todo o coração. Ele havia respirado ar mais livre durante
a maior parte de sua vida, e não poderia renunciar à liberdade a que estava
acostumado.
Contudo, era de natureza espiritual o motivo mais profundo de sua tristeza. Ele
tentara guardar a Lei, mas descobrira que não poderia fazê-lo em virtude de sua
natureza pecaminosa decaída. De que modo, pois, poderia ele ser reto para com
Deus?
Com Damasco à vista, aconteceu uma coisa momentosa. Num lampejo cegante,
Paulo se viu despido de todo o orgulho e presunção, como perseguidor do
Messias de Deus e do seu povo. Estevão estivera certo, e ele errado. Em face do
Cristo vivo, Saulo capitulou. Ele ouviu uma voz que dizia: “Eu sou Jesus, a quem
tu persegues;. . . levanta-te, e entra na cidade, onde te dirão o que te convém
fazer” (At 9:5-6). E Saulo obedeceu.
Durante sua estada na cidade, “Esteve três dias sem ver, durante os quais nada
comeu nem bebeu” (Atos 9:9). Um discípulo residente em Damasco, por nome
Ananias, tornou-se amigo e conselheiro, um homem que não teve receio de crer
que a conversão de Paulo’ fora autêntica. Mediante as orações de Ananias, Deus
restaurou a vista a Paulo.
Sua Personalidade:
As epístolas de Paulo são o espelho de sua alma. Revelam seus motivos íntimos,
suas mais profundas paixões, suas convicções fundamentais. Sem a
sobrevivência das cartas de Paulo, ele seria para nós uma figura vaga, confusa.
Paulo estava mais interessado nas pessoas e no que lhes acontecia do que em
formalidades literárias.À medida que lemos os escritos de Paulo, notamos que
suas palavras podem vir aos borbotões, como no primeiro capítulo da carta aos
Gálatas. As vezes ele irrompe abruptamente para mergulhar numa nova linha de
pensamento. Nalguns pontos ele toma um longo fôlego e dita uma sentença
quase sem fim. Temos em 2 Co 10:10 uma pista de como as epístolas de Paulo
eram recebidas e consideradas. Mesmo seus inimigos e críticos reconheciam o
impacto do que ele tinha para dizer, pois sabemos que comentavam: “As cartas,
com efeito, dizem, são graves e fortes.(2 Co 10:10).
Líderes fortes, como Paulo, tendem a atrair ou repelir os que eles buscam
influenciar. Paulo tinha tanto seguidores devotados quanto inimigos figadais.
Como conseqüência, seus contemporâneos mantinham opiniões variadíssimas a
seu respeito. Os mais antigos escritos de Paulo antedata a maioria dos quatro
Evangelhos. Refletem-no como um homem de coragem (2 Co 2:3), de integridade
e elevados motivos (v. 4-5), de humildade (v. 6), e de benignidade (v. 7).
Paulo sabia diferençar entre sua própria opinião e o “mandamento do Senhor” (1
Co 7:25). Era humilde bastante para dizer “segundo minha opinião” sobre alguns
assuntos (1 Co 7:40). Ele estava bem cônscio da urgência de sua comissão (1 Co
9:16-17), e do fato de não estar fora do perigo de ser “desqualificado” por
sucumbir à tentação (1Co 9.27). Ele se recorda com pesar de que outrora
perseguia a Igreja de Deus (1Co 15.9).
Leia o capítulo 16 da carta aos Romanos com especial atenção à atitude
generosa de Paulo para com os seus colaboradores. Ele era um homem que
amava e prezava as pessoas e tinha em alto apreço a comunhão dos crentes. Na
carta aos Colossenses vemos quão afetivo e amistoso Paulo poderia ser, mesmo
com cristãos com os quais ainda não se havia encontrado. “Gostaria, pois, que
saibais, quão grande luta venho mantendo por vós...e por quantos não me viram
face a face”, escreve ele (Cl 2:1).
Na carta aos Colossenses lemos também a respeito de um homem chamado
Onésimo, escravo fugitivo (Cl 4:9; Fm 10), que evidentemente havia acrescentado
ao furto o crime de abandonar o seu dono, Filemom. Agora Paulo o havia
conquistado para a fé cristã e o persuadira de voltar ao seu senhor. Mas
conhecendo a severidade do castigo imposto aos escravos fugitivos, o apóstolo
desejava convencer a Filemom a tratar Onésimo como irmão. Aqui vemos Paulo,
o reconciliador. E tudo isso ele fez a favor de um homem que estava no degrau
mais baixo da escada da sociedade romana. Contraste essa atitude com o
comportamento do jovem Saulo guardando as vestes dos apedrejadores de
Estevão. Observe quão profundamente Paulo havia mudado em sua atitude para
com as pessoas. Nesses escritos vemos Paulo como amigo generoso, afetivo, um
homem de grande fé e coragem mesmo em face de circunstâncias extremas. Ele
estava totalmente comprometido com Cristo, quer na vida, quer na morte. Seu
testemunho é profundamente firmado nas realidades espirituais: “Tanto sei estar
humilhado, como também ser honrado; de tudo e em todas as circunstâncias já
tenho experiência, tanto de fartura, como de fome; assim de abundância, como de
escassez; tudo posso naquele que me fortalece” (Fp 4:12-13).
Seu Ministério
Paulo começou, na sinagoga de Damasco, a dar testemunho de sua fé recémencontrada.
O tema de sua mensagem concernente a Jesus era: “Este é o Filho
de Deus” (At 9:20). Mas Paulo tinha de aprender amargas lições antes que
pudesse apresentar-se como líder cristão confiável e eficiente. Descobriu que as
pessoas não se esquecem com facilidade; os erros do homem podem persegui-lo
por um longo tempo, mesmo depois que ele os tenha abandonado. Muitos dos
discípulos suspeitavam de Paulo, e seus ex-companheiros de perseguições o
odiavam. Ele pregou por breve tempo em Damasco, foi-se para a Arábia e depois
voltou para Damasco. A segunda tentativa de Paulo de pregar em Damasco
igualmente não teve bom resultado. Um ano ou dois haviam decorrido desde a
sua conversão, mas os judeus se lembravam de como ele havia desertado de sua
primeira missão em Damasco. O ódio contra ele inflamou-se de novo e
“deliberaram entre si tirar-lhe a vida” (At 9:23). A dramática história da fuga de
Paulo por sobre a muralha, num cesto, tem prendido a imaginação de muitos.
Os dias de preparação de Paulo não estavam terminados. O relato que ele faz
aos gálatas continua, dizendo: “Decorridos três anos, então subi a Jerusalém.“(Gl
1:18). Ali ele encontrou a mesma hostil recepção que teve em Damasco. Uma vez
mais foi obrigado a fugir. Paulo desapareceu por alguns anos. Esses anos que ele
passou escondido deram-lhe convicções amadurecidas e estatura espiritual de
que ele necessitaria em seu ministério. Em Antioquia, os gentios estavam sendo
convertidos a Cristo. A Igreja em Jerusalém teve de decidir como cuidar desses
novos crentes. Foi então que Barnabé se lembrou de Paulo e se dirigiu a Tarso à
sua procura (At 11:25). Barnabé já tinha sido instrumento na apresentação de
Paulo em Jerusalém, num esforço por afastar suspeita contra ele.
A esses dois homens foi confiada a tarefa de levar socorro à Judéia onde os
seguidores de Jesus estavam passando fome. Quando Barnabé e Paulo voltaram
a Antioquia, missão cumprida, trouxeram consigo o jovem João, apelidado
Marcos, sobrinho de Barnabé (At 12:25).
Suas Viagens Missionárias
Deus nos manda fazer missões e além disso ordenou que fosse registrada em
sua Palavra, as viagens missionárias, principalmente as do apóstolo Paulo, para
que todos possam visualizar uma viagem missionária e todas as possíveis
atividades de um obreiro no campo missionário.
1ª Viagem
1. Partindo de Antioquia- Barnabé foi o companheiro de Paulo na sua
primeira viagem missionária que durou cerca de dois anos (entre 46 e 48 d.C) O
objetivo deles era fundar igrejas. Começaram na ilha de Chipre; logo entraram no
continente, passando por Perge e Panfilia, indo imediatamente para Antioquia da
Psídia na Galácia do Sul.
2. Antioquia da Pisídia- Nessa cidade Paulo e Barnabé começaram a pregar
numa sinagoga (At. 13.14). Unas creram e receberam a palavra, isistindo que
Paulo retornasse no sábado seguinte para continuar o assunto. O número dos
assistentes foi grande no sábado seguinte, e isso causou inveja nos judeus,
resultando em perseguição. Paulo e Barnabé foram expulsos da cidade.(At.
13.42-46).
3. Listra, Icônio e Derbe- A cura de um coxo em Listra serviu como ponto de
apoio para a pregação do evangelho (At. 14.8-10). Depois disso Paulo e Barnabé
foram para Derbe (At 14.20), e retornaram para o ponto de partida, visitando as
igrejas em Listra, Icônio e Antioquia da Pisídia (At. 14.22) e estabelecendo
obreiros nativos, fruto do trabalho missionário.
2ª Viagem
1. Objetivo da segunda viagem- Na Segunda Viagem, Silas foi
companheiro de Paulo. O objetivo era duplo, revisitar as igrejas de Galácia do sul,
que Paulo fundara juntamente com Barnabé na primeira viagem (At. 1,36; 16.1-
6;Gl 1.2), e abrir novas frentes de trabalho, ou seja, fundar mais igrejas locais. O
apóstolo Paulo não pretendia ir para Ásia: “foram impedidos pelo Espírito Santo
de anunciar a Palavra na Ásia” (At. 16.6). Depois Paulo intentou ir para Bitínia,
mas novamente foi impedido (At16.17), sendo em seguida implusionado a rumar
para Troas.
2. As igrejas européias- O apóstolo Paulo visitou muitas cidades européias
do mundo grego, durante a sua segunda viagem. Aqui mencionamos apenas as
cidades que ele fundou igrejas. Em Filipos, começou a igreja na casa de Lídia
(At. 16.14,15,40); em Tessalônica, começou pregando numa sinagoga (At. 17.1.2)
e da mesma forma em Beréia (At. 17.10-12). Em Atenas o trabalho começou
numa sinagoga, e depois continuou nas praças e no centro acadêmico da cidade,
o aerópago (At. 17.17-19). Em Corinto teve início na Sinagoga, como sempre,
depois teve de sair dela, e foi para a casa de Tito justo, recebendo apoio de
Crispo, principal da sinagoga, que creu no Senhor Jesus (At.18.4-8). Essa viagem
durou cerca de três anos (entre 49 e 52 d.C).
3ª Viagem
1.A igreja de Éfeso- Seu propósito era visitar as igrejas para confirmar e
fortalecer os dicípulos (At. 18.22,23). Fez o mesmo caminho da segunda viagem:
Galácia do Sul, região frígio-gálata, chegando a Éfeso, onde havia estado no fim
de sua segunda viagem, ainda que tenha permanecido não mais que três dias na
cidade (At. 18.19-21). Na terceira viagem encontrou um grupo de 12 novos
convertidos, que conheciam apenas o batismo de João (At. 20.31). A viagem
durou cerca de quatro anos (entre 53 e 57 d.C).
2.A cidade de Éfeso- Capital da província romana da Ásia, era a cidade mais
importante da região e cruzamento de rotas comerciais. Nela estava o templo da
deusa Diana (At. 19.35), chamado pelos romanos de Ártemis, uma das setes
maravilhas do mundo antigo. Atualmente, a cidade está em ruínas, e encontra-se
localizada numa região da Anatólia, Tuquia.
4ªViagem
1.A viagem para Roma- Paulo partiu de Cesaréia Marítima, como
prisioneiro, pois havia apelado para César (At 25. 11; 26.32). Foi uma viagem
muito conturbada, por causa do mau tempo, e o apóstolo não perdeu a
oportunidade: evangelizou os demais presos e a tripulação do navio que, em
Malta, naufragou. Apesar dos danos materiais, ninguém pereceu. Nessa ilha, o
apóstolo fundou uma igreja. Depois embarcou para Roma, onde chegariam em 62
d.C. A viagem está registrada em Atos 27 e 28.
2.Paulo em Roma- Enquanto aguardava a audiência com Nero, o apóstolo
atendia os irmãos em casa alugada (At. 28.30).
Conclusão
A história de Paulo não termina aqui. O que se sabe, além, da interrupção que
Lucas faz de sua narrativa, são alguns detalhes que o apóstolo dá em suas cartas
ou então por intermédio dos escritos dos Pais da Igreja. Seu caso foi examinado e
ele foi absolvido. Nessa ocasião, se diz que ele cumpriu seu desejo de pregar na
Espanha (Rm. 15.28). Nas redondezas de Roma, fez um grande trabalho.
Como resultado das viagens de Paulo, surgiram igrejas na Ásia e Europa,
e com elas apareceram as epístolas, que ocupam um terço do Novo Testamento,
e o Cristianismo se tornou universal.

Fonte: A Vida do Apóstolo Paulo - Professor Marcos Gonçalves

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