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segunda-feira, 19 de dezembro de 2016

13ª lição do 4º trimestre de 2016: A FIDELIDADE A DEUS


Texto Base: Filipenses 4:10-20

"Posso todas as coisas naquele que me fortalece" (Fp.4:13).

INTRODUÇÃO

Com esta Aula concluímos o 4º Trimestre letivo de 2016. Aprendemos que, embora sejamos filhos de Deus, estamos sujeitos a enfrentar algumas crises em nossa caminhada. Lembremos que o deserto é a trajetória de nossa caminhada rumo à Pátria Celestial. Logo, enfrentamos momentos difíceis, mas Deus está conosco nos dando a vitória diante das intempéries; Ele está no controle de tudo. O Deus que sustentou o povo de Israel no deserto durante 40 anos, que sustentou Abraão e seus descendentes é o Deus que vai nos sustentar e ajudar-nos a enfrentar as adversidades da vida. O que Ele quer de nós? Certamente, fidelidade a Ele. O que é fidelidade? É a característica de quem tem bom caráter, é fiel e demonstra respeito por alguém e pelo compromisso assumido com outrem; é sinônimo de lealdade. Se Deus procura os fiéis da terra para que estejam com Ele, a fidelidade, entre outras virtudes, é algo que atrai a atenção de Deus. A vida de Paulo é um exemplo de como podemos vencer as crises e permanecer fiéis ao Senhor. A Epístola aos Filipenses nos dá uma visão clara sobre a fidelidade de Paulo a Deus, a despeito das circunstâncias adversas.

I. A FIDELIDADE DE PAULO EM MEIO ÀS CRISES

1. Destemor e ousadia. Paulo, durante 16 anos, após sua conversão, pregou no vale do Jordão, na Síria e na Cilícia. Foi especialmente perseguido pelos judeus, que o consideravam um grande traidor. Fez quatro grandes viagens missionárias, sendo que na última foi a Roma como prisioneiro, para ser julgado, e nunca mais retornou para a Judéia. Ele tinha consciência de sua missão, especialmente, no mundo gentio. Pregou a Palavra de Deus com zelo, destemor e ousadia, e não se deixou abater pelas dificuldades. Nada o demovia de pregar o Evangelho.

Paulo estava preso em Roma, no corredor da morte, na antessala do martírio, com o pé na sepultura, com o pescoço na guilhotina de Roma, mas escreve aos filipenses e diz: “E quero, irmãos, que saibais que as coisas que me aconteceram contribuíram para maior proveito do evangelho” Fp.1:12). O que aconteceu a Paulo que contribuiu para maior proveito do evangelho? Ele foi preso em Damasco, rejeitado em Jerusalém, esquecido em Tarso, apedrejado em Listra, açoitado em Filipos, escorraçado de Tessalônica e Beréia, foi chamado de tagarela em Atenas e de impostor em Corinto, enfrentou feras em Éfeso, foi preso em Jerusalém e acusado em Cesaréia, enfrentou um naufrágio em sua viagem para Roma, foi picado por uma víbora em Malta e chegou algemado na capital do império. Entretanto, ele olhou todas essas circunstâncias adversas com os olhos da submissão à vontade de Deus, dizendo que elas haviam contribuído para o progresso do evangelho.

Porque ele estava preso, a igreja foi mais encorajada a pregar – “e muitos dos irmãos no Senhor, tomando ânimo com as minhas prisões, ousam falar a palavra mais confiadamente, sem temor” (Fp.1:14).

Porque ele estava preso, a guarda pretoriana foi evangelizada - “De maneira que as minhas prisões em Cristo foram manifestas por toda a guarda pretoriana e por todos os demais lugares” (Fp.1:13).

Porque ele estava preso, escreveu Cartas que abençoaram o mundo inteiro. Das treze Epístolas que escreveu, cinco foram escritas na prisão, a saber: aos Efésios; aos Filipenses; aos Colossenses; Filemon e; 2Timóteo. Através destas Cartas, Paulo transmitiu às comunidades cristãs e aos seus discípulos uma fé fervorosa em Jesus Cristo, na sua morte e ressurreição. Deus espera de todos os verdadeiros líderes, obreiros e todos os cristãos autênticos que não se intimidem diante das perseguições, tribulações e crises.

2. Alegria em meio às crises. Paulo, embora fosse um prisioneiro, era muito feliz, e incentivava e ainda incentiva todos os crentes a se regozijarem em Cristo. Ainda que preso, oprimido por circunstâncias adversas, Paulo, na Epístola à Igreja de Filipos, irrompe em brados de alegria, revelando que a alegria verdadeira é imperativa, ultracircunstancial e cristocêntrica – “Alegrai-vos sempre no Senhor; outra vez vos digo: alegrai-vos” (Fp.4:4).

A Epístola aos Filipenses foi escrita na prisão, em Roma, e a nota dominante em toda a Carta é a alegria triunfante. A alegria apresentada envolve uma ardente expectativa da iminente volta de Cristo. O fato de essa expectativa ser dominante no pensamento de Paulo é observado em suas cinco referências à volta de Cristo, e em cada referência há uma nota de alegria (Fp.1:6,10; 2:16; 3:20; 4:5).

A alegria do cristão não é ausência de problemas nem está colocada em coisas; ela procede de Deus, é sustentada por Deus e consumada por Ele. O evangelho que nos alcançou é a boa-nova de grande alegria; o Reino de Deus que está dentro de nós é alegria no Espírito Santo; o fruto do Espírito é alegria. A ordem de Deus para nós é: "Alegrai-vos" (Fp.4:4). O mundo não pode dar nem tirar essa alegria, pois ela vem do Céu, vem de Deus. Não permitamos, portanto, que as crises enfraqueçam a nossa fé e roubem a nossa alegria.

3. Servindo a Deus em meio às crises. Paulo enfrentou muitas crises em sua vida pessoal e ministerial, mas em tudo ele foi fiel ao Senhor. Nenhuma crise, por mais aguda que ela se apresentasse, não arrefeceu o seu ânimo, o seu ministério. Ele trabalhou diuturnamente, sem intermitência, com saúde ou doente; em liberdade ou na prisão; na fartura ou passando necessidades. Jamais deixou de trabalhar pela causa de Cristo.

- Foi preso várias vezes. O Livro de Atos revela sua prisão em Filipos, em Jerusalém, em Cesaréia e em Roma. Paulo passou preso boa parte da sua atividade apostólica. Ele podia estar encarcerado, mas a Palavra de Deus não estava algemada. Era um embaixador em cadeias. Jamais se sentiu prisioneiro de homens, mas sempre prisioneiro de Cristo.

- Foi açoitado várias vezes pelos judeus. O Livro de Atos não é exaustivo em relatar os diversos açoites que Paulo sofreu. Temos informação que ele foi açoitado em Filipos, mas muitas outras vezes seu corpo foi surrado a ponto de dizer para os gálatas que trazia no corpo as marcas de Cristo (Gl.6:17). Cinco vezes recebeu dos judeus trinta e nove açoites, com base no modelo judaico exarado em Deuteronômio 25:2-5. Segundo o estudioso Fritz Rienecker, “a pessoa tinha as suas duas mãos presas a um poste e suas roupas eram removidas, de modo que seu peito ficava a descoberto. Com um chicote feito de uma correia de bezerro e duas de couro de jumento ligadas a um longo cabo, a pessoa recebia um terço das trinta e nove chicotadas no tórax e dois terços nas costas. Esse castigo era tão severo que muitos sucumbiam a ele”.

- Foi açoitado várias vezes pelos romanos. Paulo não foi apenas castigado pelos judeus, foi também castigado pelos romanos. Se a quarentena de açoites era um castigo judaico (Dt.25:1-3), fustigar com caras era um castigo romano. O Livro de Atos só relata os açoites que Paulo sofreu em Filipos, mas em 2Co.11:23b-25) Paulo nos informa que três vezes foi fustigado com varas.

- Foi apedrejado. Paulo não foi apenas açoitado pelos judeus e pelos gentios, foi também apedrejado. Na sua Primeira Viagem Missionária, ele foi apedrejado em Listra e foi arrastado da cidade como morto. Deus o levantou milagrosamente para prosseguir seu trabalho missionário. A vida de Paulo é um milagre; seu sofrimento, um monumento; suas cicatrizes, seu vibrante testemunho.

Paulo foi perseguido, rejeitado, esquecido, apedrejado, fustigado com varas, preso, abandonado, condenado à morte, degolado. Mas, em vez de fechar as cortinas da vida com pessimismo, amargura e ressentimento, termina erguendo ao Céu um tributo de louvor ao Senhor: "eu sei em quem tenho crido, e estou certo de que ele é poderoso para guardar o meu tesouro até aquele dia" (2Tm.1:12).

Em Roma, na antessala do martírio, de forma imperturbável, impressionante e com alegria na alma, Paulo ergue ao Céu sua última doxologia: “combati o bom combate, acabei a carreira e guardei a fé. desde agora, a coroa da justiça me está guardada, a qual o senhor, justo juiz, me dará naquele dia; e não somente a mim, mas a todos aqueles que amarem a sua vinda” (2Tm 4:7,8). "a Ele [o Senhor Jesus Cristo], glória pelos séculos dos séculos. Amém" (2Tm.4:18b).

Paulo tombou na terra, pelo martírio, mas ergueu-se no Céu para receber a recompensa, como o mais vitorioso e destacado bandeirante da fé.

II. ABNEGAÇÃO ANTE O SOFRIMENTO

1. A disposição de Paulo em sofrer pelos cristãos de Filipos (Fp.2:17,18). Paulo era um homem pronto a dar sua vida por outros, não por constrangimento, mas com grande alegria – “E, ainda que seja oferecido por libação sobre o sacrifício e serviço da vossa fé, folgo e me regozijo com todos vós. E vós também regozijai-vos e alegrai-vos comigo por isto mesmo” (Fp.2:17,18). Ele demonstra uma alegria imensa mesmo estando na antessala da morte e no corredor do martírio. Suas palavras não são de revolta nem de lamento. Ele foi perseguido, apedrejado, preso e açoitado com varas. Ele enfrentou frio, fome e passou provações. Ele enfrentou inimigos de fora e perseguições de dentro. Ele, agora, está em Roma, sendo acusado pelos judeus diante de César, aguardando uma sentença que pode levá-lo à morte; mas, a despeito dessa situação, sua alma está em festa, e seu coração está exultante de alegria.

Paulo usa a figura da “libação” para expressar sua disposição de dar sua vida pelo evangelho epela igreja, para mostrar que a morte dele completaria o sacrifício dos filipenses. A libação era um rito comum na religião judaica. No judaísmo, a libação era o derramamento de vinho ou azeite sobre a oferta do holocausto (cf. Ex.29:40,41; Nm.15:5,7,10; 28:24). Não era uma oferta pelos pecados, mas uma oferta de gratidão ao Senhor. Paulo, portanto, entendia sua morte como oferenda derramada sobre o sacrifício da igreja (Fp.2:17) e derramada no mais verdadeiro sentido sobre o holocausto [sacrifício total] do Messias Jesus (Rm.8:32). O martírio de Paulo coroaria sua vida e seu apostolado. Contudo, Paulo deseja que esse sacrifício seja colocado como crédito aos Filipenses, e não a seu próprio favor. Sendo assim, não haveria motivo para lágrimas. Essa perspectiva levou Paulo a dizer: “...me regozijo com todos vósE vós também regozijai-vos e alegrai-vos comigo por isto mesmo”.

Atualmente, muitos têm feito da obra do Senhor um meio mercantilista, mas, também, é notório que muitos crentes estão dispostos a dar a sua vida pelo Senhor.

2. A disposição de Epafrodito (Fp.2:25-30). “Julguei, contudo, necessário mandar até vós Epafrodito, por um lado, meu irmão, cooperador e companheiro de lutas; e, por outro lado, vosso enviado e vosso auxiliar nas minhas necessidades; Porque, pela obra de Cristo, chegou até bem próximo da morte, não fazendo caso da vida, para suprir para comigo a falta do vosso serviço” (Fp.2:25,30).

O apóstolo Paulo faz menção carinhosa de um obreiro dedicado e abnegado chamado Epafrodito. Este valoroso e dedicado obreiro só é citado na Carta aos Filipenses, no capítulo 2:25-30 e no capítulo 4:18, mas é o suficiente para compreendermos seu profundo amor por Jesus e pela Igreja. Não sabemos se ele é o Epafras de Colossenses 4:12, não há como afirmar isso com certeza. Em todo caso, sabemos que morava em Filipos, era um gentil, e que pode ter sido um presbítero da igreja.

Paulo queria que os filipenses soubessem o quanto ele estimava Epafrodito, de modo que ele o caracterizou através de três nomes (cf. Fp.2:25):

·    Meu irmão, significando um irmão em Cristo.  Se nós estamos em Cristo, há um elo de amor fraternal que nos une uns aos outros. Essa é uma palavra que destaca a relação de família.

·    Meu cooperador, que significa que ele também estava trabalhando para o Reino de Deus. Epafrodito era um trabalhador na obra de Cristo e um ajudador de Paulo.

·    Meu companheiro nos combates, referindo-se à solidariedade entre os crentes que estão lutando na mesma batalha. A vida cristã não é um parque de diversões, uma colônia de férias, mas um campo de guerra. Epafrodito estava no meio desse campo de lutas com o apóstolo Paulo. Epafrodito era um homem que sabia trabalhar com os outros, qualidade essencial na vida cristã e no serviço do Senhor. Sejamos “cooperadores e companheiros de lutas”, para o bem da obra do Senhor.

Epafrodito colocou as necessidades dos outros acima de suas próprias. Ele estava sempre pronto a fazer os trabalhos mais comuns e menos honrosos. Hoje, são muitos os interessados em trabalhos agradáveis e visíveis. Deve-se reconhecer e agradecer a Deus a vida daqueles que fazem trabalho rotineiro, sem alarde e sem visibilidade. Por fazer o trabalho árduo, Epafrodito se humilhou. Deus, porém, o exaltou, registrando seu fiel serviço no capítulo 2 da Carta aos Filipenses, para conhecimento das gerações vindouras.

3. Paulo e os judaizantes (Fp 3.1-8). Paulo, mesmo sob algemas, não cala sua voz. Ele denuncia e desmascara os falsos mestres com veemência - “Guardai-vos dos cães, guardai-vos dos maus obreiros, guardai-vos da circuncisão! Porque a circuncisão somos nós, que servimos a Deus no Espírito, e nos gloriamos em Jesus Cristo, e não confiamos na carne”(Fp.3:2,3).

Paulo adverte os crentes a se guardarem de um grupo de pessoas em particular que ele descreveu usando três termos depreciativos diferentes: cães, maus obreiros e circuncisão. É provável que essas três expressões se refiram ao mesmo grupo de pessoas: os falsos ensinadores, que procuravam submeter os cristãos ao judaísmo e ensinavam que só haveria justificação para quem guardasse a lei e seus rituais. Veja a tríplice advertência de Paulo:

a) “Guardai-vos dos cães”. Aqueles ensinadores eram considerados “cães”. Na Bíblia, os “cães” são animais imundos. Esse termo era usado pelos judeus para descrever os gentios. Nas terras do Oriente, os cães eram criaturas sem lar e, como não tinham dono, viviam nas ruas procurando alimento onde pudessem. Paulo vira o feitiço contra o feiticeiro, aplicando a alcunha de “cães” aos falsos ensinadores do judaísmo que procuravam corromper a Igreja. Eles é que viviam à margem da Igreja, procurando sobreviver de rituais e de cerimônias. Apanhavam migalhas quando podiam estar assentados à mesa dentro da festa.

2. “Guardai-vos dos maus obreiros”. Aqueles ensinadores eram “maus obreiros”. Eles eram obreiros da iniquidade (Lc.13:27) e obreiros fraudulentos (1Co.11:13). Desviavam a atenção de Cristo e de Sua redenção perfeita e a fixavam em rituais ultrapassados e em obras humanas. Eles trabalhavam contra Deus e para desfazerem a obra de Deus. Laboravam para o erro e para desviarem as pessoas da verdade. Para esses mestres judaizantes, agir com justiça era observar a lei e segui-la em seus múltiplos detalhes e cumprir suas inumeráveis regras e prescrições. Mas Paulo estava seguro de que a única classe de justiça que agrada a Deus consiste em render-se livremente à Sua graça.

3. “Guardai-vos da circuncisão”. Paulo se refere a esses ensinadores como homens da “circuncisão” ou da “falsa circuncisão”(ARA). Esses ensinadores que se diziam cristãos de origem judaica erroneamente acreditavam que era essencial que os gentios seguissem todas as leis do Antigo Testamento, dizendo que os crentes gentios tinham que ser circuncidados para que pudessem ser salvos. Esses mestres judaizantes trocaram a graça de Deus por um rito físico. Eles queriam inserir na mensagem do evangelho a obrigatoriedade da circuncisão como condição indispensável para a salvação (At.15:1). Assim, a salvação deixava de ser pela fé somente e passava a depender do esforço humano. Eles se vangloriavam de uma incisão na carne, em vez de uma mudança no coração. Eles cortavam o prepúcio do órgão sexual masculino, porém não cortavam o prepúcio do coração. Paulo escarnece dessa falsa confiança deles no rito da circuncisão, em vez de confiarem na graça de Deus. A preocupação de Paulo era que nada ficasse no caminho da verdade simples de sua mensagem: que a salvação, para judeus e gentios, igualmente, vem somente através da fé em Jesus Cristo.

III. APRENDENDO A VENCER AS CRISES

1. A crise da falta de firmeza espiritual (Fp.4:1). “Portanto, meus amados e mui queridos irmãos, minha alegria e coroa, estai assim firmes no Senhor, amado”. Na igreja de Filipos, havia perigos internos e externos. A igreja estava sendo atacada por falsos mestres e por falta de comunhão. A heresia e a desarmonia atacavam a igreja. Existiam problemas doutrinários e relacionais. A igreja estava sendo atacada por fora e por dentro. Diante desses perigos, e por causa das promessas extraordinárias e certas, exaradas no capítulo anterior, nos versículos 20 e 21, Paulo exorta-os a continuarem “firmes no Senhor”, opondo-se à falsa doutrina e à divisão interna.

A igreja deve permanecer firme no Senhor por causa de sua herança (Fp.1:6) e vocação celestial (Fp.3:20,21). Ela deve permanecer firme, a despeito da hostilidade dos legalistas (Fp.3:2) e dos libertinos (Fp.3:18,19). Deve permanecer firme diante dos sinais de desarmonia nos relacionamentos (Fp.2:3,4) e dos desacordos de pensamento (Fp.4:2).

Paulo encerra Filipenses 4:1 com a seguinte expressão: “amados”. Ele ama de fato os crentes de Filipos, e esse é um dos segredos de sua eficácia na obra do Senhor.

2. A crise da desarmonia (Fp.4:2,3). “Rogo a Evódia e rogo a Síntique que sintam o mesmo no Senhor” (Fp.4:2). Nem tudo era maravilhoso e perfeito na igreja de Filipos. Ali estava acontecendo algo que é muito comum nestes últimos dias da Igreja: a dissensão, oriunda de problemas de relacionamentos. Evódia e Síntique eram duas irmãs que ocupavam posição de liderança na igreja, que haviam se esforçado com Paulo no evangelho, mas, agora, estavam em discórdia na igreja. Elas tinham nomes bonitos (Evódia significa “doce fragrância”, e Síntique “boa sorte”), mas estavam vivendo de maneira repreensível. O relacionamento interrompido delas não era um problema pequeno; muitos havia se tornados crentes através de seus esforços (cf. Fp.4:3), mas a sua briga estava causando uma dissensão na igreja. Não temos detalhes da causa de sua discórdia (talvez seja bom assim!), mas Paulo rogou a elas que resolvessem a situação. O apóstolo emprega a palavra “rogo” duas vezes, para mostrar que essa exortação é dirigida a uma e outra. Paulo as incentiva que “sintam o mesmo no Senhor”.

É impossível sermos unidos em todas as coisas da vida diária, mas quanto às coisas “no Senhor” é possível reprimir pequenas diferenças a fim de que o Senhor possa ser magnificado e para que sua obra avance. É válido ressaltar que:

- Na vida cristã não há comunhão vertical sem comunhão horizontal. Não podemos estar unidos a Cristo e desunidos com os irmãos. A lealdade mútua é fruto da lealdade a Cristo. A irmandade humana é impossível sem o senhorio de Cristo. Ninguém pode estar em paz com Deus e em desavença com os seus irmãos. Por isso, a desunião dos crentes num mundo fragmentado é um escândalo. Devemos ser um povo diferente do mundo ímpio, senão, nossa evangelização é inócua.

- A desarmonia é contrária à natureza da igreja (Fp.4:3). A igreja deve ser marcada pelo trabalho conjunto, pelo auxílio recíproco e pela esperança futura. Há uma realidade celestial acerca da igreja, a saber, o nome dos crentes está escrito no livro da vida, e lá no céu não há divisão; a igreja na Terra deve ser uma réplica da igreja do Céu. A igreja que seremos deve ensinar a igreja que somos. É contrária à natureza da igreja confessar a unidade no Céu e praticar a desunião na Terra. Todos os crentes, lavados no sangue do Cordeiro, têm seus nomes escritos no livro da vida e serão introduzidos na cidade santa (Lc.10:17-20; Hb.12:22,23; Ap.3:5; 20:11-15). O fato de irmos morar juntos no Céu deveria nos ensinar a viver em harmonia na Terra.

3. Vencendo as crises (Fp.4:11). “Não digo isto como por necessidade, porque já aprendi a contentar-me com o que tenho”. Embora estivesse muito satisfeito com a generosidade dos filipenses, Paulo esclareceu que tinha aprendido um importante segredo para a vida cristã: que ele poderia se contentar com o que tinha, fosse muito ou pouco. Paulo explicou que a sua suficiência estava somente em Cristo, que provê a força para que enfrentemos todas as crises.

É importante que os crentes percebam que o “contentamento” bíblico não significa uma acomodação em relação aos desafios da vida, nem tampouco um desinteresse por melhorar o crescimento profissional, educacional, etc. Trata-se de um estado de alma, que possuímos em Cristo tudo quanto nos é necessário para nossa alegria, paz e comunhão com Deus e os homens.

Para Paulo, o contentamento que experimentava na riqueza e pobreza, na fartura ou miséria, eram reflexos de uma mesma realidade vivida na presença de Deus. A certeza de que Deus estava nele, que havia concedido a ele o seu Reino, transcendia suas experiências pessoais e as colocava num universo eterno. Penso que foi isso que Jesus experimentou. Sua vida não foi sempre um arranjo de fatos agradáveis. Experimentou o abandono, angústia, tristeza, traição, alegria e exultação, e todas essas experiências fizeram parte do Reino que havia sido entregue.

É bom ressaltar que o contentamento não será encontrado na próxima curva, na visita ao shopping center, no novo emprego ou nas coisas simples e rotineiras, mas nas experiências que a graça de Deus nos concede dia a dia. Contentamento não significa não passar pelos vales sombrios da morte, mas gozar a plenitude do Reino, do amor, da justiça e da paz.

Para ter o verdadeiro contentamento, lembre-se de que tudo pertence a Deus e que aquilo que temos nos foi dado por Ele. Sejamos agradecidos pelo que temos, não cobiçando o que os outros possuem. Peçamos sabedoria para usarmos sabiamente o que temos. Oremos pedindo ao Senhor a graça necessária para abandonarmos o desejo exasperado pelo que não temos. Confiemos que Deus suprirá as nossas necessidades.

Muitas pessoas que se dizem cristãs têm sido fiéis e leais ao Senhor Jesus enquanto as condições permitem, isto é, enquanto tudo está bem, quando os ventos são favoráveis, quando não falta dinheiro, quando a família está com saúde. Porém, vindo as aflições, perseguições, carência de dinheiro, etc., deixam de olhar para o Autor e Consumador da fé (Hb.12:2), e começam a murmurar e a questionar a Deus pela situação que está atravessando. Daí começa o descontentamento, a tristeza, e em seguida partem para a infidelidade, que é um sinal de desconfiança e incerteza. É fácil ser fiel quando tudo vai bem. Quando as coisas vão mal, a fidelidade é um “sacrifício”. O que o Espírito Santo deposita dentro de nós através da fidelidade atravessa qualquer barreira, transpondo todos os obstáculos contrários à fé. E Deus sempre está provando a nossa fidelidade para com Ele. Devemos estar cônscios de que os desertos não são apenas os momentos difíceis por que passamos aqui, não! Os “desertos” são a trajetória de nossa jornada rumo ao Céu. Pense nisso!

CONCLUSÃO

O contentamento de Paulo diante das crises era resultado da sua comunhão com Deus. Ele aprendera com o Senhor a se contentar em toda e qualquer circunstância. Disse ele: “Sei estar abatido e sei também ter abundância; em toda a maneira e em todas as coisas, estou instruído, tanto a ter fartura como a ter fome, tanto a ter abundância como a padecer necessidade”. Paulo sabia “estar abatido” ou “humilhado” (ARA), isto é, quando não tinha suprimento para as necessidades básicas da vida, e também sabia “ser honrado”, ou seja, quando recebia mais do que necessitava. “Em todas as circunstâncias” - já tinha experiência, tanto de fartura como de fome; assim de abundância como de escassez. Como Paulo aprendeu tal lição? Simplesmente porque tinha a certeza de estar na vontade de Deus onde quer que estivesse, fossem quais fossem as circunstâncias. Sabia que estava ali pela vontade de Deus. Assim, se passasse fome, era porque Deus queria que ele passasse fome. Se estivesse fartura, era porque Deus planejou que fosse assim. Estando ocupado fielmente no serviço do Rei, ele podia dizer: “Sim, ó Pai, porque assim foi do teu agrado”. Portanto, quer Paulo tivesse muito ou pouco, ele era capaz de manter a vida em equilíbrio por causa do contentamento. Que lição importante para todos os crentes, das igrejas locais de hoje, aprenderem! Que possamos seguir o exemplo de Paulo e aprender com o Senhor a ter paz e contentamento mesmo enfrentando crises.

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Fonte: ebdweb - Luciano de Paula Lourenço

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