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segunda-feira, 14 de agosto de 2017

8ª lição do 3º trimestre de 2017: A IGREJA DE CRISTO


Texto Base: 1Coríntios 12:12-20,25-27

"Porque onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome, aí estou eu no meio deles" (Mt.18:20)

INTRODUÇÃO

Dando continuidade ao estudo da Declaração de Fé das Assembleias de Deus, estudaremos nesta Aula a respeito da Igreja de Cristo, a “universal assembleia e igreja dos primogênitos" (Hb.12:23), o “…mistério de Cristo, o qual noutros séculos não foi manifestado aos filhos dos homens, como agora tem sido revelado pelo Espírito aos Seus santos apóstolos e profetas, a saber, que os gentios são coerdeiros e de um mesmo corpo, e participantes da promessa em Cristo pelo evangelho” (Ef.3:4-6). Veremos o que significa a Igreja de Cristo, qual a diferença entre a sua natureza visível e a sua natureza invisível e qual o papel do membro dentro do Corpo de Cristo. A Igreja é cada um de nós, seus membros em particular (1Co.12:27b), de sorte que cada um dos salvos tem, também, obrigações a cumprir perante o seu Deus enquanto Jesus não volta ou não somos chamados para a eternidade.

A descida do Espírito Santo no dia de Pentecostes marcou o início da jornada da Igreja, e vemos o seu final glorioso no epílogo da história humana, em Apocalipse. Embora seja um organismo vivo, o Corpo de Cristo (1Co.12:27a), a universal assembleia e Igreja dos primogênitos, que estão inscritos nos céus (cf. Hb.12:23a), a Igreja se apresenta sobre a face da Terra como uma reunião de igrejas locais, grupos sociais que têm tarefas a cumprir enquanto Jesus não volta para arrebatar os salvos e os levar para estar para sempre com Ele (João 14:3; 1Ts.4:16,17).

“CREMOS, professamos e ensinamos que a Igreja é a assembleia universal dos santos de todos os lugares e de todas as épocas, cujos nomes estão escritos nos céus: a universal assembleia e igreja dos primogênitos, que estão inscritos nos céus, e a Deus, o juiz de todos, e aos espíritos dos justos aperfeiçoados” (Declaração de Fé).

I. A COMUNIDADE DOS FIÉIS

1. Etimologia. A palavra “igreja”, no grego, ekklesia, significa “reunião dos chamados para fora”. A Igreja é o novo povo de Deus, o povo formado por judeus e gentios que, pelo sangue de Cristo, passam a ter comunhão com Deus, perdoados que estão dos seus pecados, um povo espiritual, um povo destinado a se reunir aos santos do passado para povoar a Nova Jerusalém, a Jerusalém celeste, onde se dará novamente a comunhão eterna e perfeita que havia entre Deus e o ser humano antes que o pecado entrasse no mundo (Ap.21:3). A Igreja é a herdeira da cruz.

2. A assembleia dos cidadãos. A palavra “ekklesia” foi utilizada na versão grega do Antigo Testamento (a chamada Septuaginta) para traduzir a palavra hebraica “qahal”, que as nossas versões em língua portuguesa costumam registrar como “congregação”, nome pelo qual era conhecida a reunião do povo de Israel, principalmente no tempo da peregrinação no deserto, quando Moisés costumava chamar todo o povo para algumas reuniões solenes à frente do tabernáculo que, por isso mesmo, era denominada de “tenda da congregação” (Nm.10:1-3). Mas o termo aparece no Novo Testamento com um significado glorioso: "Assim que já não sois estrangeiros, nem forasteiros, mas concidadãos dos Santos e da família de Deus" (Ef.2:19) e "universal assembleia e igreja dos primogênitos" (Hb.12:23).

A palavra “igreja” fala de uma “reunião”, ou seja, um grupo de pessoas. Portanto, Igreja não é um indivíduo, não é uma pessoa solitária, mas, sim, um grupo de pessoas, um conjunto de pessoas. Desta forma, a salvação proporcionada por Jesus Cristo cria um novo grupo de pessoas, um novo povo. Não se pode, pois, biblicamente falando, ser salvo e permanecer isolado, solitário na vida sobre a face da Terra. Este novo povo, a Igreja, vem, portanto, realizar, concretizar aquilo que Israel, a “propriedade peculiar de Deus dentre todos os povos” (Ex.19:5,6), era apenas uma figura, um símbolo, uma sombra (Hb.10:1).

A “Igreja Universal”, portanto, é a reunião de todos os salvos que creram em Cristo em todos os tempos, a partir da obra redentora na cruz do Calvário; é a “universal assembleia e igreja dos primogênitos, que estão inscritos nos céus” (Hb.12:23a); é o “Corpo de Cristo” (1Co.12:27,28; Ef.4:12); é a “ geração eleita, o sacerdócio real, a nação santa, o povo adquirido” (1Pd.2:9). O conjunto dos salvos que creram em Jesus Cristo ao longo da história se reunirá, pela primeira vez, quando do arrebatamento da Igreja, os quais serão apresentados ao Pai pelo Filho com as seguintes palavras: “Eis-me aqui a mim, e aos filhos que Deus me deu”(Hb.2:13).

3. Sua eleição. Deus elegeu a Igreja desde a eternidade, antes da fundação do mundo, segundo a sua presciência. O Senhor estabeleceu um plano de salvação para toda a humanidade - “em esperança da vida eterna, a qual Deus, que não pode mentir, prometeu antes dos tempos dos séculos”(Tt.1:2). Assim como Deus não elegeu uma nação já existente, mas preferiu criar uma nova a partir do patriarca Abraão, o Senhor Jesus Cristo, da mesma forma, criou um novo povo formado por judeus e gentios: “o qual de ambos os povos fez um” (Ef.2:14); “Pois todos nós fomos batizados em um Espírito, formando um corpo, quer judeus, quer gregos, quer servos, quer livres, e todos temos bebido de um Espírito” (1Co.12:13). A nossa eleição vem de Deus: “sabendo, amados irmãos, que a vossa eleição é de Deus” (1Ts.1:4). Na Igreja de Cristo, judeus e gentios são coerdeiros da salvação em um único corpo(Declaração de Fé das Assembleias de Deus).

4. Sua concepção e revelação. Concebida ainda antes da fundação do mundo (Ef.1:10), a Igreja foi revelada por Jesus na famosa declaração de Cesaréia (cf. Mt.16:18). No entanto, somente teria existência própria a partir do instante em que Jesus subiu aos céus, assentando-se à direita de Deus, visto que a Igreja é “o Corpo de Cristo”. Enquanto Jesus não ascendesse aos céus, não poderia haver uma verdadeira “Igreja”, visto que Jesus ainda estava com os discípulos. A partir do instante, porém, em que ascendeu aos céus, passamos a ter a Igreja, Igreja que iniciaria a sua missão evangelizadora a partir da descida do Espírito Santo, no dia de Pentecostes, que foi o ato inicial da dispensação da graça e da apresentação da Igreja ao mundo. Assim, podemos dizer que a Igreja começa efetivamente no dia de Pentecostes, visto que a Igreja nada mais é que “geração eleita, o sacerdócio real, a nação santa, o povo adquirido, para que anuncieis as virtudes daquele que vos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz” (1Pd.2:9), e isto só se deu a partir do dia de Pentecostes.

A Igreja, portanto, é um projeto exclusivamente divino, concebido, executado e sustentado por Deus. É por isso que podemos ter a certeza, e a história tem demonstrado isto, que nada pode destruir a Igreja. Durante estes quase dois mil anos em que a igreja tem participado da história da humanidade, muitos homens poderosos se levantaram contra a Igreja, tentaram destruí-la e não foram poucas as vezes em que se proclamou que a Igreja estava vencida. No entanto, todos estes homens passaram, mas a Igreja se manteve de pé, vencedora, demonstrando que não se trata de obra humana, mas de algo que é divino e contra o qual todos os poderes das trevas não têm podido prevalecer.

II. ELEMENTOS QUE IDENTIFICAM UMA IGREJA

1. As ordenanças. Ao instituir a Igreja, Jesus não só constituiu o governo da Igreja, como as suas funções, como também determinou que a Igreja realizasse dois ritos, duas cerimônias: o Batismo nas águas - "Portanto, ide, ensinai todas as nações, batizando-as em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo" (Mt.28:19) e; a Ceia do Senhor - "fazei isso em memória de mim" (Lc.22:19). Por isso, estas duas atividades da Igreja são denominadas de “ordenanças”, porque são ordens dados pelo Senhor para a Igreja.

a) O batismo. O batismo nas águas é uma ordem a ser cumprida por quem se arrependeu dos seus pecados (At.2:38) e recebeu de bom grado a Palavra de Deus (At.2:41). Deste modo, não podem ser batizadas crianças recém-nascidas, vez que não têm o discernimento do que é, ou não, pecado e, portanto, não podem se arrepender dos seus pecados, como também não podem ser batizadas pessoas que não tenham demonstrado que, efetivamente, creram no Evangelho e nasceram de novo. Só é lícito o batismo daquele que realmente creu de todo o seu coração (At.8:37).

É bom enfatizar que a salvação vem pela fé em Cristo e não pelo batismo nas águas. Então, alguém que crê em Jesus e não é batizado nas águas está salvo? Depende. Por que não se batizou nas águas? Porque não teve condição de fazê-lo, como o ladrão na cruz? Então, este estará salvo, assim como esteve o ladrão na cruz, pois creu e não foi batizado nas águas por motivo alheio à sua vontade. Agora, se alguém creu em Jesus e podendo ser batizado não se batiza porque não quer, este, na verdade, não será salvo, não porque não foi batizado, pois o batismo não salva pessoa alguma, mas, sim, porque ao recusar ser batizado mostra que, na verdade, não creu em Jesus, pois quem crê em Jesus obedece-lhe.

b) Santa Ceia. É a segunda ordenança observada pela Igreja (Mc.14:12-26). Seus elementos: o pão e o vinho. Estes simbolizam, respectivamente, o corpo e o sangue de Cristo oferecidos em resgate da humanidade (1Co.11:24,25). A ceia do Senhor foi instituída por Jesus na noite em que foi traído e iniciou a sua paixão e morte (1Co.11:23). Só podem participar da ceia do Senhor aqueles que estão em comunhão com Deus(1Co.11:24-27), ou seja, os integrantes da sua Igreja, aqueles que creram em Jesus e já foram batizados nas águas, publicamente assumindo terem se tornado discípulos do Senhor. Este ensino é muito importante, pois, lamentavelmente, nos dias em que passamos, muitos são os que estão a “banalizar” a Ceia do Senhor, tornando-a um ritual aberto a todos quantos queiram dele participar, mesmo os não-crentes. Não participemos destas reuniões, pois são reuniões em que não há o discernimento do Corpo do Senhor, ou seja, em que não há o entendimento do que representa a Igreja e a Ceia do Senhor.

A Ceia do Senhor não é um ato que proporcione o perdão dos pecados, nem que venha a nos pôr em comunhão com Jesus. O que nos mantém em comunhão com o Senhor é a santificação contínua e incessante, é a obediência à Palavra do Senhor. A Ceia existe para confessarmos publicamente que estamos em comunhão com Deus e uns com os outros. A Ceia é uma declaração presente e atual de comunhão, não a obtenção de uma santidade ou uma participação na natureza divina, como entendem, equivocadamente, os romanistas. Participamos da Ceia porque somos santos e estamos em comunhão com Deus, não para nos tornarmos santos ou passarmos a ter comunhão com Deus.

2. A adoração. A adoração do povo da Nova Aliança, a Igreja de Cristo, deve ser em “espírito e em verdade”, como declarou Jesus em João 4:23,24, isto é, em todo o tempo, independentemente de local ou ocasião. Quando adoramos ao Senhor, em espírito e em verdade, trazemos o Senhor até aquele local de uma forma especial. O Senhor Jesus disse que Deus procura a estes adoradores e disse que estaria onde estivessem dois ou três reunidos em seu nome (Mt.18:20). Assim sendo, quando nos reunimos em nome do Senhor, quando realmente O adoramos, Ele se faz presente de uma forma toda especial, ou seja, como companheiro, como intercessor, como Salvador. A verdadeira adoração é a chave para sentirmos a presença do Senhor e para que haja salvação de vidas, operação de sinais e maravilhas, demonstração do poder de Deus. Quando não há adoração, nada disso se verifica e este é um sinal patente da ausência de Deus numa determinada igreja local.

A adoração deve ser feita em direção a Deus. Ele é o centro da adoração. Jesus foi claríssimo ao afirmar que somente devemos adorar a Deus (Mt.4:10). A adoração corrompida e a idolatria estão entre as causas principais da manifestação do julgamento divino (cf.2Rs.17:7-20; 2Cr.26:16-20; Is.1:11-17; Am.4:4-11; Rm.1:21-32, etc). Há sempre o perigo de trazermos um “fogo estranho” diante do altar e trono do Senhor (Lv.10:1-2), e contra o mesmo devemos estar sempre em guarda. Não apenas a adoração a falsos deuses é proibida nas Escrituras, mas também a adoração ao verdadeiro Deus com uma atitude errada (veja Ml.1:7-10; Is.1:11-15; Os.6:4-6; Amós 5:21; Mt.5:23-26, etc.). Em Levítico 10 temos o registro não apenas da morte de Nadabe e Abiu, mas também somos instruídos sobre o fato de que o “fogo estranho” que eles trouxeram perante o Senhor consistia naquilo que era contrário aos mandamentos divinos quanto à adoração. Paulo repreendeu os cristãos de Corinto porque eles não se ajuntavam “para melhor, e sim para pior”(1Co.11:17).

Enfim, adorar a Deus é reconhecer e confessar a sua glória, o seu poder, a sua majestade, a sua magnificência, não importando o que Ele faça ou deixe de fazer. A adoração é pelo que Deus é.

3. O Louvor. "Louvai ao Senhor com harpa, cantai a ele com saltério de dez cordas. Cantai-lhe um cântico novo; tocai bem e com júbilo" (Sl.33:2,3). O louvor é uma tarefa da Igreja, que vem desde os dias do Antigo Testamento e que era praticado pela igreja primitiva. Em colossenses 3:16 Paulo recomenda aos irmãos que louvem a Deus por meio de "salmos, hinos e cânticos espirituais”.

O louvor, diz-nos a Bíblia, é um sacrifício (Sl.50:14,23; Hb.13:15) e, como tal, Deus somente aceitará se tiver como origem um coração puro, uma vida de obediência e santidade (Is.1:10-20).

A glória do Senhor surgiu de forma esplêndida na Dedicação do Templo de Salomão porque os sacerdotes, antes de louvarem a Deus, se santificaram (1Cr.5:11-14). Portanto, antes de louvar a Deus, precisamos estar em comunhão com Ele, senão apenas estaremos fazendo sons e ruídos que não terão qualquer valor para Deus, antes, pelo contrário, causarão a sua abominação, pois Deus prefere a obediência ao sacrifício. Pensemos nisto e, antes que façamos a nossa oferta, acertemo-nos com o Senhor, assim como nos acertemos com o nosso irmão, pois assim manda Jesus fazer antes que apresentemos a Ele a nossa oferta, o sacrifício dos nossos lábios (Mt.5:23-25).

Como temos oferecido o nosso sacrifício de louvor? Tem sido de acordo com os mandamentos do Senhor, de acordo com a sua Palavra, ou temos oferecido a Deus música de qualquer tipo, música de origem mundana, música que foi criada e forjada para rituais satanistas ou cultos idolátricos, para sensibilizar a carne, a sensualidade ou, ainda, música que tem sido criada e divulgada com finalidade meramente comercial, sem qualquer objetivo senão o de proporcionar a seus produtores o enriquecimento fácil e ilimitado? Cuidado com aqueles que, por não temer a Deus, estão a apresentar estas supostas “músicas evangélicas” (a “gospel music” e suas variações, cada vez mais numerosas. Já existe até a “metal gospel”, uma variante do “heavy metal rock”, criado e desenvolvido por satanistas declarados, para “evangélicos”), dizendo, a exemplo do que acontecia com o povo indiferente dos dias do profeta Malaquias: “…não faz mal…não faz mal!” (Ml.1:8). Enquanto o povo diz “não faz mal”, Deus está a dizer: “Eu não tenho prazer em vós, diz o Senhor, nem aceitarei da vossa mão a oblação” (Ml.1:10). Vigiemos, pois irmãos, tomemos cuidado, porque muitos têm afugentado a presença e o agrado do Senhor por causa do tipo de louvor que lhe estão apresentando.

4. A família de Deus. Um dos muitos modos de referir-se à igreja é como família de Deus (Ef.2:19), e templo espiritual de Deus (1Co 3:16; Ef.2:22). É por isso que chamamos de irmãos aqueles que se convertem ao Senhor Jesus. Existem outras metáforas ou alusões interessantes e bíblicas, mas a imagem da igreja que sobressai no Novo Testamento é da família.

1Tm.3:15,16 identifica a igreja como sendo a “casa de Deus”.  Nessa “casa”, Deus é nosso Pai (Ef.3:14,15) e somos irmãos em Cristo. Tratamos uns aos outros como membros da mesma família - “Não repreendas ao homem idoso, antes exorta-o como a pai; aos moços, como a irmãos; às mulheres idosas, como a mães, às moças, como a irmãs, com toda a pureza” (1Tm.5:1,2). 

Será que eu e você tratamos a nossa igreja local como nossa família?  Sentimos saudades quando precisamos nos ausentar das suas reuniões por um período?  Amamos nossos irmãos de fato?  Acolhemos pessoas novas como receberíamos visitas em casa? Fazemos sacrifícios em nome do amor pelos irmãos necessitados da família da fé (Gl.6:10), assim como faríamos para nossos próprios familiares? 

Devemos, como família de Deus, refletir sobre o espaço que se tem para um relacionamento saudável entre os irmãos. Verifiquemos junto aos irmãos qual a dificuldade que se tem para transformar a igreja em um espaço cada vez maior para o relacionamento entre as pessoas, inclusive os que ainda não assumiram compromisso com a igreja. Lembremo-nos que a marca permanente do cristão é o amor fraternal (João 13:35), busquemos praticá-lo em toda a sua extensão. O Espírito Santo nos chama para a Igreja não apenas para sermos números num rol de membros que se sentam nos bancos para ver o que acontece, mas, para sermos membros vivos e ativos do Corpo de Cristo, para sermos como irmãos que vivem como filhos e filhas do mesmo Pai e que têm dons e habilidades que devem ser colocados em prática para o engrandecimento do nome de Deus e expansão do Seu Reino.

III. O CORPO DE CRISTO

A Igreja é comparada a uma família, a um exército, a um templo, a uma noiva. Porém, a figura predileta de Paulo par descrever a Igreja é o Corpo. Por que Paulo tem predileções por essa figura? Porque ela é uma das mais completas para descrever a Igreja. Uma pessoa só começa a fazer parte desse Corpo quando é convertida e batizada pelo Espírito nesse corpo (1Co.12:13). Nenhuma igreja local ou denominação pode arrogar-se a pretensão de ser a única igreja verdadeira. A Igreja de Cristo é supradenominacional.

1. A unidade do Corpo – “o corpo é um e tem muitos membros, e todos os membros, sendo muitos, são um só corpo" (1Co.12:12).     O corpo é uno. Sua principal característica é a unidade. Todos os que creem em Cristo são um, fazem parte do mesmo corpo, da mesma família, do mesmo rebanho. Essa unidade não é organizacional nem denominacional, mas espiritual. Nós confessamos o mesmo Senhor (1Co.12:1-3), dependemos do mesmo Deus (1Co.12:4-6), ministramos no mesmo Corpo (1Co.12:7-11), e experimentamos o mesmo batismo (1Co.12:13).

2. Os membros do Corpo (1Co.12:14-20). Segundo o Rev. Hernandes Dias Lopes, os membros do Corpo são belos quando distribuídos com proporcionalidade. Um nariz que se desenvolve além do normal deforma o rosto. O olho é um órgão lindo e nobre; ele é o farol do corpo humano. Contudo, já imaginou se você encontrasse um olho de 75 quilos na rua? Você sairia correndo, pois esse olho gigante mais se assemelharia a um monstro. Paulo pergunta: “Se todo o corpo fosse olho, onde estaria o ouvido?” (1Co.12:17). A beleza do corpo está na sua diversidade e na sua proporcionalidade.

O corpo precisa das diversas funções dos membros para sobreviver (1Co.12:15-19). Um membro serve ao outro e todos trabalham em harmonia para o benefício e edificação do corpo. Imagine que você esteja com fome caminhando pela estrada e vê uma mangueira cheia de mangas maduras, mangas vermelhas, mangas cheirosas. O seu olho vê a manga, no entanto, não basta o olho ver; você tem de usar a mão para pegar; você tem de usar a boca e os dentes para morder e mastigar; você tem de usar a língua para movimentar; você tem de usar o esôfago para engolir; você tem de usar o estômago para triturar; você tem de usar o fígado para jogar a biles ali; você precisa de toda uma máquina funcionando para que aquela manga possa nutrir você e atender à sua necessidade. Assim, também, é a Igreja, ela é um Corpo e nós precisamos ajudar uns aos outros.

O corpo embora uno tem uma grande diversidade de membros – “Porque também o corpo não é um só membro, mas muitos” (1Co.12:14). O que torna o corpo bonito e funcional é o fato de ele ter seus membros harmoniosamente distribuídos e todos trabalhando juntos para o bem comum. Se eu cortasse o meu braço e o colocasse numa cadeira ao lado, ele seria meu braço ainda. Só que que não valeria nada para o corpo. Esse braço só tem valor se tiver ligado ao corpo. Fora do corpo ele não tem valor. É inútil. Se eu cortasse minha mão e a colocasse numa cadeira, no outro lado da sala, ela ainda seria minha mão, mas não teria mais utilidade porque estaria separada dos outros membros do corpo. Da mesma maneira, o apóstolo Paulo está dizendo, que somos uma unidade. O membro tem valor na medida em que está inserido no corpo e na proporção em que ele trabalha para o bem comum do corpo.

3. A mutualidade do corpo (1Co.12:21-31). Quando Paulo fala da mutualidade do corpo, exorta a Igreja sobre cinco questões importantes. Veja isto à luz do argumento do Rev. Hernandes Dias Lopes, disposto em seu livro “1Corintios - como resolver conflitos na Igreja”.

a) O perigo do complexo de inferioridade. Paulo escreve: “Se o pé disser: Porque não sou mão, não sou do corpo; não será por isso do corpo? E, se a orelha disser: Porque não sou olho, não sou do corpo; não será por isso do corpo?” (1Co.12:15,16). Quando alguém reclama de não ter este ou aquele dom espiritual, está questionando a sabedoria de Deus. Isso é culpar a Deus de falta de sabedoria. Isso é questionar a unidade do Corpo. Nenhum membro da Igreja deve se comparar, nem se contrastar com outro membro da Igreja. Você é único. Você é singular no Corpo. Deus colocou você no Corpo como lhe aprouve. Exerça a função que Deus lhe deu no Corpo. Ficar ressentido por não ter este ou aquele dom espiritual é imaturidade. Devemos exercer nosso papel no Corpo com alegria, zelo e fidelidade. Somos únicos e singulares para Deus.

b) O perigo do complexo de superioridade. O apóstolo Paulo afirma: “Não podem os olhos dizer à mão: Não precisamos de ti; nem ainda a cabeça, aos pés: Não preciso de vós. Pelo contrário, os membros do corpo que parecem ser mais fracos são necessários; e os que nos parecem menos dignos no corpo, a estes damos muito maior honra; também os que em nós não são decorosos revestimos de especial honra. Mas os nossos membros nobres não têm necessidade disso. Contudo, Deus coordenou o corpo, concedendo muito mais honra àquilo que menos tinha” (1Co.12:21-24). A Igreja de Cristo não tem espaço para disputa de prestígio. A Igreja não é uma feira de ostentações. O apóstolo Paulo pergunta: “Pois quem é que te faz sobressair? E que tens tu que não tenhas recebido? E, se o recebeste, por que te vanglorias, como se o não tiveras recebido?” (1Co.4:7). Não há espaço na Igreja para a vanglória. Nenhum membro da Igreja pode envaidecer-se pelos dons que recebeu.

c) A necessidade da mútua cooperação. Paulo ainda prossegue no seu argumento: “para que não haja divisão no corpo; pelo contrário, cooperem os membros, com igual cuidado, em favor uns dos outros” (1Co.12:25). A Igreja é como uma família unida: quando você mexe com um, mexe com todos; quando você abençoa a um, abençoa a todos. Na Igreja cada um está buscando meios e forma de cooperar, de ajudar, de abençoar, de edificar a todos. O propósito do dom é para que não haja divisão no Corpo. Você não está competindo nem disputando com ninguém na Igreja, mas cooperando. Precisamos cooperar e trabalhar a favor uns dos outros. Os dons são dados não para competição nem para demonstração de uma pretensa espiritualidade. O dom tem como objetivo a mútua cooperação. A maior prioridade de sua vida é cuidar de seu irmão. É assim que acontece com o corpo. Por exemplo: você, às vezes gosta do paladar de uma comida. Porém, por uma deficiência de saúde o médico diz: esse alimento não é bom para você. Então você abdica. Por que você abdica? Em benefício do corpo. Vamos imaginar que você esteja doente, com a garganta inflamada. Você precisa tomar antibiótico. O braço que não tem nada a ver com essa inflamação se oferece para tomar a agulhada. Isso significa que um membro está sofrendo pelo outro em benefício de todo o corpo.

d) A necessidade da empatia na alegria e na tristeza. Diz o apóstolo Paulo: “De maneira que, se um membro sofre, todos sofrem com ele; e, se um deles é honrado, com ele todos se regozijam” (1Co.12:26). Paulo diz que precisamos aprender a ter empatia, a sofrer com os que sofrem e alegrar-se com os que se alegram. Não estamos num campeonato dentro da Igreja disputando quem é o mais talentoso, o mais dotado, o mais espiritual. Somos uma família. Somos um Corpo. Devemos celebrar as vitórias uns dos outros e chorar as tristezas uns dos outros.

e) A necessidade de compreendermos que não somos completos em nós mesmos e que precisamos uns dos outros. Paula escreve: “Ora, vós sois corpo de Cristo; e, individualmente, membros desse corpo. A uns estabeleceu Deus na igreja, primeiramente, apóstolos; em segundo lugar, profetas; em terceiro lugar, mestres; depois, operadores de milagres; depois, dons de curar, socorros, governos, variedades de línguas” (1Co.12:27,28). Todos os membros da Igreja têm dons, mas ninguém tem todos os dons espirituais. Paulo pergunta: “Porventura, são todos apóstolos? Ou, todos profetas? São todos mestres? Ou, operadores de milagres? Tem todos dons de curar? Falam todos em outras línguas? Interpretam-nas todos?” (1Co.12:29,30). Paulo faz uma saraivada de perguntas retóricas e para todos elas precisamos responder um “não” sonoro e categórico. Paulo está dizendo que nós precisamos uns dos outros. Não existe nenhum crente, na Igreja, completo em si mesmo. Não somos autossuficientes; dependemos uns dos outros. É assim que a Igreja de Cristo funciona.

4. A morada do Espírito Santo. Ao apóstolo Paulo foi revelado que os membros da Igreja são o Templo, a morada do Espírito Santo (1Co.3:16; Ef.2:22). O Tabernáculo e o Templo de Jerusalém representavam a presença de Deus (Êx.40:34; 2Cr.7:2,16). O salmista diz: "SENHOR, eu tenho amado a habitação da tua casa e o lugar onde permanece a tua glória" (Sl.26:8). Não existe mais o Templo de Jerusalém, mas Deus habita em cada cristão autêntico (João 14:23; 1Co.6:19).

Sendo os membros do Corpo de Cristo o Templo do Espírito Santo, entende-se que é algo sagrado, algo que se encontra dedicado para o serviço de Deus. Diz o apóstolo Paulo: “Não sabeis que sois santuário de Deus e que o Espírito de Deus habita em vós?”(1Co.3:16). Sendo assim, devemos manter o nosso corpo em perfeita santidade, porque Deus é santo. Não só não podemos usar nosso corpo como instrumento do pecado, porque isto é comportamento de quem não alcançou a salvação (Rm.6:12,13), como também devemos ter o corpo pronto para ser oferecido em sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o nosso culto racional (Rm.12:1).

Assim, quando Paulo nos afirma que o nosso corpo é morada, é Templo do Espírito Santo, está nos dizendo que o corpo deve ser uma parte do homem que deve ser destinada a agradar ao Senhor. O corpo é um local onde devemos adorar a Deus, um lugar onde devemos demonstrar a pureza de nosso interior, um lugar que deve demonstrar o perdão dos nossos pecados, um lugar onde tudo o que façamos tenha por objetivo agradar a Deus. Muito ao contrário dos que defendem a falsa doutrina de que "Deus só quer o coração", o que a Bíblia nos ensina, através desta figura, é que o corpo é o lugar em que devemos adorar a Deus, ou seja, servi-lo. É através do corpo que estaremos comprovando se, realmente, fomos santificados, fomos perdoados, fomos purificados e se, realmente, estamos agradando a Deus.

Quando temos consciência de que o corpo que agora temos será substituído por um corpo espiritual, por um corpo glorioso, passamos a viver diferentemente, na perspectiva da vinda de Jesus e da eternidade, perspectivas estas indispensáveis para que tenhamos uma vida santa e consagrada a Deus. Pense nisso!

CONCLUSÃO

A Igreja não é uma invenção dos discípulos, mas o maior projeto de Deus. O Antigo Testamento revela que, em Cristo, todas as nações haveriam de se congregar em Deus (Gn.12:1-3; Ag.2:7). Seu fundamento: Jesus Cristo. Na “declaração de Cesaréia”, Jesus nos mostra que Ele é o fundamento da Igreja, ao dizer que “sobre esta pedra edificarei a Minha Igreja” (Mt.16:18). Quem é esta pedra? É o próprio Cristo. Pedro, bem ao contrário dos romanistas, ensinou, anos depois da declaração de Cesareia, que o fundamento da Igreja é Jesus: “E chegando-vos para Ele — pedra viva, reprovada, na verdade, pelos homens, mas para com Deus eleita e preciosa, vós, também, como pedras vivas, sois edificados casa espiritual e sacerdócio santo, para oferecer sacrifícios espirituais agradáveis a Deus por Jesus Cristo…” (1Pd.2:4,5). Pedro, portanto, confirma que a pedra, o fundamento da Igreja, é Jesus. O apóstolo Paulo também caminha no mesmo sentido, ao mostrar que o fundamento da Igreja é Jesus: “Porque ninguém pode pôr outro fundamento, além do que já está posto, o qual é Jesus Cristo” (1Co.3:11). Portanto, não há dúvida alguma quanto ao verdadeiro fundamento da Igreja: Jesus Cristo. E a missão principal da igreja é adorar a Deus e propagar o evangelho a todas as nações da terra (Mt.28:19,20).

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Luciano de Paula Lourenço

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