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terça-feira, 12 de junho de 2018

12ª lição do 2º trimestre de 2018: ÉTICA CRISTÃ E POLÍTICA



Texto Base: Romanos 13:1-7

 

 "Portanto, dai a cada um o que deveis: quem tributo, tributo; a quem imposto, imposto; a quem temor, temor; o quem honra, honra" (Rm.13:7).

 
INTRODUÇÃO

Nesta Aula trataremos da “Ética cristã e Política”, um tema que em geral divide opiniões e que, erroneamente, se acredita que não deve ser discutido. O cristão, ao aceitar a Cristo, torna-se cidadão dos céus, com direito a morar na santa Cidade, na Jerusalém celestial; entretanto, enquanto Jesus não vem, continua vivendo no mundo e, enquanto aqui está, é um cidadão da terra e, como tal, inevitavelmente, acaba se inserindo no contexto político. A política é um fator intrínseco em nossas vidas, seja em casa, na Igreja, no trabalho. O que precisamos é desvincular a política de fatores partidários maléficos e diabólicos. A política é boa, necessária, saudável e, acima de tudo, rege nossos padrões sociais.
Estamos nos aproximando de mais uma eleição em nossa nação. Como sempre, as promessas são muitas, os valores morais são poucos e os riscos são enormes. Precisamos de políticos que tenham vocação, preparo e ética. Não podemos concordar com esquemas de corrupção nem com roubalheira. Não podemos aplaudir aqueles que se abastecem do poder em vez de instrumentalizar o poder para servir ao povo. Não podemos apoiar aqueles que defendem leis contrárias aos princípios estabelecidos por Deus em Sua Palavra, pois governar contra Deus é laborar em erro e atrair sobre a nação o juízo divino.

I. UMA PERSPECTIVA BÍBLICA DA POLÍTICA

1. Deus governa todos os aspectos da vida humana, inclusive o político. O governo de Deus é baseado em princípios de verdade e justiça sólidos, bons, santos, perfeitos e eternos, revelados em Sua lei (Sl.89:14; 119:142,172; 19:7; 111:7,8; Rm.7:12,16; 1Tm.1:8). Portanto, tudo que for contrário a esses princípios é pecado (cf. Tg.4:17); 1João 3:4). Durante o período que Israel caminhou pelo deserto, o povo aprendeu a depender de Deus sob uma liderança teocrática através de Moisés. Quando Moisés morreu, Deus levantou Josué para substituí-lo e, sob o seu comando, Israel conquista a terra de Canaã. O período seguinte corresponde o dos juízes que dura aproximadamente trezentos anos, quando o governo teocrático continua. O período dos juízes foi um período difícil porque Israel afastou-se da direção divina preferindo a Monarquia. Mesmo os homens preferindo o governo humano, Deus ainda é quem manda, pois é Ele que "remove os reis e estabelece os reis" (Dn.2:21), "porque não há autoridade que não venha de Deus; e as autoridades que há foram ordenadas por Deus" (Rm.13:1). Sim, o Deus Altíssimo governa o aspecto político da vida no mundo.

2. Deus levanta homens que o glorifiquem na política. Aristóteles afirmou que o homem é um ser político. O homem pode ser apartidário, mas nunca apolítico. Tentar ser apolítico é cair no escapismo. Ao longo da história, homens e mulheres de Deus exerceram o papel político em momentos críticos e foram divisores de água. Desde o Antigo Testamento, grandes lideranças foram orientadas por Deus e exerceram o poder público com lisura, honradez e sabedoria.

Moisés. Foi o maior legislador de Israel, aceitou o desafio de estar diante de Faraó e, sob o comando de Deus, conseguiu que aquela autoridade egípcia concedesse plena liberdade ao seu povo. Deus também o orientou quando lhe deu os mandamentos e as leis complementares para reger o povo hebreu e que até hoje servem de exemplo para todas as constituições do mundo.

José, filho de Jacó. Foi vendido como escravo para o Egito, mas Deus estava com ele (Atos 7:9). Embora tenha passado por muitas provas, dava sinais de íntima comunhão com Deus e de profunda vocação para a vida política, a ponto de aconselhar Faraó a adotar um plano de governo que pôde salvar o mundo de sua época (Gn.41:33-37). O plano foi tão importante que o rei maravilhou-se e disse: “Acharíamos um varão como este, em quem haja o Espírito de Deus?” (Gn.41:38-40).

Neemias. Foi um político que fez diferença em sua nação; na verdade, ele restaurou sua nação. Ele foi um político que motivou e mobilizou o povo para o trabalho. A cidade de Jerusalém já estava a mais de cem anos debaixo de escombros. Reinava a pobreza interna e a zombaria externa. Neemias diagnostica o problema, incentiva o povo, põe a mão na obra e nomeia cada pessoa para o lugar certo, para fazer a obra certa e com a motivação certa. O resultado foi que, mesmo diante dos percalços da obra, em cinquenta e dois dias, os muros foram reconstruídos, as portas levantadas e a nação restaurada. Precisamos de políticos que conheçam a Deus, amem o povo e façam a obra; políticos que vivam na presença de Deus e estejam junto com o povo na reconstrução da nação.

Poderíamos citar tantos outros que desenvolveram trabalhos na vida pública, foram do agrado de Deus e bem-vistos pelos homens: Daniel e seus três companheiros; e Ester, a rainha da Pérsia e da Média (Et.5:2); e Débora, a “abelha-rainha”, juíza (Jz.4:4,6).

Ao longo da história da Igreja, homens e mulheres também desempenharam com louvor atividades políticas que glorificaram a Deus com suas ações. Citamos, como exemplo, William Wilberforce (1759 - 1833), que por influência do Evangelho e impactado pelo ministério de John Wesley, foi quem liderou o fim do tráfico de escravos no reino britânico. Sim, Deus usa pessoas para glorificar o seu nome na política. Entendo que a Igreja deve fazer parte de todos os segmentos da sociedade a partir do que o próprio Jesus disse: “Vós sois o sal da terra... a luz do mundo” (Mt.5:13,14).

Como cristãos precisamos fazer a diferença em nossa sociedade e para isso, precisamos estar bem informados a respeito do que aqueles que foram eleitos estão fazendo. Não podemos também nos esquecer de que a Palavra de Deus nos exorta a orarmos por aqueles que estão exercendo cargos políticos e autoridades governamentais.

3. O Estado e a Política. O Estado é um conjunto de pessoas que se organiza através de uma estrutura e que exerce o poder de modo supremo sobre um determinado território; é a sociedade política, a organização de um grupo social em termos de relação de poder. Não haverá nação sem uma sociedade organizada política, jurídica e administrativamente, sobre uma base territorial definida. Ora, como o Estado é resultado da existência da política, que está inserida na própria criação do homem, não há como deixar de reconhecer que a sua existência é algo divinamente constituído, algo que não atenta contra a Palavra de Deus e que, portanto, não é um mal em si. O que Deus não concorda é com o mau exercício do poder.

A organização da sociedade é uma exigência da natureza do homem, pois o homem é um ser social. Foi assim que Deus o fez. Um homem que, voluntariamente, vive isolado de tudo e de todos, por certo não é um homem normal. O próprio Deus entendeu que não era bom para o homem viver só (Gn.2:18). Todavia, para se processar uma organização social não se fará com simples distribuição de flores, de sorrisos, de conselhos, isto porque interesses terão que ser contrariados. Daí a necessidade do agente organizador, que, no caso de uma nação, é o Estado, que necessita da força coercitiva necessária, e esta vem do poder. Não haverá o Estado sem que haja o poder. O Estado no uso do poder constitui o governo, e este é que vai gerir os interesses da sociedade.

Com bem diz o Pr. Douglas Baptista, como vivemos num estado democrático de direito, onde tanto cidadãos quanto autoridades instituídas têm direitos e deveres mediante a carta constitucional do país, isto é, vivemos no império das leis, por isso, devemos exercer o mesmo princípio de submissão ao Estado esposado pelo apóstolo Paulo em Romanos 13:1,2:

“Toda alma esteja sujeita às autoridades superiores; porque não há autoridade que não venha de Deus; e as autoridades que há foram ordenadas por Deus. Por isso, quem resiste à autoridade resiste à ordenação de Deus; e os que resistem trarão sobre si mesmos a condenação”.

4. O Estado e a Bíblia. A Bíblia Sagrada retrata o Estado como instrumento ordenado por Deus (Rm.13:1); assim, os que resistem ao Estado afrontam a Deus (Rm.13:2). O pacto que Deus fez com Noé, ainda está em vigência, pelo qual Deus entregou aos homens o governo da Terra. Este pacto, ou aliança durará até a implantação do Governo de Cristo, o que só ocorrerá no Milênio. Até lá a terra estará sob o governo humano. Contudo, o poder para o exercício do governo só pode vir de Deus. Então, a autoridade nada mais é do que um preposto de Deus. É como se seus atos estivessem sendo realizados pelo próprio Deus. Eles são referendados por Deus. Esta é a razão de Paulo afirmar que “...quem resiste à autoridade resiste à ordenação de Deus...” (Rm.13:2).

Em 1Pd.2:14 está escrito que as autoridades foram ordenadas por Deus para castigo dos malfeitores e para louvor dos que fazem o bem. Em Rm.13:4 está escrito: “Porque ela é ministro de Deus para teu bem...”. Cada autoridade tem o dever de promover o bem e coibir o mal, e um sistema político mostra toda a sua imperfeição e insuficiência a partir do instante em que o mal não é mais punido e o bem deixa de ser louvado ou de “valer a pena”.

A ordem do apóstolo Pedro é: “Toda a alma esteja sujeita...” (1Pd.2:13). É uma ordem dirigida a todos sem qualquer exceção. Aqui, sujeitar-se significa “colocar-se debaixo de”, ”submeter-se”. Significa ainda que devemos, voluntariamente, obedecer às autoridades constituídas. Todavia, essa sujeição não implica obediência cega, tem limites; é simplesmente uma atitude de reconhecimento das pessoas que ocupam posição de comando numa sociedade juridicamente organizada. Obediência não se confunde com concordância ou consentimento. Devemos obedecer às autoridades, cumprir o que elas determinam, mas isto não significa que devamos concordar cegamente com elas em suas atitudes.

A obediência dá-se à autoridade, não ao homem que a exerce. Isto faz diferença? Sim, faz toda a diferença. Autoridade é palavra cuja origem vem de autorizar, ou seja, é a autoridade quem está autorizado a fazer algo. As autoridades, portanto, não têm poder por si mesmas, mas recebem este poder de outrem. Assim, por exemplo, o Presidente da República é a nossa autoridade máxima no Brasil, porque foi autorizado pelo povo, que o elegeu a dirigir o governo e o Estado brasileiro pelo período de seu mandato. É por isso que, para ser empossado, deve apresentar ao Congresso Nacional o seu diploma, que é o documento pelo qual a Justiça Eleitoral mostra que ele está autorizado pelo povo a assumir o cargo de Presidente da República.

A obediência à autoridade é devida enquanto esta autoridade estiver dentro dos limites traçados, limites estes que são fixados pelo próprio Deus e que foram muito bem definidos pelo Senhor Jesus.

  • À época do profeta Elias, sete mil fiéis não serviram a Baal, ainda que isto significasse afronta às determinações do rei Acabe, vez que este rei, também, não tinha autorização alguma de Deus para infringir a lei de Moisés.
  • Os amigos de Daniel não estavam obrigados a adorar a estátua, apesar da ordem do rei Nabucodonosor, porque Deus não havia autorizado o rei de Babilônia a impor a idolatria a seus súditos.
  • Os apóstolos não estavam obrigados a obedecer ao Sinédrio quando este mandou que eles não mais pregassem o Evangelho em Jerusalém, pois a autoridade política, mesmo a político-religiosa, não tinha recebido de Deus qualquer autorização para imiscuir-se no assunto da evangelização, matéria em que o próprio Jesus havia dado a ordem, a “Grande Comissão”, aos seus discípulos.

Assim, enquanto a autoridade estiver dentro da sua autorização, devemos-lhe obediência e submissão. Se, porém, houver abuso por parte dela, inserindo-se em assuntos para os quais não foi chamada nem autorizada a atuar, como, por exemplo, no que concerne à evangelização e ao ensino das Escrituras Sagradas, temas delegados por Deus somente à igreja, então não estamos sujeitos às suas determinações, pois ela estará atuando ilegitimamente, sem qualquer autorização divina.

II. A SEPARAÇÃO DO ESTADO DA IGREJA: UMA HERANÇA PROTESTANTE

O Estado não deve ter uma religião favorita, do mesmo modo que a Igreja não pode se misturar com o Estado (Mt.22:21). A relação entre Igreja e Estado deve ser marcada pelo equilíbrio, de modo que aquela não venha a interferir diretamente nas decisões deste. O objetivo central da Igreja é viver de acordo com os parâmetros do reino de Deus, tendo ciência de que, antes de sermos cidadãos da terra, somos cidadãos dos céus (Fp.3:20).

1. A união entre a Igreja e o Estado. Nos primórdios do século IV, Constantino terminara com a clandestinidade dos cristãos, outorgando-lhes certos privilégios e permitindo a construção de grandes templos. Em 313 d.C., através do Édito de Milão, o imperador decretara a liberdade de culto religioso a toda manifestação de crença, inclusive cristã, e o fim do paganismo como religião oficial do Império Romano. O imperador Constantino foi o primeiro governante do Império Romano de credo cristão, embora não fosse batizado até pouco antes de falecer. Com ele começava uma nova época para a igreja, e em transcurso do século IV a sua influência nas esferas do poder aumentaria, apesar do parêntese de três anos que implicou o governo de Juliano, durante o qual o paganismo foi restaurado, até tornar-se, em 380 d.C., através do Édito de Tessalônica, na religião oficial tanto no Oriente quanto no Ocidente.

O Édito de Tessalônica foi decretado pelo imperador romano Teodósio I, a 27 de fevereiro de 380 d.C., pelo qual estabeleceu que o cristianismo tornar-se-ia, exclusivamente, a religião de estado, no Império Romano, abolindo todas as práticas politeístas dentro do império e fechando templos pagãos. A 24 de novembro de 380 d.C., fazia-se público o édito nos seguintes termos:

"Queremos que todos os povos governados pela administração da nossa clemência professem a religião que o divino apóstolo Pedro deu aos romanos, que até hoje foi pregada como a pregou ele próprio, e que é evidente que professam o pontífice Dámaso e o bispo de Alexandria, Pedro, homem de santidade apostólica. Isto é, segundo a doutrina apostólica e a doutrina evangélica cremos na divindade única do Pai, do Filho e do Espírito Santo sob o conceito de igual majestade e da piedosa Trindade. Ordenamos que tenham o nome de cristãos católicos quem sigam esta norma, enquanto os demais os julgamos dementes e loucos sobre os quais pesará a infâmia da heresia. Os seus locais de reunião não receberão o nome de igrejas e serão objeto, primeiro da vingança divina, e depois serão castigados pela nossa própria iniciativa que adotaremos seguindo a vontade celestial. Dado o terceiro dia das Kalendas de março em Tessalônica, no quinto consulado de Graciano Augusto e primeiro de Teodósio Augusto”.

Com este Édito, o Império Romano na íntegra passava a ter uma nova religião oficial depois de 67 anos de liberdade de culto. O Panteão Romano fora complementado ao longo de muitos séculos com os deuses, deidades e lares domésticos, com o culto aos próprios antepassados e até mesmo com divindades pré-romanas que foram assimiladas durante o processo de romanização em muitos lugares do império. Tudo isto devia ser agora abandonado no culto a uma religião monoteísta e as normas morais que a acompanhavam.

Contudo, essa oficialização do culto não beneficiou totalmente a Igreja. Como máxima autoridade do império, Teodósio incluiu o sacerdócio nos funcionários públicos, o que na prática os situava sob a sua autoridade. No ano seguinte da promulgação do Édito de Tessalônica, o mesmo imperador Teodósio convocava o Primeiro Concilio Ecumênico de Constantinopla. O seu objetivo era conciliar a ortodoxia cristã com os simpatizantes do arianismo e tratar a problemática da heresia macedônica. Também confirmar o credo Niceno como a doutrina oficial da igreja. Na realidade, as teses arianas foram de novo recusadas, e posteriormente foi emitido um novo édito imperial que dava caráter legal às conclusões do concílio.

Amostra das fortes tensões geradas neste período entre Igreja e Estado é a excomunhão que o mesmo imperador sofreria em 390 d.C., decretada por Ambrósio após a revolta e posterior matança em Tessalônica, onde teriam sido mortas cerca de seis mil pessoas. O imperador foi escarnecido em público pelo bispo de Milão, negando este a entrada na igreja. Após uma longa penitência e como compensação, o imperador decretou em 392 d.C. a proibição dos sacrifícios pagãos, e uma imensa massa da população viu-se obrigada a professar uma religião não muito acorde com os costumes sociais e morais da sua civilização. Ao amparo desta nova proibição começou uma forte repressão contra a população pagã, que teve a sua culminação na segunda destruição da biblioteca de Alexandria e do grande templo de Serapis por uma multidão encabeçada pelo patriarca da cidade, Teófilo.

(Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Édito_de_Tessalônica).

Cremos que o governo civil é uma instituição fundada por Deus para conservar a ordem e promover o bem da sociedade humana; os crentes devem ter por ele o máximo respeito. A única exceção é o caso das leis que proíbem reuniões e a propagação da Palavra de Deus. Então reconhecemos como instituições de origem divina: a família, o governo civil, e a igreja de Jesus Cristo. Essas três instituições deverão servir de apoio mútuo umas às outras, sem, porém, interferir no funcionamento uma da outra, vivendo uma completa independência entre Igreja e Estado.

2. A separação entre a Igreja e o Estado. A separação entre Igreja e Estado é uma doutrina política e legal que estabelece que o governo e as instituições religiosas devem ser mantidos separados e independentes uns dos outros. A expressão se refere mais frequentemente à combinação de dois princípios: secularismo do governo e liberdade religiosa.

A separação entre o Estado e a Igreja é uma das heranças do protestantismo. Foi a partir da Reforma Protestante, tendo como principal protagonista o Monge Martinho Lutero, que, paulatinamente, os conceitos de liberdade, de tolerância religiosa, de democracia e de separação entre Igreja e Estado foram alçados ao status de direitos fundamentais.

No decorrer da Reforma, cada vez se buscava esse intento, de separar a Igreja do Estado, e os anabatistas (“rebatizadores”) tiveram um papel influenciador neste intento; eles queriam fazer mais do que reformar a Igreja: pretendiam levá-la de volta ao modelo inicial, retratado nas Escrituras Sagradas. Em vez de uma instituição poderosa, queriam uma irmandade, uma família de fé, criada por Deus, que trabalhava no coração das pessoas. Os anabatistas propuseram a separação entre a Igreja e o Estado, pois viam a Igreja como algo distinto da sociedade - até mesmo da sociedade denominada "cristã". Eles não queriam, sob hipótese alguma, a presença de poderes políticos que coagissem a consciência do crente em qualquer aspecto de sua vida.

Entende-se que o Estado não deve interferir na Igreja nem a Igreja no Estado. Aliás, a Palavra de Deus mostra que a ideia de Estado e Igreja não dá bons resultados (cf. At.4:1-7); neste texto vê-se o poder político querendo controlar a vida espiritual da Igreja.

No entanto, cegado pelo inimigo, o homem vê, no poder político, uma forma de se divinizar, de se tornar um verdadeiro deus, como se isto fosse possível. Todas as civilizações dominadas pelo pecado foram enebriadas pela ilusão do “poder político” que, assim, desvirtuado, somente fomentou o aumento do pecado e da rebelião contra Deus. Este desejo de poder, de se igualar a Deus resulta num poder político que, além de opressor do próximo, tem atuado sempre dentro dos propósitos do adversário que o domina, ou seja, tem servido para que os postulados contrários às Escrituras venham a ter guarida e, até mesmo, a conivência e o estímulo dos governantes.

A ideia de que a política deve ser exercida sem qualquer conotação religiosa e bíblica faz com que, a cada instante, os governantes defendam iniciativas que sejam contrárias e contraditórias a princípios de fé, exatamente para confirmar a orientação de que o poder político não tem qualquer vinculação a religiões ou movimentos religiosos, a princípios bíblicos, a Igreja. Assim, por exemplo, devem ser entendidos os atos de diversos governos no sentido de se aprovarem leis que aprovem condutas que são repudiadas pela Igreja, como o aborto, a eutanásia, a prostituição, as uniões homossexuais.

O adversário de nossas almas, assim, prossegue oferecendo “os reinos do mundo e a glória deles” a muitos homens e mulheres vocacionados para a vida pública, homens e mulheres preparados e com grande capacidade de articulação e de contágio das massas e que, assim fazendo, ante o predomínio dos regimes democráticos no mundo, atingem o poder e, nele instalados, põem em prática esta plataforma de rebelião contra Deus, já que se trata de uma ação de quem se acha acima de Deus, de quem quer se tornar um deus, de quem não enxerga o poder supremo do Senhor e, tal como Nabucodonosor, tem a ilusão de que “é o tal” (cf. Dn.4:30-32); pessoas que se deixaram levar pela “soberba da vida”(1João 2:16), um dos elementos que existem neste mundo pecaminoso, distanciado de Deus.

3. O Modelo de Estado Laico Brasileiro. No Brasil, a separação entre a Igreja e o Estado foi efetivada em 7 de janeiro de 1890, pelo Decreto nº 119-A, e constitucionalmente consagrada desde a Constituição de 1891. Até 1890, o catolicismo era a religião oficial do Estado e as demais religiões eram proibidas, em decorrência da norma do art. 5º da Constituição de 1824. O catolicismo era subvencionado pelo Estado e gozava de enormes privilégios. A atual Constituição brasileira, de 1988, em seu art.19, proíbe, à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios, "estabelecer cultos religiosos ou igrejas, subvencioná-los, embaraçar-lhes o funcionamento, ou manter com eles, ou seus representantes, relações de dependência ou aliança, ressalvada, na forma da lei, a colaboração de interesse público". Portanto, neste artigo está definida a separação entre o Estado e Igreja, mas ressalva na forma da lei, a colaboração de interesse público.

Em suma, o Estado é laico, mas a liberdade religiosa deve ser garantida, e o poder público deve se manter independente em relação aos cultos religiosos ou igrejas. Deve proteger e garantir o livre exercício de todas as religiões, e com elas colaborar, sempre no interesse público, o que não significa, evidentemente, colaborar nas despesas com a construção de obras religiosas, porque está terminantemente proibido de subvencionar qualquer religião.

Portanto, embora o Estado brasileiro seja laico, ele não é laicista (laicismo denota a ausência de envolvimento religioso em assuntos governamentais). A liberdade religiosa não é um abstrato, mas, sim, um concreto, onde o seu direito não se presa pela retenção do pensamento, mas na sua manifestação. Desde os primórdios, o ser humano tem a necessidade de cultuar a Deus (Sl.42:1). Portanto, o Estado não pode negar a natureza religiosa do indivíduo.

III. COMO O CRISTÃO DEVE LIDAR COM A POLÍTICA

Muito se tem falado sobre o crente e a política, havendo desde posições que consideram o envolvimento do cristão com a política como o próprio desvio espiritual. Todavia, a política é algo que está presente em qualquer grupo humano. O próprio Deus, quando criou o homem, afirmou que ele deveria dominar sobre o restante da criação (Gn.1:26), bem como, no jardim onde o colocou, disse que ele deveria guardá-lo (Gn.2:15), numa clara demonstração que a natureza humana envolvia o exercício do poder, consequência do próprio livre-arbítrio de que ele foi dotado. Ora, toda relação de poder é uma relação política e, neste sentido, certíssimo estava Aristóteles, o grande filósofo grego, ao afirmar que o homem é um animal político. O que o cristão precisa ter cuidado é com a politicagem, ou seja, com a prática distorcida e corrupta da atividade política.

1. O perigo da politicagem. Politicagem são atos antiéticos, que visam o benefício próprio e não a sociedade, são ações de politiqueiros que querem se dar bem às custas do povo. Muitas são as corrupções que estão acontecendo no meio político (veja os exemplos da Lava-Jato, aqui no Brasil) que não está de acordo com a responsabilidade que é dada aos representantes do povo. O maior perigo dos atos politiqueiros envolvendo os cristãos é colocar em descrédito as Escrituras Sagradas e a Igreja.

Existe constantes corrupção acontecendo no meio político que não está de acordo com a responsabilidade que é dada aos representantes do povo. Acontecem muitos escândalos envolvendo políticos corruptos, que aproveitam a oportunidade de estarem no poder e desviam dinheiro público para suas contas bancárias, cometem crime de favorecimento de parentes, fazem esquemas de compras ou obras superfaturadas. Os políticos com esse perfil, contrários às convicções cristãs, não podem receber o apoio da Igreja. A exortação do apóstolo Paulo aos crentes da Igreja em Corinto ainda ecoa neste presente século: "Não vos prendais a um jugo desigual com os infiéis; porque que sociedade tem a justiça com a injustiça? E que comunhão tem a luz com as trevas? E que concórdia há entre Cristo e Belial? Ou que parte tem o fiel com o infiel?" (2Co.6:14,15).

2. Como delimitar a atuação da Igreja. É necessário que os princípios éticos cristãos sejam estritamente observados. O púlpito da Igreja não pode dar lugar ao "palanque eleitoreiro". Mas, em tempo de eleição, algumas igrejas se vendem, fazendo tudo o que os candidatos a cargos públicos querem. Até mesmo os preletores das festividades são escolhidos pelos políticos. Infelizmente, a cada dia, vemos pastores perdendo a visão espiritual e distanciando-se da Palavra de Deus, e se conformando com o mundo e suas filosofias (Rm.12:1,2).

À época de pleito eleitoral, muitos candidatos a cargos políticos gostam de levar para os eventos das igrejas pregadores comprados, que fazem menções honrosas aos seus nomes e induzem o povo a votar neles. Eles definem quem serão os pregadores, cantores, etc., porque são pessoas conhecidas deles, as quais falarão bem deles, induzindo os crentes a votarem neles. Isso é vergonhoso!

É lamentável que muitos líderes de igrejas estejam nas mãos de políticos com segundas intenções, que escolhem até os pregadores e cantores para ocuparem os púlpitos das igrejas e fazer deles o seu palanque eleitoral. O que a igreja pode esperar de pregadores e cantores comprados por políticos? Falarão eles a verdade da parte de Deus? Serão eles profetas do Altíssimo? Ou terão como prioridade massagear os egos do público e principalmente dos políticos que os compraram?

Os líderes das igrejas locais não deviam negociar o inegociável. Não deviam permitir que os enganadores façam dos congregados negócios com palavras fingidas, conforme adverte o apóstolo Pedro: ”... e, por avareza, farão de vós negócio com palavras fingidas...” (2Pd.2.3). “É verdade que a igreja precisa de conscientização política, mas isso não significa ocupar o espaço de adoração e pregação da Palavra com campanhas políticas”. É preciso estabelecer limites.

3. O cristão, enquanto eleitor, deve exercer seu dever cívico. Sendo um país governado por um regime democrático é dever de todo cidadão cumprir o seu papel, exercendo o direito de escolha de seus representantes e governantes. É através do exercício do voto que são escolhidos os governantes e os legisladores num país democrático, como é o Brasil, não podendo, pois, os servos de Deus omitirem-se dessa obrigação, porquanto tal gesto será fazer sempre triunfar pessoas descompromissadas com a Palavra de Deus. Se os cristãos se omitirem, certamente que os candidatos aos cargos públicos serão sempre pessoas que não farão a mínima questão de apresentarem programas e planos de governo que tenham pontos e premissas concordantes com os ditames da Palavra de Deus, pois, diante da omissão dos cristãos, tal observância não se fará necessária. A consequência será, sempre, a subida ao poder de governantes e representantes que farão o que não é agradável a Deus, e a história de Israel está repleta de exemplos do que acontece com a nação que é governada por este tipo de gente. O cristão deve fazer o bem, como o seu Senhor (At.10:38), e, neste bem, está o de participar da escolha de pessoas que, ao governarem nossa sociedade, tenham, pelo menos, temor a Palavra de Deus ou a seus preceitos. A democracia é isto, como deixou claro o presidente norte-americano Abraham Lincoln que definiu a democracia como o "governo do povo, pelo povo e para o povo".

O cristão, enquanto eleitor, deve analisar as propostas e as condutas dos candidatos, de modo a verificar se são pessoas que demonstram ter respeito e observância por preceitos bíblicos. O cristão deve examinar tudo o que se passou na vida do candidato, suas palavras, seus gestos e atitudes ao longo de sua história, bem como verificar se suas promessas têm fundamento e são factíveis, ou se somente são manifestações demagógicas e conversas levianas, que buscam engodar e enganar o eleitor. Devemos examinar tudo e reter o bem (1Ts.5:21). Se se tratar de um candidato que se diz servo de Deus, esta análise deve ser ainda mais cuidadosa, devendo ser destacada o seu caráter, a sua reputação e a vida espiritual do candidato.

CONCLUSÃO

A Bíblia valoriza a política e os políticos. Quanto à política, ela faz parte da própria essência administrativa de Deus. Quanto aos políticos, eles são considerados agentes de Deus (quer estejam conscientes ou não disso; quer acreditem ou não nisso) a fim de governarem com seriedade para que Deus seja glorificado e o povo respeitado. Cabe a Igreja do Senhor adquirir maturidade espiritual para votar e ser votada, e fazer deste país, o Brasil, uma grande nação, pois não há autoridade que não seja constituída por Deus, e bem-aventurada é a nação cujo Deus é o Senhor. A Igreja precisa ocupar o seu espaço e influenciar positivamente a sociedade (cf. Mt.5:13-16). Lembre-se: “quando o ímpio reina o povo chora, mas quando o Justo governa o povo se alegra” (Pv.29:2).

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Fonte: Luciano de Paula Lourenço

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