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terça-feira, 29 de julho de 2014

5ª Lição do 3º Trimestre de 2014: O CUIDADO AO FALAR E A RELIGIÃO PURA

 
Texto Base: Tiago 1.19-27

 
“.... Mas todo o homem seja pronto para ouvir, tardio para falar, tardio para se irar” (Tg 1:19).

 

INTRODUÇÃO

Zenão – um pensador antigo – disse: “temos dois ouvidos, mas apenas uma boca; assim podemos escutar mais e falar menos”. Tiago adverte: “Sabeis isto, meus amados irmãos; mas todo o homem seja pronto para ouvir, tardio para falar” (Tg 1:19). Quanto menos falar, menos risco a pessoa tem de tropeçar. Alerta o sábio Salomão: “No muito falar não falta transgressão, mas o que modera os lábios é prudente” (Pv 10:19). Falar é uma necessidade básica, e ouvir é uma responsabilidade vital para aqueles que desejam construir relacionamentos saudáveis e maduros. Todavia, precisamos falar o necessário, na hora certa e de forma eficaz, sem “jogar conversa fora”.

I. PRONTO PARA OUVIR TARDIO PARA FALAR (Tg 1:19,20)

“Sabeis isto, meus amados irmãos; mas todo o homem seja pronto para ouvir, tardio para falar, tardio para se irar. Porque a ira do homem não opera a justiça de Deus”.

A comunicação é a chave para um relacionamento saudável. Dependendo da maneira como nos comunicamos, podemos dar vida ou matar um relacionamento. Portanto, esteja pronto para ouvir e prudente no falar.

1. Pronto para ouvir (1:19). “Sabeis isto, meus amados irmãos; mas todo o homem seja pronto para ouvir...”. Aqui, trata-se de uma ordem incomum, dada quase em tom de humor. É como dizer: “apressem-se em ouvir!”. O termo "pronto", no grego, é “táxys”, de onde vem nossa palavra táxi (rápido). O táxi é um carro de serviço. Ele deve estar sempre disponível. Seu objetivo é atender o cliente, sempre. Se vamos usar um táxi, é porque temos pressa. Não podemos esperar. Assim ocorre também com a comunicação. Devemos ter rapidez para ouvir. Significa que devemos estar prontos para ouvir a Palavra de Deus, bem como todo conselho e admoestação justos. Devemos nos sujeitar ao ensino do Espírito Santo.

O rev. Hernandes Dias Lopes – em seu livro “Tiago (transformando provas em Triunfo)” – disse que é preciso que estejamos prontos para ouvir a voz de Deus, a voz da consciência, a voz de nosso próximo. Hoje estamos perdendo o interesse em ouvir, e o resultado disso é a família em desarmonia, é a sociedade fragmentada. Se nós estivéssemos prontos para ouvir, com a mesma disposição que estamos prontos a falar, certamente haveria menos ira e mais encontros abençoadores e saudáveis entre nós.

Hoje, estamos substituindo relacionamentos por coisas. Os pais já não têm mais tempo para os filhos. Eles estão muito ocupados e não podem mais ajudar os filhos nos deveres da escola, nem ouvir o que os filhos têm a dizer sobre suas fantasias de criança ou suas angústias da adolescência.

O diálogo está morrendo entre marido e mulher. Os casamentos estão acabando, o índice de divórcio está crescendo espantosamente, porque os cônjuges estão correndo atrás do urgente e deixando o que é importante de lado; estão valorizando coisas e não relacionamentos; estão substituindo pessoas por coisas.

Temos de ouvir com os ouvidos, com os olhos e com o coração. Precisamos disponibilizar tempo e atenção para os outros. As pessoas são mais importantes que as coisas.

2. Tardio para falar (1:19). É surpreendente como Tiago insiste em tratar do nosso modo de falar! Adverte-nos a ser cuidadosos em nossas conversas. O que Tiago quer dizer com “tardio” é que devemos refletir primeiro, e não falar de imediato. É preciso saber a hora de falar e também o que falar. O que temos a dizer é verdadeiro? É oportuno? Edifica? Transmite graça aos que ouvem? Geralmente falamos antes de pensar, de ouvir, de orar, de medir as consequências. Devemos ter muito cuidado com isso, pois: "a morte e a vida estão no poder da língua..." (Pv 18:21). As palavras podem dar vida ou matar.

Salomão teria concordado plenamente com Tiago. Ele disse: “O que guarda a boca conserva a sua alma. Mas o que muito abre os lábios a si mesmo se arruína” (Pv 13:3). Por isso, Davi orava a Deus e pedia: "Põe, ó Senhor, uma guarda à minha boca; vigia a porta dos meus lábios!" (Sl 141:3). Muito transgride quem fala para depois pensar, fala sem refletir e fala mais do que o necessário. Diz o sábio Salomão: “Na multidão de palavras não falta transgressão, mas o que modera os seus lábios é prudente” (Pv 10:19); “Até o tolo, quando se cala, é tido por sábio” (Pv 17:28). Quem fala demais acaba caindo em pecado. Precisamos, pois, estar atentos sobre o que falamos, como falamos, quando falamos, com quem falamos e por que falamos.

3. “Tardio para se irar” - Controle a sua ira. “Mas todo o homem seja... tardio para se irar. Porque a ira do homem não opera a justiça de Deus”. O verdadeiro crente deve saber se controlar tanto verbal quanto emocionalmente, deve saber lidar com a palavra e também com a ira.

Quem se irrita com facilidade não produz a justiça que Deus espera de seus filhos. Quem perde a calma transmite uma impressão equivocada do cristianismo. A maior demonstração de força está no autodomínio, e não no domínio sobre os outros. Diz Salomão: “Melhor é o longânimo do que o valente, e o que domina o seu espírito do que o que toma uma cidade” (Pv 16:32). Em geral, a ira humana é desgovernada, destruidora e pecaminosa; é obra da carne, e não opera a justiça de Deus. A Palavra de Deus não proíbe o crente de ficar indignado, irado, contra o pecado, a injustiça (Lc 19:45), entretanto, estabelece limites para o nosso temperamento não se achar descontrolado, deixando-nos impulsivamente irados – “irai-vos e não pequeis...” (Ef 4:26). Diz o sábio Salomão: “Retém as suas palavras o que possui o conhecimento, e o homem de entendimento é de precioso espírito” Pv 17:27).

Caim não soube controlar suas emoções, sua tempestividade, por isso cometeu grave crime – “...E irou-se Caim fortemente, e descaiu-lhe o seu semblante” (Gn 4:5). Caim irou-se, não dominou sua ira, e esta o levou à prática do homicídio – “...e sucedeu que, estando eles no campo, se levantou Caim contra o seu irmão Abel e o matou” (Gn 4:8). Caim, um homem descontrolado pela ira!

Precisamos aprender a lidar com nossos sentimentos. Um indivíduo temperamental provoca grandes transtornos na família, no trabalho, na igreja e na sociedade. O cristão, que é templo do Espírito Santo, tem de levar a sua mente cativa a Cristo (2Co 10:5) e manifestar o fruto do Espirito Santo: o domínio próprio (Gl 5:22).

II. PRATICANTE E NÃO APENAS OUVINTE DA PALAVRA (Tg 1:21-25)

1. Enxertai-vos da Palavra (Tg 1:21). “Pelo que, rejeitando toda imundícia e acúmulo de malícia, recebei com mansidão a palavra em vós enxertada, a qual pode salvar a vossa alma”.

Para que a Palavra de Deus seja enxertada efetivamente no coração do crente, primeiramente é necessária que ele desaposse de seu coração toda impureza e maldade - " despojando-vos de toda impureza e acúmulo de maldade"(ARA). A Palavra de Deus é comparada a uma semente, e o coração do homem, a um solo. Antes de lançarmos a semente precisamos preparar a terra. Jesus falou de quatro tipos de solo: o solo endurecido, o superficial, o congestionado e o frutífero (Mt 13:3-9). Antes de acolhermos a Palavra, precisamos remover a erva daninha da impureza e da maldade. Também é requerida uma atitude correta para receber a Palavra: "... recebei com mansidão a palavra em vós enxertada...". A mansidão é o oposto da ira (Tg 1:19). É necessário adubar o terreno para que a semente frutifique. A Palavra deve ter raízes profundas em nossa vida; senão, seremos destruídos quando as tempestades derem de ímpetos contra nós. Tiago fala ainda acerca do resultado da recepção da Palavra: "... a qual pode salvar a vossa alma". Quando nascemos da Palavra, ouvimos a Palavra, recebemos a Palavra e praticamos a Palavra, podemos ter garantia da salvação.

2. Praticai a Palavra (Tg 1:22-24).E sede cumpridores da palavra e não somente ouvintes, enganando-vos com falsos discursos. Porque, se alguém é ouvinte da palavra e não cumpridor, é semelhante ao varão que contempla ao espelho o seu rosto natural; porque se contempla a si mesmo, e foi-se, e logo se esqueceu de como era”.

Não basta receber a Palavra enxertada; é preciso também obedecer-lhe. De nada adianta ter uma Bíblia ou mesmo lê-la como um livro qualquer. Devemos traduzir a Bíblia em ações. Suas palavras devem se materializar em nosso modo de viver. Ao ler as Escrituras, devemos sempre permitir que elas mudem nossa vida para melhor. Professar grande amor pela Palavra de Deus ou considerar-se um grande estudioso da Bíblia não passará de um modo de se enganar se o conhecimento crescente não nos tornar cada vez mais semelhante a Jesus.

Quem é “ouvinte da Palavra”, mas não muda seu comportamento, “é semelhante ao varão que contempla ao espelho o seu rosto natural”. Ou seja, vê a própria imagem de relance no espelho toda a manhã e depois se esquece completamente do que viu. Ele não tirou proveito nenhum do espelho e do fato de ter se olhado nele. Claro que alguns elementos de nossa aparência não podem ser mudados, mas pelo menos podem nos tornar mais humildes! E, quando o espelho nos diz que é hora de lavar o rosto, fazer a barba, pentear os cabelos, ou escovar os dentes, devemos atender. De outro modo, é inútil ter o espelho.

É fácil ler a Bíblia de forma descuidada ou por obrigação sem nos tocarmos pela leitura. Vislumbramos o ideal de Deus para nós, mas nos esquecemos rapidamente dEle e continuamos a viver como se já fôssemos perfeitos. Nossa presunção impede o progresso espiritual. (1)

3. Persevere ouvindo e agindo (Tg 1:25).Mas aquele que considera, atentamente, na lei perfeita, lei da liberdade, e nela persevera, não sendo ouvinte negligente, mas operoso praticante, esse será bem-aventurado no que realizar” (ARA).

Neste texto, Tiago mostra aquele que considera, atentamente, a Palavra de Deus e tem por hábito colocá-la em prática. Para ele, a Bíblia é a lei perfeita, a lei da liberdade, porque é somente obedecendo à lei de Deus que a verdadeira liberdade pode ser encontrada (compare com João 8:31,32). Ao obedecer, esse indivíduo descobre a verdadeira libertação do modo de pensar carnal. A verdade o liberta. Esse indivíduo colhe os benefícios das Escrituras. Não se esquece daquilo que leu. Antes, procura colocar a leitura em prática na vida diária. Como cristãos, nós somos salvos pela graça de Deus, e a salvação nos liberta do controle do pecado. Como crentes, nós somos livres para viver como Deus nos criou para viver. Naturalmente, isso não quer dizer que somos livres para fazer o que quisermos (cf 1Pe 2:16; Gl 5:13) – agora somos livres para obedecer a Deus. A obediência simples como a de uma criança traz bênçãos inestimáveis para a alma. O indivíduo será bem-aventurado no que realizar.

III. A RELIGIÃO PURA E VERDADEIRA (Tg 1:26,27)

Em Tiago 1:26,27, vemos um contraste entre a falsa religião e a religião pura e sem mácula. O termo “religião” representa os padrões de comportamento associados à crença religiosa e diz respeito às manifestações exteriores, e não ao espírito interior. Refere-se às expressões da crença no culto e no serviço, e não à doutrina em que a pessoa crê.

1. A falsa religiosidade.Se alguém entre vós cuida ser religioso e não refreia a sua língua, antes, engana o seu coração, a religião desse é vã” (Tg 1:26).

A religião pura e verdadeira vai muito além de doutrinas e ritos. Hoje há um grande abismo entre o que professamos e o que vivemos; entre o que dizemos e o que fazemos; entre a nossa profissão de fé e a nossa prática de vida; entre o cristianismo teórico e o cristianismo prático. Esse distanciamento entre verdades inseparáveis, essa falta de consistência e coerência, dá à luz uma religião esquizofrênica e farisaica.

Tiago aponta o sério risco de se viver uma religião descomprometida, mística, teórica, descontextualizada, sem praticidade e sem pertinência histórica. Ele diz que não basta o ritual bonito, a liturgia pomposa, a exterioridade irretocável. É preciso celebrar a liturgia da vida. Para tanto, ele coloca o prumo de Deus em nós e questiona-nos: somos verdadeiros religiosos ou não? Como saber se somos? No controle da língua.

Tiago afirma que a língua é como animal selvagem. Se for controlada e refreada de modo apropriado, poderá ser usada para o bem. Mas seus poderes de destruição serão enormes, se for deixada a seu bel-prazer. A pessoa que deixa de controlar sua língua acaba enganando o próprio coração na questão da veracidade de sua religião. Ele é um mero “ouvinte” da Palavra e, quando falha em colocar em prática aquilo que ouve, mostra que sua religião é vã: vazia, inútil e infrutífera. Pode observar todas as cerimônias religiosas e, desse modo, parecer extremamente piedoso, mas está apenas enganando a si mesmo.

Miriã e Arão, um casal sem o controle da língua. Dando um salto bíblico de mais de 3.400 anos, falemos de Miriã e de Arão, irmãos de Moisés, que não souberam dominar a língua e murmuraram contra Moisés – “E falaram Miriã e Arão contra Moisés, por causa da mulher cuxita, que tomara, porquanto tinha tomado a mulher cuxita” (Nm 12:1). Miriã, como líder da rebelião, só não morreu por causa da intercessão de Moisés. Porém, ficou temporariamente leprosa.

A língua funciona como aferidora do coração. Ela é como uma radiografia que revela o que está em nosso interior. Não há coração puro se a língua é impura. Não há língua santa se o coração é um poço de sujeira. Não há cristianismo verdadeiro sem santidade da língua. Se o coração estiver certo, a língua mostrará isso.

A língua desenfreada é apenas um exemplo da “religião vã”. Qualquer comportamento incoerente com a fé cristã é vão. Conta-se a história do dono de um mercantil que fingia ser um homem piedoso. Morava num apartamento em cima do comércio e, todas as manhãs, gritava para seu assistente no andar de baixo:

-  João!

-  Sim, senhor.

-  Já misturou água no leite?

-  Sim, senhor.

-  Já mudou a data de vencimento da manteiga?

-  Sim, senhor.

-  Já requentou o pão de ontem?

-  Sim, senhor.

-  Então suba aqui para fazer o devocional!

Tiago diz que uma religião como essa é vã, falsa. Deus não se contenta com rituais; seu interesse maior é pela vida de piedade prática.

2. A verdadeira religião (Tg 1:27). “A religião pura e imaculada para com Deus, o Pai, é esta: visitar os órfãos e as viúvas nas suas tribulações e guardar-se da corrupção do mundo”.

A religião verdadeira não é um simples ritual, não é misticismo ou encenação, mas é ter uma vida separada para Deus. É guardar-se incontaminado do mundo, ou seja, do sistema de valores pervertidos, corruptos, sujos, imorais e inconsequentes.

A religião que agrada ao Senhor é rechaçar o mal ainda que mascarado de bem. O mundo é atraente, ele arma um cenário encantador para nos atrair. Contudo, o mundo jaz no maligno(1João 5:19).

O verdadeiro religioso tem compaixão dos necessitados (Tg 1:27). Tiago associa, dentro da comunidade cristã, a verdadeira religião com práticas adequadas, e mostrando que a fé verdadeira está associada não apenas à fé, mas com o que fazemos para espelhar nossa fé. O cuidado dos necessitados não é o conteúdo do cristianismo, mas sua expressão. A preocupação prática da religião de uma pessoa é o cuidado pelos outros. A religião é a prática da fé, é a fé em ação. Palavras não substituem obras (Tg 2:14-18; 1João 3:11-18).

3. Guardando-se da corrupção do mundo (Tg 1:27). Tiago, também, menciona outro aspecto da verdadeira religião: “... guardar-se da corrupção do mundo”. Para nos protegermos da corrupção do mundo, precisamos nos comprometer com o sistema ético e moral de Cristo, e não com o do mundo. Não devemos nos adaptar ao sistema de valores do mundo, baseado no dinheiro, no poder e no hedonismo. A verdadeira fé não significa nada se estivermos contaminados com estes valores. Não podemos amar o mundo nem ser amigo dele. Não podemos nos conformar com o mundo para não sermos condenados com ele.

Observe a exortação de João: “Não ameis o mundo, nem o que no mundo há. Se alguém ama o mundo, o amor do Pai não está nele. Porque tudo o que há no mundo, a concupiscência da carne, a concupiscência dos olhos e a soberba da vida, não é do Pai, mas do mundo. E o mundo passa, e a sua concupiscência; mas aquele que faz a vontade de Deus permanece para sempre” (1João 2:15-17).

A Bíblia diz que “Demas amou o presente século”, ou seja, amou o mundo - abandonou deliberadamente e conscientemente a sua fé, apostatou-se (2Tm 4:10).

Estamos fisicamente no mundo, mas não espiritualmente nele (João 17:11-16). Estamos no mundo não para que ele nos contamine, mas para sermos nele instrumentos de transformação. No mundo somos embaixadores de Deus, somos ministros da reconciliação; somos sal, luz e perfume de Cristo (Mt 5:13,14; 2Co 2:15).

CONCLUSÃO

Concluindo esta Aula, devemos avaliar nossa fé com as seguintes perguntas: leio a Bíblia com o desejo humilde de receber a repreensão e o ensino de Deus e de ser transformado por Ele? Anseio por aprender a refrear a minha língua? Como reajo quando alguém começa a contar uma piada imprópria? Minha fé se manifesta em atos de bondade para com aqueles que não têm como retribuir?

Nos dias em que vivemos, em que "tudo é relativo", é preciso lembrarmos que o falar do crente deve ser sim, sim, não, não, e o que sai disto é de procedência maligna (Mt 5:37). Equivocam-se os faladores da atualidade que acham que suas palavras não são levadas em conta pelo Reto e Supremo Juiz. Não só nossas ações, mas também nossas palavras são levadas em conta diante de Deus. Tenhamos muito cuidado com o que falamos, pois tudo está sendo anotado perante o Senhor - “Mas eu vos digo que de toda palavra ociosa que os homens disserem hão de dar conta no Dia do Juízo” (Mt.12:36). Que possamos dizer como Jó: “Nunca os meus lábios falarão injustiça, nem a minha língua pronunciará engano” (Jó 27:4). Que os nossos ouvidos estejam prontos para ouvir, a nossa língua para falar sabiamente e a nossa vida para praticar tudo quanto aprendemos do Evangelho. Que este seja o compromisso de todos os cristãos, na presença de Deus, neste mundo!

Fonte: ebdweb

terça-feira, 15 de julho de 2014

3ª Lição do 3º trimestre de 2014: A IMPORTÂNCIA DA SABEDORIA HUMILDE



Texto Base: Tiago 1:5; 3:13-18

 
“Não desamparares a sabedoria, e ela te guardará; ama-a e ela te conservará” (Pv 4:6)

 

INTRODUÇÃO

Tiago escreveu a Epístola que leva o seu nome com dois objetivos precípuos: Primeiro,confortar as igrejas para as quais ele escreve em meio a muitas tribulações as quais ele estava passando. Os cristãos no século primeiro estavam sujeitos a todo tipo de assédio da polícia local: havia prisões, arrestamento de bens, tortura e eventualmente a morte. Existiam problemas financeiros. No capítulo cinco, Tiago faz menção a injustiças cometidas pelos patrões ricos opressores. Ele consola os cristãos que trabalhavam nos campos desses senhores, proprietários de terras. Em fim, era uma igreja muito sofrida e que precisava de conforto, precisava de consolo da parte de Deus.

Segundocorrigir algumas deficiências na fé e na prática desses irmãosAparentemente esta comunidade - tudo indica de judeus convertidos ao cristianismo -, não tinha ainda compreendido plenamente todas as implicações do evangelho. Eles não estavam enfrentando as tribulações e o sofrimento da maneira correta. Por isso que Tiago tem de dizer para eles como eles deviam passar pelo sofrimento. Quando lemos a Epístola toda de Tiago temos a impressão que aqueles irmãos tinham uma compreensão deficiente da doutrina fundamental do cristianismo, que é a doutrina de que somente somos justificados pela fé, sem as obras da lei. Para eles, se você é justificado pela fé em Cristo Jesus, o que você faz ou como você vive isso não vai ter muito impacto em seu relacionamento com Deus. Isto é o que em Teologia nós chamamos de antinomianismo, ou seja, a ideia de que a fé e a graça excluem as obras, atitude, comportamento e o andar diante de Deus. Então Tiago Tg 2:14-26, confronta essa compreensão errada, e afirma que a fé salvadora sempre vem acompanhada da evidência. Desta feita, fé e obras são dois lados de uma mesma moeda: a fé sendo a raiz da salvação e as obras sem fruto dela; onde tem uma vai ter a outra; onde falta uma a outra também falta.

Nesta Aula, vamos aprender com Tiago como viver com sabedoria humilde neste mundo, no meio das provas. “Ele inicia a temática em tom de exortação, enfatizando a necessidade da sabedoria divina como condição básica de levar a igreja a viver a Palavra de Deus com alegria, coerência, segurança e responsabilidade (Tg 1:5). E isso tudo sem precisar fugir das tribulações ou negar que o crente passa por problemas”. “Como servos de Deus, somos chamados por Ele para uma vida que espelhe decisões e práticas advindas de uma sabedoria espelhada na sabedoria divina”. (1)

I. A NECESSIDADE DE PEDIRMOS SABEDORIA A DEUS (Tg 1:5)

“E, se algum de vós tem falta de sabedoria, peça-a a Deus, que a todos dá liberalmente e não o lança em rosto; e ser-lhe-á dada”.

Todos nós carecemos de sabedoria. A Bíblia não oferece respostas específicas para as inúmeras questões que surgem ao longo da vida; não resolve os problemas de forma explícita, mas nos fornece os princípios gerais. Precisamos de sabedoria para aplicá-los aos desafios da vida diária. A sabedoria espiritual consiste, portanto, na aplicação prática dos ensinamentos de Jesus às situações do quotidiano.

1. A sabedoria que vem de Deus. ”E, se algum de vós tem falta de sabedoria, peça-a a Deus”. Quando estamos sendo provados, precisamos de sabedoria para não desperdiçar as oportunidades que Deus está nos dando para chegarmos à maturidade. A sabedoria nos ajuda a entender como usar as provas para nosso bem e para a glória de Deus. Sabedoria é olhar para a vida com os olhos de Deus. Há pessoas que têm erudição, mas não sabem viver a vida nem fazer escolhas corretas.

Há uma sabedoria que vem de Deus e outra engendrada pelo próprio homem. A sabedoria do homem vem da razão, enquanto a sabedoria de Deus vem da revelação. A sabedoria do homem desemboca no fracasso, a sabedoria de Deus dura para sempre. A Bíblia traz alguns exemplos da tolice da sabedoria do homem: Primeiro, a torre de Babel parecia ser um projeto sábio, mas terminou em fracasso e confusão (Gn 11:9). Segundo, pareceu sábio a Abraão descer ao Egito em tempo de fome em Canaã, mas os resultados provaram o contrário (Gn 12:10-20). Terceiro, o rei Saul pensou que estava sendo sábio quando colocou a sua armadura em Davi (1Sm 17:38,39). Quarto, os discípulos pensaram que estavam sendo sábios pedindo a Jesus para despedir a multidão no deserto, mas o plano de Cristo era alimentá-la por meio deles (Mt 14:13,16). Quinto, os especialistas em viagens marítimas pensaram que era sábio viajar para Roma e por isso não ouviram os conselhos de Paulo e fracassaram (At 27:9-11).

Portanto, “a sabedoria que vem de Deus é o meio pelo qual o ser humano alcança o discernimento da boa, agradável e perfeita vontade divina (Pv 3:1-5; Rm 12:1,2). Sem esta sabedoria, o ser humano vive à mercê de suas próprias iniciativas, dominado por suas emoções, sujeitando-se aos mais drásticos efeitos das suas reações” (LBM).

2. Deus é o doador da sabedoria. Deus é a fonte da sabedoria; Ele é o doador. Ele dá - “a todos” - generosamente a sabedoria necessária para que possamos viver neste mundo de forma que o agrademos e sejamos também referenciais para as pessoas que nos cercam. A generosidade de Deus é ilimitada. A generosidade de Deus não conhece limites na terra: é para todos. A generosidade de Deus não conhece limites no céu: Ele dá liberalmente. A acolhida de Deus é garantida (1:5): Deus não rejeita aquele que o busca (Sl 66:20).

3. Peça a Deus sabedoria. “E, se algum de vós tem falta de sabedoria, peça-a a Deus, que a todos dá liberalmente e não o lança em rosto...”. Aqui, Tiago orienta a todos os que não têm sabedoria para buscá-la, em Deus, por meio da oração. Devemos rogar ao Senhor a sabedoria de que precisamos e Ele certamente a dará como um presente divino, “e não o lança em rosto”, ou como diz na linguagem popular, “não joga na nossa cara”. Deus é o detentor da sabedoria que nos é necessária em todos os momentos, e Ele faz questão de que a tenhamos.

Perceba que há uma conexão natural entre Tg 1:4 e Tg 1:5. No verso 4 Tiago diz que o alvo de Deus é que nós não devemos ser deficientes de nada, de que não tenhamos necessidade de nada – “Tenha, porém, a paciência a sua obra perfeita, para que sejais perfeitos e completos, sem faltar em coisa alguma”. E aí ele acrescenta no verso 5: “E, se algum de vós tem falta de sabedoria, peça-a a Deus...”.  Percebe-se, então, que ele está continuando o assunto. O propósito de Deus é que não tenhamos nenhuma deficiência. E uma dessas deficiências é a sabedoria. Sabedoria que é mencionada aqui não é aquela sabedoria teórica que nós acumulamos em nossos estudos seculares, mas é a sabedoria prática, aquela que é mencionada no livro de Salmos e Provérbios – “O temor do Senhor é o princípio da sabedoria” (Sl 111:10; Pv 1:7; 15:33).

Sabedoria é você tomar as decisões certas e encaminhar a sua vida à luz do temor de Deus, fazer o que é certo. Sinceramente, é isso o que mais nos falta no meio das provações. Nós não tomamos decisões, diante dos problemas, como se faz no mundo, como os descrentes tomam. Por exemplo, se a sua empresa está com problemas, está com dificuldades, então um homem que não conhece a Deus ele vai usar de recursos ilícitos, ele vai burlar a lei, ele vai fazer negócios escusos e errados para salvar a sua empresa; mas, o cristão não pode fazer isso, ele tem que achar uma solução que está de acordo com a Palavra de Deus. Se você tem um problema com seu filho, se a sua filha tem um relacionamento com o seu namorado fora dos padrões bíblicos, morais, as pessoas do mundo não têm problema com isso, mas nós temos porque somos cristãos. Como é que vamos lidar com um filho problemático e difícil? Lá no mundo isso é fácil, mas nós não podemos tomar qualquer decisão e segui qualquer caminho quando a dificuldade bate à nossa porta. Quando estamos enfrentando o inimigo e certas dificuldades, lá no mundo as pessoas agem de forma brutal, mas um cristão não pode fazer isso. Como, então, enfrentarmos essas coisas? É aqui que precisamos de sabedoria. É o que mais precisamos no meio das provações, para achar o caminho correto, para nos comportar de uma maneira que glorifique o nome de Deus.

Tiago diz que se alguém tem falta dessa sabedoria peça a Deus. É claro que o que está por detrás aqui dessa orientação é a história de Salomão no Antigo Testamento, quando Deus apareceu a Salomão e lhe deu permissão para lhe fazer um pedido e Salomão pediu, acima de tudo, sabedoria para governar o povo de Deus; e Deus se agradou daquele pedido e concedeu a Salomão não somente sabedoria, mas inclusive tudo aquilo que ele não tinha pedido, a saber, riquezas e poder sobre os seus inimigos. O Deus de Salomão é o mesmo nosso. E Tiago, então, encoraja aos cristãos a pedir sabedoria com os seguintes argumentos:

a) que Deus dá liberalmente. Ou seja, Ele dá de maneira abundante. Ele não mede a sabedoria que nos dá literalmente. Mas Ele derrama com graça e abundância sobre nós.

b) que Deus “não lança em rosto”. Por exemplo, se você vai tomar um empréstimo financeiro a um amigo, o amigo pode lançar no teu rosto que no mês anterior ele já te emprestou dinheiro. Deus não faz isso conosco; Ele não lança em rosto. Quando nos chegamos a Ele para lhe pedir sabedoria, Ele não vai dizer assim: “eu já te dei sabedoria!”; “Você já me pediu isso!”; “Lá vem você de novo!”; “Por que estás aqui outra vez?”. Não! Deus não lança em nosso rosto as nossas faltas. Mas, Ele nos acolhe como sendo a primeira vez e liberalmente nos concede, como Tiago afirma no final do verso 5: “e ser-lhe-á dada”.

Aqui está a promessa de que Deus tem prazer em dar sabedoria aos seus filhos quando estamos passando por grandes dificuldades, por grande provação e vivemos em meio de grandes tentações. Podemos, então, nos socorrer de Deus pedindo-lhe sabedoria.

É uma pena que nós deixamos para fazer isso depois; primeiro nós planejamos tudo, como vamos resolver os nossos problemas, e depois de tudo planejado nós chegamos para Deus e dizemos: “Deus, eu vou fazer desta maneira, se o Senhor puder abençoar eu agradeço”. Mas, não é isso que Tiago nos instrui. Nós temos que, em todo tempo, a primeira coisa que temos que fazer é orar quando as dificuldades batem à nossa porta.

II. A DEMONSTRAÇÃO PRÁTICA DA SABEDORIA HUMILDE (Tg 3:13)

“Quem entre vós é sábio e inteligente? Mostre em mansidão de sabedoria, mediante condigno proceder, as suas obras” (ARA).

1. A sabedoria colocada em prática. Em Tg 3:13, Tiago trata da diferença entre a verdadeira sabedoria e a falsa. O autor não se refere à soma de conhecimentos de uma pessoa, mas a sua vida no dia-a-dia. O que conta não é ter o conhecimento, mas saber aplicá-lo. Tiago conclama os servos de Deus a demonstrarem sabedoria divina através de ações concretas. A pessoa sábia manifesta a vida de Cristo, uma vida na qual o fruto do Espírito é evidente (Gl 5:22,23). Como bem diz o pr. Eliezer de Lira, “a sabedoria é a virtude que devemos buscar e cultivar em nossos relacionamentos neste mundo (Mt 5:13-16)”. Portanto, a sabedoria de Deus é prática; ela muda a vida e produz bons frutos para a glória de Deus. Quem não produz frutos, produz galhos.

2. A humildade como prática cristã. Na concepção de Tiago, sabedoria e humildade devem andar juntas. O sábio tem atitudes humildes, não arrogantes. Da mesma forma que a sabedoria de que precisamos encontra sua fonte em Deus, a humildade nos faz ser sempre mais dependentes de Deus. Curiosamente falando, a obediência a Deus é uma demonstração de humildade, e não de arrogância. A desobediência a Deus e aos seus preceitos mostra o quanto podemos ser arrogantes, mas a dependência de Deus e a humildade demonstram o quanto somos obedientes a Ele. (2)

Humildade é uma condição necessária para todo aquele que quer viver como salvoOs cristãos no princípio da Igreja foram ensinados que o orgulho, a altivez, a soberba eram coisas do mundo e que “... Deus resiste aos soberbos, dá, porém, graça aos humildes...”(Tg 4:6). Neste mesmo sentido ensinou, também, o Apóstolo Pedro, dizendo: “... revesti-vos de humildade, porque Deus resiste aos soberbos, mas dá graça aos humildes”(1Pedro 5:5). Também escreveu Paulo: “Nada façais por contenda ou por vanglória, mas por humildade; cada um considere os outros superiores a si mesmo”(Fp 2:3).

Pelo que se pode observar, entre os crentes da igreja do primeiro século não havia sentimentos de grandeza, orgulho, soberba, superioridade – “E era um o coração e a alma da multidão dos que criam...” (Atos 4:32).

Portanto, para andar como salvo é necessário andar em humildade. Contudo, existem muitas ideias erradas sobre o verdadeiro sentido da humildade. Vamos considerar o que não é humildade.

– Humildade não é pobreza. Normalmente quando alguém quer se referir a um irmão muito pobre costuma-se dizer: “é um irmão muito humildezinho”. Porém, nem todo pobre é humilde, bem como nem todo rico é soberbo, ou orgulhoso. Existem pobres revoltados pelo simples fato de serem pobres. Não se conformam, têm inveja dos ricos. Humildade e inveja são dois sentimentos que não podem habitar juntos.

– Humildade não é ausência de cultura. Costuma-se dizer: “aquele irmão é muito humilde, nem ler ele sabe”. Todavia, para ser orgulhoso, altivo, soberbo, não precisa saber ler. Nem todo analfabeto é humilde e nem todo letrado e sábio tem que ser altivo e soberbo. Existe uma nova geração de obreiros que possuem vários diplomas de curso superior, são muito culto, escritores, porém muitos destes deixaram a verdadeira humildade, por isso correm o risco de nem estar vivendo como salvos.

– Humildade não é aparência exterior. Não é pela aparência exterior que identificamos uma pessoa humildeAlguém pode dizer: Ele é muito humilde, não liga para nada, anda mal vestido, não tem vaidade”. Isto pode ser desleixo, falta de higiene, mau gosto no vestir.Humildade não é alimentar-se e vestir-se mal, podendo alimentar-se e vestir-se bem. Humildade não é ter um carro velho, podendo ter um novo. Humildade não é morar num barraco, podendo morar numa casa confortável.

Portanto, a verdadeira humildade manifesta-se de dentro para fora, não é, apenas, aparência exterior.

3. Obras em mansidão de sabedoria. “Quem entre vós é sábio e inteligente? Mostre em mansidão de sabedoria, mediante condigno proceder, as suas obras” (Tg 3:13). Se um homem for sábio e inteligente, demonstrará esses atributos num condigno proceder, juntamente com um espírito humilde resultante da sabedoria. O Senhor Jesus - a encarnação da verdadeira sabedoria -, não era orgulhoso nem arrogante, mas manso e humilde de coração (Mt 11:29). Assim, as pessoas verdadeiramente sábias podem ser distinguidas pela humildade autêntica. Alguém disse que “mansidão não é fraqueza, mas poder sob controle”. Uma pessoa que não tem controle pessoal ou domínio próprio não é sábia. Mansidão é o uso correto do poder, assim como a sabedoria é o uso correto do conhecimento.

III. O VALOR DA VERDADEIRA SABEDORIA E A ARROGÂNCIA DO SABER CONTENCIOSO (Tg 3:14-18).

A verdadeira sabedoria – a sabedoria divina – não é contenciosa nem facciosa e nem beligerante. A sabedoria do homem leva à competição, rivalidade e guerra (Tg 4:1,2), mas a sabedoria de Deus conduz à paz. Essa paz é produzida pela santidade e não pela complacência ao erro. Não se trata de paz que encobre o pecado, mas da paz fruto da confissão de pecado.

1. Sabedoria verdadeira e a arrogância do saber. Não é incomum ver pessoas de destacável conhecimento secular tornarem-se arrogantes no trato com outras que as cercam, pelo fato de serem bem dotadas intelectualmente e de um saber bastante destacável. Todavia, isto não é aceitável aos olhos de Deus. É necessária sabedoria humilde para convivermos com pessoas intelectualmente menos favorecidas. O acúmulo de conhecimento não pode obstruir nossa vida espiritual de tal forma que nos tornemos arrogantes. Sabedoria é o uso correto do conhecimento. Uma pessoa pode ser culta e tola; pode ter muito conhecimento e não saber se relacionar com as pessoas; pode ter muito conhecimento e não saber viver consigo e com os outros. Sabedoria é também olhar para a vida com os olhos de Deus.

É bom enfatizar que Tiago não condena pessoas que estudam e que se valem de seus conhecimentos ao longo de suas vidas, “mas coloca em cheque o hábito de algumas pessoas acharam-se superiores a outras porque possuem conhecimento. Estudar é muito bom, e nos torna pessoas mais capacidade para servir a Deus e ao próximo com muitos talentos, mas não pode nos tornar pessoas altivas. A soberba é tão duramente condenada por Deus que Ele resiste ao soberbo, mas dá graça ao humilde. Portanto, usufruamos do conhecimento que Deus nos permite ter, mas busquemos acima de tudo aproveitar esse conhecimento de forma sábia e com humildade”. (4)

2. Atitudes a serem evitadas. “Pois, onde há inveja e sentimento faccioso, aí há confusão e toda espécie de coisas ruins” (Tg 3:16). Pensamentos errados produzem atitudes erradas. Uma das causas do porquê deste mundo estar tão bagunçado é que os homens têm rejeitado a sabedoria de Deus e age de acordo com a sua suposta inteligência. Tiago 3:14,16 lista duas características próprias de pessoas arrogantes: inveja e sentimento faccioso.São evidências da falsa sabedoria. São atitudes a serem evitadas pelos salvos em Cristo.

a) Quanto à inveja. O homem com sabedoria terrena é caracterizado pela inveja e ambição egoísta de seu coração; seu objetivo maior é beneficiar a si mesmo. O invejoso é implacável com seus concorrentes, orgulha-se da própria “sabedoria” que lhe trouxe sucesso. Porém, Tiago afirma que isso não é sabedoria, mas apenas vanglória infundada. É uma negação prática da verdade segundo a qual a pessoa genuinamente sábia também é genuinamente humilde.

Não é incomum que haja inveja entre as pessoas, mas pior ainda é quando esse sentimento da carne (Gl 5:21) encontra abrigo no coração dos servos de Deus. E justamente aqui encontra-se o desafio de Tiago; ele alertou para o perigo de se cobiçar ofícios espirituais na igreja (Tg 3:1). Existe sempre o risco de a liderança da igreja ser entregue a um homem com sabedoria terrena. Devemos permanecer atentos e não permitir que os princípios do mundo nos orientem nas questões espirituais. De acordo com Tiago, essa falsa sabedoria é “terrena, animal e demoníaca (Tg 3:15). Estes três adjetivos expressam, propositalmente, uma degeneração progressiva:

Terrena” . É a sabedoria deste mundo (1Co 1:20,21). A sabedoria do mundo diz: promova a você mesmo; você é melhor do que os outros. Os discípulos de Cristo discutiam quem era o maior dentre eles. A sabedoria do mundo exalta o homem e rouba a Deus da sua glória (1Co 1:27-31; ler Atos 12:21-23). O invejoso, em vez de alegrar-se com o triunfo do outro, alegra-se com seu fracasso. Ele não apenas deseja ter como o outro tem, mas tem tristeza porque não tem o que é do outro; ou seja, o invejoso ele não quer um cargo igual ao seu, ele quer o seu cargo, a sua função.

Animal” (ou “não-espiritual”). Que está em oposição à nova natureza que temos em Cristo; é uma sabedoria totalmente à parte do Espírito de Deus. Essa sabedoria escarnece das coisas espirituais. O mundo está cada vez mais secularizado; as coisas de Deus não importam; a Palavra de Deus não governa a vida familiar, econômica, profissional e sentimental das pessoas.

- “Demoníaca” . Que se presta a ações que remetem ao comportamento de demônios, e não de homens. Essa foi a sabedoria usada pela serpente para enganar Eva, induzindo-a a querer ser igual a Deus e fazendo-a descrer de Deus para crer nas mentiras do diabo. As pessoas hoje continuam crendo nas mentiras do diabo (Rm 1:18-25). O diabo se transfigura em anjo de luz para enganar as pessoas. Pedro revelou essa “sabedoria” quando tentou induzir Cristo a fugir da cruz (Mc 8:32,33).

b) Quanto ao sentimento faccioso. É outra característica de quem alega ter a sabedoria e não consegue demonstrá-la na prática. A falsa sabedoria manifesta-se através de um sentimento faccioso. Há grandes feridas nos relacionamentos dentro das famílias e das igrejas. A palavra que Tiago usa, erithia, significa espírito de partidarismo. Subentende a inclinação por usar meios indignos e divisórios para promover os próprios interesses. Era a palavra usada por um político à cata de votos. As pessoas estão a seu favor ou estão contra você. Tiago, então, propõe à igreja um desafio àqueles que afirmavam ter a verdadeira sabedoria: eles precisavam observar a verdadeira sabedoria que vem do Céu.

Paulo alertou os crentes de Filipos sobre o perigo de estarem envolvidos na obra de Deus com motivações erradas: vanglória e partidarismo (cf Fp 2:3). Essa exortação é bastante atual!

CONCLUSÃO

A verdadeira sabedoria é humilde e faz parte da nova natureza do crente. Só pode tê-la quem é nascido de novo, regenerado. Tiago não está tratando de uma sabedoria oriunda do aprendizado secular, não; está, sim, tratando da sabedoria das Escrituras, que é Espírito e Vida. É resultado de uma intima relação com Deus, por meio do Seu filho Jesus e pela força do Espírito Santo. Por isso, então, esta sabedoria não pode ser negociada. Ela vem exclusivamente de Deus, por meio do estudo e da exposição das Escrituras Sagradas.

Fonte: ebdweb

terça-feira, 1 de julho de 2014

1ª lição do 3º Trimestre de 2014: FÉ QUE SE MOSTRA PELAS OBRAS

Texto Base: Tiago 2:14-26


“Assim também a fé, se não tiver as obras, é morta em si mesma” (Tg 2:17).

INTRODUÇÃO


Mais um trimestre inicia-se. “Fé e Obras – Ensinos de Tiago para uma vida Cristã Autêntica” - é o tema deste trimestre. Tenho certeza de que este ensino, que foi entregue aos santos irmãos do primeiro século, encaixa-se perfeitamente em nossos dias. Eu creio que não há discordância de que os ensinos da Epístola de Tiago são plenamente necessários à igreja contemporânea. Nenhum outro livro do Novo Testamento é tão direto e enfático sobre a relação entre a fé e as obras na vida do verdadeiro cristão. Tiago preocupa-se com a prática do cristianismo. Para ele não basta ter um credo, fazer uma profissão de fé ortodoxa, é preciso viver de forma digna de Deus. Todo o livro de Tiago é comparado ao sermão do monte; tem princípios práticos. Ele tange os grandes temas da vida cristã de forma clara e direta. Os teólogos o consideram o livro de Provérbios do Novo Testamento.

Almejo que, no final do trimestre, após estudarmos os temas propostos, tenhamos plena consciência de que o Evangelho não admite uma vida cristã acompanhada de um discurso desassociado da prática. A nossa fé deve ser confirmada através das obras. É isto o que Tiago nos ensina: “Assim, também a fé, se não tiver obras, por si só está morta” (Tiago 2:17).

I. AUTORIA, LOCAL, DATA E DESTINATÁRIOS (Tg 1:1)

1. Autoria. “Tiago, servo de Deus e do Senhor Jesus Cristo, às doze tribos que se encontram na Dispersão, saudações”. Percebe-se por este versículo que o autor da Epístola foi Tiago. Mas, qual Tiago? O nome Tiago não era incomum nos dias de Jesus, e no Novo Testamento ocorrem ao menos quatro citações a pessoas que tinham esse nome:

a) Tiago, apóstolo, filho de Zebedeu, irmão de João. Foi um dos primeiros apóstolos seguir a Jesus em seu Ministério (Mc 1:19). Junto com João, seu irmão, e Pedro tornou-se um dos apóstolos mais íntimos de Jesus (cf. Mc 5:37; 9:2; 10:35).

b) Tiago, apóstolo, filho de Alfeu. É mencionado apenas nas listas dos apóstolos e (possivelmente) em Marcos 15:40, como “Tiago, o menor” (apenas “Tiago” no texto paralelo de Mt 27:56).

c) Tiago, pai de Judas (Lc 6:16). Este Judas, que é um dos doze, se distingue do Judas Iscariotes (vide João 14:22); provavelmente deve estar relacionado ao nome Tadeu, em Mateus 10:3 e Marcos 3:18. Por ser ainda mais desconhecido, é razoável descartá-lo como o autor da Epístola.

d) Tiago, “o irmão do Senhor” (Gl 1:19). No começo, ele não cria em Jesus (João 7:2-5), porém, mais tarde, tornou-se um proeminente líder na vida da igreja de Jerusalém (At 12:17; 15:13; 21:18; Gl 2:9).

Dos quatro Tiago descritos acima, apenas o filho de Zebedeu e o irmão do Senhor destacam-se como proeminentes. Entretanto, Tiago – o filho de Zebedeu – morreu martirizado em 44 d.C (At 12:2), e é improvável que a Epístola tenha sido escrita numa época tão remota. Desta feita, é notório que Tiago – irmão do Senhor - seja o mais provável autor da epístola que leva o seu nome.

Tiago foi uma das seletas pessoas para quem Cristo apareceu depois da ressurreição (1Co 15:7). Ele estava no cenáculo, com os apóstolos no Pentecostes (At 1:14). Paulo o chamou de pilar da igreja de Jerusalém (Gl 2:9). Paulo viu Tiago quando foi a Jerusalém depois de sua conversão (Gl 1:19), bem como em sua última viagem a Jerusalém (At 21:18).

Quando Pedro saiu da prisão, falou para seus amigos contarem a Tiago (At 12:17). Tiago foi o líder do importante concílio de Jerusalém (At 15:13). Judas identificou-se simplesmente como o irmão de Tiago (Jd 1).

De incrédulo a crente, de crente a líder, de líder a servo de Cristo. Ele não se apresenta como irmão do Senhor, mas como seu servo. Ele é um homem humilde. Essa é a transformação que o evangelho produz! É impossível alguém ser um verdadeiro cristão sem primeiro ser humilde de espírito.

Tiago foi apedrejado em 62 d.C., pelo sinédrio. Embora amado pelo povo, Tiago era odiado pela aristocracia sacerdotal que governava a cidade. O sumo sacerdote da época (Ananias?) levou Tiago ao sinédrio, sendo ele condenado e apedrejado, sobretudo pelas posições severas que tomara contra a aristocracia abastada que explorava os pobres, e à qual o sumo sacerdote da época pertencia (Tg 5:1-6).

2. Local e data. Tiago talvez tenha sido o primeiro livro escrito do Novo Testamento e, portanto, possui um tom claramente judaico. Flavo Josefo afirma que Tiago foi morto em 62 a.C., de modo que a carta é anterior a essa data. Tendo em vista a ausência de qualquer menção às decisões tomadas no Concícilio de Jerusalém (c. 49 ou 50 d.C) presidido por Tiago (At 15), costuma-se datá-la entre 45 e 49 d.C. Está escrito no Comentário do Novo Testamento – Aplicação Pessoal  -  que Tiago escreveu esta carta em Jerusalém, onde vivia.

3. Destinatário. “... às doze tribos que se encontram na Dispersão…” (Tg 1:1). A Epístola é dirigida às doze tribos que se encontram na Dispersão (gr. Diáspora), uma referência aos judeus de nascimento, pertencentes às doze tribos de Israel. O relato do dia de Pentecostes mostra que, naquela ocasião, havia em Jerusalém judeus devotos de todas as partes do mundo conhecido (At 2:4). Tais indivíduos poderiam ser chamados corretamente de judeus da Dispersão. Mas, a Epístola de Tiago foi destinada, originalmente, aos judeus cristãos (Tg 2:1;5:7,8) que possivelmente se converteram no Pentecostes e foram dispersos depois do martírio de Estêvão (At 8:1; Tiago 1:1). Vemos em Atos 8:1 que os primeiros cristãos (a maioria de origem judaica) se espalharam pela Judéia e Samaria devido à perseguição promovida, entre outros, por Saulo de Tarso. Essa dispersão volta a ser mencionada em Atos, na passagem que diz que os cristãos se espalharam até a Fenícia, Chipre e Antioquia (At 11:19).

Por força ou por escolha, os judeus estavam vivendo por toda parte do Império Romano. Eles eram crentes, mas eram perseguidos. Eles eram cidadãos dos céus, mas viviam dispersos na terra. Eles eram crentes, mas tiveram seus bens saqueados. Eles eram crentes, mas eram pobres e, muitos deles, estavam sendo oprimidos pelos ricos (Tg 5:1-6). Eles eram crentes, mas ficavam enfermos (Tg 5:14). Eles eram crentes, mas sofriam (Tg 5:13). Vida cristã não é uma redoma de vidro, uma estufa espiritual, uma colônia de férias, antes, é um campo de batalha. Não somos poupados dos problemas, mas nos problemas.

Conquanto não façamos parte do público-alvo original da Epístola, podemos aplicá-la a nós, pois todos os cristãos verdadeiros são estrangeiros e peregrinos neste mundo (Fp 3:20; 1Pe 2:11).

II. O PROPÓSITO DA EPÍSTOLA DE TIAGO

1. Orientar. Tiago, através de orientações práticas, exorta os cristãos, destinatários de sua Epístola, acerca da profundidade da verdadeira, pura e imaculada religião para com Deus, que é: (a) visitar os órfãos e as viúvas nas tribulações; (b) não fazer acepção e pessoas e; (c) guardar-se da corrupção do mundo (Tg 1:27). Aqui, Tiago nos ensina que a religião pura e verdadeira vai muito além de doutrinas e ritos; envolve prática, ação. Quando ele diz que há uma religião pura e sem mácula aceitável diante de Deus, significa dizer que há uma religião que não é aceitável para Deus; qual é ela? É aquela apenas de palavras, de uma fé, superficial, que não tem obras.

Hoje há um grande abismo entre o que dizemos e o que fazemos; entre a nossa profissão de fé e a nossa prática de vida; entre o cristianismo teórico e o cristianismo prático. Esse distanciamento entre essa falta de consistência e coerência, dá à luz uma religião esquizofrênica e farisaica.

Concordo plenamente com o Rev. Hernandes Dias Lopes, quando diz que o verdadeiro religioso não é egocêntrico, não é narcisista, não vive só para si, não vive recuado só no seu mundo, só olhando para si. Ele sai do casulo, da caverna da omissão. Ele se levanta da poltrona da indiferença. Ele age. Tem mãos abertas e coração dadivoso. Não é dado à verborragia, mas à ação. Não ama apenas de palavra, mas de coração. Abomina o sentimentalismo inócuo. Usa a razão, e por isso dá pão a quem tem fome. Ele celebra a liturgia da generosidade e evidencia a verdadeira religião. (1)

2. Consolar. No princípio, a igreja enfrentou terríveis perseguições – lembre-se de que Tiago estava escrevendo a crentes que tinham se espalhado pelo mundo devido à perseguição. Muitas destas provações vinham de fora. Judeus fanáticos ou “zelosos”, como Saulo de Tarso antes de sua conversão, prendiam e matavam os seguidores de Cristo (At 6:8-7:60). O reconhecimento público de Cristo como Salvador e Senhor não levava à popularidade, ao poder, ou ao prestígio. Tiago também sabia das lutas que ocorriam internamente. Uma provação pode colocar à prova a fé dos crentes, causando dúvidas e desânimo e tornando-os suscetíveis a inúmeras tentações. E Satanás tenta usar os tempos difíceis para dividir a igreja. Assim, Tiago incentivou os cristãos, destinatários de sua Epístola, a permanecerem concentrados em Deus e em sua bondade (Tg 1:17,18), e a resistirem aos ataques sutis de Satanás (Tg 4:7).

Todos os dias, os cristãos enfrentam dezenas de decisões que podem resultar em serem “perseguidos” pela sua fé. Além disto, a adversidade é parte da vida, um resultado de sermos mortais e humanos. Vivemos em um mundo arruinado, e as pessoas, todas as pessoas, ficam doentes, lutam pela vida e, no final, morrem. Deus não promete nos poupar destas dificuldades e nos dar saúde e riqueza; Ele promete, sim, estar conosco em tudo o que tivermos que enfrentar (vide João 16:31-33; Rm 8:35-39).

Quando somos provados, desenvolvemos a paciência triunfadora. Quando somos provados somos aprovados por Deus. Quando somos provados temos a oportunidade de demonstrar nosso amor por Deus. A Bíblia diz que nossa leve e momentânea tribulação produz para nós eterno peso de glória (2Co 4:17).

Como você está reagindo às provações que atacam a sua vida? Você está se entregando ou está conservando a fé? Reaja com alegria às provações, porque elas operam para produzir uma fé mais profunda, mas forte e mais segura.

3. Fortalecer. Além das perseguições cruéis, os crentes eram explorados pelos ricos e defraudados e afligidos pelos empregadores – “Eis que o salário dos trabalhadores que ceifaram os vossos campos e que por vós foi retido com fraude está clamando; e os clamores dos ceifeiros penetraram até aos ouvidos do Senhor dos Exércitos(Tg 5:4).

Deus sempre condenou com veemência essa prática injusta e desleal; mas, infelizmente, ela foi notória em todas as épocas, e ainda é muito atual (Ml 3:5; Mc 10:19; 1Ts 4:6). À época de Tiago os trabalhadores que ceifavam os campos eram privados do pagamento a que tinham direito. Mesmo que esses ceifeiros reclamassem, dificilmente seriam indenizados, pois não tinham quem defendesse sua causa com sucesso.

Os ricos não apenas estavam retendo o salário dos trabalhadores, mas estavam retendo o salário deles com fraude. Eles estavam ricos por roubar dos pobres (Pv 22:16,22). A lei de Moisés proibia ficar com o salário do trabalhador até à noite: "Não oprimirás o trabalhador pobre e necessitado, seja ele de teus irmãos, ou dos estrangeiros que estão na tua terra e dentro das tuas portas. No mesmo dia lhe pagarás o seu salário, e isso antes que o sol se ponha; porquanto é pobre e está contando com isso; para que não clame contra ti ao Senhor, e haja em ti pecado" (Dt 24:14,15). Prossegue Moisés: "Não oprimirás o teu próximo, nem o roubarás; a paga do jornaleiro não ficará contigo até pela manhã" (Lv 19:13).

Os trabalhadores foram contratados por um preço, e fizeram o seu trabalho, mas não receberam. Mas, seus clamores chegaram aos ouvidos do Senhor dos Exércitos. Portanto, Tiago exorta os santos a não desanimarem na fé, pois há um Deus que contempla as más atitudes do injusto e certamente cobrará muito caro por isso. Aquele que comanda aos hostes no Céu defende o povo oprimido na Terra. O Senhor Deus Onipotente o socorrerá e vingará. Assim, a Bíblia condena não apenas o acúmulo de bens, mas também o enriquecimento por meios desonestos. A queda de quem explora o trabalhador não tardará (Tg 5:1-3).

Além do pecado da desonestidade com os pobres, com pagamento de salários insuficientes, Tiago também poderia ter mencionado a sonegação de impostos, a desonestidade no uso de pesos e medidas, o suborno de fiscais ou outros servidores, a propaganda enganosa e a falsificação de recibos de despesa. O cristão genuíno deve ser honesto para pagar suas dívidas e cumprir com os seus compromissos financeiros.

III. ATUALIDADE DA EPÍSTOLA

1. Num tempo de superficialidade. Tiago escreveu para corrigir a fé do tipo “é fácil crer”, o tipo de fé superficial em Cristo, que é uma mera aceitação intelectual – a atitude que transforma a fé em uma ortodoxia fria, em que a pessoa meramente crê nos fatos corretos a respeito de Deus e de Jesus. Tiago assim explicou: “Tu crês que há um só Deus? Fazes bem; também os demônios o creem e estremecem“ (Tg 2:19). Obviamente, os demônios não são cristãos, e ainda assim, de certa forma, eles são “crentes”. O seu tipo de fé está longe de ser a fé que salva.

A igreja de Jerusalém tinha passado por um tremendo crescimento. Com este crescimento, havia, sem dúvida, muitas pessoas que queriam fazer parte da multidão cristã, mas que não tinham profundidade em sua fé. Ananias e Safira parecem ter se encaixado nesta categoria. A sua falsa declaração e as suas mortes dramáticas abalaram a jovem igreja (ver At 5:1-11). Percebe-se pelas Epístolas apostólicas que outras pessoas também abandonaram a sua fé em Cristo, quando se tornou mais difícil participar da comunidade cristã: “Saíram de nós, mas não eram de nós; porque, se fossem de nós, ficariam conosco; mas isto é para que se manifestasse que não são todos de nós” (1João 2:19).

Para lidar de frente com este problema, sob a inspiração do Espírito Santo, Tiago declarou que uma fé superficial, que simplesmente crê nos fatos sobre Jesus Cristo, não é suficiente. A verdadeira fé envolve uma confiança irrestrita e sincera em Jesus Cristo, e será evidenciada por uma vida transformada. Em outras palavras, a verdadeira fé irá produzir boas obras.

O problema enfrentado por Tiago, no século I, é um problema predominante hoje. As igrejas estão cheias de pessoas que afirmam serem seguidoras de Cristo. No entanto, infelizmente, as reivindicações de muitos destes ditos seguidores são vazias, porque a sua fé é superficial – as suas vidas contradizem que eles dizem, por ações e atitudes não-cristãs específicas ou pelo que eles deixam de fazer. A aplicação deste tema na Epístola de Tiago é clara: a igreja deve constantemente chamar as pessoas à genuína fé em Cristo – uma fé que resulta em vidas transformadas. E os cristãos devem avaliar, individualmente, o seu próprio nível de obediência ao seu Mestre e voltar a se comprometer a realizar as boas obras que resultam de serem salvos. (2)

2. Num tempo de confusão entre “salvação pela fé” ou “salvação pelas obras”. Uma pessoa desavisada ao ler a Epístola de Tiago pode pensar que ela contradiz o apóstolo Paulo quanto à doutrina da salvação mediante a fé. Muitos já criticaram a Epístola de Tiago porque entenderam que ela contradiz o que Paulo escreveu em Romanos (Rm 3:28 com Tg 2:24; Rm 4:2,3 com Tg 2:21). Até mesmo Lutero entendeu mal esta Epístola.

Segundo Douglas J. Moo, o ponto de atrito estava na tensão que via entre Tiago e os “principais” livros do Novo Testamento, a respeito da questão da justificação pela fé. Disse Lutero: “Tiago desfigura as Escrituras e, assim, opõe-se a Paulo e a todo texto sagrado”; ele também caracterizou a Epístola como “epístola de palha”. Mas, apesar de Lutero ter tido claras dificuldades com Tiago, tendo chegado às raias de lhe conferir um “status” secundário do cânon, seu espírito crítico não deve ser exagerado. Ele não excluiu Tiago do cânon, e tem sido estimado que em suas obras ele cita mais da metade dos versículos de Tiago como textos detentores de autoridade.

Mas será que Tiago está contradizendo Paulo? Absolutamente não! Eles se completam!  Paulo falou que a causa da salvação é a justificação pela fé somente. Tiago diz que a evidência da salvação são as obras da fé. Paulo olha para a causa da salvação e fala da fé. Tiago olha para a consequência da salvação e fala das obras. Paulo deixa isso claro: “Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isto não vem de vós, é dom de Deus; não vem das obras, para que ninguém se glorie. Porque somos feitura sua, criados em Cristo Jesus para boas obras, as quais Deus antes preparou para que andássemos nelas” (Ef 2:8-10).

A questão levantada por Paulo era: “como a salvação é recebida?”. A resposta é: “pela fé somente”. A pergunta de Tiago era: “como essa fé verdadeira é reconhecida?”. A resposta: “pelas obras!”. Assim, Tiago e Paulo não estão se contradizendo, mas se completando. Somos justificados diante de Deus pela fé, somos justificados diante dos homens pelas obras. Deus pode ver a nossa fé, mas os homens só podem ver as nossas obras. Portanto, a salvação é só pela fé, mas a fé salvadora se evidencia pelas obras.

3. Uma fé posta em prática. Mais que um conjunto resumido de práticas e dogmas, a verdadeira fé é voltada para a prática. César Moisés Carvalho, pedagogo e autor do livro Marketing para a Escola Dominical, editada pela CPAD, disse certa vez que o problema de muitos cristãos de nossos dias não é a ortodoxia – saber fazer o que é certo à luz da Bíblia -, e sim a ortopraxia – viver aquilo que sabemos ser o certo à luz da Bíblia.

Alexandre Coelho diz que, para Tiago, é preciso conjugar o que falamos com o que fazemos, ou nossas palavras cairão no vazio. Não basta falar bonito ou saber o que falar, se não houver ação. Agir de forma conjugada faz a diferença na vida do servo de Deus. Sem dúvida, esse tem sido um dos maiores problemas da igreja em nossos dias. Não raro, muito do que é falado nos púlpitos raramente é praticado, e isso tem colocado o testemunho de muitos em desvantagem.

Ser sensível às necessidades do nosso próximo – daquele que é absolutamente necessitado - e procurar maneiras para podermos nos envolver pessoalmente é uma maneira de colocar a fé em prática - “Se cumprirdes, conforme a Escritura, a lei real: Amarás a teu próximo com a ti mesmo, bem farás” (Tg 2:8). A verdadeira fé salvífica é tão vital que não poderá deixar de se expressar por ações, e pela devoção a Jesus Cristo; Tiago chama isso de “religião pura e imaculada para com Deus” (Tg 1:27). Portanto, as obras sem a fé são obras mortas; a fé sem obras é fé morta.

CONCLUSÃO


A mensagem de Tiago denota maior ênfase à vida prática do cristão. Falar da fé cristã não é suficiente, diz Tiago; devemos vivê-la - “Meus irmãos, que aproveita se alguém disser que tem fé e não tiver as obras? Porventura, a fé pode salvá-lo?”(Tg 2:14). A prova da realidade da nossa fé é uma vida transformada. Tornemo-nos, pois, cristãos praticantes da Palavra do Senhor (Tg 1:22-25).
Fonte: ebdweb