Texto
Base: Tiago 3:13-18
“Quem dentre
vós é sábio e inteligente? Mostre, pelo seu bom trato, as suas obras em
mansidão de sabedoria” (Tg 3:13).
INTRODUÇÃO
Dando continuidade ao estudo da Epístola de
Tiago, estudaremos nesta Aula “a sabedoria como a habilidade de exercer uma
ética correta com vistas a praticar o que é certo. Veremos a pessoa sábia como
alguém que se mostra madura em todas as circunstâncias da vida, pois é no
cotidiano que a sabedoria do crente deve se mostrar”. A Carta de Tiago é um
conjunto de sermões que trata de modo muito prático a forma como um servo de
Deus deve viver, e isso inclui agir com sabedoria em todos os momentos. Na vida
cristã não vale a máxima faça o que eu digo, mas não faça o que eu
faço. Na visão de Tiago, as atitudes corretas têm mais sentido do que
palavras vazias e sem exemplo de vida.
I. A CONDUTA PESSOAL DEMONSTRA SE A NOSSA SABEDORIA É DIVINA OU
DEMONÍACA (Tg 3:13-15)
1. Sabedoria não se mostra com
discurso (Tg 3:13). “Quem dentre vós é sábio e
inteligente? Mostre, pelo seu bom trato, as suas obras em mansidão de sabedoria”.
Um cristão desejoso de crescer na vida cristã
certamente privilegia a palavra falada e escrita. Lemos a Bíblia e ouvimos as
pregações em nossas igrejas, e cremos que os discursos são elementos de
comunicação que atingem sua finalidade: convencer pessoas e motivá-las a que
tenham atitudes que agradem a Deus. Entretanto, devemos nos lembrar de que a
sabedoria não é demonstrada apenas em nossos discursos, mas também em nossas
atitudes. Palavras, como diz a sabedoria popular, o vento leva. Entretanto,
atitudes falam mais alto do que nossas próprias palavras, e ficam marcadas em
nossas vidas.
Discursos, por mais elaborados que sejam,
tornam-se inócuos se desprovidos de atitudes que os espelhem. Deus espera ver
em nós atitudes condizentes com o que ensinamos e pregamos, para que a mensagem
do evangelho seja não apenas um conjunto de palavras bem apresentadas, mas acima
de tudo, o poder de Deus manifesto em nossas vidas, moldando-nos de acordo com
a sua vontade e mostrando ao mundo a diferença que Deus faz. (1)
2. A inveja e facção (Tg 3:14). “Mas, se tendes amarga
inveja e sentimento faccioso em vosso coração, não vos glorieis, nem mintais
contra a verdade”. Inveja e facção são dois sentimentos que
andam muito próximos de nós.
A
inveja é caracterizada pelo desgosto que uma pessoa tem
em relação a outra pessoa e contra o que
essa outra pessoa possui. Diferente da arrogância, que faz com que o
arrogante veja outras pessoas como se ele estivesse em uma posição superior, o
invejoso vê a si próprio como uma pessoa que está em posição inferior. Ele
imagina que a pessoa alvo de seu sentimento não é digna de ter o que tem, e se
imagina como merecedora daqueles talentos, dons ou bens que a pessoa tem. (2)
O sentimento facccioso. É outra característica de quem
alega ter a sabedoria e não consegue demonstrá-la na
prática. A falsa sabedoria manifesta-se através de um sentimento faccioso. Há
grandes feridas nos relacionamentos dentro das famílias e das igrejas. A
palavra que Tiago usa, erithia, significa espírito de partidarismo.
Subentende a inclinação por usar meios indignos e divisórios para promover os
próprios interesses. Era a palavra usada por um político à cata de votos. As
pessoas estão a seu favor ou estão contra você. Tiago, então, propõe à igreja
um desafio àqueles que afirmavam ter a verdadeira sabedoria: eles precisavam
observar a verdadeira sabedoria que vem do Céu.
Paulo alertou os crentes de Filipos sobre o perigo de
estarem envolvidos na obra de Deus com motivações erradas: vanglória e
partidarismo (cf Fp 2:3). Essa exortação é bastante atual!
3. Sabedoria do alto e sabedoria
diabólica (Tg 3:15). “Essa não é a sabedoria que vem
do alto, mas é terrena, animal e diabólica”.
De modo meio irônico, Tiago
agora compara a sabedoria possuída por aquelas pessoas invejosas e facciosas
com a sabedoria que desce lá do alto. A verdadeira sabedoria, e as Escrituras
deixam isso claro, procede somente de Deus: “... o Senhor dá a sabedoria”
(Pv 2:6). É por isso que ela pode ser obtida apenas se a pedirmos a Deus (Tg
1:5).
A sabedoria que não produz um
bom estilo de vida (Tg 3:13) é, em suma, caracterizada “pelo mundo, pela carne
e pelo demônio”. Em cada uma destas formas, ela é a antítese direta da
“sabedoria que desce lá do alto” – celestial em natureza, espiritual em
essência e divina em sua origem.
II.
ONDE PREVALECEM A INVEJA E SENTIMENTO FACCIOSO, PREVALECE TAMBÉM O MAL (Tg
3:16)
“Porque, onde há inveja e
espírito faccioso, aí há perturbação e toda obra perversa”.
1. A maldade do coração humano. Uma das questões mais difíceis
com que temos de lidar é a capacidade de o coração humano ser mal. Há muitos
gestos de bondade, generosidade e altruísmo ao longo da história em todas as
culturas, mas há muito mais registros da capacidade má do homem agindo tanto em
grupo quanto individualmente.
A maldade humana se desenvolve
na mais tenra idade, e não são poucos os atos maldosos cometidos por crianças e
adolescentes. Veja o que está escrito em Gênesis 8:21: “... disse o SENHOR
em seu coração: Não tornarei mais a amaldiçoar a terra por causa do homem,
porque a imaginação do coração do homem é má desde a sua meninice...”.
Assim sendo, a igreja deve investir com muita dedicação na apresentação do
evangelho também para as crianças, a fim de que ainda pequenas tenham a
oportunidade de conhecer a Jesus Cristo e receberem a salvação.
A maldade do coração humano é
vista não apenas entre as pessoas que não conheciam ao Senhor, mas igualmente
entre o povo de Deus houve manifestação de maldades e de pensamentos ruins.
Jeremias, usado por Deus, reclamou com os habitantes de Jerusalém sobre suas
atitudes: "Lava o teu coração da malicia, ó Jerusalém, para que sejas
salva; até quando permanecerão no meio de ti os teus maus pensamentos?"
(Jr 4:14). Jeremias ainda reitera a capacidade má que o coração humano possui:
"Enganoso é o coração, mais do que todas as coisas, e perverso; quem o
conhecerá?" (Jr 17:9). Isso não ocorreu somente com Israel, mas também
dentro da própria igreja (Tg 3:12; 4:1-3; 2Co 12:20).
A maldade do coração humano,
certamente, terá resultados terríveis. Veja estas palavras do Senhor através do
Jeremias: "Eu, o SENHOR, esquadrinho o coração, eu provo os
pensamentos; e isso para dar a cada um segundo os seus caminhos e segundo o
fruto das suas ações" (Jr 17:10).
2. A inveja e a facção instauram
a desordem. “... aí há perturbação...”. Inveja e sentimento faccioso são
evidências da falsa sabedoria. São atitudes a serem evitadas pelos salvos em
Cristo, pois, inevitavelmente, trazem desordem no meio do povo de Deus.
A
facção é o desejo de divisão. É aquele sentimento que
não se contenta em presenciar a unidade de um grupo. Pessoas unidas tendem a
ser mais exitosas em seus intentos, mas grupos divididos não costumam ter força
suficiente para alcançar desafios. Por isso o sentimento faccioso é tão
importante para Satanás. Ele sabe que quando há unidade na igreja local, as
pessoas oram mais umas pelas outras, são mais misericordiosas, ajudam-se e
buscam sempre a solução de possíveis conflitos, de forma que a igreja fica
fortalecida. Mas se uma igreja é dominada pelo espírito faccioso, não poderá
crescer, mesmo que seja rica em dons e manifestações espirituais.
A igreja de Corinto é um exemplo
clássico de
comunidade que foi atingida pela desordem, fruto de facções. Nessa igreja
encontravam-se cristãos que haviam recebido dons espirituais de poder, elocução
e de revelação. Mas, desconhecia a forma correta de utilização desses dons. Por
causa disso, passou por diversos problemas, até que fosse orientada pelo
apóstolo Paulo não apenas em relação ao uso correto dos dons, mas igualmente
quanto à prática da comunhão.
O problema não estava nos dons
espirituais, pois eles foram dados por Deus para a edificação da igreja. O
problema estava no partidarismo daquela congregação. Aqueles crentes eram muito
divididos. Uns eram de Paulo, outros de Apolo, outros de Pedro e outros, de
Jesus. Como pode uma igreja ser sadia se seus membros competem entre si, e
trabalham em prol de grupos internos? O problema não eram os dons espirituais,
e sim a desunião do grupo.
E o que dizer da inveja? De acordo com Tiago, a inveja
colabora com a perturbação e toda obra perversa. Pessoas dominadas pela inveja
não conseguem contribuir nem com sua própria vida nem com as pessoas que a
cercam. A inveja faz a pessoa perder o foco em si mesma e em Deus, além de
fazer com que ela se concentre em outras pessoas, como se elas tivessem tudo e
o invejoso, nada. Os talentos e bens dos outros são o alvo dos invejosos, que
buscam ter justamente aquilo que outras pessoas têm. Não raro, pessoas
dominadas pela inveja não desejam apenas ter o que o outro tem, mas se
possível, desejam ver aquela pessoa sem aquilo que tem. Quer dizer, não basta
para o invejoso ter alguma coisa; ele precisa ver o outro sem nada.
Pessoas invejosas não conseguem
ser agradecidas, pois estão em busca do que ainda não possuem e não conseguem
agradecer a Deus por aquilo que já conquistaram e receberam. Elas só enxergam o
que ainda lhes falta.
Não há possibilidade de
crescimento espiritual para pessoas cheias de inveja e facciosas, a menos que
elas renunciem esses sentimentos e sejam cheias do Espírito Santo, a fim de que
sejam controladas por Ele. (3)
3. Obras perversas. ”... e toda obra perversa”. Tiago trata em sua Carta sobre
boas obras, mas ele também fala sobre obras perversas. Enquanto as boas obras
são um fruto da sabedoria divina e demonstração da nossa fé em Cristo, as obras
perversas são uma extensão da malignidade humana. Pode haver pessoas que se
consideram corretas com essas coisas, mas aos olhos de Deus, precisam agir de
forma a renunciar tudo isso e abandonar tais práticas, e não ocultá-las. (4)
III.
AS QUALIDADES DA VERDADEIRA SABEDORIA (Tg 3:17,18)
“Mas a sabedoria que vem do alto
é, primeiramente, pura, depois, pacífica, moderada, tratável, cheia de
misericórdia e de bons frutos, sem parcialidade e sem hipocrisia “(Tg 3:17).
1. Características da verdadeira
sabedoria. A
sabedoria que vem de Deus tem características específicas, e pela forma como
estão descritas, entendemos que são demonstradas na prática do dia a dia.
Lembremo-nos de que Deus é a fonte dessa sabedoria, e, portanto, suas
características estão estampadas na Palavra de Deus.
a) A sabedoria que vem de Deus é
pura. Isto quer dizer que é limpa em pensamentos, palavras e atos. É
incontaminada de espírito e corpo, na doutrina e na pratica, na fé e na
moralidade.
b) A sabedoria que vem de Deus é
pacífica. O homem sábio ama a paz e faz todo o possível para mantê-la
sem sacrificar a pureza. Esse fato é ilustrado por uma história contada por
Lutero. Dois homens se encontraram numa ponte estreita sobre um rio profundo.
Não podiam voltar e não desejavam brigar. Depois de uma curta negociação, um
deles se deitou e deixou que o outro passasse sobre ele. A “moral”, dizia
Lutero, “é simples: fique contente se precisar ser pisado para manter a paz;
refiro-me, porém, à sua pessoa, e não à sua consciência”.
c) A sabedoria que vem de Deus é
moderada (indulgente –ARA). É tranquila, e não tirana; gentil, e não
grosseira. Um homem sábio é um cavaleiro que respeita os sentimentos dos
outros.
d) A sabedoria que vem de Deus é
tratável. Ou seja, é conciliatória, acessível, pronta a ouvir e ceder
quando a verdade assim o requer. Não é, portanto, obstinada e inflexível.
e) A sabedoria que vem de Deus é
cheia de misericórdia e de bons frutos. É cheia de misericórdia para
com aqueles que trilham o caminho errado e desejosa de ajuda-los a encontrar o
caminho certo. É compassiva e bondosa. Em vez de ser vingativa, retribui a
indelicadeza com benevolência.
f) A sabedoria que vem de Deus é
imparcial. Ou seja, não gera favoritismo. Trata os outros com
imparcialidade.
g) A sabedoria que vem de Deus é
sem hipocrisia (sem fingimento-ARA). É sincera e genuína. Não simula
ser o que não é.
2. O fruto da justiça (Tg 3:18). “Ora, o fruto da justiça
semeia-se na paz, para os que exercitam a paz”.
Descobrimos aqui que a
verdadeira vida cristã é uma semeadura e uma colheita. Nós colhemos o que
semeamos. O sábio semeia justiça e não pecado. Ele semeia paz e não guerra. O
que nós somos, nós vivemos e o que nós vivemos, nós semeamos. O que nós
semeamos determina o que nós colhemos. Temos que semear a paz e não problemas
no meio da família de Deus.
Entendendo melhor, a vida cristã é como o
processo de plantio, que envolve o agricultor (o sábio pacífico), as condições do tempo (paz) e a colheita (justiça).
O agricultor deseja produzir uma colheita de justiça, mas seu objetivo não pode
ser alcançado num ambiente de brigas e desavenças. A semeadura deve ocorrer em
condições de paz – “para os que exercitam a paz” -, e os semeadores
precisam ter disposição pacífica. O resultado é uma colheita de justiça na vida
dos semeadores e na vida daqueles a quem ministram.
CONCLUSÃO
A sabedoria que é pura, pacifica, moderada, tratável, cheia de misericórdia, de bons frutos, imparcial e sem hipocrisia, é o padrão de Deus na demonstração de sua sabedoria. Que assim possamos ser, para realmente fazer um diferencial no Reino de Deus neste mundo.
Fonte: ebdweb