Texto Base: Tito 2:1-8
“Em tudo, te dá por exemplo de boas obras; na doutrina, mostra incorrupção, gravidade, Sinceridade”(Tt 2:7)
INTRODUÇÃO
Nesta Aula estudaremos o capítulo 2 de Tito. Neste capítulo 2, Paulo se volta para a supervisão pastoral das comunidades cretenses, direcionando suas exortações a grupos selecionados por idade, sexo e posição social. Ele requer de cada um dos grupos um alto padrão de conduta. Ao requerer isso ele demonstra sua preocupação tanto com a boa reputação da igreja quanto com o avanço do evangelho num ambiente de moralidade duvidosa. Os crentes, principalmente os líderes, deveriam professar sua fé em Deus por meio da conduta. Os falsos mestres não viviam o que pregavam. Havia um abismo entre o que eles falavam e o que eles faziam. Tito deveria agir de forma diametralmente oposta aos falsos mestres. John Stott diz que não poderia haver contradição entre a teologia e a ética de Tito. Não poderia existir dicotomia entre o seu ensino e o seu comportamento. (1)
I. O MODO CORRETO DE FALAR DO LÍDER
1. “Fala o que convém à sã doutrina” (Tt 2:1). Os falsos mestres não viviam o que pregavam. Pela própria conduta, eles negavam as grandes verdades da fé. Havia um abismo entre o que eles falavam e o que esses faziam. Quem pode mensurar o dano contra o testemunho cristão praticado por aqueles que professavam grande santidade, mas viviam uma mentira? A tarefa designada a Tito (e a todos os servos do Senhor) era falar [ensinar] “o que convém à sã doutrina”. Ele tinha de eliminar o terrível abismo existente entre o discurso e a vida do povo de Deus. Na realidade, esta é a ideia central da epístola: a maneira prática de viver a sã doutrina com boas obras. Tito 2:2-15 dá exemplos práticos do que essas boas obras deveriam ser.
Não basta à igreja assumir um papel crítico e denunciar as heresias dos falsos mestres e seu desvio de caráter; é preciso, sobretudo, proclamar a verdade. Combate-se a heterodoxia com a ortodoxia. Combate-se a heresia com a verdade. Em vez de Tito apenas ficar na retranca e na defesa contra os falsos mestres, deveria partir para o ataque, proclamando a sã doutrina.
2. Saber falar e saber ouvir. O Líder que é sábio:
a) Pensa antes de falar. Todos nós batalhamos contra a tentação de falar antes de pensar, talvez uma palavra áspera ou crítica usada desnecessariamente, talvez uma expressão de raiva ou ódio. Uma simples palavra mal empregada pode levar uma nação à beira da guerra, destruir uma amizade de toda a vida, desfazer uma família ou arruinar um casamento. Por isso, esta advertência de Tiago: "Todo homem, pois, seja pronto para ouvir, tardio para falar, tardio para se irar" (Tiago 1:19).
O que Tiago quer dizer com “tardio” é que devemos refletir primeiro, e não falar de imediato. É preciso saber a hora de falar e também o que falar. O que temos a dizer é verdadeiro? É oportuno? Edifica? Transmite graça aos que ouvem? Geralmente falamos antes de pensar, de ouvir, de orar, de medir as consequências. Devemos ter muito cuidado com isso, pois: "a morte e a vida estão no poder da língua..." (Pv 18:21). As palavras podem dar vida ou matar. Quem fala demais acaba caindo em pecado. Precisamos, pois, estar atentos sobre o que falamos, como falamos, quando falamos, com quem falamos e por que falamos. Davi orava a Deus e pedia: "Põe, ó Senhor, uma guarda à minha boca; vigia a porta dos meus lábios!" (Sl 141:3).
Há um ditado popular que diz: “Em boca fechada não entre mosquito”. Falar sem pensar é consumada tolice. Responder antes de ouvir é estultícia. Proferir palavras torpes e desandar a boca para espalhar impropérios e maldades é perversidade sem tamanho. Esse não pode ser o caminho do justo. Uma pessoa que teme a Deus reflete antes de falar, sabe o que falar e como falar. Sua língua não é fonte de maldades, mas canal de bênção para as pessoas. Diz o sábio: “O coração do justo medita o que há de responder, mas a boca dos ímpios derrama em abundância coisas más” (Pv 15:28).
Concordo com o pr. Elinaldo Renovato quando diz que ser “tardio para falar” e “pronto para ouvir” é sinal de sabedoria, de maturidade emocional e espiritual. Quem lidera tem que desenvolver a capacidade de escutar as pessoas, ainda que não concorde com elas.
b) Fala com temperança. Quem sabe conversar com calma demonstra inteligência. Quem ouve e analisa antes de emitir sua opinião, pode falar com mais eficácia. Diz o sábio: “A resposta branda desvia o furor, mas a palavra dura suscita a ira” (Pv 15:1); “... a língua branda quebranta os ossos” (Pv 25:15). Aqui, o sábio nos mostra que não é a palavra branda que desvia o furor, mas a resposta branda. Isso é mais do que ação, é reação. Mesmo diante de uma ação provocante, a pessoa tem uma reação branda. É como colocar água na fervura e acalmar os ânimos. Em outras palavras, é ter uma reação transcendental. O oposto disso é a palavra dura e deselegante.
3. Integridade no falar. O crente deve ter uma linguagem sempre sadia e irrepreensível -“Linguagem sadia e irrepreensível, para que o adversário se envergonhe, não tendo nenhum mal que dizer de nós” (Tt 2:8).
Nos dias em que vivemos, em que "tudo é relativo", é preciso lembrar que o falar do crente deve ser sim, sim, não, não, e o que sai disto é de procedência maligna (Mt 5:37). Equivocam-se os faladores da atualidade que acham que suas palavras não são levadas em conta pelo Reto e Supremo Juiz. Não só nossas ações, mas também nossas palavras são levadas em conta diante de Deus. Tenhamos muito cuidado com o que falamos, pois tudo está sendo anotado perante o Senhor - “Mas eu vos digo que de toda palavra ociosa que os homens disserem hão de dar conta no Dia do Juízo” (Mt 12:36). Que possamos dizer como Jó: “Nunca os meus lábios falarão injustiça, nem a minha língua pronunciará engano” (Jó 27:4).
- "Linguagem sadia e irrepreensível...". O púlpito não pode ser um palco em que o pregador usa piadas e gracejos inconvenientes e incompatíveis com a santidade da mensagem. Não apenas a mensagem é santa, mas também a forma de comunicá-la deve ser santa.
- "[...] para que o adversário seja envergonhado, não tendo indignidade nenhuma que dizer a nosso respeito". A descrição que Paulo faz do adversário pode incluir os críticos pagãos do cristianismo, bem como os indivíduos indispostos dentro da comunidade. A melhor defesa contra os adversários é a completa integridade na pregação, tanto na forma quanto no conteúdo. Devemos ser zelosos quanto à doutrina e também quanto à forma pela qual ensinamos a doutrina, pois nossos adversários sempre buscarão motivos para nos acusar. Não podemos deixar brechas para o inimigo nos atacar.
II. EXORTAÇÕES AOS IDOSOS, AOS JOVENS E SERVOS
1. Como os idosos devem portar-se (Tt 2:2). “Quanto aos homens idosos, que sejam temperantes, respeitáveis, sensatos, sadios na fé, no amor e na constância”.
Segundo o Rev. Hernandes Dias Lopes, os homens idosos são citados primeiro, porque deveriam ser os pioneiros a aplicar a sã doutrina. A vida deles deveria recomendar a doutrina que professavam. Os homens idosos deveriam demonstrar quatro virtudes cardeais: (2)
a) Deveriam ser “temperantes”, ou seja, ter domínio próprio. Aqui, a palavra “temperante” tem a ver com o domínio do vinho. A palavra grega traduzida para temperante significa literalmente “sóbrio”, em contraposição a ser muito indulgente com o vinho. Trata-se de uma pessoa que tem seus apetites sob controle. A falta de disciplina e de limites em qualquer área da vida e o uso imoderado do vinho causavam muitos transtornos na comunidade cristã da ilha de Creta. “Os prazeres desenfreados custam muito mais do que valem”.
b) Deveriam ser “respeitáveis”, ou seja, ter reputação aprovada. Trata-se de uma pessoa que tem vida ilibada, caráter impoluto, bom testemunho dos de fora. É uma pessoa que não tem brechas no escudo da sua fé. Alguém que não pode ser acusado de escândalo.
c) Deveriam ser “sensatos”, ou seja, ter equilíbrio nas atitudes. Trata-se daquela pessoa que mede suas palavras, seus gestos, suas ações e suas reações. É aquele homem que vive sob controle, que sabe governar cada instinto e paixão.
d) Deveriam ser “sadios na fé, no amor e na constância”, ou seja, ter maturidade espiritual. Fé, amor e esperança são a trilogia neotestamentária da maturidade cristã. A maturidade cristã tem a ver com a teologia que abraçamos, com o nosso relacionamento com Deus e com os irmãos e, também, com a maneira que nos comportamos diante das pressões da vida.
2. As mulheres idosas devem ser exemplo para as mais novas (Tt 2:3-5). “Quanto às mulheres idosas, semelhantemente, que sejam sérias em seu proceder, não caluniadoras, não escravizadas a muito vinho; sejam mestras do bem, a fim de instruírem as jovens recém-casadas a amarem ao marido e a seus filhos, a serem sensatas, honestas, boas donas de casa, bondosas, sujeitas ao marido, para que a palavra de Deus não seja difamada”.
Paulo destaca duas coisas importantes que devem caracterizar as mulheres idosas:
a) Elas devem ser cuidadosas quanto à maneira de viver - “Quanto às mulheres idosas,semelhantemente, que sejam sérias em seu proceder, não caluniadoras, não escravizadas a muito vinho”.
Aqui, Paulo mostra dois aspectos: positivo e negativo.
- Quanto ao aspecto positivo, as mulheres idosas devem ter um procedimento irretocável, exemplar: ”... sérias em seu proceder...”. A idade avançada torna a pessoa mais responsável.
- Quanto ao aspecto negativo, as mulheres idosas devem evitar dois sérios pecados:
· O pecado da calúnia – “não caluniadoras...”. As mulheres idosas não devem falar mal pelas costas nem ser boateiras. Nada é mais pernicioso para a vida da igreja do que o pecado da língua. Tiago diz que a língua é fogo e veneno. A língua fere, destrói e mata (Tg 3:1-10). Salomão diz que "a morte e a vida estão no poder da língua" (Pv 18:21). Podemos matar ou dar vida a um relacionamento dependendo da maneira pela qual nos comunicamos.
· O pecado da embriaguez – “... não escravizadas a muito vinho”. A embriaguez é um vício degradante em todas as pessoas, mas quando mulheres que deveriam ser exemplo de conduta capitulam-se à embriaguez, isso se constitui num terrível escândalo.
b) Elas devem ser cuidadosas quanto a maneira de ensinar – “sejam mestras do bem, a fim de instruírem as jovens recém-casadas a amarem ao marido e a seus filhos” (Tt 2:3b,4). As mulheres idosas deveriam não apenas praticar o bem, mas ser mestras do bem. Deveriam não apenas ser exemplo, mas também instruir as jovens recém-casadas a amar seus maridos e filhos. Esse ensino desenrola-se na dinâmica da vida.
A igreja precisa tanto dos mais velhos quanto dos mais jovens, e uns devem ministrar aos outros. É importante destacar que a instrução só pode acontecer onde existe comunicação e comunhão. É preciso construir pontes de comunicação entre os idosos e os jovens. O conflito de gerações precisa ser resolvido antes que a instrução logre êxito.
3. Os jovens cristãos (Tt 2:6). “Exorta semelhantemente os jovens a que sejam moderados”.
Os jovens devem ser exortados a serem criteriosos em tudo. O próprio Tito deveria se encarregar desse trabalho de encorajar os jovens a viver um alto padrão. Juventude não é sinônimo de imaturidade. O padrão para os jovens não é inferior nem eles estão isentos da responsabilidade de viver de forma cuidadosa em todas as áreas da vida (1Tm 4:12).
Segundo Willian Macdonald, Paulo não incitou Tito a ensinar as mulheres jovens. Em nome da discrição, esse ministério é confiado às mulheres idosas. Tito, porém, é aconselhado a exortar os jovens, e a advertência específica é que eles sejam criteriosos e tenham autocontrole. Segundo John Stott, Paulo está pensando no controle de temperamento e da língua, da ambição e da avareza, e especialmente dos apetites carnais, inclusive compulsões sexuais, de modo que o jovem cristão permaneça dentro do imutável padrão cristão de castidade antes do casamento e de fidelidade depois dele.
Trata-se de um conselho apropriado, considerando que a juventude é um período cheio de entusiasmo, de energia turbulenta e de impulsos ardentes. Em todas as áreas da vida, eles precisam aprender o controle e o equilíbrio.
- José do Egito se manteve puro mesmo quando a mulher de Potifar o abordou, e isso ocorreu várias vezes. Ele preferiu ser preso numa masmorra e manter sua consciência livre e pura a viver em liberdade, mas prisioneiro do pecado. A mais sombria de todas as masmorras é a prisão da culpa. Não há remédio humano que possa aliviar a dor da culpa. José preferiu ser um prisioneiro livre a ser um livre prisioneiro.
- O profeta Daniel resolveu firmemente no seu coração não se contaminar, mesmo quando ainda era um adolescente.
Os dois, José e Daniel, só puderam liderar eficazmente outras pessoas porque antes dominaram a si mesmos. Ninguém pode servir a outros até que tenha dominado a si mesmo. A Bíblia diz que melhor é "[...] o que domina o seu espírito, do que o que toma uma cidade" (Pv 16:32).
III. O BOM EXEMPLO EM TUDO
1. Bom exemplo (Tt 2:7). “Em tudo, te dá por exemplo de boas obras...”. Rev. Hernandes Dias Lopes argumenta que a vida do líder é a vida da sua liderança. Ele ensina não apenas com palavras, mas, sobretudo, com exemplo. Os falsos mestres dizem e não fazem, mas os mestres da verdade devem dizer e fazer. Dizer e não fazer é hipocrisia. Concordo com John Stott quando diz que nós precisamos de modelos; eles nos dão direção, desafios e inspiração. Paulo se ofereceu como exemplo para a igreja de Corinto (1Co 11:1). Ele deu ordens a Timóteo a ser padrão dos fiéis (1Tm 4:12). Agora, ordena a Tito a ser padrão para os crentes na prática de boas obras (Tt 2:7). Nós precisamos de modelos vivos. Precisamos de líderes que preguem aos ouvidos e aos olhos. Que falem a sã doutrina e também demonstrem a verdade que pregam com o seu modo de viver. O ensino e o exemplo, o verbal e o visual, sempre formam uma combinação poderosa.
2. Incorrupção da doutrina. “... na doutrina, mostra incorrupção...” (Tt 2:7). Na tradução Almeida e Atualizada diz: “... no ensino, mostra integridade”. Aqui Paulo diz que deve haver um estreito paralelo entre a doutrina e o comportamento de Tito. Seu ensino deve se caracterizar pela integridade. Integridade significa que o ensino deve corresponder à fé entregue aos santos definitivamente. “Incorrupção” ou “incorruptibilidade” tem a ver com o pastor sincero que não pode ser corrompido do caminho da verdade. Infelizmente, hoje, temos visto igrejas que “vendem” bênçãos por dinheiro, utilizam manipulação psicológica para arrecadar mais recursos das pessoas; fazem “curas” e “milagres”, em troca do vil metal. Isso é corrupção. Isso é uma vergonha!
3. Gravidade e sinceridade. “... gravidade, sinceridade” (Tt 2:7). Aqui, “gravidade e sinceridade” indicam um ensino com reverência, para que as palavras de Tito fossem respeitadas e levadas a sério. Reverência denota um alto tom moral na exposição da sã doutrina. Um pregador irreverente é uma contradição. A vida do pregador não pode estar em oposição à sua mensagem. Muitos escândalos têm perturbado a igreja do Senhor Jesus, ao longo da história, por causa de comportamento irresponsável e vulgar de alguns obreiros.
Completando a lista de recomendações, Paulo diz que Tito deve ter “linguagem sadia e irrepreensível, para que o adversário se envergonhe, não tendo nenhum mal que dizer de nós”(Tt 2:8). Tito deveria estar acima de quaisquer críticas sobre a maneira como ele ensinava. Devido ao seu papel exclusivo em Creta, a sua vida deveria exibir um grau admirável de correção. Ele estaria exposto constantemente. Cada palavra de Tito seria avaliada de modo que ele continuasse acima de censuras ou condenações. A sua vida exemplar, os seus ensinos e a sua linguagem envergonhariam aqueles que pudessem desejar dizer mal dele. Isso se aplica a todos aqueles que estão em evidência na obra do Senhor, principalmente aqueles que se dedicam ao espinhoso ministério do ensino.
CONCLUSÃO
Uma igreja local é a materialização da igreja visível. Nela, podem-se observar os diversos tipos de pessoas que aceitam a Cristo, de verdade ou não. Os que são crentes verdadeiros demonstram ser novas criaturas pelo seu porte, testemunho e por suas obras. Os que são falsos crentes também se revelam por seu caráter, expresso em sua conduta. A Palavra de Deus é o referencial para todo comportamento cristão, em todas as faixas etárias da vida (Elinaldo Renovato).
ebdweb