Texto Base: Hebreus 4.14-16; 5.1-14
"Visto que temos um grande sumo sacerdote, Jesus, Filho de Deus, que penetrou nos céus, retenhamos firmemente a nossa confissão" (Hb.4:14).
INTRODUÇÃO
Nesta Aula trataremos a respeito da superioridade do sacerdócio de Jesus Cristo em relação ao sacerdócio arônico. Este sacerdócio estava sujeito ao pecado (Lv.10:1,2; 9:7,8; Hb.8:3; 9:6,7); oferecia sacrifícios contínuos (Ex.29:38,41,42; 30:10; Nm.28:1-3) e; o efeito da expiação era temporário (Hb.10:1-4; 9:9,10). Já o sacerdócio de Cristo é muito superior, pois nele está a plenitude sacerdotal (Hb.4:14,15; 7:26,27; At.5:30,31); Ele fez uma única oblação (Hb.7:27; 9:24,25,28; 10:14; 1Pd.3:18) e Seu sacrifício foi eficaz (1Pd.1:18,19; Hb.5:9; 9:14,15,24). Portanto, Jesus, como Sumo Sacerdote, era de uma ordem superior e perfeita e, por conta disso, capaz de condoer-se e socorrer os que a Ele recorrem. Não há ninguém melhor que Ele para compreender nossas fraquezas e debilidades. Por isso, precisamos de um mediador perfeito, “porquanto há um só Deus e um só mediador entre Deus e os homens, Cristo Jesus, homem” (1Tm.2:5,6). Com base nesse fato, o autor aos Hebreus encoraja os cristãos da seguinte forma: "Cheguemos, pois, com confiança ao trono da graça, para que possamos alcançar misericórdia e achar graça, a fim de sermos ajudados em tempo oportuno" (Hb.4:16).
I. UM SACERDÓCIO SUPERIOR QUANTO A QUALIFICAÇÃO
“O sumo sacerdócio de Cristo é mais qualificado do que o de Arão e o da ordem levítica porque representa melhor o ser humano diante de Deus, pois compreende a condição humana, e também por pertencer ao ‘sacerdócio do céu’”.
1. Por representar melhor os homens diante de Deus. Jesus Cristo é maior do que qualquer sacerdócio levítico, na Antiga Aliança, pois é quem nos representa melhor diante de Deus. O nosso Sumo Sacerdote misericordioso e fiel, Jesus Cristo, tornou-se como nós a fim de morrer por nós, oferecendo o sacrifício definitivo pelo pecado. Ao contrário do sacerdócio arônico que oferecia ofertas e sacrifícios, Jesus ofereceu sua própria vida como oferta a Deus em nosso favor.
Na Antiga Aliança, somente os sumos sacerdotes podiam interceder junto a Deus pelos pecados da nação (cf. Lv.16). Para os judeus, o sumo sacerdote era a sua mais elevada autoridade religiosa. Mas Jesus é o grande Sumo Sacerdote, melhor que os sumos sacerdotes levíticos, pelas seguintes razões:
a) Os sumos sacerdotes eram homens que podiam oferecer sacrifícios, mas que não podiam fazer nada para tirar o pecado. Jesus deu a sua vida e morreu como o sacrifício supremo e final pelo pecado.
b) O sumo sacerdote podia entrar no Santo dos Santos somente uma vez por ano para fazer a expiação pelos pecados da nação. Jesus penetrou nos céus e tem acesso irrestrito a Deus Pai.
c) Os sumos sacerdotes eram humanos e pecadores. Jesus intercede a Deus pelas pessoas como o Filho de Deus, que não tem pecado, o qual é, ao mesmo tempo, humano e divino.
d) Os sumos sacerdotes eram as autoridades religiosas mais elevadas para os judeus. Jesus tem mais autoridade do que os sumos sacerdotes levíticos, porque Ele é tanto Deus como homem.
e) As pessoas não podiam se aproximar de Deus, exceto através de um sumo sacerdote. Quando Jesus morreu, o véu que separava o Santo dos Santos no Templo foi rasgado em dois, indicando que a morte de Jesus Cristo tinha aberto o caminho para que as pessoas pecadoras pudessem se chegar à presença do Deus santo.
Por causa de tudo isso, e por causa de tudo o que Jesus Cristo fez e está fazendo por nós, retenhamos firmemente a nossa confissão. Permita que Jesus seja o seu Sumo Sacerdote; somente Ele pode lhe proteger do juízo inevitável. Cristo é o Sumo Sacerdote fiel que representa todos aqueles que confiam nele. Creia nisso!
2. Por compreender melhor a condição humana. Pelo fato de Jesus, o nosso Sumo Sacerdote, ter-se tornado como nós, Ele experimentou a vida humana de uma forma completa. Ele cansou-se, teve fome, e enfrentou as limitações humanas normais. Dessa forma, Jesus entende as nossas fraquezas. Não apenas isso, mas Ele também em tudo foi tentado, mas sem pecado. Jesus, em sua humanidade, sentiu a luta e a realidade da tentação. O texto em Mateus 4:1-11 descreve uma série especifica de tentações do Diabo, mas Jesus enfrentou tentações ao longo de toda a sua vida terrena, assim como nós as enfrentamos. O autor aos Hebreus descreve com bastante convicção esta realidade: ”Porque não temos um sumo sacerdote que não possa compadecer-se das nossas fraquezas; porém um que, como nós, em tudo foi tentado, mas sem pecado” (Hb.4:15).
Por entender melhor as nossas necessidades, podemos “alcançar misericórdia e achar graça, a fim de sermos ajudados em tempo oportuno” (Hb.4:16). O nosso Sumo Sacerdote, Jesus Cristo, está atento às nossas necessidades. Nenhum pedido é insignificante, e nenhum problema é pequeno demais. Ele promete ajudar-nos no momento certo – no tempo dEle. Isto não significa que Ele promete resolver todas as nossas necessidades no exato momento em que O buscamos. Tampouco significa que Deus apagará as consequências naturais de qualquer pecado que foi cometido. Significa, porém, que Deus ouve, cuida, e responderá do seu modo perfeito, em seu tempo perfeito.
3. Pela posição que exerceu. Diz o texto sagrado: “E ninguém toma para si essa honra, senão o que é chamado por Deus, como Arão. Assim, também Cristo não se glorificou a si mesmo, para se fazer sumo sacerdote, mas glorificou aquele que lhe disse: Tu és meu Filho, hoje te gerei” (Hb.5:4,5).
Nota-se que ser um ministro do altar era algo extremamente honroso, de grande importância e de muita responsabilidade. A posição de sumo sacerdote tinha em si uma honra especial, e ninguém podia se tornar um sumo sacerdote só porque o quisesse. O sumo sacerdote tinha que ser chamado por Deus. Tanto Arão como seus filhos foram escolhidos diretamente por Deus para esse ministério (Êx.28:1-3; Sl.105:26). A “santidade” deles vinha somente de Deus, e não de seu papel sacerdotal.
Como os sumos sacerdotes do Antigo Testamento não tomaram por si mesmos a honra, mas foram honrados pela seleção de Deus, assim também Cristo não se glorificou a si mesmo, para se fazer Sumo Sacerdote. Cristo também foi escolhido por Deus, como demostrado pela citação do Salmo 2:7: “Tu és meu Filho, hoje te gerei”. Cristo tornou-se Sumo Sacerdote e preencheu perfeitamente os requisitos desta função imprescindível. Além do mais, por pertencer a uma ordem sacerdotal superior e haver sido enviado do Céu para essa missão, Ele foi em tudo superior e mais honrado do que o sumo sacerdote Arão.
II. UM SACERDÓCIO SUPERIOR QUANTO AO SERVIÇO
“A realeza, o propósito pelo qual viveu, a vida santa que possuía e a submissão demonstrada no seu ministério apontam para superioridade do serviço de Cristo”.
1. Pela realeza e o propósito pelo qual viveu. Veja a expressão de Hb.5:6: “...Tu és sacerdote eternamente, segundo a ordem de Melquisedeque”. Aqui, o autor mostra que o sacerdócio de Cristo é de uma ordem melhor, pois em Salmos 110:4 Deus o declarou “sacerdote para sempre”. Observe a expressão “eternamente” (Hb.5:6); este termo é outra característica da superioridade de Cristo. Arão e todos os seus sucessores sacerdotais tiveram seu tempo e então saíram de cena. Cristo, como Sacerdote, permanece para sempre e não tem necessidade de um sucessor. Assim como Melquisedeque, que foi rei e sacerdote (cf. Gn.14:18), e não há registro de que tenha tido um sucessor, Jesus é um Sacerdote à sua semelhança. Ele é o Filho de Deus, Rei e Sumo Sacerdote. Conquanto sendo Filho de Deus, não glorificou a si mesmo nem tampouco buscou honra para si, mas exerceu o sacerdócio por meio da vontade do Pai (Fp.2:5-11).
“De sorte que haja em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus, que, sendo em forma de Deus, não teve por usurpação ser igual a Deus. Mas aniquilou-se a si mesmo, tomando a forma de servo, fazendo-se semelhante aos homens; e, achado na forma de homem, humilhou-se a si mesmo, sendo obediente até à morte e morte de cruz. Pelo que também Deus o exaltou soberanamente e lhe deu um nome que é sobre todo o nome, para que ao nome de Jesus se dobre todo joelho dos que estão nos céus, e na terra, e debaixo da terra, e toda língua confesse que Jesus Cristo é o Senhor, para glória de Deus Pai.
2. Pela vida santa que possuía. Veja a expressão de Hebreus 5:7: “O qual, nos dias da sua carne, oferecendo, com grande clamor e lágrimas, orações e súplicas ao que o podia livrar da morte, foi ouvido quanto ao que temia”. Este texto sagrado refere-se à vida piedosa de Jesus; interseção, compaixão, oração e súplicas são qualidades presentes em um autêntico sacerdote. Aqui, o autor ensina que Cristo não é apenas o Filho de Deus sem pecado, é também um verdadeiro homem. Para provar isso, o autor se refere à variedade de experiências humanas pelas quais ele passou nos dias da sua carne. Perceba as palavras usadas para descrever a vida de Jesus e, especialmente, sua experiência no Getsêmani (Mc.14:32-39): orações e súplicas, em alta voz e com lágrimas (NVI). Todas essas palavras retratam sua vida como homem dependente, submetido à obediência a Deus Pai, tomando parte de todas as emoções humanas não vinculadas ao pecado.
Cristo não pediu em sua oração que fosse poupado da morte, afinal, morrer pelos pecadores foi precisamente o seu proposito ao vir ao mundo (João 12:27). A oração pedia que sua alma não fosse deixada no Hades. Essa oração foi respondida quando Deus Pai o ressuscitou da morte(1Co.15:4). Ele foi ouvido por causa de sua piedade. Sem a ressurreição de Cristo seria vã a nossa fé (1Co.15:14), e todos os que morreram em Cristo estariam perdidos para sempre (1Co.15:18); mas, por causa da sua ressurreição temos viva esperança de morarmos com Ele na glória.
3. Pela submissão que demonstrou. Veja a seguinte expressão no final de Hb.5:7: “[...]foi ouvido quanto ao que temia”. Na Revista Almeida e Atualizada esta expressão é traduzida da seguinte forma: “tendo sido ouvido por causa da sua piedade". O substantivo grego “eulabeia” pode significar “temor”, “piedade”, ou “temor reverente”. Nas intensas orações de Jesus, havia tanto devoção pessoal quanto submissão reverente à vontade redentora do Pai.
Os sumos sacerdotes tinham que ser humanos (e, dessa forma, capazes de se compadecer daqueles que eles representavam), e tinham que ser chamados por Deus. Cristo preencheu estes dois requisitos (cf.Hb.4:15; 5:5,6). A humanidade de Jesus permitia que Ele se compadecesse de nós. Para mostrar isto, o autor da Epístola lembrou aos destinatários de como Jesus, nos dias da sua carne, agonizou enquanto se preparava para enfrentar a morte (Lc.22:41-44). Embora Jesus tenha clamado a Deus, pedindo para ser livrado, Ele estava preparado para sofrer humilhações, a separação de seu Pai e a morte, a fim de fazer a vontade de Deus Pai. Ele ofereceu, com grande clamor e lágrimas, orações e súplicas. Ele sabia que tinha sido enviado para morrer, mas, em sua humanidade, enfrentou grande temor e tristeza sobre o que sabia que iria acontecer. Em sua humanidade, Ele não queria morrer, mas sujeitou-se à vontade de Deus Pai, e este ouviu as suas orações. O viver temente de Jesus o conduziu a suportar o sofrimento em favor da humanidade e, dessa forma, a completar a obra expiatória em favor de todos. Jesus sofreu a extrema agonia e a morte em sua submissão a Deus. Mas as suas orações foram respondias, pois Ele foi salvo do poder da morte. Ele venceu a morte através da sua ressurreição.
III. UM SACERDÓCIO SUPERIOR QUANTO À IMPORTÂNCIA TEOLÓGICA
“A doutrina da superioridade sacerdotal de Cristo é transcendental aos princípios formadores da fé cristã e essencial à nossa fé”.
1. Uma doutrina transcendente. A doutrina da superioridade sacerdotal de Cristo era e é de sua importância para o viver cristão, porém, os cristãos destinatários da Epístola aos Hebreus não estavam compreendendo esta importante doutrina. Em vez de trabalharem arduamente por sua fé, eles estavam escolhendo a estrada mais fácil. O autor ilustra este fato ao dizer que é “de difícil interpretação, porquanto vos fizestes negligentes para ouvir” (Hb.5:11). Aparentemente, o escritor conhecia pessoalmente muitos crentes judeus que se encaixavam nesta descrição, ou tinha ouvido falar da indisposição que eles demonstravam para aplicar alguns destes conceitos importantes sobre a sua fé, dentre eles, a doutrina a respeito do papel de Cristo como Sumo Sacerdote. A falta de maturidade e interesse de crescimento no conhecimento da Palavra por parte desses cristãos tornava difícil para o autor tornar esta doutrina compreendida, pois essa doutrina transcendia em muito aqueles princípios formadores da fé cristã. Requeria maturidade, o que só teria sido possível se eles exercitassem suas mentes na meditação das Escrituras Sagradas.
Aparentemente, eles tinham sido cristãos por muito tempo; tanto tempo, que deviam estar ensinando a outros. No entanto, eles tinham sido preguiçosos em sua fé e precisavam de alguém para lhes ensinar novamente os “primeiros rudimentos” das Escrituras Sagradas (cf. Hb.5:12). Não é de admirar que eles estivessem em perigo de se desviar (Hb.2:1). Em vez de explorarem e aprofundarem o conhecimento que tinham a respeito de Cristo, em vez de agradarem a Deus através de suas ações, eles pensavam em abandonar a Cristo quando enfrentavam alguma oposição. A expressão “primeiros rudimentos” (Hb.5:12) refere-se à mensagem simples do evangelho e às crenças básicas da fé. Em vez de ensinarem a outros, esses crentes precisavam aprender tudo outra vez. Eles eram como meninos, ainda bebendo leite, em vez de crescerem, comendo sólido alimento – os ensinos mais difíceis da Palavra de Deus, tais como o significado da posição de Sumo Sacerdote de Cristo.
2. Uma doutrina essencial. Se por um lado a doutrina da superioridade sacerdotal de Cristo era por natureza transcendente, por outro lado, formava a essência da fé cristã. No entanto, os cristãos destinatários ainda estavam se alimentando com “leite”, isto é, eles não haviam crescido em sua fé, não possuíam uma fé substancial a ponto de compreender a essencialidade dessa doutrina (Hb.5:13,14). Eles permaneciam inexperientes e incapazes de aplicar o seu conhecimento à sua vida e de fazer o que é certo. Tinham recebido instruções suficientes, mais ainda estavam agindo como crianças. Quando não se tem maturidade suficiente na vida cristã, fica difícil e, às vezes, impossível de se fazer escolhas acertadas. Entretanto, os crentes que possuem maturidade cristã têm os sentidos exercitados para discernir tanto o bem como o mal (Hb.5:14). Apenas exercitando a mente na meditação da Palavra de Deus, podemos chegar à maturidade cristã e espiritual. Os cristãos espiritualmente maduros examinam-se constantemente, desviam-se do pecado, e aprendem quais ações, pensamentos e atitudes agradarão a Deus.
CONCLUSÃO
Aprendemos nesta Aula a respeito da Supremacia do Sumo Sacerdócio de Cristo. O Senhor Jesus, por intermédio de seu sacerdócio supremo, torna aberto o caminho para todas as pessoas aproximarem-se ao trono da Graça de Deus com confiança. Nosso Senhor, o Filho de Deus, viveu toda a nossa condição humana e, como Sacerdote perfeito, está habilitado para interceder por nós; ninguém melhor que Ele para compreender nossas fraquezas e debilidades. Por isso, precisamos de um mediador perfeito, "porquanto há um só Deus e um só Mediador entre Deus e os homens, Cristo Jesus, homem, o qual a si mesmo se deu em resgate por todos" (1Tm.2:5,6).
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Fonte: Luciano de Paula Lourenço