Que esperais encontrar na estrada da vida cristã? Flores? Glória? Honra? Riqueza? Bem estar? Acaso pensais que, na frente de batalha há perene alegria e banquetes sem fim? Não sabeis que os cristãos são soldados do Senhor, e que como soldados tem que lutar para viver? Quem vos apontou este mundo como recanto de paz? Se ainda não percebestes a vossa condição despertai e vede que estais em pleno campo de luta espiritual, onde se fere a gigantesca batalha entre as forças do mal e os exércitos do Senhor, e que a única alternativa é lutar a tempo e fora de tempo para alcançar a coroa da vida.
Lutar para viver, aceitar o desafio com altivez e enfrentar os perigos da jornada foi a tarefa imposta à Igreja do Senhor em todos os tempos. Lembrai-vos de que o povo de Deus nos primeiros séculos teve as catacumbas por moradas, a fim de poder sobreviver. Aceitou o desafio dos inimigos, não capitulou ao primeiro decreto de um rei ímpio. Guardou a fé. Preferiu carregar a cruz da perseguição a fazer negócios de Judas. Escolheu a senda espinhosa e agreste do desprezo, a um conluio ímpio e satânico. Corajosamente atirou-se à luta para vencer e, vencendo, viveu.
Acaso o Evangelho não declara quão grandes são os perigos, as desvantagens materiais e os sofrimentos a que estão expostos os seguidores de Jesus? Que prometeu Jesus aos discípulos que desejassem segui-lo? Acenou-lhes com vantagens ou apontou-lhes a cruz?
Percorrei a história da verdadeira Igreja e vereis, a cada passo, que os santos jamais tiveram tréguas prolongadas. O mundo, o Diabo e a carne jamais oferecem armistício aos salvos. Entrai nas Catacumbas e tereis uma visão clara do que foi a tremenda batalha da fé; parai diante dos sarcófagos e sentireis que ali repousam heróis que lutaram e venceram; sentai-vos nas salas subterrâneas em que se reunia esse povo e respirareis santidade que ficou por herança. Se tocardes qualquer objeto que haja pertencido a esses heróis, sentir-vos-eis inspirados a imitá-los, a lutar para viver como cristãos dignos da vocação que recebestes.
Mas não foi somente nos dias da primitiva Igreja que a fé brilhou, valorosa e robusta, impondo admiração ante as ameaças dos poderes apóstatas!
Ao tempo da Reforma, quando um gesto ou uma palavra a favor do verdadeiro Cristianismo representava ser encarcerado, condenado à morte, desterrado, ou ser destituído de cargos de confiança, tratando-se de governadores de Estados, Condados ou Províncias, nesse período, Deus também teve testemunhas que não dobraram seus joelhos diante de Baal.
Entre os muitos casos em que a fé agigantou-se, brilhou e ateou fogo nos corações, citemos apenas como se portaram alguns Príncipes cristãos: O imperador Carlos V dominava a Alemanha e grande parte da Europa, e era por todos temido e obedecido, pois linha o apoio do papa. Vários Príncipes alemães haviam abraçado a Reforma, creram na pureza do Evangelho e na suficiência de Cristo como Salvador.
Isto não agradava ao imperador e seus aliados, que tudo fazia para impedir a luz do Evangelho. Certo dia o imperador recebeu os Príncipes protestantes numa conferência particular e pediu-lhes que impusessem silêncio aos capelães evangélicos que celebravam cultos públicos. Dentre os Príncipes, levantou-se o velho Mal-grave de Brandenburg que avançou alguns passos para o imperador, e num gesto que denotava disposição e energia, levou as mãos ao pescoço, e, inclinando-se, disse: "Era mais fácil a minha cabeça rolar aos pés de Vossa Majestade do que eu privar-me da Palavra de Deus e negar a meu Senhor".
Imaginai o efeito que tiveram estas palavras diante do imperador e de outros Príncipes. Conclui quanta coragem o Espírito Santo dá ao coração que se dispõe a lutar pelo céu. Homens desta tempera que amam a Deus mais do que a própria vida, que não se acomodam ante os interesses nem se acobardam diante dos, poderosos, são os que lutam e vencem. Qualquer que não colocar sua vida no altar do sacrifício e da renúncia, para ser oferecida, se necessário for, não alcançará as píncaros alcandorados da graça, onde se preparam os guerreiros que lutam para viver e vencer.
A Reforma deu-nos grande número desses homens. Pena é que a sua história não seja conhecida em todo o mundo evangélico, pois são páginas de heroísmo que arrebatam e atos de amor que sensibilizam.
Outro Príncipe contemporâneo da Reforma, o Eleitor da Saxônia, o qual abraçou a fé evangélica, foi aconselhado a não assinar a Confissão, para evitar atritos e desgostos aos amigos. Porém o nobre Príncipe, foi nobre também na resposta, quando afirmou: "Estou disposto a fazer o que for justo, sem me importar com a minha coroa. Estou decidido a adorar, a honrar e a servir ao Senhor. Para mim, o Senhor vale mais do que todas as coroas da Europa. Deixarei atrás de mim, talvez, ondas de minha humanidade, porém uma coisa é certa: A graça «de Jesus Cristo me levará ao céu."
Quando a vida espiritual está em contato com Deus e luta com Deus e para Deus, não há inimigos fortes. Até os demônios fogem espavoridos, ante a decisão da alma que prometeu fidelidade a Jeová. O que acima escrevemos sobre a decisão nobre e corajosa do Eleitor da Saxonia, foi completada pela seguinte declaração, ao assinar o documento, quando afirmou perante todos: "Vou assinar este documento na presença dos representantes do Império. Se meu Deus. requer isto de mim, estou disposto a deixar tudo para alcançar uma coroa imortal. Renunciaria a meus súditos e perderia meu Estado; preferia ganhar a vida limpando sapatos de estranhos a deixar de assinar este documento que contém os fundamentos da salvação para todos."
Qual o inimigo que não vacila e não teme ante declaração tão positiva é tão enfática de lutar confiado em Quem fez vitoriosas os santos quando enfrentaram as feras, os reis, os tiranos e os demônios?
Mais um fato para tornar ainda mais claro o assunto: todos os estudiosos sabem como os Huguenotes (o povo evangélico) foram tratados na França e não desconhecem a culminância da perseguição, na célebre noite de São Bartolomeu quando, no dizer de Sully, primeiro ministro de Henrique IV, foram massacrados, só em Paris, cerca de 70 mil protestantes.
Quando a conspiração havia alcançado o clímax, sendo já público e notório que o povo de Deus estava à mercê de um governo de homens ímpios, o Almirante Colingy, líder dos protestantes, foi convidado a ir à Côrte.
Seus amigos rogaram-lhe que não fosse, pois ir, equivalia a entregar-se às mãos dos inimigos. Mas Coligny tinha consigo o Deus de Jacó e assim respondeu: "Prefiro morrer mil vezes a, por urna indevida solicitude pela minha vida, dar ocasião a que se avente uma suspeita em todo o reino''.
Com caracteres deste quilate, Deus pode fazer muito sobre a terra; com homens armados com esta fé, o cristianismo será honrado. Com soldados como este, o inferno tem muito a perder e o céu muito a ganhar.
Fonte: Nos domínios da fé - Emílio Conde
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