Texto Básico: Fp 1:1-11
“E peço isto: que o vosso amor aumente mais e mais em ciência e em todo o conhecimento” (Fp 1:9)
A Epístola de Paulo à igreja de Filipos é considerada a mais bela do Novo Testamento. Ela é repleta de ternura, gratidão, entusiasmo, calor e afeição. É uma declaração de amor e gratidão do apóstolo pelo terno zelo dos filipenses para com os obreiros do Senhor. Esta carta foi escrita em circunstâncias difíceis, enquanto o grande apóstolo estava prisioneiro em Roma. Embora fosse um prisioneiro, era muito feliz, e incentivava e ainda incentiva seus leitores em todas as épocas se regozijarem em Cristo (Fp 4:4). A alegria apresentada em Filipenses envolve uma ardente expectativa da iminente volta de Cristo (Fp 4:5b).
Também observamos que Paulo demonstra a importância dos relacionamentos que deve haver entre os irmãos, trazendo a visão dos efeitos que esta união vital dos membros traz à Igreja.
A Carta aos Filipenses vem preencher uma necessidade urgente de nossa vida e de nossas igrejas, onde a alegria e os bons relacionamentos precisam ser visíveis por todos, a despeito de tantas aflições e tristezas, e de desajustes nos relacionamentos, nestes tempos em que vivemos. Ela também nos orienta quanto ao comportamento que devemos ter diante das hostilidades e perseguições enfrentadas pela igreja de Cristo.
I. INTRODUÇÃO À EPÍSTOLA
1. A cidade de Filipos. Conforme pesquisa que fiz no “Comentário do Novo Testamento – Aplicação Pessoal – v.2. CPAD”, a cidade Macedônia(o norte da Grécia hoje) de Filipos recebeu o seu nome em homenagem a Filipe da Macedônia(o pai de Alexandre, o Grande). Cercada por montanhas e perto do mar, Filipos tornou-se uma cidade estratégica no império grego. Em 167 a.C., ela tornou-se parte do império romano, mas só atingiu uma importância real depois de 31 a.C., quando Otaviano derrotou Antônio, na batalha de Actium. Depois desta batalha decisiva, Filipos recebeu vários colonos italianos que tinham favorecido Antônio e que tinham perdido a posse de suas propriedades. A colônia foi então rebatizada de Colônia Iulia Filipenses, em homenagem a Júlio César. Posteriormente, em 27 a.C., quando Otaviano foi designado Augusto, o nome da colônia foi mudado novamente para Colônia Augusta Iulia (Victrix) Filipensium, igualando a causa de Augusto com a de César. Nessa época, Filipos recebeu o direito da Lei da Itália, juntamente com muitos direitos e privilégios, incluindo a imunidade de taxação. Os moradores de Filipos estavam muito conscientes e orgulhosos de sua cidadania e herança romana (veja At 16:20,21). Filipos também se vangloriava de ter uma ótima escola de medicina.
Paulo visitou Filipos em sua segunda viagem missionária, em 51 d.C., cerca de dez anos antes da Carta aos Filipenses. Na época da visita de Paulo, Filipos tinha se tornado um próspero centro comercial, por causa de sua localização estratégica como a primeira cidade na Via Egnátia, uma antiga estrada que era muito importante, e que ligava os mares Egeu e Adriático. Viajantes a Roma atravessavam o Adriático e então continuavam até Roma pela Via Ápia. Assim, Filipos era a porta de entrada para o Oriente. Embora totalmente colonizada pelos romanos depois de 31 a.C., a cultura de Filipos ainda era mais grega do que romana. Lucas refere-se a Filipos como a “primeira cidade desta parte da Macedônia e é uma colônia” (At 16:12). Embora Filipos não fosse a capital da região (sub-provincia da Macedônia), ela era a “primeira cidade”. A declaração de Lucas também reflete o orgulho cívico que havia em sua cidade natal.
2. O Evangelho chega a Filipos. Por ocasião de sua segunda viagem missionária, Paulo chegou a Trôade. Foi um dia de grande importância na história das missões cristãs. Trôade estava situada do outro lado do mar Egeu, na costa noroeste da Ásia Menor, olhando para a Grécia. Um homem da Macedônia apareceu-lhe de noite em visão, dizendo: “Passa à Macedônia e ajuda-nos” (At 16:9). Paulo tratou imediatamente de viajar para a Macedônia com Timóteo, Lucas e Silas. Puseram os pés em solo europeu pela primeira vez em Neápolis e dali viajaram para o interior, até Filipos. No sábado, o apóstolo Paulo e seus companheiros desceram para as margens do rio, onde um grupo de mulheres costumava se reunir para orar (At 16:13). Entre elas, estava Lídia, vendedora de púrpura, da cidade de Tiatira. Ela aceitou a mensagem do evangelho e, pelo que sabemos, foi a primeira pessoa convertida ao cristianismo no continente europeu. Na casa de Lídia a igreja em Filipos começou a florescer (At 16:15-40).
Portanto, a igreja em Filipos, na antiga Macedônia, foi a primeira igreja européia fundada por Paulo. Ela representa, assim, a primeira grande penetração do Evangelho em território gentílico (veja Fp 4:14,15).
3. Data e local da autoria. Essa é uma carta da prisão. Paulo esteve preso três vezes: em Filipos (At 16:23), em Jerusalém e Cesaréia (At 21:27-23.3.1), e finalmente em Roma (At 28:30,31). Nesta última, em duas etapas.
Há evidências abundantes de que Paulo escreveu de Roma a Epístola aos Filipenses, no final da sua primeira prisão. Três fatores parecem provar essa tese: Primeiro, as demais cartas da prisão foram escritas de Roma (Efésios, Colossenses, Filemom), onde Paulo passou mais tempo em cativeiro. Segundo, em Filipenses 1:13 Paulo menciona a guarda pretoriana (o pretório). Terceiro,em Filipenses 4:22 Paulo envia saudações dos "da casa de César", todos os que faziam parte das lides domésticas do imperador.
Filipenses foi escrita no final da primeira prisão em Roma, e não durante a segunda prisão, visto que Paulo tem vívida esperança de rever os filipenses (1:19,25) e ainda desfrutava certa liberdade a ponto de receber livremente seus visitantes (At 28:17-30). Paulo ficou preso em Roma, nessa primeira reclusão, cerca de dois anos, aproximadamente nos anos 60 a 62 d.C. Ele escreveu esta Carta já no final de 61 d.C. Evidentemente esta foi a última carta escrita no período dessa primeira prisão. Na segunda prisão em Roma, entretanto, de onde escreveu sua última carta, 2Timóteo, Paulo estava sofrendo cadeias como um criminoso (2Tm 2:9). Ele foi abandonado (2Tm 4:10,16), sentia frio (2Tm 4:13) e esperava o martírio (2Tm 4:6,7,18).
II. AUTORIA E DESTINATÁRIOS
1. Paulo e Timóteo. Há abundantes evidências internas e externas que provam conclusivamente que Paulo foi o autor desta carta. Os pais da Igreja primitiva Policarpo, Irineu, Clemente de Alexandria, Eusébio e outros afirmam a autoria paulina desta carta.
A evidência da autoria de Paulo da Carta aos Filipenses vem da própria Carta, como a primeira frase declara: “Paulo e Timóteo... a todos os santos... que estão em Filipos” (Fp 1:1). Embora o nome de Timóteo também apareça na saudação, logo se torna óbvio que somente Paulo está escrevendo, visto que ele usa a primeira pessoa ao longo de toda a carta. Além disso, as referências pessoais em Fp 3:4-11 e 4:1-16 aplicam-se claramente a Paulo.
2. Os destinatários da carta: “a todos os santos em Cristo Jesus que estão em Filipos, comos bispos e diáconos” (Fp 1:1). A palavra “todos” aparece com frequência na Epístola. O interesse afetuoso de Paulo era extensivo a “todos” os crentes, isto é, aqueles que foram salvos e separados, por Deus, para viver uma nova vida em Cristo. Este era o tratamento comum dado por Paulo às igrejas (cf Rm 1:7; 1Co 1:2).
- “a todos os santos em Cristo Jesus que vivem em Filipos”. Esta frase descreve a dupla posição do crente. Quanto ao seu estado espiritual, eram postos à parte por Deus “em Cristo Jesus”. Quanto à sua localização geográfica, estavam em “Filipos”. Estavam em dois lugares ao mesmo tempo!
- “com os bispos e diáconos”. Os “bispos” eram os anciãos ou supervisores da assembleia. Tinham um interesse pastoral no rebanho de Deus e guiavam o rebanho pelo seu exemplo piedoso. Os “diáconos” eram os servos da igreja e provavelmente os responsáveis pelos assuntos materiais, tais como finanças e outros.
Havia somente três grupos na igreja: “santos, bispos e diáconos”. Se houvesse um clero à frente do trabalho, Paulo o teria mencionado também, todavia ele menciona apenas os bispos (plural) ediáconos (também plural).
Temos aqui, portanto, um quadro admirável da simplicidade da vida da igreja primitiva. Primeiro, são mencionados “os santos”, depois os guias espirituais e em último lugar os servos nas coisas temporais. Nada mais!
3. Por que Paulo escreveu esta carta? Paulo escreveu a Carta aos Filipenses com dois propósitos em mente:
a) Para agradecer a igreja de Filipos sua generosidade. Essa é uma carta de gratidão à igreja pelo seu envolvimento com o velho apóstolo em suas necessidades. Essa igreja foi a única que se associou a Paulo desde o início para sustentá-lo (Fp 4:15). Enquanto Paulo esteve em Tessalônica, eles enviaram sustento para ele duas vezes (4:16). Enquanto Paulo esteve em Corinto, a igreja de Filipos o socorreu financeiramente (2Co 11:8,9). Quando Paulo foi para Jerusalém depois da sua terceira viagem missionária, aquela igreja levantou ofertas generosas e sacrificais para atender os pobres da Judéia (2Co 8:1-5). Quando Paulo esteve preso em Roma, a igreja de Filipos enviou a ele Epafrodito com donativos e para lhe prestar assistência na prisão (4:18).
b) Para alertar a igreja sobre os perigos que estava enfrentando. A igreja de Filipos enfrentava dois sérios problemas: um interno e outro externo.
· Primeiro, a quebra da comunhão. A desunião dos crentes era um pecado que atacava o coração da igreja. Era uma arma destruidora que estava roubando a eficácia da igreja diante do mundo. Percebe-se que a igreja filipense sofria com problemas de presunção (Fp 2:3), de vaidosa superioridade (Fp 2:3), que induziam ao egoísmo (Fp 2:4), quebrando a koinonia, espírito de boa vontade para com a comunidade. Isso gerava pequenas disputas (Fp 4:2) e espírito de reclamação (Fp 2:14).
· Segundo, a heresia doutrinária. A igreja estava sob ataque também pelo perigo dos falsos mestres (Fp 3:2). O judaísmo e o perfeccionismo atacavam a igreja. Paulo os chama de adversários (Fp 1:28), inimigos da cruz de Cristo (Fp 3:17).
Paulo tem de lidar também com os missionários gnósticos perfeccionistas. Eles alardeavam seu "conhecimento" (Fp 3:8) e professavam ter alcançado uma ressurreição, já experimentada, dentre os mortos (Fp 3:10). Esses gnósticos são, de fato, inimigos da cruz de Cristo (Fp 3:18), libertinos e condenados (Fp 3:19).
III. AÇÃO DE GRAÇAS E PETIÇÃO PELA IGREJA DE FILIPOS (Fp 1:3-11)
1. As razões pela ação de graças. “Dou graças ao meu Deus todas as vezes que me lembro de vós”(Fp 1:3). Há recordações que ferem o coração, abatem o espírito e provocam grande dor. Há reminiscências amargas e lembranças dolorosas. Há memórias que só trazem à tona a desesperança. No entanto, quando Paulo volta ao passado e se lembra da igreja de Filipos, seu coração é inundado de grande gratidão.
Na cidade de Filipos Paulo foi preso, açoitado ilegalmente com varas, jogado num calabouço, colocado no tronco e humilhado diante do povo. Contudo, nessa mesma cidade, Paulo plantou uma igreja que foi a coroa da sua alegria (Fp 4:1). Nessa cidade, Paulo organizou uma igreja que se tornou a maior parceira do seu ministério. A igreja de Filipos sustentou Paulo em Tessalônica (Fp 4:15.16), em Corinto (2Co 11:9) e em Roma (Fp 4:18).
Não há nenhum fato vivido na igreja que arranque lágrimas de tristeza no apóstolo; ao contrário, tudo que ele traz à sua memória o conduz a um efusivo cântico de louvor a Deus. As palavras de Paulo são ternas e sinceras; ele estava genuinamente agradecendo pelas ofertas dos filipenses e pela sua parceria no Evangelho.
Todas as vezes que Paulo pensava nos filipenses, ele dava graças a Deus por eles. A igreja filipense tinha trazido a Paulo muita alegria e pouca dor. Algumas das igrejas haviam desenvolvido problemas sérios, e as cartas de Paulo tinham se concentrado no tratamento dos problemas. A carta de Paulo aos Filipenses, embora mencionando algumas preocupações e dando alguns conselhos, poderia ser considerada uma bela nota de agradecimentos pelo apoio constante da parte deles.
2. Uma oração de gratidão (Fp 1:3-8). Quem ama, ora. A forma mais efusiva de demonstrar amor por alguém é interceder por ele. As palavras “fazendo, sempre com alegria, oração por vós em todas as minhas súplicas” estão no tempo presente, significando que Paulo estava orando por eles continuamente. Paulo implantou igrejas e então manteve essas igrejas em oração, enquanto ele dava continuidade ao seu ministério. Quando Paulo orava pelos filipenses, ele agradecia a Deus por eles e orava “com alegria” no coração. Vindo de um pregador itinerante preso por causa de sua fé, alegria seria a última atitude que se esperaria. Paulo tinha alegria, apesar de sua prisão e da incerteza sobre a decisão de seu caso. A verdadeira alegria surge acima das ondas das circunstancias; a verdadeira alegria nos mantém equilibrados, não importando se estamos nos sentindo felizes ou tristes. Uma razão para alegria de Paulo era que os filipenses tinham cooperado com o Evangelho, através de sua generosa contribuição para o ministério de Paulo.
3. Uma oração de petição (Fp 1:9-11). Após agradecer a Deus pelos cristãos filipenses, o apóstolo passa a rogar a Deus por eles:
a) “que o vosso amor aumente mais e mais em ciência e em todo o conhecimento” (Fp 1:9). Paulo não pede riquezas e conforto para si, ou a solução de seus problemas, não. Ele pede que o amor deles aumente cada vez mais, em ciência e em pleno conhecimento. O primeiro alvo da vida do cristão é amar a Deus e amar o semelhante. O amor, porém, não se restringe ao campo das emoções. Para realizar um trabalho eficaz na obra do Senhor, precisamos usar nossa inteligência e exercitar o conhecimento. De outra foram, nossos esforços serão inúteis. Por isso, Paulo ora não somente para que os filipenses continuem a manifestar o amor cristão, mas também para que esse amor seja exercitado em ciência e em todo o conhecimento.
b) “Para que aproveis as coisas excelentes para que sejais sinceros e sem escândalo algum até ao Dia de Cristo” (Fp 1:10). Paulo lista três razões pelas quais o amor aumente mais e mais em ciência e em todo o conhecimento:
· Para os crentes aprovarem as coisas excelentes. O discernimento deve levar os crentes a escolherem as coisas boas e a rejeitarem as más. Em todas as fases da vida, há coisas boas e outras que são melhores. O serviço eficaz depende desse discernimento.
· Para os crentes serem sinceros e inculpáveis. Um amor maduro desemboca em sinceridade e inculpabilidade. Se sinceridade tem que ver com a vida íntima, a inculpabilidade tem que ver com a vida pública. Paulo quer que eles sejam sinceros, ou seja, perfeitamente transparentes e sem culpa em relação ao Dia de Cristo. Ser inculpáveis não significa ser sem pecado. Todos nós pecamos. A pessoa sem culpa é aquela que, depois de pecar, confessa seu pecado e pede perdão a qualquer pessoa a quem tenha ofendido e procede à restituição, se for possível.
· Para os crentes estarem preparados para, a segunda vinda de Cristo. Devemos viver hoje como se Cristo fosse voltar amanhã. Vivemos à luz da eternidade. A esperança da segunda vinda de Cristo nos motiva à santidade. O Dia de Cristo, conforme lemos no versículo 6, refere-se ao arrebatamento da igreja e ao julgamento que se segue, quando as obras dos crentes serão julgadas.
c) “Cheios de frutos de justiça”(Fp 1:11). O último pedido da oração do apóstolo é que os crentes possam ser cheios do “fruto de justiça”. Esse “fruto” é composto por todos os traços de caráter que fluem de um relacionamento correto com Deus. A frase refere-se às coisas boas de uma pessoa. Não há outro meio de os crentes gerarem este fruto, a não ser através do relacionamento pessoal com Jesus Cristo. Somente a vida dEle em nós é que pode nos ajudar a viver de uma maneira que, frequentemente, vai contra a nossa natureza humana. Veja Gálatas 5:22,23, para uma lista das virtudes que compõem este fruto. Este relacionamento e os resultados que são revelados como o “fruto” na vida das pessoas sempre traz glória e louvor a Deus. A vida dos crentes deve glorificar e louvar a Deus, porque é somente através de sua graça que os seres humanos pecadores podem obter a justiça.
CONCLUSÃO
Concluo esta primeira Aula citando esta admoestação do apóstolo Paulo: “Não estejais inquietos por coisa alguma; antes, as vossas petições sejam em tudo conhecidas diante de Deus, pela oração e súplicas, com ação de graças. E a paz de Deus, que excede todo o entendimento, guardará os vossos corações e os vossos sentimentos em Cristo Jesus” (Fp 4:6,7). Que possamos ao longo deste trimestre absorver este ânimo do ensino de Paulo, que apesar dos tempos de preocupação e ansiedade, Deus continue a dar-nos a sua paz e o seu gozo. Amém!
Fonte: ebdweb
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