Texto Base: Lucas 2:46-49; 3:21,22
19/04/2015
“E crescia Jesus em sabedoria, e em
estatura, e em graça para com Deus e os homens” (Lc 2:52).
INTRODUÇÃO
Uma das maiores prova de que Jesus Se
humanizou é a Sua infância e adolescência, que, apesar de pouco mencionadas nas
Escrituras, mostram-nos claramente que Jesus Se fez homem, semelhante a
qualquer um de nós. A Bíblia pouco diz sobre a infância de Jesus, que vai de
zero aos doze anos de idade, mas é o suficiente para mostrar que Jesus teve uma
infância como qualquer ser humano. Fora da Bíblia, nada é confiável quando se
fala sobre essa fase de vida de Jesus, haja vista que sua vida transcorreu normalmente
como qualquer ser humano de vida simples e sem notoriedade. Os fatos que
demonstraram a sua natureza divina, Maria guardava-os em seu coração (Lc 2:19).
I. FASES DA INFÂNCIA DE JESUS
Jesus, ao se humanizar, submeteu-se a todas
as fases do desenvolvimento humano. Ao contrário de Adão, que não teve
infância, que já foi criado adulto, Jesus, segundo a promessa de Deus, deveria
ser “nascido de mulher” e, portanto, haveria de passar por todas as fases de
desenvolvimento humano que os descendentes de Eva, “mãe de todos os viventes”,
se submeteriam, entre os quais a própria concepção (Gn.3:16).
1. Jesus, o Menino Deus-Homem. Na descrição bíblica do nascimento de Jesus, vemos
estampadas sua divindade e humanidade. Jesus nasceu como
qualquer outro ser humano. Sua mãe deu à luz a ele em uma estrebaria, pois o
casal não havia encontrado lugar nas estalagens de Belém, que se encontrava
lotada por causa do recenseamento, tendo, após o nascimento, envolto o menino
em panos e o posto em uma manjedoura (Lc 2:7). Estas circunstâncias mostram-nos
claramente que Jesus nasceu como um pequenino bebê, que carecia de calor dos panos e do estrito cuidado e carinho
da sua mãe. Era um bebê como qualquer outro, um ser humano.
Conquanto fosse um ser humano a sua deidade
não pudera ser dEle retirada, e, por isso, anjos vieram louvar seu nascimento. Este bebê não deixou de ser Deus, mas se despira de toda a sua glória, para
nascer de mulher, para nascer sob a lei (Gl 4:4). Daí deve-se refutar toda
narrativa fantasiosa que apresente um Jesus que nasceu e, de forma miraculosa,
já se apresentou, ainda recém-nascido, como um “super-homem”, como um “ser
especial”.
Precisamos ter cuidado com os falaciosos “evangelhos
da infância” ou “evangelhos da natividade”, escritos não inspirados
que surgiram ao longo dos primeiros séculos da igreja cristã, os quais tendem
“aumentar” o caráter miraculoso do
nascimento de Jesus, “acrescentando” dados fantasiosos e sobrenaturais a
este episódio; algo, aliás, que costumamos ver, lamentavelmente, em
“testemunhos” contados por alguns em nossos púlpitos.
Estes escritos são puras
invencionices, fruto da imaginação de pessoas que não tinham e nem tem qualquer
compromisso com a verdade. Não passam de fábulas artificialmente compostas (2Pedro
1:16), que querem causar “impacto” nos leitores e ouvintes, como se isso fosse
necessário para gerar temor e tremor diante de Deus ou para assegurar a dupla
natureza de Jesus e seu caráter singular diante de todos os homens. São mentiras que foram rechaçadas pelos
cristãos do tempo em que foram divulgadas e espalhadas e que, hoje, por
força da operação do erro, do espírito do anticristo, renascem das tumbas para
onde haviam sido lançadas pelos crentes primitivos, a fim de fazer com que os
que rejeitam o Evangelho sejam cada vez mais enganados e iludidos (2Ts 2:7-12).
Assim, por
exemplo, o chamado “protoevangelho de Tiago” ou “livro de Santiago” diz
que Jesus nasceu em uma gruta, depois de uma luminosidade intensa,
ocasião em que teria, de imediato, se
pegado ao peito de sua mãe, que, aliás, teria se mantido virgem. Bem se vê que é neste escrito que se
construiu a tese do “nascimento virginal de Cristo”, ou seja, de
que Maria se manteve virgem mesmo tendo dado à luz a Jesus, o que é totalmente
contrário ao que nos ensinam as Escrituras que não só não diz que Maria tenha
se mantido virgem (Mt 1:25), como que Maria teve outros filhos além de Jesus. Como se não bastasse, este livro conta que
Jesus teria curado, ainda na gruta, uma mulher que não havia crido que Maria
tivesse se mantido virgem, o que é um perfeito absurdo, pois, então,
Jesus teria usado da sua divindade, logo no limiar da sua existência,
contrariando, deste modo, toda a “kenosis”
(*), absolutamente necessária para nos abrir a porta da graça.
O chamado “evangelho árabe da infância”,
também, diz que, ainda no berço (que berço?), Jesus teria dito a Maria: “Eu sou Jesus, o filho de Deus, o Verbo, a
quem tu deste à luz de acordo com o anunciado pelo anjo Gabriel. Meu Pai me
enviou para a salvação do mundo”. Teria, também, ainda dentro da “gruta”, curado uma mulher de
paralisia. Tal narrativa fantasiosa deve ter sido a fonte de inspiração de Maomé no Alcorão, onde
Jesus, também, é apresentado como tendo falado logo após seu nascimento, dando
conta de que era “Profeta de Alá”.
Todos estes
relatos são absurdos, porque jamais Jesus deixaria a sua condição de homem e
assumiria a de Deus, negando, assim, toda a sua obra.
Muito pelo contrário, a Bíblia nos revela que Jesus cumpriu toda a obra que o
Pai lhe havia dado a fazer (João 17:4).
2. A circuncisão de Jesus
(Lc.2:21-24). De acordo com as prescrições da lei, a
circuncisão de Jesus ocorreu no oitavo dia após o nascimento. A circuncisão de
Jesus é o primeiro ato que demonstra que Jesus nasceu sob a lei (Gl 4:4), que
deveria cumprir integralmente a lei de Moisés (Mt 5:17). A circuncisão simboliza
a separação dos judeus dos gentios e seu relacionamento singular com Deus. Obedecendo as instruções do anjo, José e
Maria deram ao menino o nome de Jesus, que significa “o Senhor é Salvação” ou
“Jeová é o Salvador”.
É interessante observar que a narrativa de
Lucas mostra um menino Jesus totalmente indefeso, dependente, como toda criança
recém-nascida. Em toda a narrativa,
Jesus não pratica qualquer ação, é sempre o objeto das ações dos outros homens:
foi envolto em panos, deitado na manjedoura, visto pelos pastores, foi
circuncidado e dado a ele o nome. Isto é uma demonstração de que Jesus,
assim como qualquer outro recém-nascido, como qualquer outro neonato, dependia
inteiramente de seus pais.
3. O
Menino Jesus é apresentado no Templo para resgate da Primogenitura, conforme a Lei
(Lc 2:22-24). Depois dos dias de
purificação, ainda de acordo com a lei, Jesus foi apresentado no Templo. O
filho Primogênito era apresentado a Deus um mês após o
nascimento. A cerimônia incluía o resgate da criança para Deus por meio de uma
oferta. Deste modo, os pais reconheciam que o filho pertencia a Deus, o único
com poder de dar a vida.
A apresentação do menino Jesus segue-se do
fato de que todo primogênito [lit.
“que abre a madre”] (isto é, o filho primogênito da mãe, não necessariamente do
pai) ao Senhor será consagrado (a citação de Lucas não é literal, mas dá o
sentido de várias passagens: Êx 13:12,15; Nm 18:15,16). Embora Lucas não
mencione o fato, sem dúvida os cinco
siclos usuais foram pagos para redimir o primogênito (Nm 18:16).
4. O Menino Jesus foi levado ao templo com
seus pais, a fim de que se fizesse o sacrifício relacionado à purificação de
sua mãe (Lc 2:22). Segundo Leon L. Morris, “a presença da
criança não era necessária, mas era natural quando os pais estavam
suficientemente perto de Jerusalém”. A lei levítica estipulava que, depois do
nascimento de um filho, uma mulher ficaria impura durante os sete dias até a
circuncisão do menino, e que, por mais trinta e três dias, devia manter-se
afastada de todas as coisas sagradas (para uma filha, o tempo era dobrado – Lv
12:1-5). Na ocasião, devia sacrificar um cordeiro e um pombo (macho ou fêmea, Lv
12:6-8) como oferta pelos pecados. O sacerdote sacrificava estes animais e
declarava a mulher purificada. Se um cordeiro fosse muito caro para a família,
os pais poderiam ofertar dois pombos (macho ou fêmea). Isto foi o que Maria e
José fizeram (Lc 2:24), numa demonstração de que José e Maria eram pobres.
Tem-se
aqui outra prova de que o parto de Jesus foi normal, porque só nestes casos é
que havia a necessidade do sacrifício da purificação que, pela tradição
judaica, é dispensado em outros casos, como o da cesariana, como se encontra no
Talmude.
Vemos, portanto, que Jesus
nascia em uma família humilde, pobre, de modo que a pobreza de que nos fala o
apóstolo em relação à pessoa de Jesus (2Co 8:9), não envolve apenas a questão
da “kenosis”, mas também abrange a
própria condição econômico-financeira da “sagrada família”. Ao contrário do que
apregoam os “teólogos da prosperidade”, Jesus não nasceu rico, mas, sim, bem
humilde, tanto que seus pais ofereceram o mínimo previsto na lei para a
purificação de Maria.
5. O Menino Jesus, ao entrar pela primeira vez no Templo, é
identificado pelo Espírito Santo como o Messias (Lc
2:26,27). Quando o menino Jesus entrava, pela primeira vez, no Templo de
Jerusalém, eram apresentadas tanto a sua humanidade quanto a sua deidade. Ao entrar no Templo, o Espírito Santo usou
Simeão para apresentar aquela criança como sendo o Messias, o Salvador do mundo,
o Verbo que se fez carne. Simeão louvou a Deus cantando (Lc
2:25-35). Esse cântico muito conhecido é chamado em latim de Nunc dimittis, que significa “agora despede”.
Ao mesmo tempo em que Simeão tomava o menino
nos seus braços, indicando tratar-se de uma criança recém-nascida, era chamado
pelo sacerdote de “a Tua salvação preparada”, “luz para alumiar as nações e para glória de
Teu povo Israel” (Lc 2:30-32). Enquanto dizia já poder morrer em
paz, porque já vira a salvação de Deus para o seu povo, também abençoava o
menino e o casal, a indicar, pois, como Jesus é homem e é Deus simultaneamente.
Como Messias, traria elevação e queda
de muitos em Israel; como homem, provocaria grande tristeza em Sua mãe quando
de Sua morte (Lc 2:35).
Mas não foi apenas Simeão que viu aquele
pequenino como o Salvador do mundo, uma visão que corresponde à dos pastores de
Belém, mas também Jesus foi revelado como o Messias à profetisa Ana, da tribo de Aser, a demonstrar
que Jesus estava vindo para toda a nação de Israel, para todos, homens e
mulheres. Àquela viúva, idosa, mas que não se afastava do templo, o Espírito Santo também revelou quem era
aquela criança e, assim como os pastores, Ana não pôde se calar e a
todos divulgava a boa-nova, o Evangelho (Lc 2:36-38), o poder de Deus para a
salvação de todo aquele que crê (Rm 1:16).
Estes episódios
narrados por Lucas mostram-nos com grande clareza que Jesus, na aparência, era
uma criança como qualquer outra, sem nada que O pudesse distinguir dos demais e
que apenas pelo Espírito Santo poderia ser identificado como o Messias,
identificações que foram feitas com o propósito de nos fazer compreender que,
embora humanizado, Jesus jamais
perdeu a sua deidade.
6. Cumpridos os ritos da lei, José e Maria
passaram a residir em Belém de Judá (Mt
2:16). Mateus 2:11 registra o casal e o menino em uma casa, quando
foram visitados pelos magos do Oriente, em Belém (Mt 2:16). Isto nos permite observar, pois, que as
famosas cenas dos presépios, onde vemos a “sagrada família” recebendo a visita
dos magos ainda na estrebaria não corresponde à realidade do texto bíblico.
O presépio, aliás, foi uma criação de Francisco de Assis que, no século XIII,
quis retratar o nascimento de Jesus de forma a realçar a sua pobreza, um de
seus principais lemas que o levou a fundar a ordem religiosa dos franciscanos.
Assim, acabou adotando a gruta dos escritos apócrifos e incluindo os magos, o
que, porém, não tem respaldo das Escrituras.
7. O Menino Jesus é visitado pelos magos do Oriente (Mt 2:11). Tendo os magos visto a “estrela” no
dia do nascimento de Jesus e até interpretarem o que isto significava e, por
fim, resolvido viajar até Jerusalém para adorarem o “rei dos judeus”, decorreu um bom período, período este que é
inferior a dois anos, diante da deliberação de Herodes de matar a todas
as crianças de dois anos para baixo que haviam nascido em Belém.
Os magos foram
procurar o “rei dos judeus” em Jerusalém (Mt 2:1,2), mas acabaram encontrando o
menino em Belém, em uma casa, prova de que o casal se instalara naquela cidade, pelo menos neste
período de menos de dois anos após o nascimento de Jesus. Nada havia de
especial no menino, como se pode perceber, tanto que preciso foi que a
“estrela” os guiasse, depois que sua sabedoria humana os conduzira,
equivocadamente, a Jerusalém.
8. O
Menino Jesus recebe presentes (Mt 2:11) – “...e abrindo os seus tesouros, ofertaram-lhe
dádivas: ouro incenso e mirra”.
Ao encontrarem o Menino,
os magos O adoraram, apesar de ser um simples menino, tendo, ainda,
trazido ofertas para a criança, de ouro, incenso e mirra, dádivas
que simbolizavam o tríplice ministério de Jesus: de rei (ouro), sacerdote
(incenso) e profeta (mirra),
vez que o ouro representa a realeza, o
incenso, que era usado pelos sacerdotes como parte acompanhante dos sacrifícios
e, por fim, a mirra, resina de planta do mesmo nome de aroma agradável e gosto
amargo, com propriedades adstringentes (isto é, que provocam constrição,
compressão, em termos figurados, arrependimento) e antissépticas (isto é, que
impedem a contaminação, que cura, que
mata os germens, em termos figurados, o pecado), características que
acompanham sempre aquele que é porta-voz do Senhor.
9. A fuga do Menino Jesus para o Egito (Mt 2:13-15). Ante a revelação
divina aos magos para que não dissessem a Herodes onde estava o menino, antes
que houvesse a matança dos inocentes em Belém, José e Maria foram avisados para descerem ao Egito, o que lhes foi
possível porque, com as dádivas recebidas pelos magos, tinham condições para se
estabelecer naquela terra estranha, onde, afinal de contas, havia uma grande
colônia judaica. A Bíblia não nos diz onde Jesus esteve no Egito, mas os cristãos coptas (como são
conhecidos os cristãos do Egito, Etiópia e Eritréia, países do Norte da África),
não sem muitas superstições, mantêm locais considerados como tendo sido
visitados e habitados pela “sagrada família”, que, hoje, faz parte da chamada
“Rota Sagrada”, um dos itinerários turísticos oficiais do governo do Egito.
10. O Menino Jesus retorna do Egito (Mt 2:21).
Jesus esteve no Egito até a morte de Herodes, quando José e Maria, novamente por revelação divina, deixaram o Egito e
foram morar em Nazaré, já que José temeu retornar a Judéia, vez que ali reinava Arquelau, filho de Herodes (Mt 2:22), enquanto
que, na Galileia, onde ficava Nazaré, o
governante era Herodes Antipas, o mesmo que foi, certa feita, chamado de “raposa” por Jesus (Lc 13:32),
que, apesar de também ser filho de Herodes, era pessoa de menor crueldade e
menos apegado aos valores judaicos.
A situação simples
em que vivia a “sagrada família” obrigou-a voltar a morar em Nazaré,
local completamente ignorado, mesmo na Galileia, alvo de todo tipo de preconceito (João 1:46). Quão diferente é a Bíblia das fantasias
trazidas pelos “teólogos da prosperidade”.
Nazaré era localidade que
nem sequer foi objeto de menção no Antigo Testamento, nem mesmo quando houve a
divisão da terra, também não tendo sido mencionada nenhuma vez por Flávio
Josefo, apesar de ele ter sido governador da Galileia. Vemos, assim, que, tanto
antes, quanto depois da passagem de Jesus por este mundo, Nazaré foi sempre aviltada e desprezada
enquanto lugar. Por causa disto, alguns estudiosos chegam a pensar que
Nazaré seria uma aglomeração urbana irregular, uma espécie de ajuntamento de
pessoas desqualificadas ou marginalizadas na sociedade, algo como os “favelões” das metrópoles atuais. Foi nesta localidade obscura que José e Maria
foram habitar, levando consigo Jesus e os filhos que já haviam nascido do casal.
11. Na Pré-Adolescência, Jesus fora
levado ao Templo a fim de assumir a sua responsabilidade perante a Lei (Lc
2:41-49). Era a festa da Páscoa, a primeira das 21 Páscoas em que
Jesus cumpriria seu dever de se apresentar perante o Senhor no templo.
O fato de Lucas registrar a ida de Jesus ao
Templo em Jerusalém, aos 12 anos, demonstra a seriedade dos pais em seguir os
costumes da religião judaica. Antes de completar 13 anos, todo menino judeu
devia ir a Jerusalém para receber oficialmente o título de “filho da lei”,
significando que se tornara um menino adulto da comunidade religiosa de Israel.
Na condição de "filho da lei", Ele foi encontrado por seus pais depois que
voltaram a Jerusalém para procurá-lo. Nessa condição, Jesus pôde assentar-se
com os mestres da lei, ouvindo-os e interrogando-os. Destacam-se também a
inteligência de Jesus ao responder as indagações dos mestres da lei, o que
provocava admiração em todos os presentes, e a resposta que Jesus deu a Maria,
sua mãe, diante da preocupação demonstrada por não o terem encontrado durante a
viagem. Jesus contrastou de uma maneira bem interessante a expressão "teu pai" (Lc 2:48), que Maria
usou referindo-se a José, com a que Ele usou para referir-se a Deus, "meu Pai" (2:49). Ao ser repreendido
pelos seus pais, que O encontram três dias depois no templo, o adolescente
Jesus mostra ter esta consciência quando diz a Maria: “… Não sabeis que Me convém tratar dos negócios de Meu Pai?” (Lc
2:49). Não era, porém, o momento para iniciar esta obra, o que se daria apenas
quando tivesse trinta anos de idade, ou seja, dezoito anos depois.
Em Lucas 2:48-50 fica patente que Jesus,
mesmo tendo apenas 12 anos, tinha consciência da sua relação especial com Deus,
o seu verdadeiro Pai, o Pai celeste, embora esse fato não fosse claramente
entendido por Maria e José.
12. A submissão do Menino Jesus aos seus pais
terrenos (Lc 2:51,52). Após esta demonstração de plenitude de
consciência de sua condição de Filho de Deus, que faz o adolescente Jesus?
Desce com seus pais para Nazaré, onde permanece sujeito a eles (Lc 2:51), ou
seja, obediente e reverente a seus pais, como todo adolescente de seu tempo,
como mandava a lei de Moisés, perante a qual assumira a responsabilidade quando
fora a Jerusalém. Em Lucas 2:51
encontramos a última referência a José no Novo Testamento. Nas bodas de Caná da
Galileia, ele não estava presente (João 2). Talvez já houvesse falecido.
A
sujeição de Jesus a seus pais terrenos foi uma característica
predominante em sua infância e, na vida adulta, obedeceu aos pais em tudo. Isto
serve de exemplo para as crianças nessa faixa etária. Em nossos dias, muitas
crianças crescem em lares onde a obediência não foi nem ensinada nem cobrada,
gerando uma rebeldia que se estende até a vida adulta.
A obediência dos filhos é tão importante que
é um pré-requisito para que uma pessoa possa ser ordenada ao santo ministério:
“que governe bem a sua própria casa,
tendo seus filhos em sujeição, com todo o respeito (pois, se alguém não sabe
governar a sua própria casa, como cuidará da igreja de Deus?”(1Tm 3:4,5).
Da infância até a crucificação, Jesus foi
submisso ao Pai Eterno e aos seus pais mortais, deixando-nos um memorável
exemplo, a fim de que cuidemos de nosso pai e mãe e a eles sejamos obedientes
em tudo. Se o próprio Filho de Deus foi sujeito aos seus pais humanos, porque nós,
algumas vezes, os desobedecemos? "Vós,
filhos, sede obedientes a vossos pais no Senhor, porque isto é justo"
(Ef 6:1).
A partir daí, a Bíblia quase nada mais nos
revela a respeito da adolescência de Jesus. Sabemos, apenas, por inferência,
que, durante esses anos, Jesus exerceu o mesmo ofício de seu pai, ou seja, o de
carpinteiro, em Nazaré, pois é chamado de carpinteiro e filho do carpinteiro
pelos nazaritas, quando lá retorna, já quando iniciado o seu ministério público
(Mt 13:55; Mc 6:3). Vemos, portanto, que, na adolescência, Jesus aprendeu o
ofício de seu pai e o exerceu, em mais uma demonstração de que a “sagrada
família” vivia a “porção acostumada de
Agur” (Pv 30:8), dependendo do trabalho para a sua sobrevivência.
II. O CRESCIMENTO DE JESUS
Em toda a sua humanidade, Jesus era um
“menino”, que “crescia”. Estava submetido ao processo de desenvolvimento como
todo indivíduo, porque realmente se fez carne e, em virtude disto, necessitava
crescer tanto física quanto psíquica e espiritualmente. Crescia em sabedoria,
conforme a graça de Deus. Era perfeito quanto à natureza humana, prosseguindo
para a maturidade, segundo a vontade de Deus, plenamente consciente de que Deus
era seu Pai (Lc 2:49).
1.
Jesus cresceu fisicamente. “E
o menino crescia e se fortalecia em espírito, cheio de sabedoria; e a graça de
Deus estava sobre ele” (Lc 2:40). Jesus passou pelas mesmas fases
de desenvolvimento físico, aprendendo a andar, falar, brincar e trabalhar. Por
causa disso ele pode identificar-se conosco em cada fase do nosso crescimento.
2.
Jesus cresceu socialmente. “E
crescia Jesus em sabedoria, e em estatura, e em graça para com Deus e os homens” (Lc 2:52). Aqui vemos a
verdadeira humanidade e o crescimento normal do Senhor Jesus: (a) Crescimento
mental: crescia Jesus em sabedoria; (b) Crescimento físico: estatura; (c)
Crescimento espiritual: e graça, diante de Deus; (d) Crescimento social: e dos
homens. Jesus era perfeito em todo aspecto do seu crescimento.
A narrativa de Lucas passa silenciosamente
por cima dos dezoito anos que o Senhor Jesus passou em Nazaré como Filho de um
carpinteiro. Esses anos nos ensinam a importância de preparação e treinamento,
a necessidade de paciência e o valor do trabalho diário. Eles advertem contra a
tentação de pular do nascimento espiritual ao ministério público.
Espiritualmente falando, os que não têm infância e adolescência normal atraem
desastre na sua vida e no seu testemunho posteriores.
3. Jesus cresceu psicologicamente. “E
crescia Jesus em sabedoria...” (Lc 2:52). Aqui, Lucas informa que Jesus
crescia em sabedoria. Segundo o pr. José Gonçalves, “crescer em sabedoria é
crescer em conhecimento. É desenvolver-se intelectual e mentalmente”. Jesus não
apenas aprendeu o ABC, assimilou os conhecimentos da vivência humana do dia a
dia, os números e todo o conhecimento geral daqueles dias, mas cresceu em
sabedoria, isto é, na aplicação prática desse conhecimento aos problemas da
vida. Ele “encheu-se de sabedoria” (Lc 2:40).
4. Jesus cresceu espiritualmente. “… crescia, e se fortalecia em espírito...”
(Lc 2:39). Jesus passara a infância crescendo e se fortalecendo em espírito,
enchendo-se de sabedoria, tendo sobre si a graça de Deus. A graça de Deus
estava sobre ele. Jesus andava em comunhão com Deus e na dependência do
Espírito Santo. Ele estudava a Bíblia, passava tempo em oração e se alegrava em
fazer a vontade do Pai.
Seu crescimento e fortalecimento, diz-nos o
texto bíblico, era “em espírito”. O
crescimento de Jesus se dava na comunhão com o Senhor. O espírito faz a
ligação entre Deus e o homem, e Jesus crescia, enquanto homem, neste quesito,
até, quando se tornou responsável diretamente diante de Deus, segundo a lei, a
iniciar a tratar dos negócios de seu Pai (Lc 2:49).
O fato de a Bíblia
dizer que o menino crescia e se fortalecia, é a prova de que a plenitude do
Espírito Santo não estava ainda sobre o menino ou o adolescente Jesus.
Tinha Ele tido a consciência do bem e do mal, escolhendo o bem, o que
proporcionou o início do seu progresso espiritual, mas, de modo algum, pode-se
admitir um Jesus milagreiro, como o apresentado pelos “evangelhos da infância”.
Nem no Egito, nem em Nazaré, Jesus fez
qualquer milagre, pois ainda não era chegada a hora.
Se Jesus, sendo
Deus, enquanto homem necessitava crescer e se fortalecer em espírito, que diremos
de nós?
Não se pode exigir de um ser humano que atinja de imediato a plenitude
espiritual. Muito pelo contrário, a Bíblia é repleta de textos que nos indicam
a necessidade de crescermos na graça e no conhecimento de Jesus (2Pedro 3:18),
de nos aperfeiçoarmos continuadamente (Ef.4:11-14).
5. O
Menino Jesus crescia em “graça para com Deus e os homens” (Lc
2:52). Além de ser “cheio de sabedoria”, o menino Jesus tinha a “graça de Deus
sobre Ele”. Enquanto Deus, o Verbo era cheio de graça e de verdade. Enquanto
homem, Jesus precisava que a “graça de Deus” estivesse sobre Ele.
Se Jesus, sem pecado, tendo optado pelo bem
e rejeitado o mal, necessitava que a graça de Deus estivesse sobre Ele, que
diremos de nós? Nunca devemos nos esquecer de que a graça de Deus está sobre
nós e que, por isso, podemos chegar à glorificação, por este motivo temos a
vida eterna. É tudo pela graça, que se há manifestado, trazendo salvação a
todos os homens (Tt 2:11), graça esta que nos ensina a abandonar o mundo, a
rejeitar o mal, assim como fez o menino Jesus assim que adquiriu consciência
(Tt 2:12).
CONCLUSÃO
O limitado relato bíblico que temos a respeito da
infância de Jesus é plenamente suficiente para a compreensão da sua vida. Ele é o modelo de criança que devemos ter em nossos
lares,
em nossas igrejas locais, em nossa
sociedade. As crianças devem ser educadas a crescer, a se fortalecer em
espírito, a se encherem de sabedoria, a terem sobre si a graça de Deus. Ao
adquirirem a consciência, perdendo a inocência, devem ser ensinadas a rejeitar
o mal, devem ser estimuladas e incentivadas a seguir o bem, a terem comunhão
com Deus. Para tanto, precisam ser apresentadas a Jesus, o autor e consumador
de nossa fé, para que, nEle e com Ele, venham a crescer, fortalecer-se em
espírito, encher-se de sabedoria e ter a graça de Deus sobre si. Temos levado
este ensino, esta instrução às nossas crianças?
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