Texto Base: Daniel 2:24-28
"A minha palavra e a minha pregação não consistiram em palavras persuasivas de sabedoria humana, mas em demonstração do Espírito e de poder, para que a vossa f é não se apoiasse em sabedoria dos homens, mas no poder de Deus" (1Co 2.4,5).
INTRODUÇÃO
Na Lição 05, estudamos o desafio da evangelização urbana. Na Lição 06, estudamos o desafio da evangelização dos grupos desafiadores. Nesta Lição, estudaremos o desafio da evangelização no mundo acadêmico e político. Sem dúvida alguma, este é um dos maiores desafios a ser enfrentado, haja vista que as universidades são hostis aos alunos e aos professores oriundos da tradição cristã. Essa hostilidade é sentida principalmente nos cursos das áreas de humanas; nestes cursos os alunos que professam a fé cristã são marginalizados e desafiados pelos professores, que são majoritariamente ateus ou agnósticos. Infelizmente, a maioria dos universitários cristãos não está preparada teologicamente para defender sua fé num campus. Desta feita, muitas vezes o desespero toma conta do jovem cristão ao confrontar um oposicionista, e, por isso, se isolam e viram “007 evangélico”, não fazendo uso do seu direito constitucional de manifestar a sua fé de forma explícita e destemida. Cabe aos líderes das igrejas locais e aos departamentos de evangelismo engendrarem esforços e estratégias a fim de preparar adequadamente jovens cristãos, a fim de que, no âmbito acadêmico, atuem como reais testemunhas de Jesus Cristo. É válido ressaltar que é do universo acadêmico que saem os cientistas, educadores, formadores de opinião e boa parte dos governantes e legisladores.
Nesta Aula, analisaremos a vida dos jovens hebreus Daniel e seus companheiros - Hananias, Misael e Azarias. Apesar do exílio babilônico, eles se destacaram como acadêmicos, servidores públicos e políticos. Eles mostraram, em atos e palavras, a supremacia do Deus de Israel. A vida desses hebreus serve de exemplo aos acadêmicos e políticos cristãos, que lutam por levar o Evangelho às mais altas esferas do conhecimento e do poder.
I. POSSIBILIDADES E LIMITAÇÕES DA EVANGELIZAÇÃO NO AMBIENTE ACADÊMICO(1)
1. É um ponto de convergência. As pessoas presentes na escola se deslocaram de outros bairros, ou cidades, ou estados ou países, no caso de estudantes estrangeiros. Ter essas pessoas concentradas ali é uma economia de esforço, do ponto de vista da estratégia evangelística. É claro que ninguém comparece à escola para tomar conhecimento do evangelho. O nosso trabalho começa com a comunicação evangelística correta para esse ambiente.
2. É um Local onde as pessoas interagem. Na escola as pessoas precisam se comunicar e têm oportunidade de se conhecerem, fazer amizades, trocar ideias. Talvez não exista outra instituição mais apropriada para essa finalidade. Na verdade, é lamentável vermos que muitos evangélicos ocultam o seu testemunho cristão e perdem essa grande oportunidade para comunicarem o evangelho aos seus colegas. Isso é notado entre alunos, professores e funcionários.
3. A fé é confrontada. A escola repassa conceitos filosóficos e científicos equivocados, que são antagônicos à Palavra de Deus, mas são tornados válidos pelo consenso da Comunidade Científica. Entre os não-cristãos, isso acentua o ceticismo e a incredulidade. Entre cristãos menos alicerçados no conhecimento bíblico há ameaças de esfriamento na fé. O que cabe a nós fazermos quanto a isto? Muito pode ser feito. Todo o Comunicador do Evangelho tem a missão de manifestar um posicionamento bem fundamentado, tanto na Bíblia como em assuntos científicos e, principalmente, com um testemunho de vida coerente com a fé professada.
4. O inimigo tem planos de ação. O ambiente escolar nada mais é do que uma amostragem do que se encontra na sociedade. Uma grande maioria apresenta um comportamento carnal, liberal, contrário à vontade de Deus. Isso faz surgir o fenômeno conhecido como pressão do grupo, pois essa maioria cobra de todos um comportamento padronizado, para poder interagir. A posição dos comunicadores do Evangelho precisa ser equilibrada. Isolar-se do grupo não é a solução. Na verdade, é preciso orar e vigiar, pois o Espírito Santo nos unge para estarmos integrados e podermos exercer a ação benéfica de sal da terra e luz do mundo.
(1) (Edson Talarico Rodrigues. A Comunicação do Evangelho no Meio Acadêmico).
II. DANIEL NA UNIVERSIDADE BABILÔNICA
Daniel foi escolhido para estudar na Universidade da Babilônia. Nabucodonosor era estadista e estrategista. Ao mesmo tempo em que seus exércitos eram devastadores, queimando casas, cidades, demolindo palácios e templos, também criara uma universidade para formar jovens cativos que pudessem se tornar divulgadores de sua cultura.
Para ingressar na Universidade Babilônica era preciso fazer vestibular, que era composto de três exames: (a) Qualidades sociais: linhagem real e dos nobres; (b) Qualidades físicas e morais: jovens sem nenhum defeito e de boa aparência; (c) Qualidades intelectuais: instruídos em toda sabedoria, doutos em ciência, versados no conhecimento e competentes para assistir no palácio. Os aprovados deveriam andar pelos corredores do poder. Após o período acadêmico eles mesmos governariam sobre os demais súditos conquistados.
Daniel 1:5 nos informa que o curso da Universidade de Babilônia era intensivo, pois durava apenas três anos. Depois disso, eles assistiriam no palácio, com garantia de emprego no primeiro escalão do governo mais poderoso do mundo. Era uma chance de ouro. Era tudo que um jovem queria na vida. Era tudo que um pai podia sonhar para seus filhos. Mas, nesse quadro de oportunidades ímpares, havia riscos tremendos para saúde espiritual. Por isso, todo cuidado seria pouco. O que adianta você ganhar o mundo inteiro e perder sua alma? O que adianta você ficar rico, vendendo a sua alma ao diabo? O que adianta você ter sucesso, mas perder sua fé? O que adianta você ser famoso, mas não ter uma vida limpa? Muitas pessoas mentem, corrompem-se, roubam, matam e morrem para alcançar o sucesso. Muitos destroem a honra e a família para chegar ao topo da pirâmide social. Mas esse sucesso é pura perda. Ele tem sabor de derrota.
1. Uma vida testemunhal. Uma das características marcantes na vida de Daniel era a firmeza do seu caráter moral e espiritual – “E Daniel assentou no seu coração não se contaminar com a porção do manjar do rei, nem com o vinho que ele bebia” (Dn 1:8). Este é um pré-requisito indispensável na vida do evangelizador neste âmbito tão complexo e exigente que é o meio acadêmico: não se conformar com o mundo (Rm 12:2).
Para os psicólogos, o caráter é aquilo que é adquirido ao longo da vida, aquilo que é apreendido pelo homem no seu convívio com o ambiente onde vive, ou seja, aquilo que incorpora, conscientemente ou não, ao longo da sua história. Daniel estava longe de casa, sem a sua família, em um país estranho, com uma língua estranha, sem o templo, sem sacerdotes e sem os rituais do culto. A despeito de tantas perdas, porém, não deixou seu coração ser envenenado pela mágoa, não permitiu que seu caráter fosse deformado pelo meio que ora passou a enfrentar. Procurou ser instrumento de Deus na vida dos babilônios. Daniel não foi um jovem influenciado, mas um influenciador. As pessoas que foram levadas cativas entregaram-se à depressão, nostalgia, choro, desânimo, amargura e ódio (Sl 137). Daniel, porém, escolheu ser uma luz, uma testemunha, um jovem fiel a Deus em terra estranha.
O caráter do cristão é quem ele é de fato, não apenas quando está diante do pastor, ou do seu líder, ou mesmo com um grupo de amigos, mas quando está num ambiente que ninguém o conhece, e ninguém está observando-o. O seu verdadeiro interior é a expressão mais exata da sua pessoa, sem máscaras, sem fingimentos ou aparências. Quem é você quando ninguém está olhando? Nosso caráter está relacionado com quem somos quando ninguém está olhando.
Deus está interessado em quem realmente somos. Quando nós temos caráter cristão, a evidência está em nossa conduta. Se você é salvo, sua conduta muda como evidência de que alguma coisa mudou dentro – no coração. Existem evidências da sua salvação. Se alguém diz, “eu sou salvo”, mas continua a mentir, roubar e viver imoralmente, é muito claro que não está salvo.
Daniel e seus amigos tiveram caráter santo e testemunhal. Mais adiante, eles vieram a influenciar até mesmo a classe política do império babilônico.
Portanto, o universitário crente evangeliza através de um testemunho santo e irrepreensível que, por si mesmo, é uma mensagem. E, também, por meio de uma abordagem sábia e oportuna, que mostre a razão de nossa esperança (1Pd 3:15).
2. Daniel, um jovem universitário fiel a Deus, apesar das grandes perdas. Daniel teve muitas perdas. Perdeu sua nacionalidade e sua bandeira. Foi arrancado de sua Pátria e de seu lar. Perdeu sua família, foi arrancado dos braços de seus pais, de seus amigos, de seus vizinhos. Ele foi agredido, violentado em seus direitos mais sagrados. Ele perdeu sua liberdade, saiu de casa não como estudante, mas como escravo; ele não é dono de sua vida nem de sua agenda. Daniel perdeu sua religião. Seu país foi invadido, sua cidade arrasada e o templo do Senhor derrubado. Seu povo estava debaixo de opróbrio. Mas, em vez de buscar a vingança dos inimigos, procurou ser instrumento de Deus na vida deles. Daniel escolheu ser uma luz, uma testemunha, um jovem fiel a Deus em terra estranha. Não é o que as pessoas nos fazem que importa, mas como reagimos a isso.
3. Daniel, um jovem universitário fiel a Deus, apesar dos grandes perigos. A integridade de Daniel e de seus amigos foi colocada à prova diante da determinação do rei. Esses servos de Deus tiveram de se acautelar acerca de quatro perigos:
a) O perigo das iguarias do mundo (Dn 1:5-8). As iguarias da mesa do rei eram comidas sacrificadas aos ídolos. Cada refeição no palácio real de Babilônia se iniciava com um ato de adoração pagã. Comer aqueles alimentos era tornar-se participante de um culto pagão. Há um ditado que diz que todas as maçãs do diabo são bonitas, mas elas têm bicho. Os banquetes do mundo são atraentes, mas o mundo jaz no maligno. Ser amigo do mundo é ser inimigo de Deus. Aquele que ama o mundo, o amor do Pai não está nele. Não entre na configuração do mundo. Fuja dos banquetes que o mundo lhe oferece. Os prazeres imediatos do pecado produzem tormentos eternos. As alegrias que o pecado oferece, convertem-se em choro e ranger de dentes. Fuja das boates, das noitadas, dos lugares que podem ser um laço para sua vida. Daniel “assentou no seu coração não se contaminar com a porção do manjar do rei, nem com o vinho que ele bebia”. Daniel preferiu a prisão ou mesmo a morte à infidelidade.
b) O perigo de aculturamento no meio acadêmico (Dn 1:3,4). “E disse o rei a Aspenaz, chefe dos seus eunucos, que trouxesse alguns dos filhos de Israel, e da linhagem real, e dos nobres, jovens em quem não houvesse defeito algum, formosos de aparência, e instruídos em toda a sabedoria, e sábios em ciência, e entendidos no conhecimento, e que tivessem habilidade para viver no palácio do rei, a fim de que fossem ensinados nas letras e na língua dos caldeus”.
Daniel e seus amigos correram sério risco de aculturamento nos costumes e nas ciências babilônicos. A despeito de eles serem educados em línguas e ciências, Nabucodonosor queria muito mais. Ele queria educá-los nas ciências dos caldeus para que tivessem conhecimento de astrologia e adivinhação. Mas, os babilônios perceberam logo que a formação cultural e, sobretudo, religiosa desses jovens hebreus, era forte. Não seria fácil fazê-los esquecer de suas convicções de fé. Para quebrar a rigidez cultural desses jovens, Nabucodonosor elaborou um programa cultural que fosse eficaz na sua extinção: os jovens participariam da mesa do rei. Mas Daniel e seus amigos mantiveram-se íntegros, fieis e puros diante de Deus e dos habitantes da Babilônia. O caráter deles era bastante sólido.
No meio de uma cultura sem Deus e sem absolutos morais, Daniel não se corrompeu. Daniel vai como escravo para uma terra que não conhecia a Deus, onde não havia a Palavra de Deus, nem o temor de Deus, onde o pecado campeava solto. Mas, mesmo na cidade das liberdades sem fronteiras, do pecado atraente e fácil, Daniel mantém-se íntegro, fiel e puro diante de Deus e dos homens. Seu caráter não era feito de vidro, não se quebrava com facilidade. Tinha um caráter ilibado, formado em um lar temente a Deus, de convicção de fé inquebrável no Deus vivo. Daniel e seus companheiros possuíam uma maturidade espiritual inexorável, que não foi adquirida em uma universidade secular, mas na Palavra de Deus.
c) O perigo da mudança dos valores. O nome de Daniel e de seus amigos foram trocados. Com isso a Babilônia queria que eles esquecessem o passado. A Babilônia queria remover os marcos e arrancar as raízes deles. Entre os hebreus, o nome era resultado de uma experiência com Deus. Todos os quatro jovens judeus tinham nomes ligados a Deus. Daniel significa: “Deus é meu juiz”; deram-lhe o nome de Beltessazar, cujo significado é: “bel proteja o rei”. Hananias significa: “Jeová é misericordioso”; passou a ser chamado de Sadraque, que significa: “iluminado pela deusa do sol”. Misael significa: “quem é como Deus?”; deram-lhe o nome de Mesaque, que significa: “quem é como Vênus?”. Azarias significa: “Jeová ajuda”; trocaram-lhe o nome para Abede-Nego, cujo significado é: “servo de Nego”. Assim, seus nomes foram trocados e vinculados às divindades pagãs de Bel, Manduque, Vênus e Nego. Os caldeus queriam varrer o nome de Deus do coração de Daniel, queria tirar a convicção de Deus da mente de Daniel e de seus amigos e plantar neles novas convicções, novas crenças, novos valores, por isso mudaram seus nomes.
A Babilônia mudou os nomes deles, porém, não o coração. Daniel e seus amigos não permitiram que o ambiente, as circunstâncias e as pressões externas ditassem sua conduta. Eles se firmaram na verdade, batalharam pela defesa da fé e mantiveram a consciência pura.
Muitos jovens hoje têm caído na teia do mundo, conformaram-se com o mundo. Muitos se envolvem de tal maneira que perdem o referencial, mudam os marcos, abandonam suas convicções, transigem com os absolutos e naufragam na fé. Isto é trágico!
d) O perigo das ofertas vantajosas. Muitos judeus se dispuseram a aceitar as ofertas generosas da Babilônia. Pensaram: é melhor esquecer Sião. É melhor esquecer os absolutos da Palavra de Deus. Isso não tem nada a ver. A Bíblia já não serve mais para nós. Agora estamos num estágio mais avançado: estamos estudando as ciências. Além do mais, a Babilônia oferecia riquezas, prazeres e Jerusalém era muito repressora. A lei de Deus, pensavam, é muito rígida, tem muitos preceitos. E assim, muitos se libertaram de seus escrúpulos e se esqueceram de Deus e de Sua Palavra. Para eles, tudo havia se tornado relativo. Os tempos estavam mudando depressa e eles precisavam se adaptar às mudanças.
Todavia, Daniel e seus companheiros eram comprometidos com a Verdade. Os caldeus mudaram seus nomes, mas não seus corações. Eles compreenderam que a babilonização era uma porta aberta para a apostasia. A guerra das ideias, a lavagem cerebral, a relativização da moral, a filosofia de que "nada tem nada a ver" é procedente do maligno. Daniel não negociou seus valores. Ele não se corrompeu. Não se mundanizou. Ele teve coragem para ser diferente mesmo quando foi pressionado a se contaminar, mesmo quando não era vigiado e mesmo quando estava correndo risco de vida.
Daniel estava no mundo, mas não era do mundo. Deus não livrou Daniel do perigo, mas lhe deu livramento no perigo. Ele não satanizou a cultura, dizendo que tudo era do diabo, mas ele percorreu os corredores da universidade e do palácio sem se corromper. Daniel e seus amigos não anatematizaram a vida pública como pecado. Contudo, jamais se corromperam. Eles tinham consciência que pertenciam e serviam a outro Reino. Mesmo cercados por uma babel de outras vozes, sempre se orientaram pela voz de Deus. Resistiram sempre aos interesses da Babilônia, quando esses se chocavam com os interesses do Reino de Deus.
4. Uma carreira acadêmica testemunhal. Finalmente, o curso de três anos terminou. Era hora dos exames finais. Como nas universidades britânicas, em dias passados, esses exames não eram escritos, mas orais. O próprio rei os examinou. E Daniel e seus amigos foram examinados, aprovados e considerados dez vezes mais sábios que os outros estudantes – “E em toda matéria de sabedoria e de inteligência, sobre que o rei lhes fez perguntas, os achou dez vezes mais doutos do que todos os magos ou astrólogos que havia em todo o seu reino"(Dn 1:20). Como resultado, cada um dos quatro foi colocado em um alto cargo. Porque foram fiéis a Deus, o Senhor os honrou e os fez dez vezes mais cultos e mais eminentes que os mais sábios da Babilônia. Eles estavam no palácio do rei da Babilônia, servindo ao Rei Eterno, o Deus Todo-Poderoso.
Daniel e seus amigos são modelos para os jovens universitários de hoje. Devem se esforçar ao máximo para serem os melhores dentre os seus colegas universitários. Conformo disse o Pr. Claudionor de Andrade, “a mediocridade acadêmica depõe contra o Evangelho. O crente que ama a Cristo adora-o também com as suas notas, graduações, mestrados e doutorados”.
5. Uma carreira testemunhal. Daniel e seus três companheiros foram inseridos, imediatamente, na elite cultural e científica de Babilónia. Daniel tornou-se Primeiro Ministro da Babilônia. Figurou entre os maiores do grande império. Tornou-se homem de projeção. Foi uma bênção durante toda sua vida.
Muitos crentes anseiam por posições mais altas, mas para isso negociam valores, vendem a consciência, se corrompem e envergonham o nome de Deus. Se não vivermos agora honrando a Deus nas pequenas coisas, jamais o honraremos quando chegarmos às altas posições.
Daniel foi maior que a própria Babilônia. A Babilônia caiu, mas Daniel continuou em pé. A Babilônia perdeu seu poder, mas Daniel continuou sendo uma bênção para o outro império. Daniel 1:21 mostra o triunfo de Daniel. Ele continuou fiel até o primeiro ano de Ciro, o rei persa – “E Daniel esteve até ao primeiro ano do rei Ciro”. Ele atravessou setenta anos de cativeiro com uma vida limpa diante de Deus e dos homens. Ele começou bem e terminou bem. Hoje muitos começam bem e terminam mal. São crentes consagrados até enfrentarem a primeira prova, mas depois negociam seus valores, vendem a consciência e se perdem no cipoal de suas paixões. Muitos nessa corrida ao sucesso deixam sua devoção a Jesus, deixam a igreja e se contaminam com o mundo.
A Babilônia passou, e um novo império surgiu, mas Daniel continuou servindo a Deus com integridade. Reis subiram ao trono e desceram do trono, mas Daniel continuou como um homem incontaminado.
Você tem se guardado incontaminado do mundo? Você é um influenciador? Você faz diferença no meio em que vive? As pessoas são despertadas a conhecer a Deus por intermédio de seu testemunho? Concordo com o Pr. Claudionor de Andrade quando diz que “Jesus precisa de testemunhas em todas as áreas do saber humano. Ele também morreu pelos cientistas, médicos, advogados, sociólogos e educadores. Se prepararmos devidamente os crentes, levaremos Cristo à elite cultural de nossa nação e do mundo. Portanto, treinemos os crentes para que formem, nocampus, grupos de oração, estudo bíblico e evangelismo. Desses núcleos, Deus haverá de suscitar testemunhas irresistíveis de sua Palavra. O Evangelho de Cristo não pode ausentar-se das áreas cultas”.
III. A INTERVENÇÃO DE DEUS NA POLÍTICA BABILÔNICA
Há uma linha invisível que separa a paciência de Deus de Sua ira. Os que persistem em andar no caminho errado cruzam essa linha invisível. Chega um dia em que Deus diz: "Basta!”. Deus oferece ao homem muitas oportunidades para arrepender-se; convida-o insistentemente a se voltar para Ele e o persuade; mas se o homem continua no pecado, ele cruza essa linha invisível e, depois, perece inapelavelmente. Belsazar foi um homem que desprezou o conhecimento de Deus e não lhe deu glória, a despeito de conhecer a verdade (Dn 5:22). Ele conhecia a verdade, mas não foi dirigido por ela. Ele conhecia a verdade, mas a rejeitou deliberadamente para viver regaladamente em seus pecados. A impiedade produz perversão. O desprezo do conhecimento de Deus leva o homem a uma vida dissoluta moralmente. Deus teve que intervir na política babilônica. Chamou Daniel para proclamar a Sua sentença sobre o reino de Belsazar.
1. A corrupção de Babilônia. Catorze anos como segunda pessoa no comando do reino, Belsazar precisava encarar grandes responsabilidades. Nabonido, seu pai, estava no campo de batalha com o exército caldeu tentando rechaçar os ataques das forças conjuntas dos Medos e Persas. Uma província após outra do império da Babilônia tinha caído. Agora, os exércitos de Ciro cercavam a capital como o último obstáculo a ser vencido. Mas, Belsazar não estava nenhum pouco preocupado com as ameaças de Ciro. Ele acreditava que Babilônia era impenetrável e que seus muros eram inexpugnáveis. Tendo em vista a fartura de mantimentos e o suprimento de água inesgotável que a cidade possuía, Belsazar tinha a confiança que os habitantes poderiam sobreviver a qualquer cerco. Para demonstrar o seu desdém pela ameaça persa, Belsazar decretou uma festa para toda a cidade. Por meio de um convite especial para mil dos seus grandes (Dn 5:1), ele preparou uma festa no palácio real. Ele convidou as mulheres do harém real para acrescentar diversão à festa. O próprio rei liderou a festa oferecendo bebida para todos. Em dado momento, inflamado pelo muito vinho, Belsazar se deixou levar por um impulso imprudente. Ele ordenou que fossem buscados os utensílios sagrados que seu avô tinha trazido de Jerusalém para a Babilônia (Dn 5:3). Eles beberam dessas taças, coisa que nenhum outro ousara fazer até então. Belsazar e seus companheiros de festa beberam dessas taças e deram louvores aos deuses da Babilônia (Dn 5:4).
O desprezo do conhecimento de Deus leva o homem a uma vida dissoluta moralmente. Belsazar conhecia a verdade (Dn 5:22), mas não foi dirigido por ela. Ele conhecia a verdade, mas a rejeitou deliberadamente para viver regaladamente em seus pecados. Belsazar profanou os utensílios consagrados ao Deus de Israel. Logo, o juízo de Deus seria inevitável e irrevogável.
Em meio àquela orgíaca festividade pagã, onde ressoavam risos sarcásticos regados a muita bebida embriagante, a mão de Deus escreveu na parede com letras de fogo, estranhas e misteriosas palavras. A Bíblia diz que o semblante do rei mudou, e os seus pensamentos o turbaram; as juntas dos seus lombos se relaxaram, e os seus joelhos bateram um no outro. A festança parou, e um silêncio lúgubre encheu a sala (Dn 5:5,6).
Quando Belsazar conseguiu falar, ele começou a gritar e chamar os peritos em astrologia, os caldeus e os adivinhadores (Dn 5:7), para explicar esse mistério. O rei prometeu todo tipo de recompensa e promoção para qualquer um que pudesse ler a escrita na parede e interpretar a sua mensagem. Esse homem seria vestido de púrpura (púrpura real), uma cadeia de ouro seria colocada ao redor do seu pescoço e ele se tornaria o terceiro em importância no governo do seu reino. Esse era o posto mais elevado disponível, visto que Nabonido ocupava o posto mais elevado, e Belsazar, o segundo. Quando os sábios não conseguiram decifrar a escrita, o rei e todos os convidados ficaram outra vez aterrorizados.
O banquete tinha como objetivo afrontar o Deus vivo. A atitude do rei em utilizar os utensílios do templo de Jerusalém em sua festa devassa e idólatra, mostrava o caráter perverso de Belsazar. Ele estava afrontando ao Senhor e profanando publicamente aquilo que pertencia a Deus. Mas, esse foi o último desafio do imoral Belsazar. O castigo viria inevitavelmente e imediatamente.
A vida é uma semeadura, colhemos o que plantamos. Aqueles que plantam o mal colhem o mal. Aqueles que semeiam vento colhem tempestade. Aqueles que semeiam na carne, da carne colhem corrupção. Aquilo que fazemos aqui determinará nosso destino amanhã. Querer fazer o mal e receber o bem é zombar de Deus, e de Deus ninguém zomba (Gl 6:7). Os políticos e os governantes brasileiros precisam se conscientizar que Deus é o Senhor. As consequências pelos erros cometidos de forma deliberada e consciente são muito duras e inexoráveis.
2. Daniel, o incorruptível. Como nenhum acadêmico babilónico foi capaz de ler a sentença divina escrita na parede, o nome de Daniel, agora com idade avançada, é evocado. A rainha-mãe (esposa de Nabonido e mãe de Belsazar), ciente do fato da escrita na parede, informa ao rei sobre Daniel e conta a respeito dos dons sobrenaturais que ele possuía. Ela disse: “Ó rei, vive eternamente! Não te turbem os teus pensamentos, nem se mude o teu semblante. Há no teu reino um homem que tem o espírito dos deuses santos; e nos dias de teu pai se achou nele luz, e inteligência, e sabedoria, como a sabedoria dos deuses; e teu pai, o rei Nabucodonosor, sim, teu pai, ó rei, o constituiu chefe dos magos, dos astrólogos, dos caldeus e dos adivinhadores. Porquanto se achou neste Daniel um espírito excelente, e ciência, e entendimento, interpretando sonhos, e explicando enigmas, e solvendo dúvidas, ao qual o rei pôs o nome de Beltessazar; chame-se, pois, agora Daniel, e ele dará interpretação” (Dn 5:10-12).
Após contar tudo, a rainha-mãe aconselha ao rei que chamasse Daniel, e, certamente, ele daria a interpretação. Daniel, então, foi introduzido à presença do rei (Dn 5:13-16). Ele agora era um homem idoso, mas continuava sendo um homem de Deus. Bom é conservarmos a fidelidade ao Senhor até o fim de nossas vidas!
Belsazar propõe a Daniel a mesma recompensa extravagante que havia prometido aos sábios (Dn 5:16), mas Daniel não deu nenhuma importância às “ninharias” do rei (Dn 5:17) e foi direto ao assunto. Mais uma vez, ele não se deixou enlaçar pelo charme do politicamente correto. Daniel confrontou o rei de forma cortês, mas sem rodeios, com uma mensagem de Deus. Daniel recordou a Belsazar como Deus humilhou Nabucodonosor. Embora Belsazar soubesse desse evento trágico, não deu importância à sua lição - “E tu, seu filho Belsazar, não humilhaste o teu coração, ainda que soubeste de tudo isso. E te levantaste contra o Senhor do Céu. Então, dele foi enviada aquela parte da mão, e escreveu-se esta escritura” (Dn 5:22-24). Belsazar, ao profanar os vasos santos do Senhor cometeu um ato de afronta deliberada contra o Deus vivo. Poucas pessoas aprendem as lições da história.
“Esta, pois, é a escritura que se escreveu: MENE, MENE, TEQUEL e PARSIM” (Dn 5:25). “MENE: Contou Deus o teu reino e o acabou” (Dn 5:26). “TEQUEL: Pesado foste na balança e foste achado em falta” (Dn 5:27). “PERES: Dividido foi o teu reino e deu-se aos medos e aos persas”. A mensagem era clara e específica. Deus havia empilhado os crimes do rei e completado a sua medida. O período de supremacia política de Babilônia havia terminado. Essa foi a última noite dos babilônios e do rei Belsazar. Os babilônios cruzaram a linha-limite que Deus traçara. “Naquela mesma noite, foi morto Belsazar, rei dos caldeus. E Dario, o medo, ocupou o reino, na idade de sessenta e dois anos” (Dn 5:30,31).
Belsazar testemunhou as obras de Deus dentro de sua casa, mas as desprezou. Ele era da família real. Ele presenciou todos os acontecimentos relatados nos capítulos 1 a 4 do livro de Daniel. Ele devia ter a idade de Daniel e viu seu testemunho, bem como o testemunho de seus amigos. Viu como Deus libertou os amigos de Daniel da fornalha, como Nabucodonosor foi arrancado do trono para tornar-se um animal, até que seu coração foi humilhado e convertido. Belsazar conviveu com o testemunho fiel a respeito de Deus, mas tapou seus ouvidos, fechou seus olhos e endureceu seu coração. Deus deu um ano para Nabucodonosor arrepender-se, mas Belsazar cruzou a linha da ira de Deus naquela mesma noite e pereceu. Viver no pecado é loucura. Horrenda coisa é cair nas mãos do Deus vivo (Hb 10:31).
A queda de Babilônia está associada a profecias que em breve deverão cumprir-se com a Babilônia espiritual, um dos destacados temas do Apocalipse. Nações estão sendo avaliados bem de perto pelo Deus Altíssimo. Todos estão por sua própria escolha decidindo seu destino e Deus indubitavelmente cumprirá os Seus propósitos. Que os homens públicos cristãos não se furtem ao seu dever. Que venhamos neste momento de crise de liderança, econômica e política que debilita o Brasil, anunciar que Jesus Cristo é o caminho, a verdade e a vida e que bem-aventurada é a nação cujo Deus é o Senhor.
CONCLUSÃO
Evangelizar o meio acadêmico é uma estratégia de grande alcance. É uma oportunidade sem precedentes e essa responsabilidade precisa ser assumida pelos cristãos brasileiros ligados à vida escolar. Como Corpo Vivo de Cristo, a igreja deve cumprir ali a tarefa de sal da terra e luz do mundo, esforçando para comunicar as Verdades divinas com uma linguagem que o estudante possa entender. Que os líderes saibam como preparar aqueles que vão frequentar um ambiente acadêmico. À semelhança de Daniel e seus companheiros, estes poderão fazer uma grande diferença no mundo acadêmico e na esfera política.
-----------
Fonte: Luciano de Paula Lourenço
Nenhum comentário:
Postar um comentário