Texto Base: 2Timóteo 3:14-17
"Porque a profecia nunca foi produzida por vontade de homem algum, mas os homens santos de Deus falaram inspirados pelo Espírito Santo" (2Pd.1:21).
INTRODUÇÃO
Mais um trimestre letivo se inicia. Estudaremos as principais doutrinas da fé cristã. E nesta primeira Aula, trataremos da inspiração divina e autoridade das Escrituras Sagradas, que são a verdade, a expressão do próprio Deus. As Escrituras Sagradas não são fruto da lucubração humana, mas da revelação divina. Elas não provêm da descoberta humana, mas do sopro divino. Toda a autoridade das Escrituras depende exclusivamente da sua origem divina. As Esculturas surgiram na mente de Deus e foram comunicadas pela boca de Deus, pelo sopro de Deus ou pelo seu Espirito Santo. As Escrituras são, pois, no verdadeiro sentido do termo, a Palavra de Deus, porque Deus as disse. É como os profetas costumavam anunciar: “a boca do Senhor o disse” (Is.1:20).
A Bíblia é a Palavra de Deus. Ela mesma assim se define e o cumprimento exato de tudo quanto nela está desde os primórdios da história da humanidade é a prova irrefutável de que ela é, sem sombra de dúvida, a Palavra de Deus, a revelação de Deus aos homens. Muitos têm tentado, ao longo dos séculos, levantar-se contra essa Palavra, mas todos têm fracassado em seu intento de calá-la ou desacreditá-la, precisamente porque não se trata de uma obra feita pela mente, vontade ou imaginação humana, mas tem sua origem, sua concepção e o zelo pelo seu cumprimento diretamente em Deus. Sua inspiração divina e sua soberania como única regra de fé e prática para a nossa vida constituem a doutrina basilar da fé cristã.
I. REVELAÇÃO E INSPIRAÇÃO
A Bíblia foi dada por Deus através de inspiração e revelação, à medida que o Espírito Santo operou em homens escolhidos, revelando a eles os pensamentos de Deus e capacitando-os a usar as palavras adequadas para comunicar a verdade divina sem erros.
1. Revelação. Um dos princípios da Teologia é o fato de Deus não nos ter criado e deixado largados para viver em um mundo sujeito às regras do pecado, mas ter nos confiado um manual que revela a sua vontade, a Bíblia. Daí advém o que chamamos de revelação, o ato de tornar conhecido o que antes não o era. Esta Revelação, a Bíblia Sagrada, nos foi entregue, a fim de que reconheçamos a Deus como o ser Supremo por excelência e a seu Filho Unigênito como o nosso Salvador.
2. Inspiração. É o registro dessa revelação sob a influência do Espírito Santo, que penetra até as profundezas de Deus (1Co.2:10-13). Os 66 Livros da Bíblia são divinamente inspirados. Os escritores do Antigo Testamento estavam conscientes de que o que disseram ao povo e o que escreveram é a Palavra de Deus (ver Dt.18:18; 2Sm.23:2; 2Pd.1:21). Repetidamente os profetas iniciavam suas mensagens com a expressão: “Assim diz o Senhor”. Esta expressão ocorre mais de 2.600 vezes. O Espírito Santo falou por intermédio dos autores - “O Espírito do Senhor falou por mim, e a sua palavra esteve em minha boca” (2Sm.23:2). Jesus também ensinou que a Escritura é a inspirada Palavra de Deus até em seus mínimos detalhes (Mt.5:18). Afirmou, também, que tudo quanto Ele disse foi recebido da parte do Pai e é verdadeiro (João 5:19, 30,31; 7:16; 8:26).
É bom fazer uma distinção entre o texto inspirado e o registro inspirado. Assim, declarações mentirosas como as de Ananias e Safira, as declarações de Satanás não foram inspiradas por Deus, mas sim o seu registro. Tais textos foram incluídos na Bíblia, para que conheçamos os ardis de Satanás, os pensamentos dos ímpios. Sabemos que uma das características da Bíblia é a sua imparcialidade, assim, ela não omite as mentiras, as falsidades ditas por alguém.
3. A forma de comunicação. Existem duas formas principais de comunicação entre Deus e o homem: verbal e escrita. Verbal até Moisés e depois, segundo alguns teólogos, usando a instrumentalidade do homem mais manso da terra passou a ser escrita.
a) A transmissão verbal. As palavras do Criador para a humanidade foram passadas no início de forma falada. Deus em contato pessoal com o homem colocava as suas leis e este era o responsável em passá-la para a posteridade. Com o passar dos anos a corrupção generalizou-se na sociedade pré-noêmica e as distorções fatalmente seriam inseridas na história se não fosse o dilúvio que levou à morte toda aquela geração, excetuando-se a família do patriarca Noé que, pela Graça de Deus, conservou a história para ser outra vez disseminada entre seus descendentes.
Com o aparecimento das línguas (Gn.11:7) e a dispersão do povo (Gn.11:8), a história corria sério risco de ser perdida, então Deus chama a Abraão e põe nele a sua Palavra de forma mais clara e objetiva. Nesse ponto o patriarca tem a história passada pelos seus ancestrais juntamente com as palavras de orientação e proféticas do Todo-Poderoso. A Palavra de Deus continuou sendo transmitida oralmente até Moisés.
b) A transmissão escrita. Embora seja a Palavra de Deus, a Bíblia foi escrita e redigida por seres humanos (2Pd.1:21) que, para escrevê-la, usaram de todos os materiais que tinham à sua disposição para tanto, lembrando-se, aliás, que, no tempo da formação dos escritos sagrados, não havia o papel, material que o Oriente Médio e o Ocidente somente conheceram num tempo posterior à elaboração das Escrituras, elaboração esta, aliás, que durou mais de mil e quinhentos anos, que é o tempo que vai de Moisés ou Jó, apontados como os autores do livro de Jó, que é o livro mais antigo das Escrituras, até a redação dos livros do apóstolo João, que são considerados os últimos escritos inspirados da Bíblia Sagrada.
É interessante notar que Deus não escreveu parte nenhuma da Bíblia. As Escrituras registram que Deus havia escrito as primeiras tábuas da Lei (Ex.32:15), mas foram quebradas por Moisés, indignado por causa da corrupção do povo no episódio do bezerro de ouro (Ex.32:19). As segundas tábuas, embora lavradas por Moisés, foram também escritas por Deus (Dt.10:1-4), mas estas tábuas foram colocadas na arca, ou seja, não puderam ser lidas pelo povo. Moisés escreveu o seu teor, nesta oportunidade, naquilo que viria a ser o Pentateuco (Ex.34:27), numa comprovação de que parte alguma das Escrituras foi feita pelo dedo de Deus.
O mesmo devemos dizer a respeito do Filho de Deus, ou seja, Jesus nada deixou escrito, mas tudo que transmitiu o fez oralmente, teor este que foi, posteriormente, lembrado pelo Espírito Santo para que pudesse ser reduzido a escrito (1Co.11:23; 2Pd.1:18-21; 1João 1:1,3). Vemos, pois, que, embora seja a Palavra de Deus, a Bíblia não foi escrita, em momento algum, por Deus, que delegou, pois, tal tarefa para o homem. A Bíblia foi inspirada por Deus; a palavra grega “theopneustos” significa literalmente “soprada por Deus”, porém, isso não quer dizer que Deus anulou a personalidade, o estilo ou a preparação de seus escritores, uma vez que esses homens santos “falaram movidos pelo Espirito Santo” (2Pd.1:21).
Deus quis, portanto, que a Bíblia fosse escrita pelos homens, embora se tratasse da própria Palavra do Senhor, para que as Escrituras fossem, elas mesmas, a demonstração da comunhão que se pretendeu restabelecer entre Deus e o homem. Esta comunhão, que, em Jesus, estava evidenciada pela dupla natureza, é um dos aspectos pelos quais as Escrituras são consideradas testemunhas do próprio Verbo Divino (João 5:39). Assim, pois, como Jesus é homem e é Deus, as Escrituras também são Palavra de Deus, mas escrita pelos homens.
4. Inspiração, Revelação e Iluminação. Toda a Bíblia foi inspirada por Deus, mas nem tudo nela é produto de revelação. A revelação implica em Deus mostrar fatos desconhecidos ao escritor sacro enquanto que na inspiração isto não se faz necessário. Por exemplo: Moisés recebeu os primeiros capítulos de Gênesis por revelação enquanto outros não foram necessário produto de revelação. Lucas foi inspirado a reunir vários documentos cristãos precedentes para confeccionar seus dois livros, o Evangelho e o livro de Atos (Lc.1:1-4). Paulo que não andou com Cristo e nem recebeu instrução apostólica deixou-nos um tesouro teológico de inestimável grandeza em suas epistolas. Enquanto Lucas foi inspirado a escrever, a Paulo foi revelado o que escrever.
Quanto à Iluminação, tem a ver com a compreensão da mensagem revelada. Em 1Pd.1:10-12 está um ótimo exemplo do que significa a iluminação: "Desta salvação inquiriram e indagaram diligentemente os profetas que profetizaram da graça que vos era destinada, indagando qual o tempo ou qual a ocasião que o Espírito de Cristo, que estava neles, indicava, ao dar de antemão testemunho sobre os sofrimentos que a Cristo haviam de vir, e sobre as glórias que os seguiriam. Aos quais foi revelado que não para si mesmos, mas para vós, eles ministravam estas coisas que agora vos foram anunciadas por aqueles que, pelo Espírito Santo enviado do céu, vos pregaram o evangelho. Coisas para as quais até os anjos desejam atentar".
Portanto, a Inspiração tem a ver com a recepção e o registro da verdade; a Revelação tem a ver com a transmissão e; a Iluminação é a compreensão desta mesma mensagem. Neste caso, os profetas recebiam a Revelação e a Inspiração, mas muitas delas não eram acompanhadas de Iluminação.
II. A INSPIRAÇÃO DIVINA E AUTORIDADE DA BÍBLIA
1. A inspiração divina. “Inspiração” vem do latim, que significa “respirar para dentro” (in e spiro) e de uma forma grega que significa “expirado por Deus” (theopneustos). Deus colocou o Espírito Santo nos escritores da Bíblia e, através dEle, os guiou na redação da Bíblia. Por isso, a “inspiração” pode ser definida como o processo pelo qual Deus expirou o Seu Espírito em homens, capacitando-os a receber e comunicar a verdade divina sem erro. A Bíblia é Deus falando. Os escritores da Bíblia escreveram sobre fatos que eles conheciam tanto quanto sobre fatos que eles não conheceriam sem a inspiração. Os fatos conhecidos sobre os quais eles escreveram chegaram a eles por observação pessoal, documentos existentes ou tradição oral. Muito do que foi escrito por esses homens chegou ao conhecimento deles pela primeira vez através da revelação de Deus. Quer estivessem escrevendo fatos conhecidos, quer revelação, a inspiração os guiou a informarem somente a verdade, sem erros de comunicação (Hugo Mccord).
Mattew Henry, um dos maiores expositores das Sagradas Escrituras, é categórico ao referir-se à inspiração da Bíblia: “As palavras das Escrituras devem ser consideradas palavras do Espírito Santo”. Como não concordar com Henry? Basta ler a Bíblia para sentir, logo em suas palavras iniciais, a presença do Espírito Santo. Paulo afirma: “Toda Escritura divinamente inspirada é proveitosa para ensinar, para redarguir, para corrigir, para instruir em justiça, para que o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente instruído para toda boa obra” (2Tm.3:16,17). Aqui, o termo “Escritura” refere-se principalmente aos escritos do Antigo Testamento (2Tm.3:15). Mas é importante destacar que toda a Escritura, e não apenas parte dela, é inspirada por Deus. Tanto o Antigo quanto o Novo Testamento compõem as Escrituras (cf. 2Tm.3:14; 2Tm.5:18; 1Co.2:13; 2Co.2:17; 13:3; Gl.4:14; Cl.4:16; 1Ts.2:13; 5:27; 2Pd.3:16).
Muitos liberais aproximam-se das Escrituras carregados de ceticismo e contestando toda inspiração, inerrância e infalibilidade. Há aqueles que, enganosamente, afirmam que as Escrituras apenas contêm a Palavra de Deus, mas não são a Palavra de Deus. Outros negam sua historicidade e tentam, jeitosamente, explicar seus registros históricos e seus milagres de forma metafórica. Todavia, permanece a verdade inabalável de que toda a Escritura é inspirada por Deus, é a própria Palavra de Deus.
2. Autoridade da Bíblia. A Bíblia é a Palavra de Deus, porque tem origem em Deus; seu conteúdo foi comunicado por Deus aos homens santos escolhidos pelo Senhor para reduzi-la a escrito. O selo dessa autoridade aparece em expressões como "assim diz o SENHOR" (Êx.5:1; Is.7:7); "veio a palavra do SENHOR" (Jr.1:2); "está escrito" (Mc.1:2). Ante tais considerações, não temos como deixar de reconhecer que a Bíblia Sagrada é dotada de autoridade absoluta, ou seja, deve ser aceita pelo homem como única regra de fé e de prática, ou seja, o ser humano, se quiser ser fiel e obediente ao seu Criador, deve crer no que a Bíblia diz e fazer exatamente o que a Bíblia determina.
Sendo a Palavra de Deus e a fiel comunicação da vontade divina aos homens, não há, mesmo, como deixar de observar o que é prescrito pelas Escrituras, nem deixar de crer naquilo que ela nos diz. No entanto, apesar disto, não têm sido poucas as tentativas, ao longo da história, e no meio do povo que se diz de Deus, para descaracterizar esta autoridade absoluta e prioritária que deve ter a Bíblia Sagrada na vida de um servo do Senhor. Ao longo da história de Israel, todos quantos procuraram se rebelar contra a autoridade das Escrituras foram apresentados como pessoas que se fizeram inimigas da vontade de Deus, demonstrando, claramente, que a desconsideração da autoridade das Escrituras é atentado contra o próprio Deus. São diversos os exemplos, mas citemos apenas alguns a título de ilustração:
a) Saul, o primeiro rei de Israel, foi rejeitado por Deus porque preferiu sacrificar a obedecer à Palavra do Senhor (1Sm.13:8-14).
b) Davi, mesmo sendo um homem segundo o coração de Deus, viu transformar-se em tragédia uma festividade que realizou para levar a arca de Deus para Jerusalém, por não ter atentado à lei do Senhor (2Sm.6:3-9; 2Cr.15:1-3).
c) O povo do reino de Israel, o reino das dez tribos do Norte, perdeu a sua terra e a sua identidade, até o dia de hoje, porque rejeitou o conhecimento de Deus, ou seja, a observância da Sua Palavra (2Rs.17:7-23).
d) O povo do reino de Judá, o reino das duas tribos do Sul, perdeu a sua terra, que descansou durante setenta anos, por não ter cumprido a determinação do ano sabático (2Cr.36:21,22).
e) Os saduceus são apontados por Jesus como pessoas que viviam erradamente sob o ponto-de-vista espiritual por não conhecerem as Escrituras, ou seja, não a observarem, erro este que levou à total destruição deste partido judeu quando da destruição do templo de Jerusalém no ano 70 d.C. e a derrota definitiva para os romanos no ano 135 d.C. (Mt.22:29; Mc.12:24; Mc.12:27).
Apesar destes exemplos bíblicos, não foram nem são poucos os que se encontram na mesma e triste lamentável situação dos saduceus, errando por não conhecerem as Escrituras e lhes negando autoridade, embora se digam, como o faziam os saduceus, “defensores intransigentes das Escrituras” e isto porque, assim como os saduceus, embora afirmem prestigiar o texto sagrado e reconhecer-lhe a autoridade, diminuíam-no na prática de seus atos. Os saduceus, por exemplo, somente criam nos cinco livros da lei, desprezando todas as demais Escrituras, como se elas não fossem igualmente inspiradas por Deus. De igual modo, os “modernos saduceus” promovem muitos erros porque não aceitam a autoridade da Bíblia Sagrada.
III. INSPIRAÇÃO PLENA E VERBAL
A correta doutrina bíblica a respeito da inspiração é: inspiração verbal e plenária. Pedro enfatiza que as Escrituras são provenientes de Deus, e não de seres humanos; são divinamente inspiradas. Os escritores bíblicos não redigiram uma combinação de suas próprias ideias; o texto resultante não é proveniente de imaginação, discernimento ou especulação humana. O apóstolo Pedro, em sua segunda Epístola assim afirmou: “sabendo primeiramente isto: que nenhuma profecia da Escritura é de particular interpretação; porque a profecia nunca foi produzida por vontade de homem algum, mas os homens santos de Deus falaram inspirados pelo Espírito Santo”(2Pd.1:21). Na verdade, homens santos de Deus falaram da parte de Deus, movidos pelo Espírito Santo. Apesar de não compreendermos plenamente como se deu o processo, Deus dirigiu cada palavra que esses homens escreveram. Ao mesmo tempo, contudo, Deus não destruiu a individualidade ou o estilo dos escritores. Em tempos como os nossos, nos quais tantas pessoas negam a autoridade da Bíblia Sagrada, é importante termos convicção da inspiração verbal e plenária das Escrituras Sagradas.
1. Inspiração verbal. A inspiração verbal indica que as palavras redigidas por pelo menos quarenta escritores humanos foram inspiradas por Deus – “As quais também falamos, não com palavras de sabedoria humana, mas com as que o Espírito Santo ensina, comparando as coisas espirituais com as espirituais” (cf.1Co.2:13). O mesmo se refere ao texto bíblico do Antigo Testamento – “E Moisés escreveu todas as palavras do SENHOR, e levantou-se pela manhã de madrugada, e edificou um altar ao pé do monte e doze monumentos, segundo as doze tribos de Israel” (Ex.24:4). Deus não deu um esboço geral ou algumas ideias básicas e depois permitiu que os escritores as expressassem como lhes parecesse melhor. As próprias palavras que usaram foram dadas pelo Espírito Santo.
Não resta dúvida de que muitos escritores da Bíblia reduziram a escrito mensagens que lhes foram dadas verbalmente por Deus, como é exemplo os Dez Mandamentos e boa parte daquilo que foi escrito por Moisés na lei. No entanto, temos de entender que Deus opera além de quaisquer limites humanos ou que nossa compreensão possa atingir, de forma que temos de, neste ponto, fazer coro ao seguinte pensamento de R.N. Champlin, que reproduzimos: “…a inspiração, normalmente, é verbal, visto que diz respeito à comunicação da verdade em linguagem humana. Isso não significa, entretanto, que consiste em mero ditado de palavras, mas significa que os diversos processos que jazem por detrás da questão, envolvendo aspectos como a individualidade dos escritores, o meio ambiente, o treinamento, as experiências deles, além de outros fatores, foram de tal modo manipulados por Deus que o resultado foi que as palavras registradas não são apenas do homem, mas são plenamente de Deus…” (CHAMPLIN, R.N. Escrituras. In: Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia, v.2, p.475).
2. Inspiração plenária. A inspiração plenária indica que a Bíblia toda foi igualmente inspirada por Deus, desde Gênesis até Apocalipse. O apóstolo Paulo afirmou: “Toda a Escritura é divinamente inspirada, e proveitosa para ensinar, para redarguir, para corrigir, para instruir em justiça” (2Tm3:16). Toda Escritura é divinamente inspirada se refere à Bíblia completa, aos 66livros do Antigo e Novo Testamento. Até os mínimos detalhes foram colocados na Bíblia sob inspiração divina - “Porque em verdade vos digo que, até que o céu e a terra passem, nem um jota ou um til se omitirá da lei sem que tudo seja cumprido” (Mt.5:16).
Em 2Pd.1:20,21 está escrito: “sabendo primeiramente isto: que nenhuma profecia da Escritura é de particular interpretação. Porque a profecia nunca foi produzida por vontade dos homens, mas os homens da parte de Deus falaram movidos pelo Espírito Santo”. Pedro aqui atesta que as Escrituras não podem ser de “particular interpretação”, ou seja, que os textos bíblicos não podem ser entendidos isoladamente, mas como parte de um conjunto, pois, embora tenham sido escritos por homens de diferentes culturas, de diferentes épocas, de diferentes classes sociais, de diferentes graus de instrução, o resultado não é fruto da cultura, da história, da época, da posição social nem tampouco da erudição de cada um dos escritores, mas tão somente obra do Espírito Santo, que é o mesmo a ter agido na vida de cada um destes “homens santos de Deus”. Portanto, a Bíblia toda, sem qualquer exceção, foi inspirada pelo Espírito Santo, ou seja, as Escrituras foram geradas pelo próprio Deus que deu a mensagem a cada um dos escritores, que, fielmente, reduziram a escrito a mensagem recebida.
Negar a inspiração plenária das Sagradas Escrituras, portanto, é desprezar o testemunho fundamental de Jesus Cristo (Mt.5:18; 15:3-6; Lc.16:17; 24:25-27, 44,45; João 10:35), do Espírito Santo (João 15:26; 16:13; 1Co.2:12-13; 1Tm.4:1) e dos apóstolos (2Pd.1:20,21).
IV. ÚNICA REGRA INFALÍVEL DE FÉ E PRÁTICA
1. Proveitosa para ensinar. “Toda Escritura é divinamente inspirada e proveitosa para ensinar...” (2Tm.3:16,17). As Escrituras Sagradas são essencialmente o manual da salvação, pois elas "podem fazer-te sábio para a salvação, pela fé que há em Cristo Jesus" (2Tm.3:15). As Escrituras são ensinos espirituais que não se encontram em nenhum lugar do mundo. Seu propósito mais alto não é ensinar fatos da ciência que o homem pode descobrir por sua investigação experimental, mas ensinar fatos da salvação que nenhuma exploração humana pode descobrir e somente Deus pode revelar. As Escrituras falam sobre a criação e a queda. Ensinam sobre o juízo de Deus e também de seu amor redentor. Alguém disse que a Escritura é pastoralmente útil para o ensino, isto é, como fonte positiva de doutrina cristã; para repreensão, isto é, para refutar o erro e para repreender o pecado; para a correção, isto é, para convencer os mal-orientados dos seus erros e colocá-los no caminho certo outra vez; e para a educação na justiça, isto é, para a educação construtiva na vida cristã. Como bem diz o Pr. Esequias Soares, a Bíblia revela os mistérios do passado como a criação, os do futuro como a vinda de Jesus, os decretos eternos de Deus, os segredos do coração humano e as coisas profundas de Deus (Gn.2:1-4; Is.46:10; Lc.21:25-28).
2. A conduta humana. Como Criador, Deus nos concedeu uma espécie de "manual do fabricante", que é a Sua Palavra. Está escrito que “toda Escritura é divinamente inspirada e proveitosa para...redarguir, para corrigir, para instruir em justiça, para que o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente preparado para toda boa obra” (2Tm.3:16,17). A Palavra de Deus é aplicável na vida diária, na família, na igreja, no trabalho e na sociedade. Somente Deus, o nosso Criador, nos conhece e sabe o que é bom para suas criaturas. Suas orientações estão na Bíblia, o "manual do fabricante". Portanto, não devemos tomar a Bíblia como um livro comum, apenas para trazer-nos algum conhecimento em nossa mente, mas devemos tomá-la, como um Livro de vida, contatando o Senhor Jesus, através da oração, para que Ele nos conceda algo vivo em sua palavra, ou seja, algo que traga uma lição prática para o nosso viver no dia a dia.
3. As traduções da Bíblia. Temos de entender que a inerrância e a infalibilidade estão relacionadas diretamente com a inspiração das Escrituras e, portanto, dizem respeito à mensagem originariamente transmitida aos homens inspirados pelo Espírito Santo e que foram sendo copiadas e transmitidas geração após geração. Não nos esqueçamos de que a cópia de um texto é algo feito pelo homem, e um homem que não está sob a inspiração verbal plenária, e que, por isso mesmo, neste ato de copiar não estão envolvidos os conceitos de inerrância nem de infalibilidade.
Com relação à tradução bíblica, também, é outro fator que não está sob o império da inerrância e da infalibilidade da Bíblia. Aqui, também, não temos a atuação da “inspiração verbal plenária” e, portanto, tais atividades podem ter erros ou equívocos, como também necessitam, de tempos em tempos, de revisões e atualizações, pois são ações humanas e, como tal, sujeitas ao tempo e ao espaço. A primeira versão da Bíblia Sagrada em língua portuguesa a ser levada para a imprensa, a de João Ferreira de Almeida, que continha o Novo Testamento, ainda antes de ter sido lançada, teve, pelo próprio tradutor apontados cerca de 1.000 erros de tradução. Aliás, é por isso que esta Versão, após terem sido feitas as correções, é conhecida como Almeida Revista e Corrigida, ou seja, foi objeto de uma correção e, se foi corrigida, é porque continha erros. Na década de 1940, a Sociedade Bíblica do Brasil efetuou uma atualização desta Versão que, feita no século XVII, se encontrava extremamente defasada e era de difícil compreensão da população da metade do século XX, surgindo, então, a Versão Almeida Revista e Atualizada. Tudo isto é possível e até necessário porque versões e traduções são obras humanas, feitas segundo a vontade de Deus, no sentido da tarefa da Igreja, mas sem a “inerrância e infalibilidade”.
É bom enfatizar que a autoridade e as instruções das Escrituras valem para todas as línguas em que elas forem traduzidas. É vontade de Deus que todos os povos, tribos, línguas e nações conheçam sua Palavra (Mt.28:19; At.1:8).
CONCLUSÃO
A Bíblia é inspirada por Deus e fornece evidências plausíveis desse fato para aqueles que estão dispostos a investigar; é a única revelação escrita de Deus para toda a humanidade. Ela sobreviveu para contar sua mensagem de Cristo e da salvação de geração a geração. Não esqueçamos que a Palavra de Deus é: (a) leite que nutre – “desejai ardentemente, como crianças recém-nascidas, o genuíno leite espiritual, para que, por ele, vos seja dado crescimento para salvação” (I Pedro 2:2); (b) água que limpa – “tendo-a purificado por meio da lavagem e da água pela palavra” (Ef.5:26); (c) espada para as lutas – “Tomai também o capacete da salvação e a espada do Espírito, que é a palavra de Deus” (Ef.6:17); (d) mel que deleita – “os juízos do Senhor são verdadeiros e igualmente justos,... são mais doces do que o mel e o destilar dos favos” (Salmo 19:10); (e) fogo e martelo – “Não é a minha palavra fogo, diz o Senhor, e martelo que esmiúça a penha?” (Jr.23:29); (f) restaura a alma - “a lei do Senhor é perfeita e restaura a alma; o testemunho do Senhor é fiel e dá sabedoria aos símplices. Os preceitos do Senhor são retos e alegram o coração; o mandamento do Senhor é puro e ilumina os olhos” (Salmo 19:7,8).
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Fonte: Luciano de Paula Lourenço
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