1º Trimestre/2018
Texto Base Hebreus 12:1-8; 13:15-18.
"Portanto, nós também, pois, que estamos rodeados de uma tão grande nuvem de testemunhas, deixemos todo embaraço e o pecado que tão de perto nos rodeia e corramos, com paciência, a carreira que nos está proposta"(Hb.12:1).
Com esta Aula concluímos o estudo da maravilhosa Epístola aos Hebreus, que trata acerca da superioridade de Cristo, do seu ministério e da Nova Aliança. Nesta última Aula estudaremos os dois últimos capítulos, os quais nos exortam a correr a “maratona” da fé sem recuar ou olhar para trás, pois em breve o nosso Senhor, o nosso Salvador, voltará. Nessa corrida exaustiva o crente corre em busca de um alvo: o “...prêmio da soberana vocação de Deus em Cristo Jesus” (Fp.3:14), uma coroa incorruptível (1Co.9:25), a ressurreição dentre os mortos (Fp.3:11) e a glorificação (Fp.3:21). Para alcançar o prêmio final dessa maratona o crente se esforça, dedica-se e trabalha com todo o esmero. Como um atleta que se prepara à exaustão, o discípulo de Cristo deve deixar os entraves desta vida e manter o foco na Pessoa do Senhor Jesus Cristo. Nesta “maratona”, o crente se acha qual um atleta, esforçando-se e correndo o máximo, totalmente concentrado no que faz, a fim de não ficar aquém do alvo que Cristo estabeleceu para a sua vida. A fé é o combustível que dinamiza a nossa atuação nesta grande “maratona” que nos está proposta (Hb.12:1).
I. A CORRIDA PROPOSTA
A salvação que alcançamos pela fé na obra redentora de Cristo, não é o fim, mas o início da maratona, pois a salvação é um processo. Uma vez salvo, temos o dever de desenvolver a nossa salvação até o ponto da maturidade plena no Senhor Jesus. Devemos nos conscientizar que a busca constante da maturidade espiritual é um desafio que está posto a todos nós que aspiramos à concretização do alvo que Jesus estabeleceu para todos nós, o Céu. O que era responsabilidade de Deus fazer, Ele efetivamente fez. Temos, então, de cumprir a nossa parte no processo, desenvolvendo-nos na fé, confiados no poder que Deus liberou-nos pela presença do Espírito Santo que em nós habita. Ainda não somos perfeitos na qualidade e proporção que o Senhor deseja, mas estamos a caminho, perseguindo a perfeição até que um dia cheguemos à estatura de varões perfeitos em Cristo, que se dará na glorificação.
1. O exemplo dos antigos. “Portanto, nós também, pois, que estamos rodeados de uma tão grande nuvem de testemunhas, deixemos todo embaraço e o pecado que tão de perto nos rodeia e corramos, com paciência, a carreira que nos está proposta” (Hb.12:1).
Os crentes destinatários da Epistola, por terem renunciado ao judaísmo por Cristo, estavam enfrentando oposição implacável. Havia o risco de eles interpretarem seu sofrimento como um sinal de desagrado de Deus. Eles podiam ficar desencorajados e desistir. Pior ainda, poderiam ser tentados a retornar ao Templo e às suas cerimônias. Eles não deveriam supor que o sofrimento deles era excepcional. Muitas das testemunhas descritas no capítulo 11 sofreram severamente como resultado da lealdade ao Senhor, e, ainda assim, resistiram.
Os crentes fiéis ao longo dos séculos (capitulo11) agora são como uma “grande nuvem de testemunhas” da vida de fé. Eles não são “testemunhas” como se fossem meros espectadores, olhando para nós lá do Céu e observando a vida dos crentes na terra; na verdade, eles nos dão testemunho pela vida de fé e perseverança que levaram, e estabeleceram um alto padrão para o imitarmos, que encoraja constantemente aqueles que vivem depois deles. A vida desses gigantes da fé, os seus exemplos e a sua fidelidade a Deus, sem ver as suas promessas, falam a todos os crentes sobre a recompensa de permanecer nesta prova de força e comprometimento, que é a “maratona” da vida cristã. Se eles mantiveram perseverança indeclinável com seus poucos privilégios, muito mais deveríamos nós, a quem foram destinadas as realidades superiores da Nova Aliança.
2. O exemplo de Jesus. O autor faz um apelo para que os crentes olhem “para Jesus, autor e consumador da fé, o qual, pelo gozo que lhe estava proposto, suportou a cruz, desprezando a afronta, e assentou-se à destra do trono de Deus” (Hb.12:2).
Durante toda a maratona da fé, devemos desviar-nos de todos os outros objetos e fitar os olhos em Jesus, o corredor principal. Por quê? Porque Jesus, o nosso principal exemplo, concluiu a sua corrida de maneira perfeita. Por Ele estar na linha de chegada, os cristãos devem olhar para Ele, afastando os olhos de quaisquer distrações ou opções. É dele que a nossa fé depende, do principio ao fim (Ele é o autor e consumador da fé).
· Jesus é o “Autor”, ou o pioneiro, da fé, no sentido de que nos proveu com o único exemplo perfeito de como é a vida de fé.
· Jesus é também o “Consumador” da fé. Ele não apenas iniciou a corrida, mas a terminou com triunfo. Para Ele, o itinerário da corrida ia do Céu a Belém de Judá; depois, do Getsêmani ao Calvário e; do túmulo, de volta para o Céu. Em nenhum momento Ele vacilou ou voltou atrás. Ele manteve os olhos fixos na vinda gloriosa, quando todos os remidos serão reunidos com Ele eternamente. Suportou uma morte vergonhosa na cruz, mas Ele suportou todo este sofrimento pelo gozo que lhe estava proposto. Ele manteve seus olhos no objetivo do curso que lhe foi indicado, a realização do seu trabalho sacerdotal e o seu lugar à destra do trono de Deus no Céu.
Saber que uma grande recompensa estava por vir para o povo de Deus dava a Jesus grande alegria. Ele não olhou para os seus desconfortos terrenos, mas manteve seus olhos fixos nas realidades espirituais invisíveis. Como Cristo, nós devemos perseverar em tempos de sofrimento, olhando para Ele como o nosso exemplo e concentrando-nos no nosso destino celestial (ler Fp.3:20,21).
Quando os crentes destinatários eram tentados a se concentrar nas suas dificuldades, ao ponto de considerarem abandonar a sua fé, a Epistola aos Hebreus os incentivava a pensar “naquele que suportou tais contradições dos pecadores contra si mesmo” (Hb.12:3). Cristo foi ridicularizado, açoitado, espancado, cuspido e crucificado. Ainda assim, Ele não se entregou à fadiga, ao desânimo, ou ao desespero.
3. O exemplo da Igreja. O sofrimento é uma realidade implacável que cerca o cristão na maratona da fé, e o autor não nega isso em relação a seus companheiros de caminhada. Por que a perseguição, as provações, as tentações, as doenças, as dores, os sofrimentos e os problemas atingem a vida do cristão? São sinais da ira e do desagrado de Deus? Eles acontecem por acaso? Como deveríamos reagir a eles? Hebreus 12:5,6 ensina que são partes do processo educativo de Deus para seus filhos. Embora eles não venham de Deus, Ele os permite e depois os revoga para sua glória, para o nosso bem e para a bênção dos outros. Diz assim os textos sagrados:
“E já vos esquecestes da exortação que argumenta convosco como filhos: Filho meu, não desprezes a correção do Senhor e não desmaies quando, por ele, fores repreendido; porque o Senhor corrige o que ama e açoita a qualquer que recebe por filho”.
Nada acontece por acaso a um cristão. Deus aproveita as circunstâncias adversas da vida para nos conformar à imagem de Cristo. O apóstolo Paulo nos consola dizendo que “todas as coisas contribuem juntamente para o bem daqueles que amam a Deus” (Rm.8:28).
Assim os primeiros cristãos hebreus eram exortados a se lembrar de Provérbios 3:11,12, em que Deus se dirige a eles como filhos. Nesta passagem Ele os adverte a não desprezar a disciplina ou a não se desencorajarem com sua repreensão. Se eles se rebelam ou desistem, perdem o benefício dos procedimentos de Deus para com eles e deixam de aprender as lições divinas.
Quando enfrentamos dificuldades e desânimo, devemos nos conscientizar de que não estamos sozinhos; Jesus está conosco - “Considerai, pois, aquele que suportou tais contradições dos pecadores contra si mesmo, para que não enfraqueçais, desfalecendo em vossos ânimos” (Hb.12:3). Muitos suportaram circunstâncias muito mais difíceis do que nós temos enfrentado. O sofrimento é pedagógico, ele nos educa para a maturidade cristã, desenvolvendo a nossa paciência e tornando doce a nossa vitória final.
II. CORREDORES BEM TREINADOS
Para vencermos a corrida que nos foi proposta pelo Senhor precisamos de treino. O corredor bem treinado tem melhor desempenho na corrida.
1. Respeitam limites. O autor lembra a seus leitores: "Segui a paz com todos e a santificação, sem a qual ninguém verá o Senhor" (Hb.12:14).
Nesta maratona da fé não há concorrente, não há disputa à busca de um prêmio maior de quem chegar primeiro, não. O prêmio é para quem chegar ao último estágio da “maratona”, a glorificação. Portanto, o importante não é chegar primeiro, mas chegar incólume, espiritualmente falando. Esta maratona da fé é uma prova de resistência, não de competitividade. Por isso, o apóstolo exorta: "Segui a paz com todos..." (Hb.12:14). Os crentes devem ter relações tão pacificas quanto possível com as pessoas não-crentes, como também ter relações harmoniosas dentro da comunidade cristã. A comunhão cristã deve ser caracterizada pela paz e pela edificação reciproca.
Nesta prova de resistência, também, há um limite a ser respeitado no decorrer da prova: não há espaço para libertinagem; não se pode correr de qualquer maneira, fora dos termos estabelecidos pelo Comitê (Pai, Filho e Espírito Santo) da prova. Por isso, o autor da Epístola exorta: “Segui [...] a santificação, sem a qual ninguém verá o Senhor”. A santificação é um dos fatores que nos mantêm preparados e vigilantes para a volta de Cristo(Hb.12:14; 1Ts.5:23; Ap.19:7,8). A vontade de Deus para a vida do crente é que ele seja santo, separado do pecado (1Ts.4:3).
Santificação significa a devoção ou a consagração ao serviço de Deus. Na prática, a nossa santificação significa honrar a Deus na maneira como tratamos os outros – amigos, vizinhos, cônjuge, filhos, até mesmo inimigos – e na maneira como administramos os nossos negócios, as nossas finanças, etc. A santificação faz com que o comportamento, os pensamentos e as atitudes dos cristãos e dos não-crentes sejam diferentes. A nossa santificação, que nos foi possibilitada graças à morte e ressurreição de Cristo, nos permitirá ver o Senhor como Ele realmente é, quando estivermos com Ele para sempre.
Os cristãos devem estar “em boa forma espiritual” e devem ser capazes de correr a corrida desimpedidos. Portanto, devemos nos despojar de todo embaraço ou peso que possa nos tornar mais lentos nesta maratona da fé. Muitos “embaraços” ou “pesos” podem não ser necessariamente atos pecaminosos, mas podem ser coisas que nos retém, como o uso do tempo, algumas formas de diversão, determinados relacionamentos, bens materiais, amor ao conforto, etc. Porém, é especialmente importante que nos desembaracemos do pecado que tão de perto nos rodeia e que prejudica o nosso progresso. Pecados como a avareza, o orgulho, a arrogância, a luxúria, os mexericos, a desonestidade, o roubo..., podem fazer com que os crentes se desviem do seu curso espiritual. Portanto, os cristãos devem correr, com paciência, a carreira que está proposta por Deus. Precisamos nos proteger da noção de que a “maratona” é uma corrida de velocidade fácil, que tudo na vida cristã é cor-de-rosa. Temos de estar preparados para seguir em frente com perseverança diante das provações e tentações.
2. Mantêm a mente limpa. “tendo cuidado de que ninguém se prive da graça de Deus, e de que nenhuma raiz de amargura, brotando, vos perturbe, e por ela muitos se contaminem” (Hb.12:15).
Um corredor bem treinado mantém a sua mente limpa e renovada, não permitindo que as coisas do mundo ocupem espaço nela. O apóstolo Paulo, em Romanos 12:2, exorta: "Não se amoldem ao padrão deste mundo, mas transformem-se pela renovação da sua mente" (Rm.12:2, NVI). A única maneira da nossa mente se manter limpa e renovada é quando deixamos a Palavra de Deus limpar as coisas que o mundo coloca nela. Se você perceber, o mundo é contumaz em transmitir as suas mensagens, pelos diversos meios que dispõe, a fim de que elas sejam inculcadas em nossas mentes. Mesmo que não concordemos, acabamos como que dessensibilizados para o pecado que o mundo está promovendo. Mas Paulo nos diz que não devemos deixar que sejamos moldados por esses padrões, mas devemos renovar a nossa mente. A nossa mente depois de "bombardeada" diariamente com os conceitos mundanos acaba "deformada", por isso devemos fazer o esforço para trazê-la à forma correta. A forma correta que a nossa mente deve ter: a mente de Cristo. Paulo diz em 1Coríntios 2:16: "Nós, porém, temos a mente de Cristo".
O apóstolo Paulo nos dá algumas dicas para renovar a nossa mente:
· A primeira dica é entregar o domínio dos nossos pensamentos à Cristo - "levando cativo todo pensamento à obediência de Cristo" (2Co.10:5). Devemos reconhecer que, se Cristo é nosso Senhor, devemos a Ele a obediência em todos os aspectos de nossa vida, inclusive de nossos pensamentos. Devemos anular todo tipo de pensamento que coloca em dúvida a soberania e o amor de Deus através de Cristo, e submeter nossos pensamentos ao controle de Cristo.
· A segunda dica é não deixar os pensamentos vazios, mas ativamente escolher o que pensar - "Finalmente irmãos, tudo o que for verdadeiro, tudo o que for nobre, tudo o que for correto, tudo o que for puro, tudo o que for amável, tudo o que for de boa fama, se houver algo de excelente ou digno de louvor, pensem nessas coisas" (Fp.4:8 NVI). Martinho Lutero dizia que a mente vazia é a oficina do diabo. Não deixe sua mente divagar sem objetivo, traga-a à obediência de Cristo pensando no que é bom.
· A terceira dica é meditar e memorizar a Palavra de Deus. O Salmo 1 fala que o segredo do homem que é bem-sucedido no que faz é que ele tem prazer na lei de Deus e medita nela dia e noite. A meditação bíblica, no entanto, não é uma atitude passiva de concentração, mas uma busca ativa de oportunidades de colocar em prática a palavra que está sendo meditada e memorizada. Esta é a grande diferença entre aqueles que conhecem muitas passagens bíblicas de cor e os que colocam em prática as poucas passagens que conseguem memorizar.
Nesta maratona da fé, vale a pena o esforço de manter a mente limpa e renovada. Ao nos apropriarmos da mente de Cristo através da renovação da nossa mente pela meditação e prática da Palavra de Deus poderemos experimentar, nas palavras do apóstolo Paulo, a "boa, agradável e perfeita vontade de Deus para nós" (Rm.12:2).
3. Valorizam as coisas espirituais. “E ninguém seja fornicador ou profano, como Esaú, que, por um manjar, vendeu o seu direito de primogenitura. Porque bem sabeis que, querendo ele ainda depois herdar a bênção, foi rejeitado, porque não achou lugar de arrependimento, ainda que, com lágrimas, o buscou” (Hb.12:16,17).
Neste texto, o autor de Hebreus mostra que Esaú, filho de Isaque, desprezou deliberadamente as coisas de Deus. De acordo com o livro de Gênesis, Esaú era um indivíduo mais preocupado com as coisas terrenas do que com as celestiais (Gn.25:29-34; 27:33,38). O autor instrui os crentes a observar que ninguém seja profano como Esaú.
Esaú não seguiu os exemplos daqueles que têm os seus olhos fixos nas recompensas celestiais. No lugar de se importar com o seu direito de primogenitura, que tinha grande valor espiritual, ele, por um manjar, vendeu o seu direito de primogenitura.
No Antigo Testamento, o direito de primogenitura era uma honra especial conferida ao filho homem primogênito. Ao negociar este direito, Esaú mostrou um completo desrespeito pelas bênçãos espirituais que teriam vindo através deste direito, se ele o tivesse conservado. Devido à sua atitude, querendo ele ainda depois herdar a bênção de seu pai, foi rejeitado; já era tarde demais. Aqueles que rejeitam o caminho de Deus não terão uma segunda chance quando chegar a oportunidade para que outros herdem a sua benção espiritual. Nenhuma quantidade de apelos diante do trono de Deus fará com que o Senhor mude de ideia sobre o destino daqueles que o rejeitarem enquanto viverem na terra.
O pecado de Esaú foi a sua impulsividade e o completo desrespeito pela sua herança espiritual. Assim como Esaú teve pouca consideração pelas coisas espirituais, a Igreja deve tomar cuidado com as pessoas que se unem a ela, mas não tem uma preocupação real com as coisas espirituais.
III. A CORRIDA FINAL, EXORTAÇÕES FINAIS
1. Valorizar a liderança. “Lembrai-vos dos vossos pastores, que vos falaram a palavra de Deus, a fé dos quais imitai, atentando para a sua maneira de viver” (Hb.13:7).
Aqui, o autor dar instruções a respeito da vida religiosa da igreja destinatária. Os seus pastores tinham dado exemplos que mereciam respeito e consideração. Os pastores mencionados aqui provavelmente eram os cristãos fundadores, os anciãos do grupo, que lhes falaram a Palavra de Deus pela primeira vez. Embora esses pastores já tivessem morrido, a sua influência continuava, como fica evidente pela existência das comunidades de crentes. Esses pastores tinham imitado o exemplo de uma grande nuvem de testemunhas crentes (Hb.12:1,2). Por terem confiado no Senhor e terem feito o bem, as suas vidas eram dignas de ser imitadas e valorizadas.
Onde não há respeito pela liderança, prevalece a anarquia. Os líderes não são intocáveis nem tampouco perfeitos, mas devem ser honrados pelo trabalho que realizam; a natureza da missão a eles confiada pertence a outra dimensão, a saber a dimensão espiritual – “... velam por vossa alma, como aqueles que hão de dar conta delas...” (Hb.13:17).
O apóstolo Paulo escrevendo aos crentes de Tessalônica, exorta-os da seguinte forma: “E rogamos-vos, irmãos, que reconheçais os que trabalham entre vós, e que presidem sobre vós no Senhor, e vos admoestam; e que os tenhais em grande estima e amor, por causa da sua obra” (1Ts.5:13,13).
Se é verdade que devemos observar os demais homens e até imitá-los, como as personagens bíblicas e os nossos irmãos, entre os quais os pastores”(Hb.13:7), o certo é que os homens só nos servem de parâmetro enquanto forem ramos ligados à videira verdadeira. Paulo exorta os crentes a imitá-lo enquanto era imitador de Cristo, e os pastores devem ser imitados enquanto homens de fé em Deus. Jesus é o modelo imutável e único; é a videira verdadeira. Como a Verdade é única, em nenhum outro devemos nos espelhar.
2. Valorizar a doutrina. “Não vos deixeis levar em redor por doutrinas várias e estranhas, porque bom é que o coração se fortifique com graça e não com manjares, que de nada aproveitaram aos que a eles se entregaram” (Hb.13:9).
Aqui, o autor adverte os crentes destinatários contra os falsos ensinamentos do legalismo. Os judaizantes insistiam em que a santidade estava vinculada às coisas externas, como, por exemplo, as cerimônias de adoração e de purificação dos alimentos. A verdade é que a santidade é produzida pela graça de Deus, e não pelos alimentos que come ou deixa de comer. Os alimentos cerimoniais podem cumprir um ritual, mas eles de nada aproveitam àqueles que deles participam. As transformações duradouras no comportamento começam quando o Espírito Santo passa a habitar em cada pessoa. Uma vez que a aprovação de Deus está garantida pela graça, não há nenhum valor em se observar essas leis cerimoniais da Antiga Aliança. As leis cerimonias podem influenciar o comportamento, mas não são capazes de modificar o coração.
A legislação a respeito dos alimentos puros e impuros era destinada a produzir ritual de purificação. Mas isso não é o mesmo que santidade interna. Um homem pode ser purificado pela cerimônia e ainda assim estar cheio de ódio e hipocrisia. Somente a graça de Deus pode inspirar os cristãos e dar poder a eles para viver uma vida santa. O amor pelo Salvador que morreu pelos nossos pecados nos motiva a “viver neste presente século sóbria, justa e piamente” (Tt.2:12). Afinal, as regras inumeráveis a respeito dos alimentos e bebidas não tinham beneficiado seus adeptos.
3. Valorizar a adoração. “Portanto, ofereçamos sempre, por ele, a Deus sacrifício de louvor, isto é, o fruto dos lábios que confessam o seu nome. E não negligencieis a prática do bem e a mútua cooperação; pois, com tais sacrifícios, Deus se compraz” (Hb.13:15,16).
A adoração a Deus é o gesto concreto de nosso reconhecimento de que Deus é o Senhor de todas as coisas, inclusive de nosso ser. É através da adoração que Deus é reconhecido como Senhor e o homem, como seu servo. A principal missão da igreja não é missões, mas adoração. Por isso, o crente deve valorizar sobremaneira a adoração.
De acordo com a Bíblia, a adoração está associada com a ideia de culto, reverência, veneração, por aquilo que Deus é: Santo, Justo, Amoroso, Soberano, Misericordioso...; quando lemos na Palavra de Deus, observamos que o Senhor sempre exigiu reverência, respeito e consideração nas reuniões coletivas de adoração. Quando Deus se manifestou a Moisés, imediatamente mandou que ele não se aproximasse da sarça ardente e, ainda, descalçasse seus pés, pois o lugar onde se encontrava era terra santa, em virtude da presença do Senhor (Ex.3:5), algo que, anos mais tarde, seria repetido em relação a Josué, sucessor de Moisés (Js.5:15). Isto prova que a adoração não se desprende da reverência. A reverência, o respeito, a consideração traduzem, aliás, o que a Bíblia chama de “temor do Senhor”, ou seja, o reconhecimento da soberania e do senhorio de Deus sobre cada ser humano, o que nos leva a respeitá-lo, ou seja, “olhá-lo com atenção”, “levá-lo em consideração”, “prestar-lhe atenção”, “dar-lhe ouvidos”.
Na Nova Aliança, todos os cristãos são santos sacerdotes e vão ao santuário de Deus para adorar (1Pd.2:5). Há pelo menos três sacríficos que um sacerdote cristão oferece:
· Primeiro, o sacrifício da própria pessoa (Rm.12:1) – “Rogo-vos, pois, irmãos, pela compaixão de Deus, que apresenteis o vosso corpo em sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional”.
· Segundo, “o sacrifício de louvor” (Hb.13:15). Ele é oferecido a Deus por meio do Senhor Jesus. Todo o nosso louvor e toda nossa oração passam por Jesus antes de alcançar Deus Pai. O sacrifício de louvor é o fruto de lábios que reconhecem o seu nome. A única adoração que Deus recebe é aquela que flui de lábios remidos. Oferecendo continuamente este sacrifício de louvor, nós confessamos o seu nome e, desta maneira, mostramos que somos leais a Ele. Como os cristãos de origem judaica, destinatários da Epístola, já não adoravam mais com outros judeus, devido à sua fé em Jesus Cristo, eles podiam considerar o seu louvor e os seus atos de serviço como os seus sacrifícios. Estes eram sacrifícios que eles podiam oferecer continuamente, em qualquer lugar e a qualquer momento.
· Terceiro, o serviço a favor dos santos e a comunhão. Devemos usar os nossos recursos materiais para fazer o bem e ajudar os necessitados. Especialmente em tempos de perseguição, os cristãos dependem uns dos outros. Os crentes têm comunhão com os outros crentes quando tornam os seus recursos disponíveis para aqueles que estiverem passando por necessidades, não somente material, mas, principalmente, espiritual.
Muitos têm se iludido achando que Deus se agrada se cumprirmos tão somente os deveres litúrgicos, ou seja, se rendermos a Deus um culto formal em alguma igreja. A essência do culto está na adoração ao Senhor, e nunca é demais enfatizarmos essa verdade, pois adoração vazia significa culto frio e sem propósito. Quando adoramos ao Senhor, em espírito e em verdade (João 4:23,24), trazemos o Senhor até ao local de adoração de uma forma especial. O Senhor Jesus disse que Deus procura a estes adoradores e disse que estaria onde estivessem dois ou três reunidos em seu nome (Mt.18:20). Assim sendo, quando nos reunimos em nome do Senhor, quando realmente O adoramos, Ele se faz presente de uma forma toda especial, ou seja, como companheiro, como intercessor, como Salvador.
CONCLUSÃO
A maratona da fé é um processo longo e duradouro, que somente terminará na linha de chegada chamada glorificação. Não podemos jamais pensar em parar a nossa jornada, nem “estacionar” do ponto-de-vista espiritual, pois a nossa vida é uma carreira, que só terminará na linha de chegada estabelecida pelo Senhor da glória. “Parar”, “estacionar”, nada mais é que “regredir”, “recuar”, “retirar-se para uma vida inglória”, e a Bíblia é clara ao dizer que quem assim procede desagrada a Deus (Hb.10:38,39).
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Fonte: Luciano de Paula Lourenço
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