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segunda-feira, 30 de setembro de 2019

1ª lição do 4ª trimestre de 2019: CONHECENDO OS DOIS LIVROS DE SAMUEL

INTRODUÇÃO
Neste trimestre, estudaremos os livros históricos de 1 e 2 Samuel. Não há livros que despertem tanto interesse quanto estes dois livros. Além de ser um relato histórico repleto de acontecimentos, é entretecido com a biografia das três personalidades principais: Samuel, Saul e Davi, em torno dos quais os capítulos são agrupados. Milhões de crianças judias e cristãs têm-se encantado e edificado com as histórias de Ana e Samuel, Davi e Golias, Davi e Jônatas, a perseguição de Saul a Davi, a bondade de Davi para com Mefibosete e sua tristeza pela rebelião e morte de seu filho Absalão. Em âmbito doutrinário, leitores mais maduros têm estudado o pacto davídico, os paralelos entre o pecado de Davi com Bate-Seba e os acontecimentos que envolveram os filhos do rei, bem como a desobediência contumaz de Saul e o seu orgulho inveterado que o levou à desgraça.
As qualidades bem como o caráter e a forma de liderança dos três principais personagens – Samuel, Saul e Davi – serão explorados com maior intensidade ao longo do trimestre. Que legado, no aspecto da liderança, esses homens deixaram para gerações futuras, e o que podemos tirar de lições para os líderes do povo de Deus da Nova Aliança?

A Capa Da Revista

A Capa da Revista mostra-nos uma Escritura e uma coroa real. Isto nos remete ao que está escrito em Dt.17:14-20, onde Deus, na Sua presciência, já previa a hipótese de Israel ter um rei, estabelecendo, então, os deveres que o rei teria diante de Deus e do povo. Um destes deveres era o de ter um traslado da lei num livro, para que pudesse lê-lo todos os dias de sua vida, para que aprendesse a temer ao Senhor e guardar todas as palavras nela contidas para que as fizesse. A coroa real, portanto, não significaria poderes ilimitados, qualidades divinas, como acontecia com as nações gentílicas, e isto desde Ninrode, o primeiro a divinizar o poder político e de onde surgiu a idolatria, mas, bem ao contrário, era a consciência de que o fato de ser rei o tornava um escolhido de Deus para governar o povo, governo este que deveria respeitar os ditames da Lei divina, pois Deus continuava o Senhor de toda a Terra, como bem disse quando propôs que Israel fosse Seu povo (Ex.19:5,6). Foi, precisamente, por não respeitar esta submissão à vontade divina que Saul foi rejeitado, enquanto que Davi, ainda que tenha cometido pecados, foi considerado um homem segundo o coração de Deus.

Divisão do Trimestre em Blocos

O trimestre será dividido em quatro Blocos:
-Bloco 1Lição 01. Será uma Lição introdutória, onde teremos uma visão geral dos dois livros de Samuel.
-Bloco 2Lição 02 a 05. Nestas Lições, trataremos do período final dos juízes, onde temos a figura proeminente de Samuel, o último juiz de Israel, mas que também cuida do governo de seu antecessor, o sumo sacerdote Eli.
-Bloco 3Lições 06 a 08. Nestas Lições, estudaremos o período do reinado de Saul, o primeiro rei de Israel.
-Bloco 4: Lições 09 a 13. Nestas Lições, estudaremos a respeito do profícuo reinado de Davi.

I. CONTEXTO HISTÓRICO DE 1 E 2 SAMUEL

1. A originalidade de Samuel

Conforme eu li, originalmente, os livros de 1 e 2 Samuel eram um só livro, denominado “O Livro de Samuel”. Os tradutores da Septuaginta os separaram e temos mantido essa divisão deste então.
Antes, “O Livro de Samuel”, juntamente com o Livro de Reis e Crônicas formavam um total de três livros. Samuel e Reis são encontrados no cânon hebraico ao lado de Josué e Juízes em uma seção conhecida como “Os Profetas Anteriores”. Juntos, estes livros contém o registro histórico iniciado por Josué e a travessia do Jordão, e estendem-se até o período do exilio babilônico. Na Septuaginta, a tradução grega do Antigo Testamento hebraico, os volumes, originalmente não divididos, foram separados. Os dois livros de Samuel foram chamados de Primeiro e Segundo do Reino, e os livros de 1 e 2 Reis eram chamados de Terceiro e Quarto do Reino. Jerônimo adotou nomes similares na Vulgata Latina, a fim de chamá-los de Primeiro, Segundo, Terceiro e Quarto Reis.
Os livros de 1 e 2 Samuel formam uma narrativa que trata da história de Israel, a partir de sua entrada em Canaã, até ao cativeiro na Babilônia (587-586 a.C.). Porém, eles não são apenas registros de fatos e de pessoas do passado, mas são a Palavra de Deus indispensável ao nosso ensino, edificação e consolação (2Tm.3:16).

2. Os personagens principais do livro

Há vários personagens importantes nestes livros, mas, dentre eles, três se destacam: Samuel, o profeta; Saul, o primeiro rei de Israel; e Davi, o segundo rei e o homem segundo o coração de Deus.
a) Samuel. Ele foi vocacionado por Deus para encerrar o período dos juízes e dar início à era dos reis. Sua época testemunhou a decadência do sacerdócio (representado por Eli e seus filhos) e a introdução do ministério profético. Samuel foi o último juiz e o primeiro profeta desse período (mas não o primeiro profeta das Escrituras; confira Gn.20:7), também foi quem ungiu os primeiros reis de Israel. Era levita coatita, mas não da família de Arão. Ainda assim, ao que tudo indica, serviu como sacerdote com a aprovação divina. Seu coração era puro, obediente e dedicado, enquanto dos filhos de Eli era contaminado e desobediente. Samuel mostra como Deus, o verdadeiro Rei de Israel, atendeu ao pedido do povo e delegou a soberania real primeiro a Saul e, em seguida, a Davi e a sua linhagem.
b) Saul. Foi o primeiro homem ungido para ser rei de Israel. Era extremamente alto, com uma notável aparência. Ele representava a imagem visual ideal de um rei, mas as tendências de seu caráter foram com frequência contrárias às ordens de Deus para um rei. Saul era o líder indicado pelo Senhor, mas isso não significava que ele seria capaz de reinar sozinho.
Durante o seu reinado, Saul obteve os maiores sucessos quando obedeceu a Deus. Seus maiores fracassos resultaram de sua própria desobediência. Ele possuía todas as qualidades para ser um bom líder – boa aparência, coragem e atitude. Até suas maiores fraquezas teriam sido usadas pelo Senhor caso ele as reconhecesse e as entregasse nas mãos de Deus. Suas próprias escolhas o afastaram do Todo-Poderoso e o alienaram de seu próprio povo.
Aprendemos com Saul que enquanto nossas forças e habilidades nos tornam úteis, nossas fraquezas nos conduzem à inutilidade. Nossa capacidade e talento fazem de nós instrumentos, mas nossos fracassos e negligências nos lembram que precisamos do controle do Senhor em nossas existências. Qualquer coisa que realizemos sozinhos são apenas uma sugestão do que Deus faria através de nossas vidas. Lembre-se, é Deus quem controla nossa existência.
Em resumo, aprendemos com Saul as seguintes lições de vida:
  • Deus quer obediência do coração, não meros atos de cerimônia religiosa.
  • A obediência sempre envolve sacrifício, mas sacrifícios nem sempre envolve obediência.
  • Deus quer fazer uso de nossas forças e debilidades.
  • As fraquezas deveriam nos ajudar a lembrar as nossas necessidades da direção e ajuda de Deus.
c) Davi. Foi o segundo rei de Israel, escolhido por Deus. Foi citado na galeria dos Heróis da Fé em Hebreus 11. Foi descrito por Deus como o homem segundo seu próprio coração. Apesar de suas fraquezas – traidor, mentiroso, adúltero e assassino -, possuía uma fé inabalável na fiel e perdoadora natureza de Deus. Ele pecou, mas foi rápido em confessar as suas transgressões. Suas confissões eram de coração, e seu arrependimento era genuíno. Nunca negligenciou o perdão de Deus ou tomou a sua bênção como uma concessão. Em troca, o Senhor nunca lhe negou o seu perdão ou as retribuições de suas ações. Davi experimentou a alegria do perdão mesmo quando teve que sofrer as consequências amargas de seus pecados.
Embora tenha cometido um grande pecado, Davi deliberadamente não repetiu o mesmo erro. Ele aprendeu com suas falhas porque aceitou o sofrimento que estas lhe trouxeram. Aprendemos com Davi as seguintes lições de vida:
  • A disposição para admitir honestamente os nossos erros é o primeiro passo para lidar com eles.
  • O perdão não remove as consequências do pecado.
  • Deus deseja a nossa total confiança e adoração.
Poderíamos ainda falar de Ana, mãe de Samuel (1Sm 1:1-28; 2:1-11).
Ao pensar nesta mulher, pense em persistência e fé. Numa época da história quando esterilidade era motivo de zombaria e ridicularização para uma mulher, Ana enfrentou um problema a mais: tornou-se alvo de chacota da parte da outra esposa do seu marido. Se você estivesse no lugar de Ana, como teria reagido?
Ana não retrucou sua rival; pelo contrário, levou sua tristeza e sua incapacidade de gerar filhos a Deus. Orou sinceramente ao Senhor suplicando-lhe um filho. Acreditou que sua situação persistiria apenas por algum tempo.
Ana orou sincera, especifica e sacrificialmente. Não retrocedeu no seu pedido, mesmo quando repreendida pelo sacerdote incompreensivo, e Deus recompensou a fé dela com um filho que ela deu o nome de Samuel. Quando chegou o tempo de cumprir o seu voto e entregar Samuel ao serviço do Senhor, ela o fez de coração gradecido.
A oração mudou o curso da vida de Ana e exerceu impacto sobre toda a nação de Israel. Deus colocou o filho de Ana numa função-chave como profeta durante a vida do rei Davi, e a influência de Samuel se estendeu além da sua vida porque deu grande impulso ao movimento profético. Deus também abençoou Ana com outros filhos (1Sm.2:21), provando-lhe novamente o seu deleite na fé e na persistência dela.
Poderíamos ainda falar de Abigail, mulher ousada, destemida, sábia, humilde e resoluta (1Sm.25:1-44).
Depois da morte de Samuel, Davi mudou-se para o deserto de Parã. Ali encontrou pastores apascentando os rebanhos do rico Nabal, homem insolente, rude e contencioso. Nabal era casado com Abigail, mulher bonita inteligente e intuitiva.
A esposa sábia de Nabal salvou a vida miserável dele. Quando Nabal ofendeu Davi, Abigail agiu rapidamente para contornar uma situação delicada. Ofereceu uma grande festa e saiu para encontrar-se com Davi. As ações decisivas de Abigail atenderam a necessidade premente de alimentar os homens de Davi. Eles também acalmaram Davi e o impediram de vingar-se.
Depois que retornou para casa, Abigail resguardou-se e decidiu não tratar com Nabal até que ele ficasse sóbrio. Independentemente da rudeza e do comportamento reprovável de seu marido, Abigail respondeu sincera e respeitosamente. Mais tarde, Deus mesmo vingou Davi e retirou Nabal de cena.
Davi nunca se esqueceu desse encontro. Ele sabia se uma mulher era de Deus quando a via. Depois da morte de Nabal, Davi escolheu Abigail para ser sua esposa. A paciência e a submissão dela em tempos difíceis, bem como a sua sabedoria e as habilidades de solucionar problemas prepararam Abigail para ser uma excelente esposa para Davi. Davi valorizou a força de Abigail e sentiu-se fortemente atraído a essa líder feminina altamente capaz.

3. O propósito de 1 e 2 Samuel

-1Samuel descreve o momento decisivo da história de Israel, em que as rédeas do governo passaram do juiz para o rei. O Livro relata a tensão entre a expectativa do povo quanto a um rei (um soberano absoluto “como o tem todas as nações” – 1Sm.8:5) e os padrões teocráticos de Deus, pelos quais Ele era o Rei do seu povo. O Livro mostra claramente que a desobediência de Saul a Deus e sua violação dos princípios teocráticos do seu cargo levaram Deus a rejeitá-lo e a substitui-lo como rei.
-2Samuel continua a história profética do aspecto teocrático da monarquia de Israel. Ilustra a fundo, com exemplos do reinado de Davi e da sua vida pessoal, as condições do concerto de Israel, conforme Moisés as definiu em Deuteronômio: a obediência ao concerto resulta em bênçãos divinas; o desprezo pela Lei de Deus resulta em maldições e castigos (Dt.27-30)
Enfim, 1 e 2 Samuel são de grande importância histórica. Entre suas lições mais importantes são as palavras de Samuel a Saul: “Eis que o obedecer é melhor do que o sacrificar” (1Sm.15:22). Sacrifícios serviam como pedidos de perdão. É melhor fazer o certo do que pedir desculpas depois!

II. AUTORIA E DATA

1. Título e Autor

1 e 2Smauel receberam esse nome do personagem principal do início do Reino de Israel, Samuel; este foi profeta, sacerdote e juiz; foi a pessoa usada por Deus para fazer a transição dos juízes aos reis.
Quanto a autoria dos Livros, não se sabe com exatidão quem realmente os escreveu. Sem dúvida, o profeta Samuel registrou boa parte da história de Israel nesse período; é provável que Samuel ou tenha escrito ou fornecido a informação para 1Sm.1:1-25:1, o que engloba sua vida e ministério até sua morte. Grande parte do conteúdo dos livros se refere a acontecimentos posteriores à morte de Samuel. No entanto, outros materiais haviam sido colecionados e puderam ser usados como fontes pelo autor verdadeiro. Três dessas fontes são mencionadas em 1Cr.29:29, a saber: as “crônicas de Samuel, o vidente”; as “crônicas do profeta Natã” e; as “crônicas de Gade, o vidente”. Tanto Gade como Abiatar tinham acesso aos eventos da corte do reino de Davi, de forma que ambos são candidatos à autoria do Livro de Samuel. Abiatar era um sacerdote habituado a manter registros precisos; ele acompanhou de perto a carreira de Davi, e até passou algum tempo com este no exílio.

2. A data dos Livros

Os acontecimentos de 1Samuel ocorreram ao longo de aproximadamente 100 anos, entre 1100 a.C. até 1000 a.C. Os acontecimentos de 2Samuel abrangem mais 40 anos; portanto, o livro foi escrito, então, algum tempo depois de 960 a.C.
1Samuel talvez tenha sido redigida por volta de 1000 a.C. A ausência de referências ao cativeiro de Israel (722 a.C.) requer, sem dúvida, que estipulemos para o Livro uma data anterior a esse acontecimento. Há quem acredite que as referências a “Israel” e “ Judá” exijam uma data posterior a 931 a.C., quando o reino se dividiu nessas duas partes. É possível, contudo, que os temos já fossem usados antes da divisão política.
Por causa do comentário encontrado em 1Sm.27:6 - “pelo que Ziclague pertence aos reis de Judá, até ao dia de hoje” -, acredita-se que os dois livros devem receber uma data posterior à divisão do reino em duas partes, divisão que aconteceu logo depois do governo de Salomão em 931 a.C. Embora, com frequência, fosse traçada uma diferenciação entre Israel e Judá, e embora Davi tenha reinado em Judá por sete anos e meio antes da unificação do reino, não havia reis em Judá antes desta data.
De qualquer forma, a afirmação relativa à duração do reinado de Davi em 2Samuel 5:4 deixa claro que os livros não poderiam ter assumido sua presente forma antes de algum tempo depois do reinado de Davi. Referências ocasionais a condições ou marcos existentes - “até o dia de hoje” (1Sm.5:5; 6:18; 27:6) -, parecem apontar para uma data posterior à época de Salomão, mas anterior ao exílio babilônico, provavelmente para o período da monarquia dividida, entre 931 e 721 a.C.

3. A situação espiritual

A situação espiritual do povo era a pior possível, antes e depois da morte do sumo sacerdote Eli. Os filhos de Eli, que eram sacerdotes, praticavam os mais vis pecados (1Sm.2:22), levando o povo a uma degradação espiritual e moral altamente preocupante. A idolatria e a imoralidade eram os pecados dominantes na nação.
“Era, porém, Eli já muito velho e ouvia tudo quanto seus filhos faziam a todo o Israel e de como se deitavam com as mulheres que em bandos se ajuntavam à porta da tenda da congregação”.
Eli se deixou levar pelos filhos, honrando-os mais que ao Senhor Deus. Ele não lhes aplicou a disciplina necessária, mesmo sabendo de todos os atos pecaminosos de seus filhos (1Sm.2:23) – “E disse-lhes: Por que fazeis tais coisas? Porque ouço de todo este povo os vossos malefícios”.
Esse quadro desolador gerou consequências espirituais irreparáveis ao povo de Israel: religiosidade aparente, espiritualidade superficial e um sacerdócio descomprometido com Deus.
Depois que os filisteus tomaram a Arca e, mesmo recuperando depois, os israelitas deixaram de adorar o Senhor e serviram aos deuses estranhos das nações circunvizinhas (cf.1Sm.7:3). Mas, Deus levantou Samuel e ele iniciou um grande avivamento entre o povo; os israelitas estavam cultuando os deuses estranhos das outras nações, mas Samuel os exortou a livrarem-se rapidamente deles. Ele orientou o povo a promover a construção de uma unidade nacional e espiritual.
“Então, falou Samuel a toda a casa de Israel, dizendo: Se com todo o vosso coração vos converterdes ao SENHOR, tirai dentre vós os deuses estranhos e os astarotes, e preparai o vosso coração ao SENHOR, e servi a ele só, e vos livrará da mão dos filisteus” (1Sm.7:3).
“Então, os filhos de Israel tiraram dentre si os baalins e os astarotes e serviram só ao SENHOR” (1Sm.7:4).
Os ídolos em nossos dias são muito mais sutis do que deuses de madeira e pedra. No entanto, são tão perigosos quanto aqueles dos cananeus. Qualquer coisa ou pessoa que ocupe o primeiro lugar em nossa vida ou que nos controle poderá ser considerado um deus. Dinheiro, sucesso, bens materiais, orgulho ou qualquer outra coisa ou pessoa podem se tornar ídolos, se tomarem o lugar de Deus em nossa vida. Só o Senhor é digno de nosso culto e adoração, e não podemos permitir que nada venha a se igualar a Ele. Se tivermos deuses estranhos em nossa vida, deveremos pedir ao Senhor que nos ajude a depô-los deste trono e a fazer com que somente o único e verdadeiro Deus seja nossa primeira prioridade.

III. A TEOLOGIA NOS LIVROS DE SAMUEL

1. Conteúdo

a) 1Samuel. Com poucas exceções, a narrativa de 1Samuel segue a sequência cronológica.
ü  Capítulos 1 a 3 relatam o nascimento e a infância de Samuel e mostram a depravação dos filhos de Eli, homens que abusavam sua posição como sacerdotes.
ü  Capítulos 4 a 6 registram uma crise em Israel. Deus usou os filisteus para exterminar a casa de Eli. Ao mesmo tempo, a arca da aliança (o móvel mais sagrado em Israel) foi tirada dos israelitas e passou décadas longe do local onde os israelitas adoravam ao Senhor.
ü  Capítulo 7 fala do livramento de Israel das mãos dos filisteus e descreve o trabalho de Samuel como juiz em Israel.
ü  Capítulos 8 a 10 descrevem o início do reino de Israel. O povo pediu um rei, rejeitando o domínio direto de Deus sobre a nação, e o Senhor lhe deu um rei do tipo que as pessoas esperavam. Saul, um homem da tribo de Benjamim, foi escolhido como primeiro rei de Israel.
ü  Capítulo 11 conta a história de uma batalha que ganhou para Saul o apoio popular de Israel. Ele conduziu os israelitas na batalha contra os amonitas e livrou do poder deles a cidade de Jabes-Gileade, na Transjordânia.
ü  Capítulo 12 contém o discurso de despedido de Samuel, que incentivou o povo a ser fiel ao Senhor. Ele avisou, também, das consequências que viriam sobre o povo se fosse desobediente a Deus. Esta mensagem nos lembra dos discursos finais de Moisés e Josué.
ü  Capítulos 13 a 15 explicam os graves erros de Saul que seriam motivo de Deus recusar estabelecer a dinastia deste benjamita. Por causa da rebeldia e ambição egoísta deste rei, Deus avisou que daria o reino para outra família. Logo descobrimos que a dinastia permanente começaria com Davi.
ü  Capítulos 16 e 17 usam três episódios para introduzir Davi, o jovem que seria o segundo rei de Israel. Ele foi ungido por Samuel, foi chamado para tocar sua harpa para acalmar o rei, e, na história mais conhecida da sua juventude, foi usado por Deus para vencer o gigante Golias.
ü  Capítulos 18 a 26 relatam o período de conflito entre Saul, que foi tomado de paranoia, e Davi, que esperava com paciência o momento determinado por Deus para ascender ao trono. Em vários momentos, Saul tentou matar Davi, mas este recusou a levantar sua mão contra o rei legítimo de Israel.
ü  Capítulos 27 a 31 descrevem a guerra entre os israelitas e os filisteus que levou à morte de Saul, abrindo lugar para a coroação de Davi como rei de Israel. O próximo livro, 2Samuel, começa com o início do reinado de Davi.
b) 2Samuel. O livro de 2Samuel pode ser dividido em duas seções principais: os triunfos de Davi (capítulos 1-10) e os problemas de Davi (capítulos 11-20). A última parte do livro (capítulos 21-24) é um apêndice não-cronológico que contém mais detalhes do reinado de Davi.
O Livro começa com Davi recebendo a notícia da morte de Saul e seus filhos. Ele proclama um tempo de luto. Logo depois, Davi foi coroado rei de Judá, enquanto Isbosete, um dos filhos sobreviventes de Saul, é coroado rei de Israel (capítulo 2). Uma guerra civil segue, mas Isbosete é assassinado e os israelitas pedem a Davi que reine sobre eles também (capítulos 4 e 5).
Davi muda a capital do país de Hebron para Jerusalém e depois move a Arca da Aliança (capítulos 5 e 6). O plano de Davi para construir um templo em Jerusalém é vetado por Deus, que em seguida faz a seguinte promessa a Davi: Davi teria um filho que governaria depois dele; o filho de Davi iria construir o templo; o trono ocupado pela linhagem de Davi seria estabelecido para sempre; Deus nunca iria remover a sua misericórdia da casa de Davi (2Sm.7:4-16).
Davi lidera Israel à vitória sobre muitas nações inimigas que os cercavam. Ele mostra também bondade à família de Jônatas ao cuidar de Mefibosete, filho aleijado de Jônatas (capítulos 8-10).
Infelizmente, Davi cai em pecado. Ele cobiça uma bela mulher chamada Bate-Seba, comete adultério com ela e depois tem o marido assassinado (capítulo 11). Quando o profeta Natã confronta Davi com seu pecado, Davi confessa e Deus graciosamente o perdoa. No entanto, o Senhor diz a Davi que as consequências do seu vil pecado seriam inevitáveis.
Surgiram muitos problemas. Um deles foi quando o filho primogênito de Davi, Amnom, violenta sua meia-irmã, Tamar. Em retaliação, o irmão de Tamar, Absalão, mata Amnom. Absalão então foge de Jerusalém ao invés de enfrentar a ira de seu pai.
Mais tarde, Absalão lidera uma revolta contra Davi e alguns dos antigos companheiros de Davi se juntam à rebelião (capítulos 15 e 16). Davi é forçado a sair de Jerusalém e Absalão se posiciona como rei por um curto período de tempo. No entanto, o usurpador é derrubado e - contra a vontade de Davi - é morto. Davi lamenta a morte de seu filho.
Um sentimento geral de inquietação assola o resto do reinado de Davi. Os homens de Israel ameaçam separar-se de Judá e Davi tem que suprimir mais uma rebelião (capítulo 20).
O apêndice do Livro inclui informação sobre uma fome de três anos que assolou a terra (capítulo 21), uma canção de Davi (capítulo 22), um registro das façanhas dos mais valentes guerreiros de Davi (capítulo 23), assim como o censo pecaminoso de Davi e a consequente praga (capítulo 24).

Aplicação Prática

Qualquer um pode cair. Mesmo um homem como Davi, que verdadeiramente desejava seguir a Deus e que foi ricamente abençoado por Deus, era suscetível à tentação. O pecado de Davi com Bate-Seba deve servir como um aviso a todos nós para guardarmos nosso coração, nossos olhos e nossas mentes. Orgulho sobre a nossa maturidade espiritual e nossa capacidade de resistir à tentação com nossas próprias forças é o primeiro passo para uma queda (1Co.10:12).
Deus é misericordioso para perdoar até os pecados mais hediondos quando realmente nos arrependemos. No entanto, curar a ferida causada pelo pecado nem sempre apaga a cicatriz. O pecado tem consequências naturais e, mesmo depois de perdoado, Davi colheu o que havia semeado. Seu filho da união ilícita com a esposa de outro homem foi-lhe tirado (2Sm.12:14-24) e Davi sofreu a miséria de uma ruptura no seu relacionamento amoroso com seu Pai celestial (Salmos 32 e 51). Quão melhor é evitar o pecado, em primeiro lugar, ao invés de ter que pedir perdão depois!

2. Cristo revelado

O Senhor Jesus Cristo é visto principalmente em duas partes de 2Samuel:
-Em primeiro lugar, a aliança davídica conforme descrita em 2Samuel 7:16:
“Porém a tua casa e o teu reino serão firmados para sempre diante de ti; teu trono será estabelecido para sempre”.
Esta promessa foi reiterada em Lucas 1:32,33 nas palavras do anjo que apareceu à Maria para anunciar-lhe o nascimento de Jesus:
“Este será grande e será chamado Filho do Altíssimo; Deus, o Senhor, lhe dará o trono de Davi, seu pai; ele reinará para sempre sobre a casa de Jacó, e o seu reinado não terá fim”.
Cristo é o cumprimento da aliança davídica; Ele é o Filho de Deus da linhagem de Davi que reinará para sempre.
-Em segundo lugar, Jesus é visto na canção de Davi no final da sua vida (2Sm.22:2-51). Ele canta sobre a sua rocha, fortaleza e libertador, seu refúgio e salvação. Jesus é a nossa Rocha (1Co.10:4, 1Pd.2:7-9), o Libertador de Israel (Rm.11:25-27), a Fortaleza para qual “já corremos para o refúgio, a fim de lançar mão da esperança proposta” (Hb.6:18) e o nosso único Salvador (Lc.2:11; 2Tm.1:10).

3. Os alicerces da Dinastia davídica

Quando Davi propôs no seu coração construir um Templo para que nele o Senhor Deus fosse adorado continuamente, recebeu um recado de Deus, através do profeta Natã, no sentido de que ele não poderia construir o templo, mas quem edificaria o templo seria o filho de Davi, que reinaria em seu lugar, dando início a uma dinastia que jamais teria fim. O filho que seria o seu sucessor imediato seria Salomão.
Por motivo dessa iniciativa de Davi, Deus o exaltou sobremaneira, prometendo-o que lhe edificaria uma casa, ou seja, escolhia a sua descendência para governar sobre o povo de Israel para sempre. O próprio Davi ficou pasmo com a promessa que Deus lhe dava, tanto que considerou a sua insignificância, reconhecendo que o Senhor lhe falava de “tempos distantes” (2Sm.7:19). Temos, aqui, então, o que os estudiosos da Bíblia chamam de “pacto davídico”, ou seja, o pacto firmado entre Deus e Davi, segundo o qual o trono de Israel ficaria para sempre na casa de Davi, ou seja, a descendência de Davi seria, eternamente, a descendência real de Israel.
Este pacto representava mais um passo em direção ao plano de Deus para a humanidade. Deus havia prometido salvar o homem no Éden, prometendo que um descendente da mulher haveria de vencer o mal e o pecado. Depois, com Abraão, mostrou que este Salvador viria de uma nação que seria formada pelo próprio Deus: Israel. Agora, com Davi, diz que este Salvador seria descendente da tribo de Judá, da família de Davi, a quem seria dado o governo de Israel. O Messias seria, portanto, descendente de Davi, “Filho de Davi”, o legítimo herdeiro do trono de Israel.
A partir desse pacto o povo de Israel ficou ciente de que o Messias, aquele que viria para salvar Israel, seria descendente de Davi, daí porque a imagem do Cristo ter ficado relacionada com a imagem do Libertador político, do Rei, daquele que haveria de livrar Israel dos seus inimigos, imagem esta que se intensificou a partir do cativeiro da Babilônia, quando Israel perdeu a sua independência política, como fruto dos seus pecados, o que era explicitamente reconhecido pelas autoridades judias (cfr. Ed.9:6-9). Até mesmo os discípulos de Jesus, mesmo depois da ressurreição, não tinham deixado de associar a imagem do Messias ao do libertador político (At.1:6).
A dinastia davídica durou cerca de 425 anos, mas será perpetuada por meio do Rei-Messias, Jesus, ”o Filho de Davi”. Pela sua vitória sobre todos os inimigos de Israel, pela sua humildade e compromisso com o Senhor, pelo seu zelo a favor da casa de Deus e pela associação dos ofícios de profeta, sacerdote e rei na sua pessoa, Davi é um precursor da Raiz de Jessé, Jesus Cristo.
“Porém, a tua casa e o teu reino serão firmados para sempre diante de ti, teu trono será firme para sempre”(2Sm.7:16

4. A ação do Espírito Santo nos Livros de Samuel

O Espírito Santo atuava com mais frequência através do sacerdócio. Sua atuação como conselheiro pode ser apreciada nas muitas ocasiões em que Davi “consultou o Senhor” através do sacerdote e do éfode.
Sua principal ação é convencer a pessoa do pecado. Jesus explicou isso em João 16:8: “E, quando ele vier convencerá o mundo do pecado, e da justiça, e do juízo”. A obra de convencer e de condenar do Espírito é claramente percebida quando o profeta Natã enfrenta Davi por causa do seu pecado com Bate-Seba e Urias. O pecado de Davi é desnudado, a justiça é feita, e o julgamento é anunciado. Isso, no quadro microcósmico de 2Samuel, ilustra o amplo ministério do Espírito Santo no mundo através da Igreja investida do poder do Espírito.

IV. SAMUEL: O DIVISOR DE ÁGUAS

1. Samuel, um servo vocacionado por Deus

Deus chama todo líder para ser servo, mas nem todo servo é chamado para ser líder. O líder transmite a ideia de serviço e é exemplo para outros. A vocação de Samuel para liderar o povo de Deus deu-se quando ele era menino, tendo como mentor Eli. Pode-se ver isso em 1Samuel 3:19,20:
Crescia Samuel, e o Senhor era com ele, e nenhuma de todas as suas palavras deixou cair em terra. Todo o Israel, desde Dã até Berseba, conheceu que Samuel estava confirmado como profeta do Senhor”.
Certa feita, Deus falou a Samuel durante a noite, e, então, ele disse a Eli o que Deus lhe revelara (1Sm.3:11-18). Apesar da dura mensagem dirigida a Eli, Samuel disse a verdade em amor. Esse encontro deu início a um firme padrão para Samuel. Cedo, os israelitas procuraram Samuel para que lhes desse conselho de orientação para o seu futuro; precisavam de ajuda para reconquistar a Arca da Aliança; precisavam de uma estratégia contra os inimigos, os filisteus; finalmente procuraram a permissão de Samuel para coroar um rei, semelhante as outras nações vizinhas.
A influência do profeta continuou crescendo. Cresceu de tal maneira que, quando o rei Saul falhou na sua liderança, Samuel o removeu do trono por ordem de Deus. A autoridade que ele tinha, dada por Deus, era capaz de até mesmo afastar um rei que ocupava o trono.
Samuel viveu tempo suficiente para dar aos israelitas dois reis. Samuel exortou, afirmou, corrigiu, profetizou, lembrou e ensinou o povo. Quando morreu, todo o Israel se ajuntou para lamentar a morte dele (1Sm.25:1). De fato, esse foi um líder de impacto!

2. Samuel, um líder que sabia ouvir

Todos os líderes necessitam aprender a reconhecer a voz de Deus, mesmo quando ainda jovens como Samuel. Certa noite, Samuel estava deitado no chão perto da Arca de Deus e o Senhor o chamou: “Samuel, Samuel!”. No começo, Samuel ouviu, mas não reconheceu a voz do Pai. Porém, continuou ouvindo e, depois, recebeu uma mensagem a respeito do juízo vindouro sobre o sacerdote Eli e a família deste.
Samuel teve uma longa noite de insônia, paralisado por medo, ao pensar que devia repetir o que o Senhor lhe havia contado. Mas, Eli convenceu Samuel que seria muito mais perigoso reter a verdade do que revelar o que Deus lhe tinha dito (1Sm.3:17). Assim, Samuel expôs a verdade, e, por causa da sua obediência, Deus elevou o jovem a líder e a profeta entre o seu povo (1Sm.3:20).
Samuel é um grande exemplo bíblico de liderança correta. Demonstra que o homem ou a mulher, que está apto para liderar o povo de Deus, é pessoa que aprendeu a ouvir a voz do Senhor, dar atenção às palavras dele e falar a verdade, sem importar-se com as consequências terrenas.
Deus nunca escolheu seus líderes com base no carisma ou na eloquência deles. Pelo contrário, Ele busca aqueles que têm a coragem de ouvir e falar exatamente o que Ele lhes diz.

3. Samuel, um líder que servia com humilde e sinceridade

Samuel começa a liderar com aproximadamente trinta anos de idade, depois da morte de Eli. Não houve da parte desse jovem qualquer atitude de rebeldia contra o sacerdote. Ele jamais ousou apontar erros do seu líder, nem desejou seu posto, mas o servia com humildade e sinceridade, razão pela qual se firmara diante do Senhor.
É lamentável, mas muitos, hoje, estão servindo não com bons propósitos, mas apenas desejando posição, título, fama, motivos pelos quais sempre que encontram qualquer falha no seu líder expõem-na a outros, inclusive usando meios eletrônicos, cartas, querendo a posição do outro. É bom sempre lembrar, porém, que não devemos tomar à força a capa de Elias; ela só pode cair nas mãos daqueles que servem bem (2Rs.2:9-14); somente assim serão usados poderosamente nas mãos de Deus.

4. Samuel, um tipo de Cristo

Samuel foi líder de líderes, conselheiro-chefe de reis e capitães militares de Israel. Quando ele falava, todos escutavam. Como profeta de Deus, Samuel ungiu reis; como intérprete da Palavra de Deus, aconselhou e desafiou reis. Servindo como juiz nos dias imediatamente antes da monarquia de Saul, Samuel incorporou três grandes funções: profeta, sacerdote e juiz, como também o faria Jesus, mais tarde.
Samuel foi chamado por Deus num momento de grande anarquia nacional, crise espiritual e moral do povo de Deus e da sua liderança. Ele teve que convocar o povo para promover a construção de uma unidade nacional e espiritual. Sob sua liderança, ele foi grande responsável pela transição do período dos juízes para a monarquia; é o que podemos dizer: ele foi um divisor de águas.
Samuel foi o último juiz de Israel; com ele foi fechado o ciclo dos juízes. Ele contribuiu sobremaneira com a nação de Israel ao estabelecer os alicerces do ofício profético, preservar o sacerdócio e estruturar a base espiritual do sistema monárquico (1Sm.3:15-21; 2:18; 8:10-22). Ele deixou um inegável legado às lideranças seguintes.

CONCLUSÃO

As muitas histórias apresentadas em 1 e 2Samuel revelam os erros e os acertos de líderes humanos, mas, ao mesmo tempo, revelam o quanto Deus trabalha pelo seu povo. Ao ler e estudar estes dois Livros, note a transição da teocracia para a monarquia; exulte com as clássicas histórias de Davi e Golias, Davi e Jônatas, Davi e Abigail; e assista ao surgimento da influência dos profetas. Mas em meio à leitura de toda esta história e aventura, resolva participar de sua corrida como servo de Deus, do início ao fim.
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Fonte: Luciano de Paula Lourenço

terça-feira, 3 de setembro de 2019

10ª lição do 2º trimestre DE 2019: A MORDOMIA DAS FINANÇAS

"Porque o amor ao dinheiro é a raiz de toda espécie de males; e nessa cobiça alguns se desviaram da fé e se traspassaram a si mesmos com muitas dores" (1Tm.6:10).
Eclesiastes 5
10.O que amar o dinheiro nunca se fartará de dinheiro; e quem amar a abundância nunca se fartará da renda; também isso é vaidade.
11.Onde a fazenda se multiplica, aí se multiplicam também os que a comem; que mais proveito, pois, têm os seus donos do que a verem com os seus olhos?
1Timóteo 6
6. Mas é grande ganho a piedade com contentamento.
7.Porque nada trouxemos para este mundo e manifesto é que nada podemos levar dele.
8.Tendo, porém, sustento e com que nos cobrirmos, estejamos com isso contentes.
9.Mas os que querem ser ricos caem em tentação, e em laço, e em muitas concupiscências loucas e nocivas, que submergem os homens na perdição e ruína.
10.Porque o amor do dinheiro é a raiz de toda espécie de males; e nessa cobiça alguns se desviaram da fé e se traspassaram a si mesmos com muitas dores.

INTRODUÇÃO

Nesta Aula trataremos da Mordomia das Finanças. Cada ser humano prestará contas de tudo o que recebeu nesta vida para administrar (Rm.14:12), inclusive na esfera financeira (Mt.25:19). Sabemos que muitas substâncias podem ser usadas como remédio, ou medicamento, para curar; estas mesmas substâncias podem, também, ser usadas como veneno, para matar. Tudo depende da vontade de quem manipula tais substâncias. O mesmo pode acontecer no exercício da Mordomia Cristã das Finanças. O dinheiro pode ser uma bênção; pode, também, ser uma maldição; pode ser um complemento de estabilidade na família e, ao mesmo tempo, uma catalisadora de confusões e contendas familiares. Por isso, é preciso ter disciplina, ordem e equilíbrio para lidar com o dinheiro. Saber usá-lo, de acordo com os princípios da Palavra de Deus, significa evitar muitos transtornos.

I. TUDO O QUE TEMOS VEM DE DEUS

Devemos ter a plena convicção de que o que temos vem diretamente de Deus, conforme Davi expressou: "...porque tudo vem de ti, e da tua mão to damos" (1Cr.29:14).

1. Deus é dono de tudo

Devemos estar plenamente conscientes de que não somos donos de coisa alguma sobre esta terra, e deveríamos nos comportar desta maneira, ou seja, plenamente consciente de que somos apenas mordomos, despenseiros daquilo que Deus nos deu (1Co.4:1,2; Tt.1:7; 1Pd.4:10).
Em Mateus 19:21,22, temos o relato feito por Jesus sobre um jovem rico que não quis seguir a Jesus porque pensava que era dono das terras que ocupava. Perdeu a bênção e a salvação por não reconhecer que era apenas um mordomo. As terras que ele pensava que eram dele já passaram por muitas outras mãos, e continuam lá na Palestina, ocupadas por outros que também pensam ser donos delas.
Nada trouxemos ao mundo nem nada dele levaremos. Nenhuma das coisas que as pessoas cobiçam tem qualquer permanência. Quando uma pessoa morre, ela deixa tudo. O seu dinheiro não pode ser levado para a dimensão espiritual. Não tem carro de mudança transportando valores num enterro, nem gavetas em caixões, nem bolsos em mortalhas. Entre o nascimento e o falecimento, podemos juntar muito ou pouco, mas na hora final teremos de deixar tudo. Quando o primeiro bilionário do mundo, John Rockfeller, morreu, alguém perguntou ao seu contador: "Quanto o dr. John Rockfeller deixou?" Ele respondeu: "Ele deixou tudo, não levou um centavo".
Somos apenas mordomos daquilo que Deus nos deu provisoriamente para usar. Devemos ser fiéis nessa administração. Se formos fiéis no pouco, Deus nos confiará os verdadeiros tesouros. Nosso coração deve estar em Deus e não no dinheiro. Nossa confiança deve estar no provedor e não na provisão. Nosso deleite deve estar nas coisas lá do alto e não nas coisas que o dinheiro nos proporciona.

2. O trato com o dinheiro

O dinheiro é o deus mais adorado deste século. Ele deixou de ser apenas uma moeda para transformar-se num ídolo. Por ele, muitos se casam, divorciam-se, mentem, matam e morrem.
Aqueles que pensam que o dinheiro é um fim em si mesmo, que correm atrás dele delirantemente, descobrem frustrados, e tarde demais, que seu brilho é falso, que sua glória se desvanece, que seu prazer é transitório.
Aqueles que fazem do dinheiro a razão de sua vida caem em tentação, cilada e atormentam a sua alma com muitos flagelos.
A história do mundo mostra que a busca por dinheiro e riquezas materiais levou muitas pessoas a cometerem perversidades, violências e crimes inomináveis. Muitos cristãos que ficaram ricos esqueceram-se de sua ortodoxia e de sua ortopraxia cristã e se assemelharam aos ímpios, colocando como coluna principal de suas vidas o orgulho, tal qual ocorreu com o primeiro rei de Israel (1Sm.15:12). Saul era orgulhoso, arrogante; ele idolatrava o seu próprio nome; ele próprio era o deus a quem ele escolheu servir.
Os cristãos da igreja em Laodicéia, citada em Apocalipse 3:14-18, são um exemplo de cristãos que deixam que as riquezas ocupem o primeiro lugar em seus corações. A igreja era rica materialmente, mas desgraçada, miserável, pobre, cego e nu diante dos olhos do Senhor (Ap.3:17).
Entretanto, o dinheiro é necessário; é um meio e não um fim; é um instrumento por intermédio do qual podemos fazer o bem. O problema não é ter dinheiro, mas o dinheiro nos ter. O problema não é carregar dinheiro no bolso, mas entesourá-lo no coração. Por isso, devemos de forma correta lidar com o dinheiro. Está escrito: “...se as vossas riquezas aumentam, não ponhais nelas o coração” (Sl.62:10b).

3. Cuidado com a falsa prosperidade

A teoria da prosperidade é uma das inovações mais influentes nos últimos tempos. Ela tem invadido as igrejas como uma erva daninha, com a devida anuência dos seus líderes. Segundo os pregadores dessa enganosa doutrina, todo crente tem que ser rico, não morar em casa alugada, ganhar bem, além de ter saúde plena, sem nunca adoecer. Caso não seja assim, é porque está em pecado ou não tem fé. Paulo contradiz isso em 1Tm.6:9,10:
“Mas os que querem ser ricos caem em tentação, e em laço, e em muitas concupiscências loucas e nocivas, que submergem os homens na perdição e ruína. Porque o amor ao dinheiro é a raiz de toda a espécie de males; e nessa cobiça alguns se desviaram da fé, e se traspassaram a si mesmos com muitas dores”.
Dizem mais os defensores dessa falsa doutrina: cada crente é um deus, cada crente é uma encarnação de Deus como foi Jesus Cristo; assim sendo, dizem eles, cada crente tem autoridade suprema para decretar, determinar, exigir e reivindicar as promessas e bênçãos de Deus.
À luz da Bíblia, tal comportamento equivale a orgulho, presunção e soberba. Isso é doutrina de demônios. Paulo deixou Timóteo em Éfeso para advertir alguns que não ensinem outra doutrina (1Tm 1:3). Sem dúvida, essa advertência é para a igreja de hoje.
É importante destacarmos que o cristão tem todo o direito de ser próspero, materialmente falando, de acordo com a benção do Senhor sobre sua vida, em tudo aquilo que ele faz. Contudo, isso não quer dizer que todos os cristãos devam ser, necessariamente, ricos. As coisas espirituais, por serem de natureza eterna, ganham primazia sobre as materiais, que são apenas temporais.
Alguém poderá questionar: “Existe algo melhor, mais virtuoso, do que as riquezas materiais?”. Existe, sim! O bom nome. Foi o sábio Salomão quem disse: “Mais vale o bom nome do que as muitas riquezas; e o ser estimado é melhor do que a prata e o ouro“ (Pv.22:1). Note que Salomão não apenas declara que o bom nome é melhor do que riquezas, mas que é melhor do que “muitas riquezas”.
  • É melhor ter uma boa reputação do que ser um ricaço.
  • É melhor ter o nome limpo na praça do que ter o bolso cheio de dinheiro sujo.
  • É melhor andar de cabeça erguida, com dignidade, do que viver em berço de ouro, porém maculado pela desonra.

4. Ser pobre não significa estar mal com Deus

Disse Pedro ao paralítico: “...Não tenho prata nem ouro...”(Atos 3:6). Estas palavras não foram proferidas por um crente fraco e sem fé; não foram proferidas por um homem fora da direção e da vontade de Deus; não foram proferidas por alguém com problemas espirituais; não foram proferidas por uma pessoa em desespero pela falta de dinheiro. Estas palavras foram proferidas por um homem de Deus, por um homem chamado por Jesus para ser Apóstolo, por um homem de fé e de oração - ele estava indo orar, no Templo (Atos 3:1). Pedro, contudo, não tinha finanças para administrar.
Pela Bíblia sabemos que um crente fiel pode ser pobre. Para a Bíblia pobreza não significa castigo. Deus fez o pobre e o rico (Pv.22:2). Pedro e João eram crentes, eram Apóstolos, eram fiéis, amavam a Jesus e estavam empenhados em fazer a sua Obra, porém, eram pobres, “não tinham prata e nem ouro”.
Pregadores da teologia da prosperidade desafiam pessoas a não aceitarem dificuldades financeiras e a determinar a prosperidade, exigindo as bênçãos materiais, principalmente as ligadas ao “ouro e a prata”. Acusam os crentes pobres de falta de fé, até de estarem em pecado, desviados.  Usam, com frequência, duas passagens bíblicas: Deuteronômio 28:1-14 e 2Crônicas 1:7-17 para fundamentar seus argumentos em favor da riqueza.
-O primeiro texto refere-se à Nação de Israel, com uma condição: obediência - “...quando obedeceres aos mandamentos do Senhor teu Deus, que hoje te ordeno, para guardar e fazer”. Observe que a obediência vem antes da bênção e o servir a Deus antes de ser servido.
-O segundo texto refere-se uma promessa pessoal feita por Deus a Salomão - “Naquela mesma noite Deus apareceu a Salomão e disse-lhe: pede o que queres que eu te dê”. Deus, na sua Soberania, quis honrá-lo; deu o que ele pediu e deu, também, o que não pediu; ele não pediu riquezas, porém Deus quis lhe dar - “...e te darei riquezas, e fazendas, e honras, qual nenhum rei antes de ti teve, e depois de ti não haverá...”. Foi uma promessa pessoal feita a Salomão. Não consta que esta riqueza foi dada para todos os israelitas fiéis.
Salomão tinha centenas, milhares de súditos, entre eles muitos que eram sinceros, fiéis e tementes a Deus, porém, a riqueza foi dada somente ao rei Salomão. Seus ministros, seus funcionários administrativos, seus soldados, todos os serviçais do Palácio, contínuos, serventes, cozinheiros, copeiros, camareiras, zeladores, jardineiros, etc., etc., todos continuaram vivendo com o “salário” que ganhavam, embora sendo israelitas fiéis a seu Deus.
Na verdade, quem era pobre continuou sendo pobre; quem vivia de salário continuou vivendo de salário e dando graças a Deus pelo emprego, ou por sua fonte de manutenção. Não adiantava determinar a bênção da riqueza com base na promessa que Deus fez a Salomão.
Salomão recebeu uma promessa pessoal de Deus. Eu e você podemos receber uma promessa pessoal de Deus. Deus é soberano, e faz como quer fazer. Precisamos, portanto, ter cuidado para não sermos enganados pelas armadilhas da falaciosa "teologia da prosperidade".

II. COMO O CRISTÃO DEVE GANHAR DINHEIRO

1. Trabalhando honestamente

A ideia de auferir dinheiro por outros meios que não seja o trabalho honesto é completamente estranha às Escrituras Sagradas. A honestidade é um tesouro mais precioso do que os bens materiais. Transigir com a consciência e vender a alma ao diabo para ganhar dinheiro é consumada loucura, pois aquele que usa de expedientes escusos para enriquecer, subtraindo o que pertence ao próximo, em vez de ser estimado, passa a ser odiado na terra.
A riqueza é uma bênção quando vem como fruto do trabalho e da expressão da generosidade divina. Mas, perder o nome e a estima para ganhar dinheiro é tolice, pois o bom nome e a estima valem mais do que as muitas riquezas.
A ordem divina é: "no suor do teu rosto, comerás o teu pão" (Gn.3:19a). O apóstolo Paulo recomendou: "e procureis viver quietos, e tratar dos vossos próprios negócios, e trabalhar com vossas próprias mãos, como já vo-lo temos mandado" (1Ts.4:11).
Aonde o evangelho chega, as pessoas são libertas da indolência e da desonestidade e os grilhões da miséria são quebrados. Aqueles que viviam desonestamente, agora trabalham com integridade. Aqueles que roubavam, que praticavam atividades correlacionadas com drogas, prostituição e outra atividades ilícitas, agora trabalham de forma digna e honesta para suprir suas necessidades e ainda ajudam outras pessoas necessitadas.

2. Fugindo das práticas ilícitas

A vida cristã deve ser pautada pela licitude, pela lisura. O que somos, a forma como vivemos, o tratamento que dispensamos ao próximo e a nós mesmos, nada escapa às regras estabelecidas por Deus em sua Palavra para nosso bem-estar. Neste conjunto de normas, está incluída a forma como ganhamos e como gastamos dinheiro que auferimos. Devemos ganhá-lo com trabalho honesto e fugindo das práticas ilícitas, tais como o jogo do bicho, do bingo, rifa, loterias, e outras formas "fáceis" de se angariar riquezas. Somos filhos de Deus e dEle recebemos todas as boas dádivas, inclusive bens materiais.
É lícito desfrutarmos dos benefícios que o dinheiro traz, mas não é lícito nos apegarmos a ele transformando-o em objeto de cobiça e tentando consegui-lo a qualquer custo. Deus recomendou ao homem, no Éden, que buscasse sustento, sacrificando o suor de seu rosto, não a sua dignidade.
"O homem fiel abundará em bênçãos, mas o que se apressa a enriquecer não ficará sem castigo" (Pv.28:20).

3. Fugindo da avareza

Avareza é o amor ao dinheiro; é uma escravidão ao vil metal. Muitas pessoas, sem uma dimensão da eternidade, tem sua vista obscurecida pelas coisas temporais e passageiras e, portanto, acaba se deixando dominar pela avareza, pelo desejo de acumulação de riquezas, que é uma insensatez total, como deixou bem claro Jesus na parábola do rico insensato (Lc.12:13-21) - “porque a vida de qualquer não consiste na abundância do que possui”(Lc.12:15).
É bom enfatizar que Deus não condena a riqueza em si, mas a ambição, a cobiça e a avareza que ela desperta. Abraão e Jó eram homens ricos, porém, fiéis a Deus. Abraão era homem muito rico. Jó era riquíssimo, antes e depois de sua provação (Jó 1:3,10). Davi, Salomão e outros reis acumularam muitas riquezas, e nenhum deles foi condenado por isso. O que Deus condena é a ganância, a ambição desenfreada por riquezas (Pv.28:20).
Lamentavelmente, não são poucos os que acabam se perdendo na caminhada para o céu por causa do amor ao dinheiro. Diz a Bíblia:
"Porque o amor ao dinheiro é a raiz de toda espécie de males; e nessa cobiça alguns se desviaram da fé e se traspassaram a si mesmos com muitas dores" (1Tm.6:9,10).
Riquezas e glórias vêm de Deus, contudo, o dinheiro não é um tesouro para ser usado de forma egoísta, apenas para o nosso deleite. Deus nos dá o dinheiro para O glorificarmos com ele, e fazemos isso, quando cuidamos da nossa família, dos domésticos da fé e de outras pessoas necessitadas, inclusive nossos inimigos (Mt.5:44).
A Bíblia revela que a avareza tem sido um obstáculo para muitos alcançarem a salvação, como nos casos do mancebo de qualidade (Mt.19:22; Lc.18:23), de Judas Iscariotes (Lc.22:3-6; João 12:4-6), de Ananias e Safira (At.5:1-5,8-10), de Simão, o mago (At.8:18-23) e de muitos outros, como afirmou Paulo em sua carta a Timóteo (1Tm.6:9,10). Deus assim nos exorta: “se as vossas riquezas aumentam, não ponhais nelas o vosso coração” (Sl.62:10).

III. COMO O CRISTÃO DEVE UTILIZAR O DINHEIRO

Concordo com o Rev. Hernandes Dias Lopes ao dizer que “o problema não é possuir dinheiro, mas ser possuído por ele. O problema não é ter dinheiro, mas o dinheiro nos ter. O problema não é carregar dinheiro no bolso, mas carregá-lo no coração”. Como o cristão deve administrar o seu dinheiro?

1. Planejar antes de gastar

No Exercício da Mordomia das Finanças, o Mordomo Fiel sabe muito bem administrar o seu dinheiro; ele planeja antes de gastar. Veja o que Jesus nos ensina sobre isso no texto de Lucas 14:28-30:
 “Pois qual de vós, querendo edificar uma torre não se assenta primeiro a fazer as contas dos gastos, para ver se tem com que a acabar? Para que não aconteça que, depois de haver posto os alicerces e não a podendo acabar, todos os que a virem comecem a escarnecer dele, dizendo: Este homem começou a edificar e não pôde acabar”.
Em matéria financeira, planejar é preciso. Gastar além do que se arrecada estrangula o orçamento; tem que haver um equilíbrio entre receita e despesa. Assim é no âmbito público, assim é no âmbito privado, assim deve ser no âmbito familiar, principalmente se a família for cristã.
O pai de família, no exercício da Mordomia Cristã das Finanças, como discípulo de Cristo, precisa “assentar primeiro” (Lc.14:28), certamente de comum acordo com sua esposa e filhos que contribuem no orçamento familiar, antes de assumir novos encargos financeiros. É neste sentido o ensino de Jesus: “Para que não aconteça que depois de haver posto os alicerces, e não a podendo acabar, todos os que a virem comecem a escarnecer dele, dizendo: este homem começou a edificar e não pode acabar”.
Esse homem trocou todos os móveis da casa, sem saber se podia pagar as prestações; esse homem trocou o carro usado por um carro novo, sem saber se podia pagar a diferença; esse homem usou o seu limite do cheque especial, sem saber se ia poder pagar o Banco; esse homem emitiu cheques pré-datados sem saber se podia fazer os respectivos depósitos; esse homem usou o cartão de crédito de forma impensada sem saber se ia poder cobrir seus débitos, etc, etc.
-No exercício da Mordomia Cristã das Finanças, o Mordomo Fiel sabe, pela Bíblia, que não pode mandar para Deus pagar as despesas feitas de forma impensada e irresponsável.
-No exercício da Mordomia Cristã das Finanças, o Mordomo Fiel sabe, pela Bíblia, que não pode confundir fé com imprudência. Assumir despesas sem previsão de receita pode ser imprudência, mas, não fé.
-No exercício da Mordomia Cristã das Finanças, o Mordomo Fiel sabe que gastar mais do que ganha, ou gastar por conta do que pensa que vai ganhar, contraria o ensino de Jesus. Ele falou da necessidade de planejamento quando discorreu sobre “assentar primeiro a fazer as contas dos gastos”. 
Manter um padrão de vida ilusório, pretender aparentar ser o que não é, ostentar um “status” fictício, pode dificultar o controle do orçamento e gerar irreparáveis dificuldades financeiras.

2. Não gastando mais do que ganha

O cristão, na administração de suas finanças, deve partir de um princípio fundamental, a saber, o de que não pode, em hipótese alguma, gastar mais do que ganha.
O consumismo é como uma doença que invadi nossas entranhas. O comércio esfomeado e guloso apela de forma eloquente aos nossos sentidos todos os dias. Na busca de uma felicidade ilusória, muitos se rendem aos encantos dessa propaganda sedutora. A cada dia as pessoas compram o que não precisam, com o dinheiro que não possuem, para impressionar pessoas que não conhecem.
Graças a uma eficaz publicidade e a pregação da busca de bens materiais a qualquer custo, as pessoas ingressam numa corrida pelo consumo sem medir as consequências. O resultado é o endividamento sem medida, a inserção nos diversos órgãos de restrição ao crédito (SPC, SERASA, etc.), o que faz com que as pessoas sejam aviltadas em sua dignidade e, não poucas vezes, levadas a situações angustiantes.
Lamentavelmente, muitos cristãos têm se deixado levar por esta "febre consumista", e já não são poucos os crentes que têm seus "nomes sujos" na praça e que são tratados como "caloteiros", envergonhando o Evangelho e dando motivo para que o nome do Senhor seja blasfemado. Tudo como consequência de uma má administração do seu dinheiro.
Na perspectiva cristã, o dinheiro, como valor material, não deve ser visto como senhor, mas apenas como um servo. Desta feita, não deixe o dinheiro dominar você, domine-o. Não deixe o dinheiro ser seu patrão, faça dele um servo.

3. Sendo fiel nas Finanças

Como bons administradores, devemos ser fiéis (1Co.4:2), e isto significa sermos cumpridores de nossas obrigações para com Deus, com a família e com a sociedade. A fidelidade que se exige do servo de Deus também alcança o aspecto financeiro e, num mundo materialista como o que vivemos, esta fidelidade é a que mais fará realçar o nome do Senhor entre os incrédulos.
Nunca nos esqueçamos de que as pessoas devem nos considerar despenseiros dos mistérios de Deus (1Co.4:1) e ver as nossas obras e, ao vê-las, glorificar o nome do nosso Senhor (Mt.5:16), e isto passa, também, pelo aspecto financeiro de nossas vidas.

Vejamos algumas atitudes que o cristão deve ter em relação ao seu dinheiro

a) Cumprir as suas obrigações. O cristão fiel é santo e diferente do mundo. Os ímpios, diz a Bíblia Sagrada, se caracterizam por serem infiéis nos contratos (Rm.1:31). Por isso, deve o cristão ser muito cauteloso ao contrair obrigações, fugindo do consumismo que tem dominado as consciências dos homens sem Deus. Devemos ter todo o cuidado na montagem do orçamento doméstico, para assumir apenas obrigações que possam ser fielmente cumpridas.
b) Suprir as necessidades de seu lar. Para a maioria das pessoas, as principais necessidades são: alimentação, habitação, despesas com tributos, tarifas públicas, transportes, saúde, educação e previdência social. Devemos fugir daquilo que não é necessário, do supérfluo e do dispensável. Na aquisição de bens, o cristão deve ser econômico, pesquisar e pechinchar preços, tendo, aqui, papel fundamental a mulher no lar (Pv.31:13,14,18). Neste ponto, vemos que o cristão deve ser previdente, e sempre, quando possível, ter uma poupança para os dias de adversidade (cf. 2Co.12:14).
c) Ser voluntário e estar disposto em ajudar os necessitados. O cristão deve ser generoso, usando parte de sua economia para ajudar, dentro da medida do possível, o necessitado. Jesus tinha uma caixa de assistência durante o Seu ministério. É de uma administração cautelosa que surgirão os recursos que poderão mitigar as dificuldades dos mais necessitados. Neste contexto, também, estão as ofertas alçadas que se devem dar nas igrejas, bem assim as contribuições específicas para determinadas obras na casa do Senhor e para a obra missionária. Seria muito bom que, na administração de seus bens, o cristão pudesse dedicar sempre uma parcela fixa de seu rendimento para esta parte. Lembremo-nos de que vivemos no país de maior desigualdade social do mundo e que, como cristãos, devemos demonstrar o amor de Deus que há em nossos corações. A verdadeira religião é amar a Deus e o próximo (Tg.1:27).
d) Contribuir financeiramente para obra do Senhor Jesus. Cada cristão servo de Deus, deve se conscientizar de sua terna responsabilidade em contribuir financeiramente para a Obra do Senhor. Contribuir financeiramente é uma maneira explícita de participar da Grande Comissão estabelecida pelo Senhor Jesus (Mt.28:19,20). É um reconhecimento de que somos Mordomos do Rei. Mordomo, como temos visto, é aquele que administra bens alheios. Quando reconhecemos que não somos donos daquilo que usamos e administramos, então temos o prazer de contribuir financeiramente com a Obra de Deus.

4. Na sociedade civil

4.1. Evite dívidas fora do seu alcance. Uma pessoa sábia é controlada em seus negócios e não cede à pressão nem à sedução do consumismo. Muitas vezes, dívidas descontroladas têm causado doenças psicossomáticas, desavenças no lar, perda de autoridade na família, mau testemunho perante os ímpios. Não se aventure em dívidas que crescem como cogumelo, pois sabe que o que contrai dívidas fora do seu alcance torna-se escravo dela, muitas vezes, perdendo até mesmo a dignidade no afã de saná-las.
4.2. Evite empréstimo para adquirir coisas supérfluas. “O rico domina sobre os pobres, e o que toma emprestado é servo do que empresta” (Pv.22:7). A dependência financeira gera escravidão. A dívida é uma espécie de coleira que mantém prisioneiro o endividado. É por isso que os ricos mandam nos pobres, pois detêm o poder econômico. Quem toma emprestado fica refém de quem empresta. No tempo de Neemias, governador de Jerusalém, os ricos que emprestaram dinheiro aos pobres já haviam tomado suas terras, vinhas, casas e até mesmo escravizado seus filhos para quitar uma dívida impagável. O profeta Miqueias denuncia essa mesma forma de opressão, dizendo que em seu tempo muitos ricos estavam comendo a carne dos pobres. Portanto, jamais faça empréstimos para adquirir coisas supérfluas. É preferível manter-se dentro de um padrão mais modesto de vida, somente com as coisas necessárias, do que tornar-se um endividado por causa dos artigos que são dispensáveis. Pense nisso!
4.3. Tenha controle no orçamento. É muito importante fazer um controle no orçamento familiar, observando o quanto a pessoa ganha, gasta e, se possível, reservar para imprevistos. No exercício da Mordomia das Finanças, o cristão prudente sabendo com quanto poderá contar, saberá quanto pode gastar. Neste caso o que pode descontrolar as Finanças é o não poder fazer suas as palavras de Paulo - “...porque já aprendi a contentar-me com o que tenho”(Fp.4:11). O crente em Jesus deve conter-se dentro dos limites de sua renda, seja ela grande ou pequena, para não ser vítima de um mal maior. Manter um padrão de vida ilusório, pretender aparentar ser o que não é, ostentar um “status” fictício pode dificultar o controle do orçamento e gerar irreparáveis dificuldades financeiras.
4.4. Não seja fiador de ninguém. Outro cuidado importante é não ficar por fiador. No Livro de Provérbios está escrito que o homem não deve ser fiador de pessoa alguma:
“Decerto sofrerá severamente aquele que fica por fiador do estranho, mas o que aborrece a fiança estará seguro” (Pv.11:15).
O fiador é aquele que dá garantias de que o devedor irá cumprir sua palavra e pagar suas dívidas; caso contrário, ele mesmo arcará com esse ônus. O fiador empenha sua palavra, sua honra e seus bens, garantindo ao credor que o devedor saldará seus compromissos a tempo e a hora. O fiador fica, assim, obrigado, mediante a lei, a pagar em lugar do devedor caso este não cumpra seu compromisso. Todavia, Provérbios nos aconselha a não assumirmos responsabilidades pelas dívidas de outrem. Se alguém que realmente estiver precisando vier lhe pedir para ser fiador, avalie, antes de assumir, se você terá condições de pagar, caso o devedor principal deixe de fazê-lo. Esta é a única situação legitima de fiança. Se você também não puder pagar, então não se torne fiador.
Muitos tomam esta decisão baseados no temor das pessoas – “ele vai ficar chateado comigo!”; “se um dia eu precisar, não poderei contar com ele!”, etc. Este é um laço que, se você cair nele, corre o sério risco de ficar sem meios de prover a si e a sua família e até mesmo ficar no olho da rua.
“Aquele que fica por fiador do estranho tira a sua roupa e penhora-a por um estranho” (Pv.20:16).
 “Não estejas entre os que dão as mãos e entre os que ficam por fiadores de dívidas. Se não tens com que pagar, por que tirariam a tua cama de debaixo de ti?” (Pv.22:26,27).
Portanto, tenha muito cuidado em tomar essa decisão. Ficar por fiador de um companheiro já não é coisa boa, conforme Provérbios 6:1; e ficar por fiador de um estranho, é pior ainda. Leia Provérbios 11:15; 17:18; 22:26; 27:13.
Isso não significa, porém, que devemos recusar-nos a ajudar alguém que esteja realmente sofrendo, sem meios para atender às necessidades básicas da vida (Ex.22:14; Lv.25:35; Mt.5:42). Quanto aos pobres, não devemos emprestar e sim dar-lhes (cf.Mt.14:21; Mc.10:21
4.5. Fuja dos agiotas. A agiotagem é uma prática criminosa. É uma forma injusta e iníqua de se aproveitar da miséria do pobre, emprestando-lhe dinheiro na hora do aperto, com altas taxas de juros, para depois mantê-lo como refém. Muitos ricos inescrupulosos e avarentos, movidos por uma ganância insaciável, aproveitam o sufoco do pobre para emprestar-lhe dinheiro em condições desfavoráveis, com muita usura, apenas para lhe tomar, com violência, seus poucos bens. Tenha cuidado com esses ratos de esgoto.
Na Antiga Aliança, Deus reprovou a usura entre o seu povo:
“Se emprestares dinheiro ao meu povo, ao pobre que está contigo, não te haverás com ele como um usurário; não lhe imporás usura” (Êx.22:25).
“Não tomarás dele usura nem ganho; mas do teu Deus terás temor, para que teu irmão viva contigo” (Lv.25:36).
Quem cai na mão dessas pessoas, que cobram “usura” ou juros extorsivos, não tem quietude. Deus quer que todos os seus filhos tenham uma vida sossegada e abençoada.
4.6. Pague os seus impostos. Em Romanos 13:7, lemos: “Portanto, dai a cada um o que deveis: a quem tributo, tributo; a quem imposto, imposto; a quem temor, temor; a quem honra, honra”. A sonegação de impostos acarreta prejuízo para toda a nação. O cristão não deve ser sonegador dos impostos que a ele compete pagar, pois isso não glorifica a Deus. Ainda que muitos aleguem que os governos não aplicam bem o dinheiro arrecadado, desviando-o para outras finalidades, o cristão precisa comportar-se como cidadão dos céus no trato com o dinheiro. É mandamento bíblico que paguemos os impostos (Mt.22:17-21).
“Dize-nos, pois, que te parece: é lícito pagar o tributo a César ou não? Jesus, porém, conhecendo a sua malícia, disse: Por que me experimentais, hipócritas? Mostrai-me a moeda do tributo. E eles lhe apresentaram um dinheiro. E ele disse-lhes: De quem é esta efígie e esta inscrição? Disseram-lhe eles: De César. Então, ele lhes disse: Dai, pois, a César o que é de César e a Deus, o que é de Deus”.

CONCLUSÃO

O Cristão, rico ou pobre, no exercício da Mordomia Cristã das Finanças, faz dos recursos que possui, adquiridos com honestidade, uma bênção para a Obra de Deus, para si mesmo, para sua família, bem como para a comunidade que o cerca. Devemos, portanto, fazer tudo ao nosso alcance para administrar bem os recursos que Deus nos deu. Amém?
Fonte: Luciano de Paula Lourenço