Igreja Evangélica Assembleia de Deus
Rua Frederico Maia, 49
Viçosa - Alagoas
TEXTO ÁUREO
“Disse-lhe, porém, o Senhor: Vai, porque este é para mim um vaso escolhido, para levar o meu nome diante dos gentios, e dos reis e dos filhos de Israel. E eu lhe mostrarei quanto deve padecer pelo meu nome.” (At 9.15,16).
- A conversão de Paulo incluiu não somente uma ordem para pregar o evangelho, mas também uma chamada para sofrer por amor a Cristo. Paulo foi informado desde o início que ele sofreria muito pela causa de Cristo. No reino de Cristo, sofrer por amor a Ele é um sinal do mais alto favor de Deus (At 14.22; Mt 5.11,12; Rm 8.17; 2 Tm 2.3) e o meio de ter um ministério frutífero (Jo 12.24; 2 Co 1.3-6); resulta em recompensas abundantes no céu (Mt 5.12; 2 Tm 2.12). A morte precisa atuar no crente para que a vida de Deus flua dele para os outros (Rm 8.17,18,36,37; 2 Co 4.10-12). Paulo considera-se um apóstolo para os gentios (Rm 1.13,14), assim como Pedro o era para os judeus (Gl 2.8), embora Paulo pregasse muitas vezes nas sinagogas para os judeus.
VERDADE PRÁTICA
Na urgência da evangelização mundial, o Senhor Jesus continua a convocar e a capacitar vasos escolhidos para a sua seara
LEITURA BÍBLICA EM CLASSE
Atos 9.1-9
OBJETIVOS
Após esta aula, o aluno deverá estar apto a:
- Conhecer a respeito da formação cultural de Paulo;
- Explicar como se deu o encontro de Saulo com Jesus, e
- Compreender os propósitos da vocação de Paulo.
PALAVRA-CHAVE
CONVERSÃO: - Mudança que Deus opera na vida do que aceita a Cristo como seu Salvador pessoal, modificando-lhe radicalmente a maneira de ser, pensar e agir.
COMENTÁRIO
(I. INTRODUÇÃO)
Paulo, em hebraico Sha’ul, natural de Tarso, nasceu cerca de 9 d.C. e foi morto em Roma, cerca de 64 d.C., é considerado pela cristandade como o mais importante discípulo de Jesus e o personagem que deu forma ao cristianismo nascente. Foi um apóstolo diferente dos demais, por ter dado maior ênfase à evangelização dos gentios, devotando-lhes especial atenção, sendo verdadeiramente ‘luz dos gentios’ (At 13.47). Assim como os outros Apóstolos, também teria visto Jesus Cristo (At 9.17, 1Co 9.1; 15.8). Era um homem culto, criado na mais severa seita dos fariseus, seguidor de Gamaliel [neto de Hillel, líder dentre as autoridades do Sanhedrin ou Sinédrio no meio do século I, reconhecido mestre e Doutor da Lei (Torah). Morreu vinte anos antes da destruição do Segundo Templo em Jerusalém.]. É destacado dos outros apóstolos pela sua vasta cultura, poucos podiam se orgulhar de ter mais instrução do que Paulo no que dizia respeito à educação religiosa judaica e poucos se aproveitaram tanto quanto ele da educação que recebeu (Fp 3.4-6), considerando-se que os outros apóstolos em sua maioria eram pescadores. A língua materna de Paulo era o grego. Provavelmente dominasse o aramaico, o idioma da Palestina. Educado em duas culturas (grega e judaica), Paulo fez muito pela difusão do Cristianismo entre os gentios tornando-se uma das principais fontes da doutrina da Igreja. As suas Epístolas formam uma seção fundamental do NT. Alguns teólogos apontam Paulo como o edificador do cristianismo, aquele que deu forma à nova religião, desvencilhando a seita do Caminho definitivamente do Judaísmo. Um dos passos mais importantes na preparação para a missão gentílica foi o chamado de um líder capacitado. E o líder escolhido por Deus foi justamente um a quem homem algum jamais escolheria; pois o líder escolhido foi justamente aquele que se levantou como o inimigo mais animalesco e amargo da Igreja. Que lição temos hoje! Aprendamos com a didática do Senhor em trazer os Seus escolhidos: aguilhoando! Boa aula!
(II. DESENVOLVIMENTO)
I. SAULO DE TARSO
Um escrito apócrifo do segundo século intitulado ‘Os Atos de Paulo’ afirma: “ele era um homem de tamanho mediano, seu cabelo era esparso, suas pernas eram levemente curvadas e seus joelhos eram pronunciados, e tinha grandes olhos (a versão armênia acrescenta “azuis”), suas sobrancelhas eram unidas e seu nariz era um pouco grande, e ele era cheio de graça e bondade; algumas vezes parecia com um homem, noutras com um anjo”. Não sabemos se este retrato falado corresponde à verdade, mas comparando-o com o registro do próprio Paulo de um insulto dirigido contra ele em Corinto: “Porque as suas cartas, dizem, são graves e fortes, mas a presença do corpo é fraca, e a palavra desprezível” (2Co 10.10), talvez confirmemos este retrato. Este homem de presença insignificante fora outrora o carrasco dos seguidores da seita do Caminho: “Saulo, porém, assolava a igreja, entrando pelas casas e, arrastando homens e mulheres, encerrava-os no cárcere” (At 8.3). John Stott afirma que “Alguns dos termos que Lucas usa para descrever Paulo antes da sua conversão parecem ser deliberadamente escolhido para retratá-lo como “um animal selvagem e feroz”. O verbo lymainomai, cuja única ocorrência no Novo Testamento se encontra em 8.3, em referência à “destruição” que Saulo causou a Igreja, é empregada no Salmo 8.13 (LXX), em relação a animais selvagens destruindo uma vinha; o seu sentido específico é “destruição de um corpo por um animal selvagem”.
1. A formação cultural de Paulo. O primeiro esboço da vida de Paulo é um tanto brutal como sangrento. Durante a nossa vida, adotamos naturalmente uma imagem cristianizada do apóstolo Paulo. Sua aparição em Atos, no entanto, é como ‘um jovem chamado Saulo’, participante do assassinato brutal de Estêvão e que ‘consentia na sua morte’ (At 7.58; 8.1). Este é o Paulo que precisamos ver para apreciar a gloriosa verdade das cartas do NT que escreveu. Não é de admirar que mais tarde ele viesse a ser conhecido como ‘o apóstolo da graça’. Na verdade, quando verificamos como era o ambiente de seu nascimento e infância, descobrimos que não era marcado por ira nem por violência. A vida para Paulo começou, na verdade, muito pacificamente. Tarso, um centro da cultura grega, e a principal cidade localizada no coração da província da Cilícia, a cerca de 19 Km das praias resplandecentes do Mediterrâneo, rodeada pela cadeia de montanhas Taurus. Tornou-se uma via comercial muito usada pelas caravanas que levavam suas mercadorias do Oriente até Roma. A viagem exigia que passassem pelos Portais da Cilícia – uma impressionante seqüência de passagens estreitas lavradas através das Montanhas Taurus acima de Tarso. É provável que o ano tenha sido 1 d.C, mas os detalhes originais do local do seu nascimento são escassos. A indicá-lo, temos a reivindicação do próprio apóstolo: “Eu sou judeu de Tarso, cidade não insignificante da Cilicia… Da linhagem de Israel, da tribo de Benjamim, hebreu de hebreus” (At 21.39). Em Tarso, a família de Paulo não pertencia de forma alguma aos mais humildes da população, já que seu pai possuía a cidadania romana, que nas províncias do império era um privilégio altamente apreciado e possuído por poucos. Charles R Swindoll nos informa que embora órfão de mãe aos nove anos, como filho de um proeminente fabricante de tendas, Saulo tornou-se beneficiário de uma herança religiosa e intelectual igualmente rica. Citando John Pollock, autor de The Apostle: A Life of Paul: “Os pais de Paulo eram fariseus (?????? prushim: “aqueles que se separaram”), membros do partido mais fervoroso do nacionalismo judaico e severo na obediência à lei de Moisés. Eles buscavam proteger seus filhos da contaminação. Embora Paulo soubesse falar grego desde a infância, a língua franca, e tivesse algum conhecimento de latim, sua família falava em casa o aramaico, a linguagem da Judéia, um derivado do hebraico.” [1]. Tarso tinha sua própria universidade, tornada famosa por causa de estudantes locais como Athenodorus, tutor e confidente do imperador Augusto, e o igualmente eminente Nestor. Esses ilustres mestres, em sua velhice, haviam retornado a Tarso e eram cidadãos honrados na infância de Paulo. Aos 13 anos já dominava história judaica, a poesia dos salmos, a literatura majestosa dos profetas. Seus ouvidos foram treinados à perfeição, e um cérebro ágil como o seu podia reter o que ouvia tão automática e fielmente quanto a mente fotográfica moderna. Charles R Swindoll continua citando Pollock: “Um fariseu rígido não iria confundir o filho com filosofia moral pagã. Portanto, provavelmente no ano em que Augusto morreu, 14 d.C., o adolescente Paulo foi enviado por mar à Palestina e subiu os montes até Jerusalém. Durante os cinco ou seis anos seguintes, ele sentou-se aos pés de Gamaliel, neto de Hillel, mestre supremo, que alguns anos antes morrera com mais de cem anos.” [1] Como jovem judeu, ele recebera educação ministrada aos jovens judeus de futuro e foi educado aos pés de Gamaliel, poucos podiam se orgulhar de ter mais instrução do que Paulo no que dizia respeito à educação religiosa judaica e poucos se aproveitaram tanto quanto ele da educação que recebeu (Fp 3.4-6). Paulo usava o estilo de perguntas e respostas, conhecido na filosofia como ‘diatribe’, e a expor, pois um rabino não era só parte pregador, como também parte advogado, que processava e defendia os que quebravam a lei sagrada. Tinha uma mente poderosa que poderia levá-lo a uma cadeira no Sinédrio, na Galeria das Pedras Polidas, e torná-lo um ‘principal dos judeus’.
2. Paulo, cidadão romano. Jerônimo, historiador judeu, afirma que os pais de Paulo viveram originariamente na região da Galiléia e que por volta do ano 4 a.C. foram levados como escravos a Tarso, onde obtiveram sua liberdade, prosperaram e se tornaram cidadãos romanos. John Pollock afirma: “Nessa época o civis romanus era raramente concedido, a não ser por causa de serviços prestados ou por bom dinheiro. Quer o avô de Paulo tenha ajudado a Pompeu ou a Cícero quando Roma era governada pela Cilicia, quer seu pai houvesse comprado a cidadania, essa posição conferia distinção local e privilégios hereditários, os quais cada membro podia reivindicar onde quer que se encontrasse em todo o império. Significava também que Paulo possuía um nome latino completo composto de três palavras (por exemplo: Gaius Julius Caesar). As duas primeiras eram nomes comuns a todas as famílias (no caso de César, Gaius Julius). Estas, porém, se perderam com o tempo, pois a história da vida de Paulo foi escrita pela primeira vez por um seu colega grego. E grego nenhum conseguia entender os nomes latinos. O terceiro nome, chamado cognomen, era Paulus. Por ocasião do ritual da circuncisão, no oitavo dia de vida, ele também havia recebido um nome judaico: “Saulo”. Este foi escolhido ou por causa do seu significado, “pedido”, ou em honra do benjamita mais famoso de toda a história, o rei Saul” [2]. Ser cidadão romano comportava uma notável série de privilégios, variáveis durante o curso da história, tendo sido criadas diversas “graduações” da cidadania. Na sua versão definitiva e plena, todavia, a cidadania romana permitia o acesso aos cargos públicos e às várias magistraturas (além da possibilidade de escolhê-las no dia de sua eleição), a possibilidade de participar das assembleias políticas da cidade de Roma, diversas vantagens de caráter fiscal e, importante, a possibilidade de ser sujeito de direito privado, ou seja, de poder se apresentar em juízo mediante os mecanismos do jus civile, o direito romano por excelência. Jorge Schemes citando James Dunn assevera que Paulo como cidadão romano gozava de privilégios, então desde que Paulo se converteu no apóstolo dos gentios desejava desfrutar de mais liberdade para levar o evangelho ao mundo da época. Desde que Saulo era um nome pouco familiar fora dos círculos judaicos, a transição do uso do seu nome foi um feito natural; assim, Paulo refletia seu compromisso e sua responsabilidade como apóstolo dos gentios. O Doutor Siegfried Horn afirma que Paulo (Gr. Paulos) é mencionado até Atos 13.9 com o nome de Saulo (Gr. Saulos, do Hebraico Shaul = pedido [a Deus]; Cf. Atos 7.58); e dali em diante só é mencionado como Paulo, exceto no relato que ele mesmo faz de sua conversão (Cf. Atos 22.7,13; 26.14). Horn também sugere que o apóstolo tem dois nomes e que em seus contatos com os judeus talvez usasse o nome hebreu Saulo, e por outro lado usava seu nome greco-romano, Paulus, em contato com os gentios, aos quais desejava evangelizar [3].
SINÓPSE DO TÓPICO (1)
A formação cultural e religiosa de Paulo foi importante para a realização da obra de evangelização dos gentios e judeus.
II. A CONVERSÃO DE PAULO
Paulo inicia sua carta aos Romanos jogando fora toda exaltação própria ao declarar que era um servo de Jesus Cristo. Paulo teve toda sua mente e filosofia farisaica de salvação mudada quando encontrou ao seu Senhor. E agora começa escrevendo que é servo, escravo do Senhor dos senhores, Jesus Cristo. Paulo deixa de ser escravo do farisaísmo cheio de justiça própria para tornar-se escravo do “Senhor Justiça Nossa”.
1. O Encontro com Jesus. A Bíblia de Estudo Pentecostal, comentando o texto de At 9.3-19, diz: “Os versículos 3-9 registram a conversão de Paulo fora da cidade de Damasco (cf. 22.3-16; 26.9-18). Que sua conversão ocorreu nessa ocasião, e não posteriormente na casa de Judas (v. 11), fica claro à luz do seguinte: (1) Ele obedece às ordens de Cristo (v. 6; 22.10; 26.15-19), compromete-se a ser um ministro e testemunha do evangelho (26.16) e um missionário aos gentios (26.17-19) e entrega-se à oração (v. 11). (2) Paulo é chamado Irmão Saulo por Ananias (v. 17). Ananias percebe que Paulo é um crente que experimentou o novo nascimento (ver Jo 3.3-6), que se dedicou a Cristo, para fazer a sua vontade e que apenas necessita ser batizado, receber a restauração da sua vista e ser cheio do Espírito Santo” [4]. John Pollock assim descreve o encontro de Paulo com Jesus: “Quase ao meio-dia, repentinamente grande luz do céu brilhou ao redor de mim… uma luz mais brilhante do que o sol, brilhando ao meu redor e ao redor de meus companheiros de viagem.”Todos eles caíram por terra, apavorados com o fenômeno. Não se tratava de apenas um relâmpago, mas de luz terrível e inexplicável. Parece que Paulo permaneceu prostrado, enquanto seus companheiros se levantaram cambaleando. Para ele somente, a intensidade da luz aumentou. Paulo ouviu uma voz, ao mesmo tempo calma e autoritária, dizer-lhe em hebraico (At 26.14): “Saulo, Saulo, por que me persegues?” Ele levantou os olhos. No centro da luz que o impedia de ver ao derredor, ele encarou um homem de mais ou menos a sua idade. Paulo não podia acreditar no que ouvia e via. Todas as suas convicções, intelecto, treinamento, reputação e auto-estima exigiam que Jesus não estivesse vivo novamente. Assim, procurando ganhar tempo, ele replicou: “Quem és, Senhor?” A expressão de tratamento podia não significar nada mais que “Excelência”. “Eu sou Jesus, a quem tu persegues; mas, levanta-te, e entra na cidade, onde te dirão o que te convém fazer.” Então ele soube. Em um segundo, que mais pareceu uma eternidade, Paulo viu as feridas nas mãos e nos pés de Jesus, viu-lhe o rosto e compreendeu que estava vendo ao Senhor, vivo, como Estêvão e outros haviam dito, e que Jesus amava não apenas aos que Paulo perseguia, mas também ao próprio Paulo: “Dura coisa é recalcitrares contra os aguilhões.” Nem uma palavra de reprovação. Paulo jamais admitira a si mesmo sentir as pontadas de um aguilhão ao enfurecer-se contra Estêvão e seus discípulos. Mas agora, instantaneamente, se conscientizava de que estivera lutando contra Jesus. E lutando contra si mesmo, contra sua consciência, sua falta de poder, contra as trevas e o caos de sua alma. Deus pairou sobre este caos e o levou ao momento de nova criação. Só faltava o consentimento de Paulo. Paulo se quebrou. Ele tremia e não estava em condições de pesar os prós e os contras para a mudança de idéias. Sabia apenas ter ouvido uma voz e visto o Senhor, e que nada mais importava a não ser descobrir a sua vontade e obedecer a ela. “Que farei, Senhor?” Aqui ele usa o mesmo tratamento de antes, mas toda a obediência e adoração, e todo o amor no céu e na terra entraram nessa única palavra “Senhor”. Naquele momento ele se sente totalmente perdoado, totalmente amado. Em suas próprias palavras: “Porque Deus que disse: Das trevas resplandecerá luz — ele mesmo resplandeceu em nossos corações, para iluminação do conhecimento da glória de Deus na face de Cristo.” “Levanta-te”, ouviu ele, “e entra na cidade, onde te dirão o que te convém fazer.” Ele havia confiado. Agora tinha de obedecer — a uma primeira ordem humilhante, quase trivial. Ao se pôr de pé, estava cego. Estendeu a mão aos companheiros, agora ainda mais espantados ouvindo Paulo responder ao inaudível, os quais o conduziram. Os animais de carga e de montaria alcançaram a pequena caravana que se dirigia a Damasco em maravilhoso silêncio” [5].
2. Ananias visita a Paulo. Lucas dá seqüência à história da conversão de Saulo e às conseqüências dessa conversão. É maravilhoso ver a transformação que agora aflora em suas atitudes, em seu caráter e, de modo especial, em seu relacionamento com Deus, com a igreja cristã e com o mundo incrédulo. Agora, Saulo tinha uma nova referência para com Deus – Ananias. Embora a tradição identifique Ananias como um dos bispos de Damasco, pouco se sabe sobre este homem. Instruído a ir e ministrar ao novo convertido, foi informado de que ele estava orando. Três dias haviam passado desde o seu encontro com o Senhor ressurreto, durante os quais nada comeu nem bebeu, passou aqueles dias em jejum e oração. Paulo ora e jejua, pedindo orientação, em atitude de profunda dedicação a Deus. A fé salvadora e o novo nascimento à que ela conduz, sempre levarão o crente a buscar comunhão com seu Senhor e Salvador, que ele acaba de aceitar. William Barclay chama Ananias de “um dos heróis esquecidos da igreja cristã”. A priori, porém, quando ordenado ir até Saulo, Ananias hesitou e isso é compreensível, era uma reação perfeitamente normal a qualquer ser humano; ir até Saulo seria o mesmo que suicídio. Sua ferocidade era conhecida. Ananias também sabia que Saulo viera a Damasco com autorização dos principais sacerdotes para prender todos os crentes. Mas Jesus repetiu Sua ordem, dizendo “Vai!”; e acrescentou que Saulo era um instrumento escolhido para levar o Seu nome perante os gentios e reis, bem como perante os filhos de Israel – um ministério que lhe traria muito sofrimento por amor a esse mesmo nome. Assim, Ananias foi até a rua Direita [que ainda é a principal rua que vai de leste a oeste de Damasco], e entrou na casa de Judas, no quarto em que estava Saulo. Lá ele lhe impôs as mãos, talvez para identificar-se com Saulo enquanto orava pela cura de sua vista e pela plenitude do Espírito Santo para dar-lhe poder para exercer seu ministério. Ananias chamou-o de “Saulo, meu irmão!”.
3. Saulo, de perseguidor a perseguido. Saulo permaneceu em Damasco alguns dias com os discípulos, ele sabia que agora pertencia àquele grupo que havia tentado destruir anteriormente, e mostrou isso claramente, fortalecia-se como testemunha e apologista, a ponto de confundir os judeus em Damasco ao pregar nas sinagogas demonstrando que Jesus era o Cristo, o Filho de Deus. Entretanto, Saulo não ficou entre os cristãos de Damasco. Lucas descreve como ele deixou a cidade decorridos muitos dias. Essa referência ao tempo é intencionalmente vaga, mas sabemos por Gálatas 1.17,18 que “esses últimos dias” somaram três anos e que durante esse período Paulo esteve na Arábia. Depois desse período, ele voltou para Damasco; porém, não por muito tempo: pois os judeus deliberaram entre si a tirar-lhe a vida e dia e noite guardavam as portas, para o matarem. De alguma forma o plano deles chegou ao conhecimento de Saulo, e então seus seguidores [numa indicação que sua liderança já era reconhecida e que tinha atraído seguidores], colocando-o num cesto, desceram-no pela muralha, e ele fugiu para Jerusalém[6].
SINÓPSE DO TÓPICO (2)
Paulo teve um encontro com Jesus quando se dirigia para Damasco, na Síria, a fim de prender os cristãos.
III. PROPÓSITOS DA VOCAÇÃO DE PAULO
Depois desse encontro na estrada de Damasco, Saulo enfrentou a maior crise de sua vida. Ele encontrou-se face a face com o Messias, e viu-se forçado a reconhecer que estava errado, e os seguidores da seita do Caminho, certos: Jesus era o Messias. Naquele momento, toda a sua luta cessou. Uma grande revolução, maior do que qualquer outra que já conhecera, teve lugar no seu íntimo. Humilhado e abatido nas mãos daquele que julgava ser seu inimigo. O próprio fanatismo da perseguição de Saulo traía a sua crescente perturbação interior, “pois o fanatismo só é encontrado em indivíduos que estão compensando dúvidas secretas” – Jung.
1. Conhecer a vontade de Deus. Saulo fora chamado por Cristo para deixar de lado as regras, tradições e todo o passado do qual tanto se gloriara. Outros já o haviam feito e tiveram de enfrentar oposição. O futuro não lhe seria fácil. Ele pensa em Estêvão e como fora este poderoso no Evangelho. Se Saulo tivesse aberto os olhos antes, quantas centenas de crentes não teriam sido poupados! Mas ele tomaria o lugar de Estêvão, e quem sabe, faria para Cristo uma obra ainda maior. Uma vez mais Saulo delibera ser fiel à visão celestial, e passar o resto de sua vida pregando o evangelho aos judeus e gentios.
2. Tornar-se ministro e testemunha de Jesus. Paulo saíra das trevas para a luz. Morrera para a velha vida, sob a Lei, e fora cheio do Espírito. Desejava, agora, provar o seu arrependimento através de uma vida de serviço a Cristo. A nova compreensão sobre o Messias mudou radicalmente sua vida e contrariava não o Antigo Testamento, mas o que o judaísmo pensava a respeito do Libertador. Paulo considerava os judeus e gentios na mesma situação. Em Romanos 1, ele descreve a depravação dos gentios, no capítulo 2, a incredulidade e desobediência dos judeus. No terceiro, põe os dois povos no mesmo bojo: ‘todos pecaram’ (Rm 3.23). Diante disso, levou avante a ordem de Jesus; ‘Por que hei de enviar-te aos gentios de longe’ (At 22.21).
3. Sofrer a favor de Cristo e do evangelho. A conversão de Paulo incluiu não somente uma ordem para pregar o evangelho, mas também uma chamada para sofrer por amor a Cristo. Paulo foi informado desde o início que ele sofreria muito pela causa de Cristo. No reino de Cristo, sofrer por amor a Ele é um sinal do mais alto favor de Deus (14.22; Mt 5.11,12; Rm 8.17; 2 Tm 2.3) e o meio de ter um ministério frutífero (Jo 12.24; 2 Co 1.3-6); resulta em recompensas abundantes no céu (Mt 5.12; 2 Tm 2.12). A morte precisa atuar no crente para que a vida de Deus flua dele para os outros (Rm 8.17,18,36,37; 2 Co 4.10-12). Para outros textos sobre os sofrimentos de Paulo, ver 20.23; 2 Co 4.8-18; 6.3-10; 11.23-27; Gl 6.17; 2 Tm 1.11,12; ver também 2 Co 1.4). Paulo ressalta em Gálatas 6.17 que a vida cristã envolve sofrimento (que deve ser considerado como uma participação ou comunhão com Cristo no sofrimento) e a consolação de Cristo, e em Colossenses 1.24 Paulo se regozija porque lhe é permitido participar dos sofrimentos de Cristo. O Espírito Santo, através das palavras de Paulo, revela-nos a angústia e o sofrimento de uma pessoa totalmente dedicada a Cristo, à sua Palavra e à causa em prol da qual Ele morreu. Paulo comungava com os sentimentos de Deus e vivia em sintonia com o coração e os sofrimentos de Cristo. Ele fala em: “muitas tribulações” enfrentadas ao servir a Deus (At 14.22); sua aflição no “espírito”, por causa do pecado dominante na sociedade (At 17.16); servir ao Senhor com “lágrimas” ( 2.4); advertir a igreja “noite e dia com lágrimas”, durante um período de três anos, por causa da perdição das almas, pela distorção do evangelho por falsos mestres, contrários à fé bíblica apostólica (At 20.31); sua grande tristeza ao separar-se dos crentes amados (At 20.17-38), e seu pesar diante da tristeza deles (At 21.13); a “grande tristeza e contínua dor” no seu coração, por causa da recusa dos seus “patrícios” em aceitarem o evangelho de Cristo (Rm 9.2,3; 10.1); as muitas provações e aflições que lhe advieram por causa do seu trabalho para Cristo (4.8-12; 11.23-29; 1 Co 4.11-13); seu pesar e angústia de espírito, por causa do pecado tolerado dentro da igreja (2.1-3; 12.21; 1 Co 5.1,2; 6,8-10); sua “muita tribulação e angústia do coração”, ao escrever àqueles que abandonavam a Cristo e ao evangelho verdadeiro (2.4); seus gemidos, por causa do desejo de estar com Cristo e livre do pecado e das preocupações deste mundo (5.1-4; cf. Fp 1.23); suas tribulações “por fora e por dentro”, por causa de seu compromisso com a pureza moral e doutrinária da igreja (7.5; 11.3,4); o “cuidado” que o oprimia cada dia, por causa do seu zelo por “todas as igrejas” (v.28); o desgosto consumidor que sentia quando um cristão passava a viver em pecado (v.29); o desgosto de proferir um “anátema” sobre aqueles que pregavam outro evangelho, diferente daquele revelado no NT (Gl 1.6-9); suas “dores de parto” para restaurar os que caíam da graça (Gl 4.19; 5.4); seu choro por causa dos inimigos da cruz de Cristo (Fp 3.18); sua “aflição e necessidade”, pensando naqueles que podiam decair da fé (1 Ts 3.5-8); suas perseguições por causa da sua paixão pela justiça e pela piedade (2 Tm 3.12); sua lastimável condição ao ser abandonado pelos crentes da Ásia (2 Tm 1.15); e seu apelo angustiado a Timóteo para que este guarde fielmente a fé genuína, ante a apostasia vindoura (1 Tm 4.1; 6.20; 2 Tm 1.14). Nesta era, portanto, Cristo sofre com seu povo e em favor do seu povo, devido à tragédia do pecado no mundo (cf. Mt 25.42-45; Rm 8.22-26). Nosso sofrimento não é primeiramente motivado por desobediência, mas constantemente causado por Satanás, pelo mundo e pelos falsos crentes, à medida que participamos da causa de Cristo[7].
SINÓPSE DO TÓPICO (3)
Os propósitos da vocação de Paulo era que ele conhecesse a vontade divina, se tornasse uma testemunha e sofresse a favor de Cristo e do evangelho.
(III. CONCLUSÃO)
O corpo de Saulo fica marcado para sempre; com orgulho exibiria essas marcas por haverem-no introduzido numa comunhão mais profunda com o Cristo e com os que foram chamados a sofrer pela fé. Paulo já havia sido escolhido por Deus desde o ventre de sua mãe. No entanto, Jesus esperou o tempo certo, depois que ele perseguiu tanto os cristãos, para mostrar-lhe o seu poder e o quanto era necessário padecer pelo Seu nome. Transformado, tornou-se missionário entre os gentios, tornando-se o principal representante da nova religião revelada. Seu ministério entre os gentios, suas viagens missionárias e as epístolas que escreveu capacitam-no como o maior herói que do cristianismo.
Fonte: ebdweb
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