Texto Básico: Neemias 8:1-18
“E Esdras, o sacerdote, trouxe a Lei perante a congregação […] E leu nela […] desde a alva até ao meio-dia, perante homens, e mulheres, e sábios; e os ouvidos de todo o povo estavam atentos ao livro da Lei“(Ne 8:2,3).
INTRODUÇÃO
Os capítulos 8 a 10 de Neemias descrevem um dos maiores avivamentos do Antigo Testamento e apontam vários instrumentos fundamentais para um avivamento e renovação espirituais; são eles: a Palavra de Deus(8:1-8), a oração(8:6), a confissão de pecados(cap.9), um coração quebrantado e contrito(8:9), renúncia às práticas pecaminosas da sociedade contemporânea(9:2) e renovação do compromisso de andar segundo a vontade de Deus e de fazer da Palavra de Deus a nossa regra de fé e prática(10:29). Ressalte-se que não há possibilidade alguma de avivamento espiritual sem que se tenha o devido cuidado e a prioridade no ensino da Palavra de Deus. Os avivamentos ocorridos no Antigo e no Novo Testamento, bem como ao longo da história da Igreja, só tiveram resultados duradouros quando começaram e prosseguiram sob o ensino da Palavra de Deus.
Nesta aula, estudaremos o avivamento ocorrido em Israel sob a liderança de Neemias. Tal avivamento só foi possível porque houve o ensino e a compreensão da Lei do Deus Jeová. Aliás, a restauração da autoridade da Palavra de Deus sobre o povo foi a maior reforma que Neemias implementou em Jerusalém; sem essa restauração, Jerusalém seria absolutamente vulnerável.
Lamentavelmente, em nossos dias, vivemos a predominância de uma concepção sem qualquer base bíblica, qual seja, a de que avivamento se confunde com prevalência de manifestações sobrenaturais e que o crente avivado é aquele que participa de tais ambientes, onde pouco ou nenhum espaço é dado ao ensino da Palavra de Deus. No entanto, quando abrimos a Bíblia Sagrada, não vemos um só caso de avivamento que não esteja centrado, baseado, fundamentado no ensino das Escrituras. Portanto, Avivamento sem o ensino e a prática das Escrituras Sagradas é apenas movimento passageiro que não dá frutos.
“E chegado o sétimo mês, e estando os filhos de Israel nas suas cidades, todo o povo se ajuntou como um só homem, na praça, diante da Porta das Águas; e disseram a Esdras, o escriba, que trouxesse o livro da Lei de Moisés, que o Senhor tinha ordenado a Israel“(Ne 8:1). O avivamento do povo de Israel teve inicio mediante um autêntico retorno à Palavra de Deus e um esforço decisivo para a compreensão da sua mensagem (Ne 8:8).
1. Reunidos para ouvir a Lei. Uma das principais evidências de um avivamento bíblico entre o povo de Deus é a grande fome de ouvir e ler a Palavra de Deus. No primeiro dia do sétimo mês, todo o povo se reuniu para uma convocação solene, a Festa das Trombetas (cf Lv 23:24,25), que simbolizava o ajuntamento de Israel dentre as nações gentílicas. Esdras subiu numa plataforma especialmente construída para a ocasião e, ao lado de treze levitas, leu por várias horas o que havia no Livro da Lei de Moisés. O povo demonstrou profundo respeito pela Palavra de Deus (ler 8:5,6), à medida que os levitas mencionados no versículo 7 do capitulo 8 forneciam explicações sobre o que estava sendo dito (Ne 8:8). Uma vez que o aramaico substituiu o hebraico após o cativeiro, era necessário explicar ao povo muitas palavras hebraicas presentes nas Escrituras.
Citando o rev. Hernandes Dias Lopes, o ajuntamento do povo para ouvir a Palavra de Deus naquela ocasião tem quatro características distintas que devem servir de modelo para a igreja contemporânea:
a) Foi espontâneo (8:1). Deus moveu o coração do povo para reunir-se para buscar a Palavra de Deus. Eles não se reuniram ao redor de qualquer outro interesse. Hoje o povo busca resultados e não a verdade; coisas materiais e não a Deus; benefícios pessoais e não a Palavra de Deus. Querem as bênçãos de Deus, mas não o Deus das bênçãos. Têm fome de prosperidade e sucesso, mas não têm fome da Palavra.
b) Foi coletivo (8:2,3). Todo o povo, homens e mulheres, reuniram-se para buscar a Palavra de Deus. Ninguém ficou de fora. Pobres e ricos, agricultores e nobres, homens e mulheres, jovens e crianças. Eles tinham um alvo em comum: buscar a Palavra de Deus. Precisamos ter vontade de nos reunir não apenas para ouvirmos cantores famosos ou pregadores conhecidos, mas reunirmo-nos para ouvir a Palavra de Deus. O centro do culto é a pregação da Palavra de Deus.
c) Foi harmonioso (8:1). “Todo o povo se ajuntou como um só homem” (8:1). Não havia apenas ajuntamento, mas comunhão. Não apenas estavam perto uns dos outros, mas eram unidos de alma. A união deles não era em torno de encontros sociais, mas em torno da Palavra de Deus.
d) Foi proposital (8:1): “[…] e disseram a Esdras, o escriba, que trouxesse o livro da lei de Moisés, que o Senhor tinha prescrito a Israel” (8:1). O propósito do povo era ouvir a Palavra de Deus. Eles tinham sede da Palavra. Eles tinham pressa de ouvir a Palavra. Não era qualquer novidade que os atraía, mas a Palavra de Deus.
Séculos depois desses acontecimentos e vivendo em culturas e línguas completamente deferentes, os pregadores e professores bíblicos de hoje tem uma tarefa muito maior para explicar as Escrituras Sagradas. Esse método de Esdras e dos levitas tem sido abençoado por Deus ao longo dos séculos e continua a ser um instrumento eficaz para levar os cristãos à maturidade espiritual. Pregações textuais e temáticas podem, com frequência, ser inspiradoras e úteis, porém seus benefícios espirituais não se comparam aos resultados alcançados por ministérios semelhantes ao de Esdras. Abençoados são os cristãos que tem o privilégio de ouvir pregações expositivas sobre as Escrituras.
2. O povo estava atento à leitura da Lei - “E leu nela, diante da praça, que está diante da Porta das Águas, desde a alva até ao meio-dia, perante homens, e mulheres, e entendidos; e os ouvidos de todo o povo estavam atentos ao livro da Lei“(Ne 8:3). De pé sobre um púlpito de madeira, durante sete dias, seis horas por dia, Esdras leu o livro da lei(8:3,18). O povo permaneceu desde a alva até ao meio-dia, sem sair do lugar (8:7), com os ouvidos atentos. Não havia dispersão, distração nem enfado. Eles estavam atentos não apenas ao pregador, mas sobretudo ao livro da lei. Não havia esnobismo nem tietagem, mas fome da Palavra. Eles queriam Pão do Céu, a Verdade de Deus. Só o Pão nutritivo da Verdade pode saciar a fome daqueles que anseiam por Deus.
3. O culto de doutrina. Nestes nossos dias, é de se notar um certo “fastio” ou cansaço da congregação concernente à forma com que alguns líderes expõem a Palavra de Deus. Em muitos santuários, há líderes que apresentam a Palavra de Deus sem o devido preparo, sem se preocuparem em estudar de forma correta as Escrituras e sem aplicá-la à vida de seus ouvintes. O resultado desse descaso por parte desses líderes é a baixa assiduidade aos cultos de doutrina e ensino, onde deveria a igreja estar reunida para aprender a Palavra de Deus. Esses líderes responsabilizam o povo como que se este fosse o vilão que despreza a Palavra, mas na verdade, tais líderes é que deixaram de apresentar a Palavra de Deus como Palavra que transforma o ser humano. Quando a Palavra é ministrada e ensinada com unção, o povo não sente “fastio” dela, pois Deus sempre tem algo novo a nos trazer por meio das Escrituras. Em Neemias lemos que os líderes leram a Lei de Deus, explicaram o sentido dela e à medida que era lida, era entendida (Ne 8:8). O que faz diferença em nossa vida é o que aprendemos.
Ensinar é explicar o texto. A mensagem é baseada na exegese, ou seja, tirar do texto, o que está no texto. Não podemos impor ao texto nossas idéias; isso é eisegese.
O avivamento liderado por Neemias e Esdras foi marcado por oração e adoração, mas principalmente pelo ensino da Palavra de Deus. O livro da Lei foi lido e explicado, de forma que o avivamento chegou. Desde o Antigo Testamento, sempre vemos que os momentos de avivamento do povo de Deus são caracterizados por uma busca da lei do Senhor, por uma renovação no interesse e na observância das Escrituras. Todo e qualquer movimento que menosprezar a Palavra de Deus, que não der espaço ao estudo e ao ensino da Palavra, não é um verdadeiro avivamento espiritual, mas um movimento místico, que se misturará facilmente com manifestações sobrenaturais de procedência maligna.
Infelizmente, vivemos dias difíceis, dias em que muitos dentre os crentes se dizem ser, como nos afirmam as Escrituras, terão comichões nos ouvidos e não sofrerão mais a sã doutrina (2Tm 4:3), ou seja, não quererão se dobrar aos ensinos da Palavra de Deus e o distorcerão, a fim de poderem praticar os seus pecados, construindo para si doutores que justifiquem seus pecados e iniquidades. São dias difíceis, mas nós, que conhecemos a Palavra, que fomos ensinados na boa doutrina, sabendo que estas coisas iriam mesmo acontecer, só devemos ser cautelosos e, sobretudo, submissos aos ensinos do Senhor, pois a doutrina é essencial à vida cristã. As Escrituras devem guiar a Igreja, sempre! A primeira tentação do diabo no Éden não foi sobre sexo ou dinheiro, mas suscitar dúvidas acerca da Palavra de Deus.
1. Homens preparados para o ensino - “E Jesua, e Bani, e Serebias, e Jamim, e Acube, e Sabetai, e Hodias, e Maaséias, e Quelita, e Azarias, e Jozabade, e Hanã, e Pelaías, e os levitas ensinavam ao povo na Lei; e o povo estava no seu posto“(Ne 8:7).
Vemos aqui neste versículo que Neemias e Esdras designaram instrutores para ensinar a Palavra de Deus em todas as cidades de Judá. Até os levitas que serviam no Templo foram envolvidos neste mister (11:1). Estes líderes tinham plena consciência de que a base do avivamento espiritual é o ensino da Palavra de Deus e a sua obediência.
Para cumprir a tarefa do ensino da Palavra, é preciso, em primeiro lugar, que a Igreja se veja dotada de homens e mulheres preparados para ensinar. Um dos grandes problemas que temos visto nas igrejas locais da atualidade é o despreparo das pessoas para ensinarem a Palavra de Deus. Quando falamos em preparo, não estamos nos referindo à escolaridade ou ao conhecimento secular de alguém, mas, sobretudo, ao seu conhecimento bíblico, à sua capacidade de manejar bem a Palavra da Verdade (1Tm 2:15).
Atualmente temos visto que, à medida que a escolaridade nas igrejas evangélicas sobe o conhecimento bíblico decresce. É válido ressaltar que décadas passadas, grande parte dos obreiros das Assembléias de Deus era composta de pessoas iletradas, semi-alfabetizados, mas tinham profundo conhecimento bíblico; atualmente, estamos repletos de obreiros dotados de diplomas universitários, mas que, biblicamente, são completamente analfabetos. O que é isto? É falta de estudo da Palavra de Deus!
O descaso com as Escolas Bíblicas Dominicais por parte de muitos pastores e dirigentes de igrejas locais, eles próprios eternos ausentes destas reuniões, leva, muitas vezes, à entrega das classes a pessoas despreparadas, que mal sabem para si, que dirá para os outros. Estamos muito longe do modelo bíblico, em que os apóstolos, apesar de serem os principais nomes da igreja, tomavam para si a responsabilidade do ensino da Palavra(cf At 6:2,4), ensino este que era prioritário, tanto que a primeira coisa que Lucas faz notar na igreja primitiva é de que eles “perseveravam na doutrina dos apóstolos” (At 2:42).
2. O líder deve ser apto para ensinar. Entre os crentes sempre há a necessidade de ensino e esta oportunidade não deve de forma alguma ser negligenciada pelo líder; ele deve procurar aproveitá-la ao máximo possível. O apóstolo Paulo escrevendo a Timóteo afirma que o verdadeiro líder deve estar apto para ensinar (1Tm 3:2). Ele deve ensinar a outros e treinar líderes (Tt 1:9). Neemias 8:13 indica que depois do trabalho de massas do dia anterior, Esdras promove uma oficina intensiva de estudo da Palavra para os líderes.
A maior necessidade da igreja é de homens que conheçam, vivam e ensinem a Palavra de Deus com aptidão. O ensino da Palavra de Deus é a tarefa mais importante que existe no mundo. As pessoas não buscam alguém para lhes contar bonitas experiências, mas procuram um fiel e apto expositor das Escrituras.
3. A Bíblia é a Palavra de Deus. Esta é a definição canônica mais curta da Bíblia. Tudo o que Deus tem preparado para o homem, bem como o que Ele requer do homem, e tudo o que o homem precisa saber espiritualmente da parte dEle quanto a sua redenção e felicidade eterna, está revelado na Bíblia. Tudo o que o homem tem a fazer é tomar a Palavra de Deus e apropriar-se dela pela fé.
Todos os cristãos genuínos reconhecem que a Bíblia é a Palavra de Deus porque ela mesma, diversas vezes, o afirma. “Assim diz o Senhor”, por exemplo, é uma expressão que aparece dezenas de vezes no Antigo Testamento. E mais, o cumprimento exato de tudo quanto nela está desde os primórdios da história da humanidade é a prova irrefutável de que ela é, sem sombra de dúvida, a Palavra de Deus, a revelação de Deus aos homens. Muitos têm tentado, ao longo dos séculos, levantar-se contra o divino Livro, mas todos têm fracassado em seu intento de calá-lo ou desacreditá-lo, precisamente porque não se trata de uma obra feita pela mente, vontade ou imaginação humana, mas tem sua origem, sua concepção e o zelo pelo seu cumprimento diretamente em Deus.
Podemos afirmar que a Bíblia é a Palavra de Deus entre outros motivos, porque: (1) A própria Bíblia faz menção da sua inspiração; (2) O Espírito Santo testifica em nosso íntimo que ela é a Palavra de Deus; (3) Nenhum outro livro apresenta tantos testemunhos a respeito da transformação de uma pessoa; muitas conversões foram feitas por meio da leitura da Bíblia, demonstrando o poder da Palavra; (4) A unidade da Bíblia: seus sessenta e seis livros apresentam a pessoa de Jesus Cristo; o Antigo Testamento falava da vinda do Messias e as suas profecias se cumpriram no Novo Testamento; o próprio Jesus destacou ser Ele o tema do Antigo Testamento (Mt 5:17; Lc 24:27:44; João 5:39; Hb 10:7).
Certas características escritas na Bíblia a levaram ser considerada o “Livro de Deus”:
* Ela é pura -”Toda palavra de Deus é pura; ele é escudo para os que nele confiam.” (Pv 30:5).
* Ela é valiosa - “Aceitai o meu ensino, e não a prata, e o conhecimento, antes do que o ouro escolhido. Porque melhor é a sabedoria do que jóias, e de tudo o que se deseja nada se pode comparar com ela.”(Pv 8:10-11).
* Ela é a verdade - “As tuas palavras são em tudo verdade desde o princípio, e cada um dos teus justos juízos dura para sempre“(Sl 119:160).
* Ela é eterna - “Para sempre, ó Senhor, está firmada a tua palavra no céu” (Sl 119:89).
* Ela é imutável - “A palavra do Senhor, porém, permanece eternamente. Ora, esta é a palavra que vos foi evangelizada“(1 Pe 1:25).
* Ela é profética - “porque nunca jamais qualquer profecia foi dada por vontade humana; entretanto, homens santos falaram da parte de Deus, movidos pelo Espírito Santo“(2 Pe 1:21).
* Ela é perfeita e fiel - “A lei do Senhor é perfeita e restaura a alma; o testemunho do Senhor é fiel e dá sabedoria aos simples” (Sl 19:07).
* Ela é Lâmpada - “Lâmpada para os meus pés é a Tua Palavra e Luz para o meu caminho“(Sl 119:105).
Se a Bíblia não fosse a inspirada Palavra de Deus, por que tantas pessoas arriscaram suas vidas, para preservar as Escrituras? Por que Deus levantou inúmeras pessoas para traduzir a Bíblia e esses servos não se importaram de sacrificar suas vidas para que a Palavra fosse conhecida? Eles tinham plena confiança de que valia a pena dar sua vida por um livro, não por um livro qualquer, mas pela inspirada e inerrante Palavra de Deus! Nenhum livro fala ao coração humano como este!
III. O ENTENDIMENTO DA PALAVRA GEROU O AVIVAMENTO
“Então, todo o povo se foi a comer, e a beber, e a enviar porções, e a fazer grandes festas, porque entenderam as palavras que lhes fizeram saber“(Ne 8:12).
Por meio de Esdras e dos levitas, vemos o que deve acontecer sempre que a Palavra de Deus for ministrada aos fieis. Muitos dos que voltaram do exílio, já não entendiam o hebraico, uma vez que o seu idioma era agora o aramaico. Por isso, quando as Escrituras eram lidas em hebraico, um grupo de homens dedicados fazia a interpretação para o aramaico, de tal maneira que os fiéis pudessem compreendê-las e aplicá-las à sua vida. Deste modo, o povo se regozijou “porque entenderam as palavras que lhes fizeram saber“(8:12). A explicação era lógica, para que todos entendessem. O reavivamento não foi um apelo às emoções, mas um apelo ao entendimento.
CONCLUSÃO
Concluindo esta aula afirmamos que não há avivamento autêntico e genuíno sem que se recorra às Escrituras. Qualquer movimento espiritual que dispense o estudo das Escrituras, que dispense a meditação na Palavra do Senhor, que se faça de reuniões onde há muita oração, muito louvor, muito sobrenaturalismo, muito “reteté” e nenhuma ou pouquíssima exposição da Palavra de Deus é algo que não tem origem em Deus e que não pode produzir vida espiritual alguma. Para que tenhamos um verdadeiro avivamento, para que nos santifiquemos e nos tornemos fortes espiritualmente, é mister que sejamos iluminados e a única luz que existe é a Palavra de Deus (Sl 119:105). Portanto, se quisermos igrejas avivadas, comecemos pela Palavra de Deus. Sem ela, não pode haver avivamento.
FONTE: EBDWEB
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