"Tem cuidado de ti
mesmo e da doutrina. Continua nestes deveres; porque, fazendo assim, salvarás
tanto a ti mesmo como aos teus ouvintes".
No presente artigo
desejo, com a devida vênia, deixar com meus irmãos mais jovens no ministério
alguns pensamentos sobre a filosofia de se pregar o evangelho de modo a
conseguir a salvação de almas. Esses pensamentos são o resultado de muito
estudo, muita oração pela orientação divina e da experiência prática de muitos
anos.
A admoestação contida no
texto bíblico que encima o presente artigo, interpreto-a como fazendo
referência ao assunto, à ordem e à maneira de se pregar.
O problema é este: como
havemos de ganhar integralmente as almas para Cristo? Sem dúvida teremos de
conseguir que se desprendam de si mesmos.
1. Os homens são livres agentes morais: racionais e
responsáveis.
2. Estão em rebelião contra Deus, totalmente indispostos,
inteiramente tomados de preconceitos, e comprometidos contra Deus.
3. Estão entregues à auto-satisfação como objetivo de sua
vida.
4. Esse estado é (o que se chama em linguagem teológica) a
depravação moral, ou seja, a fonte do pecado dentro de si mesmos, da qual
fluem, por uma lei natural, todas as suas práticas pecaminosas. Esse estado
voluntário de entrega é o "coração ímpio". É esse que precisa de uma
transformação moral radical.
5. Deus é infinitamente benfazejo, e os pecadores incrédulos
são egoístas e radicalmente opostos a Deus. Seu compromisso consigo mesmos, de
satisfazerem os seus próprios apetites e pendores, chama-se em linguagem
bíblica "a inclinação da carne" ou "pendor da carne", que
"é inimizade contra Deus".
6. Essa inimizade é voluntária, e só pode ser vencida pela
Palavra de Deus, que é eficaz através do ensino do Espírito Santo.
7. O evangelho serve a esse fim, e quando é sabiamente
apresentado, podemos esperar confiadamente a cooperação eficaz do Santo
Espírito. Isso está implícito na ordem de Jesus: "Ide, portanto, fazei
discípulos de todas as naçães; ...e eis que estou convosco todos os dias até à
consumação do século."
8. Se não tivermos sabedoria, se formos incoerentes e
antifilosóficos e se não seguirmos uma ordem natural na apresentação do
evangelho, não temos direito de esperar pela cooperação divina.
9. No mister de ganhar almas, como em tudo mais, Deus opera
através de leis naturais e de acordo com elas. Portanto, se quisermos ganhar
almas, havemos de adaptar sabiamente os meios a esse fim. As verdades que
apresentarmos, e a ordem da sua apresentação hão de ser adaptadas às leis
naturais da mente, do pensamento e do funcionamento mental. Uma falsa filosofia
mental poderá desviar-nos grandemente, levando-nos muitas vezes a trabalhar
ignorantemente contra a operação do Espírito Santo.
10. Os pecadores devem ser convencidos da sua inimizade. Não
conhecem a Deus, e por conseguinte ignoram muitas vezes a oposição do seu
próprio coração contra ele. "Pela lei vem o pleno conhecimento do
pecado", porque é pela lei que o pecador adquire sua primeira idéia verdadeira
de Deus. Pela lei, ele primeiro aprende que Deus é perfeitamente born e oposto
a todo o egoísmo. Essa lei, pois, deve ser exposta em toda sua majestade contra
o egoísmo e a inimizade do pecador.
11. Essa lei leva consigo a convicção irresistível da sua
justiça, da qual nenhum agente moral pode duvidar.
12. Todos os homens sabem que cometeram pecado, porém nem todos
estão convictos, nem da culpabilidade, nem das más conseqüências que o pecado
merece. Na sua maioria são descuidados, não sentem o fardo do pecado nem os
horrores e terrores do remorso: não têm senso de condenação nem de estarem
perdidos.
13. Sem convicção, porém, não podem entender nem apreciar a
salvação do evangelho. Ninguém pode inteligentemente e de coração, pedir ou
aceitar perdão enquanto não percebe como é real e justa a sua condenação.
14. É absurdo, portanto, supor que um pecador indiferente, sem
convicção de seu pecado, possa aceitar inteligente e reconhecidamente e perdão
que o evangelho oferece, enquanto não aceitar a justiça de Deus em condená-lo.
A conversão a Cristo é uma tranformação inteligente. Por isso a convicção do
merecimento da condenação tem que preceder a aceitação da misericórdia, pois
sem a convicção o pecador não compreende sua necessidade de misericórdia. É natural
que o oferecimento seja rechaçado. O evangelho não é nenhuma boa-nova para o
pecador indiferente e sem convicção de pecado.
15. A espiritualidade da lei deve ser aplicada inexoravelmente
à consciência até que se aniquile a presunção do pecador de ser justo, e ele se
coloque, mudo e contrito, diante de um Deus santo.
16. Em alguns homens essa convicção já está madura, e o
pregador pode logo apresentar a Cristo, na esperança de que seja aceito; em
tempos normais, porém. tais casos são excepcionais. A grande massa dos
pecadores é indiferente e não tem convicção do seu pecado. Se presumirmos que
estão convictos e preparados para receber a Cristo, insistindo com os pecadores
a que o aceitem imediatamente, estamos iniciando a obra pelo fim e tornando
ininteligível o nosso ensino. E semelhante processo acabará demonstrando-se
errado, sejam quais forem as aparências e profissões do momento. O pecador
poderá na verdade alcançar esperança através de tais ensinos: mas, a não ser
que o Espírito Santo supra algo que o pregador deixou de fornecer,
verificar-se-á falsa a esperança. É mister que sejam apresentados todos os elos
essenciais da verdade.
17. Depois que a lei tiver feito sua obra, aniquilando a
presunção do pecador quanto à sua justiça e deixando-o sem outro recurso senão
a aceitação da misericórdia, deve-se levar o pecador a compreender a situação
delicada e o perigo de se dispensar a execução da penalidade quando foi
transgredido o preceito da lei.
18. Precisamente nesta altura deve-se levar o pecador a compreender
que ele não deve concluir, com base na benevolência de Deus, que este pode com
justiça perdoá-lo. Ao contrário, a não ser que a justiça pública seja
satisfeita, a lei de benevolência universal proíbe o perdão dos pecados. Se não
for levada em consideração a justiça pública no exercício da misericórdia, o
bem público será sacrificado em benefício do indivíduo. Isso, Deus jamais fará.
19. Esse ensino obrigará o pecador a procurar alguma forma de
satisfazer a justiça pública.
20. Apresentamos-lhe agora a obra expiatória de Cristo como
fato revelado, limitando suas esperanças a Cristo como seu próprio holocausto.
Ponhamos em destaque a verdade revelada de que Deus aceitou a morte de Cristo
em lugar da morte do pecador, e que isso deve ser recebido com base no
testemunho do próprio Deus.
21. Esmagado até contrição pelo poder convincente da lei, a
revelação do amor de Deus manifestado na morte de Cristo há de gerar no pecador
o sentimento de desgosto de si próprio e aquela tristeza segundo Deus, que a
ninguém traz pesar. Diante dessa revelação, o pecador jamais se perdoa. Deus é
santo e grandioso; ele, um pecador, salvo pela graça soberana. Isso poderá ser
apresentado com maior ou menor precisão de acordo com as pessoas visadas, seu
grau de inteligência, de capacidade para pensar e de cuidado para entender.
22. Não foi por acidente que a dispensação da lei antecedeu à
dispensação da graça; mas está na ordem natural das coisas, de acordo com leis
mentais preestabelecidas, e sempre a lei há de preparar o caminho do evangelho.
A negligência nesses pontos poderá levar a falsas esperanças, à introdução de
um falso padrão de experiência cristã e a uma igreja cheia de falsos
convertidos. Isso o tempo demostrará.
23. O pregador deverá dirigir a verdade às pessoas presentes,
aplicando-a de modo tão pessoal que cada uma sinta que a mensagem é para ela. É
como se tem dito muitas vezes de certo pregador: "Ele não prega, ele
explica o que outros pregam, e parece que fala diretamente a mim".
24. Esse método prenderá a atenção e levará os ouvintes a
perderem de vista a extensão do sermão. Ficarão cansados de ouvir se não
sentirem interesse pessoal no que dizemos. Conseguir o interesse pessoal do
ouvinte no que se diz, é condição indispensável à sua conversão. Uma vez
despertado o interesse pessoal, e mantida a atenção do ouvinte, dificilmente se
queixará do tempo da pregação. Em quase todos os casos em que se reclama da
demora do sermão, é porque não interessamos pessoalmente o ouvinte naquilo que
dizemos.
25. Se deixamos de interessá-los pessoalmente, ou é porque não
nos dirigimos pessoalmente ao ouvinte, ou porque nos falta unção e sinceridade,
clareza e força, ou alguma outra cousa que devíamos possuir. O que é
indispensável, é fazermos com que sintam que tanto nós quanto Deus visamos a
eles.
26. Não devemos pensar que basta a piedade sincera para nos dar
êxito em ganhar almas. Essa é apenas uma das condições do sucesso. Há de haver
também bom senso, há de haver sabedoria espiritual para adaptar os meios ao
fim. Assunto, maneira, ordem, tempo e lugar, todos precisam ser sabiamente
ajustados ao fim que temos em vista.
27. Deus poderá, às vezes, converter almas por intermédio de
homens que não são espirituais, quando possuem aquela sagacidade natural que os
habilita a adaptar os meios a esse fim; mas a Bíblia nos apóia ao afirmarmos
que esses são casos excepcionais. Sem essa sagacidade e adaptação dos meios ao
fim, o homem espiritual deixará de ganhar almas para Cristo.
28. Os incrédulos necessitam de instrução de acordo com a medida
da sua inteligência. Umas poucas verdades simples, quando sabiamente aplicadas
e iluminadas pelo Espírito Santo, converterão crianças a Cristo. Eu disse
sabiamente aplicadas, pois os meninos também são pecadores e necessitam da
aplicação da lei, qual pedagogo, para conduzi-los até Cristo a fim de serem
justificados pela fé. Verificar-se-á, mais cedo ou mais tarde, que algumas
supostas conversões a Cristo são espúrias, pois houve omissão do trabaiho
preparatório da lei, e Cristo não foi abraçado como Salvador do pecado e da
condenação.
29. Pecadores instruídos e cultos, que estão sem convicção e
céticos de coração, precisam de muito mais extensa e completa aplicação da
verdade. Os profissionais necessitam que a rede do evangelho seja lançada toda
em volta deles, sem haver nenhum buraco pelo qual possam escapar. Quando assim
tratados, têm tanto maior probabilidade de se converterem, quanto maior for o
grau da sua verdadeira inteligência. Tenho verificado que uma série de
conferências dirigidas a advogados e adaptadas a seus modos de pensar e
raciocinar, quase sempre pode convertê-Ios.
30. Para sermos bem sucedidos em ganhar almas, precisamos ser
obervadores, estudar o caráter das pessoas, aplicar os fatos da experiência, da
observação e da revelação às consciências de todas as classes.
31. É muito importante que sejam explicados os termos
empregados. Antes da minha conversão, não ouvia inteligivelmente explicados os
termos: arrependimento, fé, novo nascimento, conversáo. Arrependimeto era
descrito como sendo um sentimento. Fé era apresentada como ato ou estado
intelectual e não como ato voluntário de confiança. Regeneração era uma mudança
física da natureza, produzida pelo poder direto do Espírito Santo, ao invés de
uma mudança voluntária do propósito fundamental da alma, produzida pela
iluminação espiritual do Espírito Santo. Até mesmo a conversão era representada
como obra do Espírito Santo de tal modo a ocultar a verdade de que é ato do
próprio pecador, sob a influência do Espírito Santo.
32. Devemos insistir em que o arrependimento importa na
renúncia voluntária e efetiva de todo o pecado: que é mudança radical de
atitude para com Deus.
33. A fé que salva é a confiança do coração em Cristo: ela
opera pelo amor, purifica o coração e vence o mundo: não é fé salvadora aquela
que não tiver esses atributos.
34. O pecador terá que exercer determinados atos mentais e
precisa compreender quais são. O erro da filosofia mental apenas embaraça, e
poderá ser um engano fatal para a alma. Muitas vezes os pecadores são encaminhados
em pista errada. lnsiste-se com eles para que sintam, ao invés de exercerem os
atos requeridos da vontade. Antes da minha conversão, jamais recebi de alguém
uma idéia inteligível dos atos mentais que Deus exigia de mim.
35. A capacidade do pecado em enganar as almas, torna-as
excessivamente sujeitas à ilusão: por isso compete, a quem ensina, o dever de
rebuscar as moitas e de procurar em todos os cantos e fendas onde haja
possibilidade de uma alma ter achado falso refúgio. Sejamos tão perseverantes e
discriminadores que se torne impossível que o interessado venha a nutrir uma
esperança falsa.
36. Não tenhamos receio de insistir. Não apliquemos, por falsa
piedade, o esparadrapo onde houver necessidade da sonda. Não temamos desanimar
o pecador convicto, fazendo-o voltar atrás, pelo fato de sondá-lo até ao fundo.
Se o Espírito Santo estiver trabalhando nele, quanto mais esquadrinharmos e
pesquisarmos, mais impossível se tornará para a alma voltar ou descansar no
pecado.
37. Se quisermos salvar a alma, não poupemos a mão direita, o
olho direito, ou qualquer ídolo querido: cuidemos do abandono de toda forma de
pecado. Insistamos na plena confissão do mal a todos que tiverem direito à
confissão. Insistamos na plena restituição, até onde for possível, a todas as
partes prejudicadas. Não fiquemos aquém dos ensinos expressos de Cristo nessa
matéria. Seja quem for o pecador, façamo-lo compreender claramente que, se não
abandonar tudo que tem, não pode ser discípulo de Cristo. É necessária inteira
e universal consagração a Deus de todos os poderes do corpo e da mente, de toda
a propriedade, possessões, caráter e influência. Deve haver total abandono a
Deus de todo o direito a si próprio ou a qualquer outra cousa, como condição de
sua aceitação.
38. Compreendamos, e se possível façamos o pecador compreender,
que tudo isso faz parte da verdadeira fé, do verdadeiro arrependimento. e que a
real consagração abrange todos esses fatores.
39. Devemos lembrar constantemente ao pecador que é com um
Cristo pessoal que ele está tratanto: que Deus em Cristo está buscando a sua
reconciliação com ele, e que a condição dessa reconciliação é que o pecador
submeta sua vontade e todo o seu ser a Deus -- que não "deixe para trás
nem um casco".
40. É importante assegurar-lhe que "Deus nos deu a vida
eterna, e essa vida está no seu Filho"; que "Cristo nos foi feito
sabedoria, justiça, santificação e redenção: e que, do princípio ao fim, ele
achará toda a sua salvação em Cristo.
41. Depois que o pecador recebe inteligentemente toda essa doutrina
e o Cristo nela revelado. ele deve perseverar até o fim, e esta é a última
condição da sua salvação. Eis aqui uma importante tarefa: impedir que o pecador
venha a recair e assegurar sua permaente santificação e confirmação para a
glória eterna.
42. Será o caso que o declínio espiritual dos conversos tão
comum não indica um grave defeito nas mensagens do púlpito? Por que será que
tantos conversos esperançosos, em poucos meses de aparente conversão, perdem o
primeiro amor, perdem todo o fervor na religião, negligenciam o dever e
continuam cristãos de nome, porém mundanos no espírito e na vida?
43. Um pregador realmente bem sucedido deve não apenas ganhar
almas para Cristo, mas também conservá-las. Deve conseguir não somente sua
conversão, mas também sua permanente santificação.
44. Na Bíblia não há nada mais expressamente prometido nesta
vida do que a santificação permanente. 1 Ts 5.23.24: "O mesmo Deus da paz
vos santifique em tudo: e o vosso espírito, alma e corpo sejam conservados
íntegros e irrepreensíveis na vinda de nosso Senhor Jesus Cristo. Fiel é o que
vos chama, o qual também o fará." Essa é indubitavelmente a oração dos
apóstolos pela santificação permanente nesta vida, com a promessa explícita de
que aquele que nos chamou o fará.
45. Aprendemos pelas Escrituras que, "tendo nele
crido" somos, ou podemos ser, selados com o Santo Espírito da promessa, e
que esse selo é "o penhor da nossa herança". Ef 1.13.14: "Em
quem também vós, depois que ouvistes a palavra da verdade, o evangelho da nossa
salvação, tendo nele também crido, fostes selados com o Santo Espírito da
promessa, o qual é o penhor da nossa herança até o resgate da sua propriedade,
em louvor da sua glória." Esse selo, esse penhor da nossa herança, é que
assegura a nossa salvação. Assim, em Ef 4.30, o apóstolo diz: "Não
entristeçais o Espírito de Deus. no qual fostes selados para o dia da
redenção." E em 2 Co 1.21.22 o apóstolo diz: "Mas aquele que nos
confirma convosco em Cristo, e nos ungiu, é Deus, que também nos selou e nos
deu o penhor do Espírito em nossos corações." Assim somos confirmados em
Cristo e ungidos pelo Espírito, como também selados pelo penhor do Espírito em
nossos corações. E isso, é bom lembrar, é uma bénção que recebemos depois de
crer, conforme Paulo nos informou em sua epístola aos efésios, acima citada.
Ora, é da máxima importância que os conversos aprendam a não ficar aquém dessa
santificação permanente, desse selo, dessa confirmação em Cristo pela unção
especial do Espírito Santo.
46. Ora, irmãos, se não conhecermos o que significa isso em
nossa própria experiência, e não conduzirmos os conversos à mesma experiência,
falhamos lamentável e essencialmente em nosso ensino e omitimos a verdadeira
nata e plenitude do evangelho.
47. É importante compreender que, enquanto essa experiência foi
rara entre os pastores, ela será desacreditada pelas igrejas e será quase
impossível, a um pregador isolado dessa doutrina, vencer a incredulidade da sua
igreja. Terão dúvidas a respeito, porque tão poucos pregam ou acreditam nessa
doutrina; explicarão a insistência do pastor dizendo que a sua experiência se
deve a seu temperamento peculiar; assim, deixarão de receber essa unção por
causa da incredulidade. Em tais circunstâncias será muito mais necessário
insistir na importância e no privilégio da santificação permanente.
48. O pecado consiste no pendor da carne, em "fazer a
vontade da carne e dos pensamentos". A santificação permanente consiste na
consagração integral e permanente a Deus. Importa na recusa de se obedecer à
vontade da carne ou dos pensamentos. O batismo ou selo do Espírito Santo
subjuga o poder dos desejos, fortalece e confirma a vontade na resistência ao
impulso do desejo e no propósito permanente de fazer de todo o ser uma oferta a
Deus.
49. Se nos mantivermos em silêncio sobre esse assunto, a
inferência natural é que não cremos nele e, evidentemente, que o desconhecemos
na experiência. Isso fatalmente será uma pedra de tropeço para a igreja.
50. Uma vez que esta é uma doutrina de inegável importância e
claramente ensinada no evangelho, sendo, com efeito, a "banha e
gordura" do evangelho, deixar de ensiná-la é despojá-lo da sua mais rica
herança.
51. O testemunho da igreja, e, em grande parte, do ministério,
sobre esse assunto, tem sido lamentaveImente falho. Essa herança tem sido
retirada da igreja; assim sendo, é de se estranhar que ela se desvie tão
vergonhosamente? O testemunho de relativamente poucos, aqui e ali, que insistem
nessa doutrina, é quase neutralizado pelo contra-testemunho ou silêncio culposo
da grande massa das testemunhas de Cristo.
52. Meus queridos irmãos, são de tal modo amadurecidas as
minhas convicções e profundos os meus sentimentos sobre esse assunto que não
devo ocultar-lhes os meus receios, de que, em muitos casos, é a falta da
experiência pessoal a razão desse grave defeito na pregação do evangelho. Não
digo isso para magoar; longe de mim tal desejo. Não é de admirar que muitos não
tenham essa experiência. Muitas vezes a educação religiosa é deficiente. Os
crentes são levados a desposar outro ponto de vista sobre o assunto. Causas
várias têm contribuido para criar uma predisposição contrária a essa doutrina
bendita do evangelho. Intelectualmente os crentes não têm crido nela; e,
naturalmente, não têm recebido a Cristo em sua plenitude. Talvez essa doutrina
tenha sido uma pedra de tropeço e rocha de escândalo; porém, não permitamos que
o preconceito vença; lancemo-nos sobre Cristo mediante a aceitação presente,
atual, dele como nossa sabedoria, justiça, santificação e redenção. Vejamos se
ele não fará infinitamente mais do que tudo quanto pedimos ou pensamos.
53. Ninguém, seja crente ou incrédulo, deve ser deixado em paz
enquanto tolerar em si qualquer pecado. Se pudermos impedir, não devemos
permitir que ninguém nutra esperanças do céu, enquanto estiver consentindo no
pecado, seja ele qual for. Nossa constante exigência e persuasão devem ser:
"Sede santos, porque Deus é santo." "Sede perfeitos, como é
perfeito vosso Pai que está no céu." Lembremo-nos da maneira pela qual
Cristo concluiu seu memorável Sermão da Montanha. Depois de ter exposto diante
de seus ouvintes aquelas verdades terrivelmente perscrutadoras, e de ter
exigido que fossem perfeitos como é pertfeito o Pai no céu, termina
assegurando-lhes que ninguém pode ser salvo sem receber e obedecer aos seus
ensinos. Ao invés de tentarmos agradar o povo nos seus pecados, devemos
continuamente procurar induzi-los a abandonar esses pecados. Irmãos, façamo-lo
para que não sejam as nossas vestes contaminadas pelo seu sangue. Se seguirmos
esse caminho e pregarmos constantemente com unção e poder, permanecendo na
plenitude da doutrina de Cristo, poderemos esperar, com alegria, salvar tanto a
nós mesmos como aos nossos ouvintes.
FONTE: UMA VIDA CHEIA DO ESPÍRITO SANTO - Charles Finney
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