Texto Básico: Eclesiastes 9:1-6
15/12/2013
“Tudo sucede igualmente a todos: o mesmo sucede ao justo e ao ímpio, ao bom e ao puro, como ao impuro; assim ao que sacrifica como ao que não sacrifica; assim ao bom como ao pecador; ao que jura como ao que teme o juramento” (Ec 9:2).
INTRODUÇÃO
Por que os justos sofrem e prosperam os ímpios? Este é um tema recorrente, e é abordado pelo sábio Salomão em Eclesiastes. Asafe, levita, líder dos músicos do Templo, quase que se desviou dos caminhos de Deus porque “tinha inveja dos soberbos, ao ver a prosperidade dos ímpios” (Sl 73:3). Quando este homem buscou a Deus para entender como é que o ímpio prospera e o justo passa aperto, ele descobriu a seguinte verdade: o ímpio está num lugar escorregadio e que não tem segurança. Diz ele: “então entendi eu o fim deles”; ”certamente tu os pusestes em lugares escorregadios: tu os lanças em destruição”; “como caem na desolação, quase num momento! ficam totalmente consumidos de terrores”; “como faz com um sonho, o que acorda, assim, ó senhor, quando acordares desprezarás a aparência deles” (Sl 73:17-20). Olha o que está falando: eu entendo o fim do ímpio! O ímpio está em lugar escorregadio! Daqui a pouco, foi-se! Daqui a pouco acaba! Daqui a pouco é destruído! Daqui a pouco não se acha mais! A riqueza e o bem-estar dele são momentâneos, são temporais! Ele começa a entender tudo isso! Ele começa a entender a prosperidade do ímpio! Ele começa a entender que a prosperidade do ímpio é ilusória. Ele descobriu, também, que com Deus o justo tem a confiança no futuro. Veja asegunda parte do versículo 24: “guiar-me-ás com o teu conselho, e depois me receberás em glória”. Com Deus posso crer no amanhã. O ímpio não conhece o amanhã. O ímpio não sabe o que acontece. Paulo diz em Romanos 8:18: “porque para mim tenho por certo que as aflições deste tempo presente não são para comparar com a glória que em nós há de ser revelada”. Eu tenho um futuro! O choro pode durar a noite inteira mas a alegria vem ao amanhecer. Há um bom futuro para nós. O nosso momento pode ser de lutas, de adversidades. O nosso momento pode ser de dia mau, mas ele está dizendo aqui: “guiar-me-ás com o teu conselho, e depois me receberás em glória”. Eu tenho a convicção que o final é glorioso, precioso. Seremos medidos pela régua da eternidade e não pelas contingências da vida.
I. OS PARADOXOS DA VIDA
1. Os justos sofrem injustiças. Muitos que cristãos dizem ser, já perguntaram e ainda perguntam, ainda de forma introspectiva: por que os justos sofrem e os ímpios prosperam? Às vezes parece que os ímpios levam vantagens em relação aos crentes. Todavia, a prosperidade do ímpio é só nesta vida, enquanto a do justo é eterna. As lutas e dificuldades da vida são para todos, bons ou injustos, fiéis e infiéis. Deus é misericordioso, Ele faz com que o sol nasça para todos, assim como a chuva caia para os justos e ímpios (Mt 5:45). Sabemos que enquanto vivermos em um corpo corruptível, estaremos sujeito às doenças e as intempéries desta vida. Somente estaremos livres, para todo o sempre, da dor e do sofrimento, no dia em que recebermos um corpo glorificado, não mais sujeito à morte (1Co 15:52). Esta é a nossa viva esperança, e o nosso consolo em meio à dor: saber que um dia viveremos eternamente com o Senhor, livres de lágrimas e dores (Ap 21:4).
A “Teologia da Prosperidade” tem pregado que o bem-estar espiritual é irreconciliável com qualquer espécie de sofrimento. Se o crente sofre é porque não é próspero. Todavia, a vida cristã não é uma sala vip; cristianismo não é um parque de diversões, nem uma colônia de férias. Nós não temos imunidades especiais, temos, sim, imanência sobrenatural, temos a presença de Jesus conosco. O profeta Isaias diz: “quando passares pelas águas, eu serei contigo; quando, pelos rios, eles não te submergirão; quando passares pelo fogo, não te queimarás, nem a chama arderá em ti. porque, eu sou o senhor, teu deus, o santo de Israel”(Isaias 43:2-3a). Deus está conosco no vale da dor. Deus está conosco no leito da enfermidade. Deus está conosco nas agruras, nas intempéries, nas vicissitudes, nas tempestades da vida. O sofrimento é o cálice que o povo de Deus precisa beber, enquanto caminha rumo à glória. A cruz vem antes da coroa, o sofrimento antes da recompensa final. Nós entramos no reino de Deus por meio de muitas tribulações (At 14:22).“muitas são as aflições do justo, mas o Senhor o livra de todas”(Sl 34:19). Amém!
2. Os maus prosperam. “Tudo isso vi nos dias da minha vaidade; há um justo que perece na sua justiça, e há um ímpio que prolonga os seus dias na sua maldade” (Ec 7:15); “Eis que estes são ímpios; e, todavia, estão sempre em segurança, e se lhes aumentam as riquezas “(Sl 73:12).
Estes textos revelam que os justos sofrem e os maus prosperam. Embora pareça-nos paradoxal, é bíblico. O livro de Jó, por exemplo, detalha a luta de um homem que, à primeira vista, reconhecia apenas o princípio da retribuição. Os amigos de Jó compartilhavam da visão de que se alguém sofre ou passa reveses na vida é porque cometeu algum pecado (Jó 4:8). Todavia, o real propósito do livro não é apenas focalizar o sofrimento humano, mas revelar como Deus se relaciona com seus filhos (Jó 42:3). Concordo com o pr. José Gonçalves: “a espiritualidade de uma pessoa não pode ser mediada pelo que ela possui, e sim pelo o que ela é. Ser próspero não significa ‘ter’, mas ‘ser’”. Diz mais: “a régua da eternidade nos medirá tomando como critério a fidelidade a Deus, e não a prosperidade dos homens. A prosperidade bíblica vem como resultado de um relacionamento sadio com Deus (Sl 73:17,27,28)”.
Um fato deve importar ao homem: Deus faz tudo de acordo com a sua vontade sem se importar se os homens gostam ou não, chamem isso de bom ou mau, de justo ou injusto. Deus favorece alguns e desfavorece outros. Logo, a jornada de uns é diferente da de outros, não por sua própria escolha, mas por determinação divina: “Assim, pois, isto não depende do que quer, nem do que corre, mas de Deus, que se compadece” (Rm 9:16).
Ao entrar no santuário de Deus, Asafe pôde entender o fim(Sl 73:17), ou seja, o verdadeiro triunfo, o verdadeiro êxito, que é o de obter a salvação da vida na pessoa bendita de Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo (1Pe 1:9). Somente neste fim, diz o profeta Malaquias, veremos a diferença entre o justo e o ímpio (Ml 3:18), entenderemos quem, na verdade, é o exitoso, o triunfante, pois de que adianta ganhar o mundo inteiro e perder a sua alma? (Mc 8:36).
II. A REALIDADE DO PRESENTE E A INCERTEZA DO FUTURO
1. A realidade da morte. “Porque os vivos sabem que hão de morrer...” (Ec 9:5). O homem não sabe o que lhe acontecerá; ninguém sabe, mas sabe que acontecerá. Está convencido de que a morte o aguarda.
A questão da morte é, sem dúvida, uma das maiores questões que todo ser humano enfrenta em sua peregrinação terrena, a ponto de vários filósofos, ditos “existencialistas”, ter resumido toda a trajetória do ser humano sobre a face da Terra sob o signo da chamada “angústia da morte”, visto que o grande paradoxo do homem é, precisamente, o de ter consciência de que irá morrer (Ec 9:5). É este o maior “drama biológico” vivido pelo homem na Terra.
A morte é, sem dúvida, um dos fatos que mais intrigam o ser humano. Registros de todas as comunidades humanas, em todas as épocas e em todos os estágios civilizatórios, mostram que o tema da morte é uma questão com a qual o homem sempre se depara, sem saber como dela cuidar. Esta perplexidade do homem diante deste tema é, aliás, mais uma demonstração de que a morte surge como um elemento intruso, inadequado e indevido na existência humana.
Ainda que seja por causas várias, o fato é que ninguém escapa da morte física, todos quantos nasceram sobre a Terra, morreram fisicamente, sejam ricos ou pobres, doutos ou indoutos, homens ou mulheres, fiéis ou infiéis. A morte física é inevitável, é o resultado de uma sentença dada por Deus a toda a humanidade, através do primeiro casal, algo que somente Cristo mudaria. Um dia todos terão que enfrentar a morte, tanto os ímpios quanto os justos. Porém sabemos que a morte não é o fim para o sofrimento humano. Ela é o fim para um novo começo na eternidade. Para o verdadeiro cristão, é tão somente a passagem para a eternidade com Deus. Aliás, o verdadeiro cristão espera o Arrebatamento, num abrir e fechar de olhos, a qualquer momento. Logo, quando isto ocorrer, brevemente, muitos não provarão a morte. É quando se dirá: “tragada foi a morte na vitória” – “E, quando isto que é corruptível se revestir da incorruptibilidade, e isto que é mortal se revestir da imortalidade, então cumprir-se-á a palavra que está escrita: Tragada foi a morte na vitória” (1Co 15:54). Glórias a Deus!
2. A certeza da vida eterna. “Porque os vivos sabem que hão de morrer, mas os mortos não sabem coisa nenhuma, nem tampouco eles têm jamais recompensa, mas a sua memória ficou entregue ao esquecimento” (Ec 9:5). Alguns pregadores, desprovidos da verdade, utilizam com frequência este versículo para ensinar que a alma permanece em estado de dormência após a morte e a consciência deixa de existir. Entretanto, não é possível construir uma doutrina sobre o além baseada apenas nesse ou em qualquer outro versículo de Eclesiastes. Este livro apresenta conclusões fundamentais em raciocínio humano “debaixo do sol”, isto é, em conclusões a que poderíamos chegar por nós mesmos se não tivéssemos a Bíblia como referência. Como bem disse o pr. José Gonçalves, “Salomão escreveu Eclesiastes sob uma análise puramente existencial. Quem está do lado de lá da eternidade não participa do lado de cá da existência. Neste aspecto, ‘os mortos não sabem coisa nenhuma’. Isto não se dá porque eles estão inconscientes, mas porque pertencem a outra dimensão (Ap 6:9; 2Co 5:8), onde nem mesmo o sol é necessário”(Ap 22:5).
A distinção entre a tristeza do crente e a tristeza do ímpio em ocasiões fúnebres está na esperança que tem o crente de que, além da morte física, existe uma eternidade de delícias com o Senhor, existe uma plenitude da vida eterna que já começamos a gozar aqui. O crente sabe que, com a morte física, há tão somente uma passagem para uma comunhão mais perfeita com o Senhor, é uma etapa a mais na caminhada rumo à glorificação, quando, então, no Dia do arrebatamento da Igreja, tanto mortos quanto vivos, que agora são filhos de Deus, terão manifestado o que haverão de ser, pois, quando Cristo se manifestar, seremos semelhantes a Ele, porque assim como é O veremos (1Jo 3:2).
Quando estivermos diante de uma ocasião fúnebre de um servo do Senhor, não devemos nos desesperar, como é costumeiro ocorrer quando se trata da morte de ímpios ou da reação de ímpios diante da morte de entes queridos, mas, pelo contrário, ainda que entristecidos, porque humanos somos, temos de nos consolar e nos confortar com a esperança que temos de que Jesus virá buscar a Sua igreja e que, vivos e mortos, serão reunidos nos ares e se encontrarão com o Senhor, para vivermos uma plenitude de comunhão com o Senhor, eternamente.
III. A IMPREVISIBILIDADE DA VIDA
1. As circunstâncias da vida. “Voltei-me e vi debaixo do sol que não é dos ligeiros a carreira, nem dos valentes, a peleja, nem tampouco dos sábios, o pão, nem ainda dos prudentes, a riqueza, nem dos inteligentes o favor, mas que o tempo e a sorte pertencem a todos. Que também o homem não conhece o seu tempo; como os peixes que se pescam com a rede maligna e como os passarinhos que se prendem com o laço, assim se enlaçam também os filhos dos homens no mau tempo, quando cai de repente sobre eles” (Ec 9:11,12).
Nestes versículos, o autor conclui que as fases da vida são imprevisíveis. Ricos e pobres, brancos e negros, doutores e analfabetos, justos e injustos, estão sujeitos às vicissitudes da vida. Terremotos, furacões, secas, desempregos, etc., ocorrem não somente em paises habitados por ímpios, mas também por crentes piedosos. Mas, o que parece ser caos, na verdade, tem por trás a vontade divina. Assim, as coisas que parecem caóticas só as são para a mente humana, não no plano divino. Essa conclusão acaba sendo benéfica, pois caminha na contramão da autoconfiança e auto-suficiência do homem. Tudo depende de Deus. A própria sabedoria está sujeita às incertezas da vida e isto responde por que alguns esforços humanos fracassam: “Porque os meus pensamentos não são os vossos pensamentos, nem os vossos caminhos, os meus caminhos, diz o Senhor” (Is 55:8). (1)
Contudo, não podemos nos deixar abalar pelas circunstâncias da vida nem pela prosperidade dos ímpios; precisamos confiar no Deus Todo-Poderoso, pois somente Ele nos fará habitar um Dia nas regiões celestes.
2. Aproveitando a vida. “Vai, pois, come com alegria o teu pão (...) goza a vida com a mulher que amas, todos os dias de tua vida fugaz, os quais Deus te deu debaixo do sol; porque esta é a tua porção nesta vida pelo trabalho com que te afadigaste do sol” (Ec 9:7,9, ARA).
Aqui, Salomão, mais do que qualquer outro, sabia que debaixo do sol a vida não era fácil e nem se parecia nem um pouco justa. Mas não a negou nem fugiu da sua realidade. Pelo contrário, aconselhou que em meio às imprevisibilidades da vida devemos nos preocupar em viver aquilo que nos foi tocado como porção. Ele é enfático ao transmitir com autoridade seu conselho sobre como devemos agir em relação às coisas consideradas efêmeras, porém boas e necessárias para uma melhor qualidade de vida: “Vai, pois, come com alegria o teu pão”.
Paulo, na Carta aos Filipenses, declarou: “Aprendi a viver contente em toda e qualquer situação”(Fp 4:11). Isso significa dizer que nesse contentamento estão envolvidas grandes e pequenas coisas, por isso ele diz: “toda e qualquer situação”. É nessa direção que Salomão segue agora.
O crente deve viver alegremente e satisfeito, desfrutando prazerosamente também das coisas simples da vida, como dádivas de Deus: “pois Deus já aceitou com prazer o que você faz” (Ec 9:7.NTLH). Enquanto o efêmero não passar, desfrutemos também desses momentos não menos importantes da vida. A sabedoria não está em abster-se de coisas boas, ainda que sejam de pouca duração como o próprio alimento que temos à mesa. Por outro lado, a sabedoria não superestima nem supervaloriza irresponsavelmente o que é passageiro. (2)
Não obstante as incertezas, as fatalidades e os demais fatores sombrios que Salomão atribui à vida e a tudo que a ela se relaciona, ele conclui que estar entre os vivos e confiar na bondade de Deus é melhor, pois enquanto há vida há esperança (Ec 9:4).
“Considerando as incertezas do futuro e a certeza da morte, Salomão recomendou que todos desfrutem da vida como um dom de Deus [...] É como se Salomão perguntasse: ‘Afinal, qual é a sua verdadeira riqueza?’. Pelo fato de o futuro ser tão incerto, devemos desfrutar as dádivas de Deus enquanto podemos!” (Bíblia de Aplicação Pessoal. p. 883).
CONCLUSÃO
Um homem feliz é conhecido por aquilo de que ele foge. Há momentos em que fugir é um sinal de covardia, como foi o caso de Neemais. Ele respondeu aos seus inimigos: "[...] homem como eu fugiria?" (Ne 6:11). Mas em outras ocasiões, fugir é sinônimo de sabedoria e prudência. José do Egito fugiu da mulher de Potifar (Gn 39:12). Davi fugiu quando o rei Saul queria matá-lo (1Sm 19:10). Paulo escreve a Timóteo: "Tu, porém, ó homem de Deus, foge destas coisas" (1Tm 6:11). Se você se encontra perguntando: Ah!, se eu tivesse isto ou aquilo, se eu tivesse uma casa melhor, um carro mais novo eu seria mais feliz...Fuja! Se você perceber que está olhando a prosperidade do ímpio e dizendo: Ah!, se tivesse o que ele tem eu seria mais feliz... Fuja! Quando você vê uma propaganda, e pensar: Ah!, se eu pudesse comprar esse produto, eu seria mais feliz... Fuja! Sua felicidade não está nas coisas, mas em Deus. A Bíblia diz que "Melhor é um bocado seco e tranquilidade que a casa farta de carnes e contendas" (Pv 17:1). A verdadeira prosperidade é Cristo, nEle repousa todas as riquezas de Deus (Ef 2:7). Com Ele, temos razões para estarmos sempre contentes, trabalhando sempre, com respeito e dignidade (Ef 4:28; 1Ts 2:9; 2Ts 3:8), mas confiando nEle que nos supre do que temos real necessidade (Mt 6:33). Vivamos, pois, a nossa vida de maneira a glorificar a Deus, mesmo que, às vezes, pareça sem sentido e cheia de paradoxos.
Fonte: ebdweb