“Lança
o teu pão sobre as águas, porque, depois de muitos dias, o acharás” (Ec 11:1).
INTRODUÇÃO
Nos textos de
Eclesiastes 11:1-10, o sábio Salomão nos convida a ser proativos (alguém que
antecipa futuros problemas, necessidades ou mudanças, fazendo com que as coisas
aconteçam). “Lança, reparte, semeia, alegre-se, recreie-se, anda” (Ec
11:1,2,6,9) são alguns dos imperativos apresentados pelo sábio. Muitos
comentaristas tem dito que aqui temos a “vida de fé”, no sentido de tomar
algumas atitudes e acreditar que elas trarão resultados proveitosos. A
expressão “não sabes” aparece quatro vezes em três versículos (Ec11:2,5,6).
Então, a lei da semeadura e da colheita está presente aqui.
I. VIVENDO COM PROPÓSITO
1. Tomando
uma atitude. "Lança o teu pão sobre as águas, porque depois de muitos dias
o acharás" (Ec 1:1). Aqui, Salomão nos exorta a tomarmos uma atitude. Este texto
faz referência a maneira de como era plantado o trigo naquela época, que
consistia em semear os grãos sobre a água na época da cheia dos rios e que
quando as águas baixassem haveria uma grande plantação. Isso demonstra uma
confiança de que mesmo sem saber qual semente vai germinar, a certeza é que a
colheita será abundante. A lei da semeadura pode ser aplicada a todas as áreas
da nossa vida, "porque tudo o que o homem semear, isso
também ceifará. Porque o que semeia na carne, da carne ceifará corrupção; mas o
que semeia no Espírito, do Espírito ceifará a vida eterna"(Gl 6:7b,8).
Vivemos num tempo em que se ficarmos aguardando condições ideais para fazermos
alguma coisa, nunca faremos nada. Para "lançar o pão sobre as
águas", é preciso ter fé. A fé "é o firme fundamento das coisas que
se esperam e a prova das coisas que se não veem" (Hb 11:1). Só aquele que
crê que Deus supre as nossas carências pode tomar esta atitude. Não tenha medo
de lançar sementes, pois Deus "é poderoso para fazer [...] além daquilo
que pedimos ou pensamos, segundo o poder que em nós opera" (Ef 3:20).
Lança
o pão sobre as águas, através das obras. As
Escrituras nos contam a história de Davi e Jônatas. Eles construíram uma
amizade sincera, na base da honestidade e compreensão. Jônatas não concordava
com as atitudes erradas do seu pai, o rei Saul, por isso defendeu a Davi em
várias ocasiões, livrando-o da morte, pois o rei, seu pai, queria matá-lo. Mais
tarde, após a morte do príncipe Jônatas, quando Davi já era rei, o filho de
Jônatas, Mefibosete, aleijado, vivia isolado e pobre em lugar distante do
reino. Paralítico e longe de sua família ele vivia, até que o rei Davi o
descobriu e lhe restituiu a honra, deu-lhe uma casa e o colocou como um
príncipe até o fim dos seus dias. Jônatas lançou o seu pão sobre as águas e o
seu filho colheu as bênçãos da sua atitude.
2.
Evitando a passividade. "Reparte com sete, e ainda até com oito, porque não sabes que
mal haverá sobre a terra" (Ec 11:2). O sábio se utiliza de uma figura de linguagem para nos
fazer um convite à generosidade. Repartir “com sete
e ainda com oito” é a generosidade colocada em prática. Afinal, muitos que
ajudamos hoje poderão nos ajudar amanhã. Podemos
aplicar isso à nossa vida; tomando uma atitude de generosidade com as pessoas,
pois talvez algum dia vamos precisar da generosidade de alguém. Salomão se
afastou de Deus e certamente deve ter experimentado o egoísmo. Porém, ele
conseguiu perceber que o egoísmo torna a vida sem sentido, vazia, que não
compensa, por isso, Deus nos ensina, em sua Palavra, a termos uma vida
generosa. A sociedade está marcada pelo egoísmo, onde não damos mais espaço
para a generosidade. Todavia, nós crentes não podemos nos conformar com a
maneira de pensar deste mundo: "E não vos conformeis com este mundo, mas
transformai-vos pela renovação do vosso entendimento, para que experimenteis
qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus" (Rm 12:2). Ao invés
de olharmos somente para as nossas carências e necessidades, venhamos a olhar
para aqueles que estão necessitados da nossa ajuda.
O apóstolo
Paulo escrevendo aos Gálatas diz:
“E não nos cansemos de fazer o bem, porque a seu tempo ceifaremos, se não
houvermos desfalecido. Então, enquanto temos tempo, façamos o bem a todos, mas
principalmente aos domésticos da fé” (Gl 6:9,10).
John
Wesley disse: "Faça todo o bem
que você puder, por todos os meios que você puder, de todos os modos que você
puder, em todos os lugares que você puder, em todo o tempo que você puder, pra
todas as pessoas que você puder".
II. VIVENDO COM DINAMISMO
1.
A imobilidade da árvore caída (vivendo do passado). “Estando as nuvens cheias, derramam a chuva sobre a terra, e,
caindo a árvore para o sul ou para o norte, no lugar em que a árvore cair,
ali ficará” (Ec 11:3). O pr. José Gonçalves, citando Derek Kidner,
observa que na metáfora da árvore caída aprendemos que a mesma não consultou a
conveniência de ninguém para que pudesse tombar. A árvore caiu e onde tombou
ficou! Está totalmente imóvel e não há mais nada a fazer! A vida também é
imprevisível e cheia de contingências. Ela não é feita somente de momentos
bons, pelo contrário, há aqueles que são extremamente desagradáveis. E aí, o
que fazer? Ficar preso a uma experiência passada sobre a qual nada mais se pode
fazer ou enfrentar a vida desse ponto para frente? Ficar preso ao passado é
assemelhar-se à árvore que tombou e sobre a qual nada mais pode ser feito.
Devemos, sim, enfrentar o futuro com fé e coragem.
2.
O movimento do vento e das nuvens (vivendo o presente).
“Quem observa o vento nunca semeará, e o que olha para as nuvens nunca
segará” (Ec 11:4). O homem é limitado e
mesmo com toda tecnologia existente, e todo conhecimento adquirido, não pode
prever com exatidão o que pode acontecer. Se Deus determinar uma coisa, quem é
o homem para impedir? “Agindo eu, quem o impedirá?" (Is 43:13b). As
forças da natureza (“nuvens cheias, chuvas, árvores, ventos”) são apenas
um lembrete que o homem não controla o clima. Então, o melhor é não ficar
somente observando o vento ou olhando para as nuvens. A frase a seguir é muito
instrutiva: “O pessimista se queixa do vento, o otimista espera que ele mude, e
o realista ajusta as velas” ( Nicolas- Sebastien Chamfort, escritor francês,
1741-1794).
III. VIVENDO COM FÉ E ESPERANÇA
1.
Plantando a semente. “Pela manhã, semeia a tua semente
e, à tarde, não retires a tua mão, porque tu não sabes qual prosperará; se
esta, se aquela ou se ambas igualmente serão boas” (Ec 11:6). Aqui, Salomão
usa, novamente, uma metáfora: a do plantio – “semeia a tua semente”. Nós devemos semear em tempo oportuno, pela manhã e pela
tarde, pois não sabemos qual semente dará bom fruto. Vale a pena lembrar que ao
nosso redor existem muitas pessoas que precisam que lancemos a boa semente
sobre suas vidas, a começar dentro da sua casa com seus filhos, marido ou
esposa. Pois tudo o que o homem semear, isso também ceifará (Gl 6:7). Diz o pr.
José Gonçalves que lançar e semear requer ação. É preciso plantar a semente,
pois só colhe quem planta. “E digo isto: Que o que semeia pouco pouco também
ceifará; e o que semeia em abundância em abundância também ceifará” (2Co
9:6). Muitos desistem de semear porque as condições não são favoráveis;
desistem logo diante das primeiras dificuldades que a vida lhes impõe. Mas, o
sábio incentiva: “Não retires a tua mão”. É um convite a não
desanimar. No mundo da semeadura, vale lembrar que a perseverança é fator
determinante.
2.
Germinando a semente. ”... não retires a tua mão,
porque tu não sabes qual prosperará; se esta, se aquela ou se ambas igualmente
serão boa”.
Quem pode garantir
qual semente germinará? Alguém escreveu algo verdadeiro sobre esse assunto: “Qualquer
pessoa pode contar quantas sementes tem dentro de uma maça, mas só Deus poderá
dizer quantas maças nascerão de uma semente”. É preciso ter coragem e ser
ousado. A vida é dura e os obstáculos são tremendos na trajetória da vida. Os
desertos fazem parte de nossa trajetória, e muitos desistem no meio do caminho,
porque perdem a esperança. Sem esperança, não há como semear, e assim terminam
vencidos pelas dificuldades instransponíveis que os desertos lhes impõem. Foi
assim com o povo de Israel em sua trajetória rumo a Terra Prometida. Josué e
Calebe plantaram as sementes de fé e
esperança em Deus, por isso alcançaram a Terra Prometida.
Diz o pr. José
Gonçalves: “Não há dúvida de que Salomão via a vida como um grande campo e com
ele uma grande variedade de solos. Com certeza havia muitos solos nos quais
fosse não atrativo semear, mas o agricultor só saberia que a semente germinaria
se semeasse. O que dependeria também do clima. Era, portanto, preciso fé,
perseverança e esperança. Uma bela metáfora da lei da sementeira espiritual. De
nada adianta ficarmos observando o caos social e não tomarmos nenhuma atitude.
É necessário que façamos a nossa parte semeando a genuína Palavra de Deus nesse
solo duro e pedregoso (Lc 8:5-15)”.
IV. VIVENDO COM RESPONSABILIDADE
“Alegra-te, jovem, na tua juventude, e recreie-se o teu coração
nos dias da tua mocidade; anda pelos caminhos que satisfazem ao teu coração e
agradam aos teus olhos; sabe, porém, que de todas estas coisas Deus te pedirá
contas” (Ec 11:9 – ARA).
Neste
texto, Eclesiastes apresenta três ordens que mostram o desejo de Deus para a
vida do ser humano, especialmente quando ainda é jovem: (a) alegrar-se na
juventude; (b) recrear-se nos dias da juventude; (c) andar pelos caminhos que
satisfazem ao coração e agradam aos olhos. Mas, na última parte deste
versículo, Salomão nos diz: “sabe, porém...”. Toda vez que essa
expressão é usada na Bíblia, precisamos ficar atentos, pois, em seguida,
recebemos uma orientação clara de Deus para a nossa vida.
Nesse
texto Eclesiastes diz: “que por todas essas coisas te trará Deus a juízo”.
Deus deseja que vivamos intensamente, porém, Ele já nos orientou pela Palavra o
que isso significa. Por exemplo, o Salmo 16:5 diz: “O Senhor é a porção da
minha herança e o meu cálice; tu és o arrimo de minha sorte”. O Salmista
entendia que alegria e satisfação deveriam ser medidas pelo Senhor e não por
nós. O termo “porção” fala de quantidade exata. Em Salmos 16:11, ele
reitera essa ideia: “Tu me farás ver os caminhos da vida; na tua presença há
plenitude de alegria, na tua destra, delícias perpetuamente”. Isso nos faz
pensar que alegria verdadeira não depende de experiências marcantes, mas de
nossa comunhão contínua com Deus.
Os conselhos
dados em Provérbios 16:2 - “Todos os caminhos do homem são puros aos seus
olhos, mas o Senhor pesa o espírito” -, e em Provérbios 16:25 - “Há caminho
que parece direito ao homem, mas afinal são caminhos de morte” -, ensinam a
considerar a direção e aprovação de Deus em todas as coisas. Em outras
palavras, o autor recomenda um prazer inteligente, responsável. Ele lembra que
Deus faz certas exigências na vida, e que Ele castiga os excessos e os abusos
da Sua vontade. Esse pensamento continua em Eclesiastes 11:10: “Afasta,
pois, a ira do teu coração e remove da tua carne o mal, porque a adolescência e
a juventude são vaidade”.
O comentário
Bíblico Moody, ao se referir ao texto de Eclesiastes 11:9,10, diz: “Aproveite
ao máximo os dias da juventude, quando os prazeres da vida ainda podem ser
desfrutados, e não espere pelos dias da velhice, quando a vitalidade já tiver
acabado. Contudo, é o caminho divino e não a devassidão que deve ser o guia ao
prazer”.
Não há
problema em uma pessoa desfrutar a vida, principalmente a juventude. No
entanto, além dela ter a consciência de que prestará contas a Deus, também
precisa saber que o vigor da vida passa (muito mais rápido do que se gostaria),
e no final, aquilo que foi cultivado e desejado pode não ter valor para a
eternidade.
O que
nos guia para desfrutar a vida, com responsabilidade, aproveitando ao máximo,
sem perder a direção correta? Eclesiastes responde: “Lembra-te do teu
Criador” (Ec 12:1). Lembrar-se do Criador é mais que simplesmente trazê-lo
à mente. É um chamado à reverência que é uma forma de praticar o temor do
Senhor. Lembrar-se do Criador é considerar que Ele é o justo juiz (2Tm 4:1).
CONCLUSÃO
Concluo esta Aula
expressando o mesmo ponto de vista do pr. José Gonçalves. Ele diz que o
capítulo 11 de Eclesiastes é um convite à ação. É uma resposta contra a
imobilidade. É um convite a um mergulho na fé que assume riscos, já que o mundo
à nossa frente é um terreno desconhecido. É, portanto, um “lançar-se” e
“semear”. É também um “alegrar-se” com as maravilhas com as quais a vida nos
presenteou. Mas também é um “afastar-se”; afastar-se do pecado e da iniquidade,
pois, no final, teremos de dar conta de todos os nossos atos perante Deus. A
verdadeira sabedoria consiste em reconhecer que nada somos sem Deus.
Fonte: ebdweb
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