9ª lição do 1º tirmestre de 2013
“E
Jesus transfigurou-se diante deles; e o seu rosto resplandeceu como o sol, e as
suas vestes se tornaram brancas como a luz. E eis que lhes apareceram Moisés e
Elias, falando com ele”(Mt 17:2,3).
INTRODUÇÃO
O
profeta Elias, foi um dos maiores profetas que Isael conheceu. Em momentos de
decepção e expectativa frustrada, ele anseia a morte. Todavia, a Bíblia diz que
ele não morreu, foi levado aos céus em um redemoinho(2Rs 2:11). Sua missão foi
findada na Terra, mas a participação desse admirável homem de Deus na história
sagrada não se encerrou com o seu arrebatamento. Deus o faria aparecer séculos
depois, como representante dos profetas, para confirmar o ministério de Jesus.
Aliás, a experiência da transfiguração foi uma confirmação, por Deus Pai, que
Jesus era verdadeiramente seu Filho, todo suficiente para redimir a raça humana
– “Este é o meu Filho amado, em quem me comprazo; escutai-o”(Mt 17:5).
Nesta Aula, diferentemente dos outros textos até aqui estudados, Elias não
aparece como a figura central, mas como uma figura secundária! O centro é
deslocado do profeta de Tisbe para o Profeta de Nazaré. Jesus, e não mais Elias,
é o centro da revelação bíblica. No Monte da Transfiguração, Elias é apenas um
figurante, representando os profetas, mas Cristo é a figura principal, o Messias
prometido.
I.
ELIAS, O MESSIAS E A TRANSFIGURAÇÃO
1.
Transfiguração. A
transfiguração foi um breve vislumbre da verdadeira glória de Jesus, a afirmação
divina de Deus de tudo o que Jesus havia feito, e que estava prestes a fazer. A
Transfiguração revelou claramente não só que os discípulos estavam corretos ao
crerem que Jesus era o Messias (Mt 16:16), mas que o compromisso deles estava
bem firmado, e que a eternidade deles estava assegurada. Jesus era
verdadeiramente o Messias, o divino Filho de Deus.
A
Palavra grega que relata que a aparência de Jesus mudou é “metamorphothe”
de onde obtemos a palavra “metamorfose”. O verbo se refere a uma mudança extrema
que vem de dentro. Não era uma mudança meramente de aparência, mas era uma
mudança completa, em que a pessoa passa ter outra forma. Na terra, Jesus tinha a
aparência de um homem, mas na Transfiguração, o corpo de Jesus foi transformado
em um esplendor glorioso que Ele tinha antes de vir para a Terra (João 17:5); Fp
2:6), e que Ele terá quando voltar em glória (Ap
1:14,15).
2. A
glória divina. Na
Transfiguração, Pedro, Tiago e João viram a glória, identidade e poder de Jesus
como o Filho de Deus (veja 2Pedro 1:16-18). Eles foram testemunhas oculares do
poder e da glória do Reino de Cristo. Jesus quis transmitir aos seus discípulos
que não teriam que esperar por outro Messias futuro, porque o Reino estava entre
eles, e logo viria com poder.
Mateus
detalha que durante a Transfiguração “...uma nuvem luminosa os cobriu. E da
nuvem saiu uma voz que dizia: Este é o meu Filho amado, em quem me comprazo;
escutai-o” (Mt 17:5). Da mesma maneira como a voz de Deus na nuvem sobre o
monte Sinai conferiu autoridade à sua lei (Ex 19:9), a voz de Deus na
Transfiguração também conferiu autoridade às Palavras de Jesus. Uma “nuvem
luminosa” apareceu repentinamente, e a “voz” de Deus falou a
partir da nuvem, destacando Jesus de Moisés e Elias como sendo o longamente
esperado Messias, que possuía autoridade divina. Como já havia feito no batismo
de Jesus, o Pai estava identificando Jesus como o seu “Filho amado” e o Messias
prometido.
Quando
os discípulos ouviram a voz de Deus lhes falando diretamente, pois estavam
envoltos pela nuvem luminosa, “tiveram grande medo”. Ao longo das Escrituras, a
glória visível da divindade cria medo(veja Dn 10:7-9). Mas Jesus lhes disse que
não temessem. Pedro desejou manter Jesus, Elias e Moisés ali, em três
tabernáculos no Monte, mas o seu desejo era equivocado. O evento era meramente
um vislumbre da glória divina, daquilo que estava por vir. Assim, quando
“ergueram os olhos”, a nuvem e os profetas já não estavam mais ali. Os
discípulos tinham que olhar somente para Jesus. Somente Ele estava qualificado
para ser o Salvador.
II. ELIAS, O MESSIAS E A
RESTAURAÇÃO
1.
Tipologia. Na
cena da Transfiguração, o texto destaca os nomes de Moisés e Elias (Mt 17:3).
Estes eram considerados os dois maiores profetas do Antigo Testamento. Moisés
representava a lei, ou a antiga aliança; ele havia escrito o Pentateuco e
predito a vinda de um grande profeta(Dt 18:15-19). Elias representava os
profetas que haviam predito a vinda do Messias (Ml 4:5,6). A presença de Moisés
e Elias com Jesus confirmava a missão messiânica de Jesus para cumprir a lei de
Deus e as palavras dos profetas de Deus (Mt 5:17). O aparecimento deles também
removia qualquer pensamento de que Jesus fosse a reencarnação de Elias ou
Moisés. Ele não era meramente um dos profetas. Como o único Filho de Deus, Jesus
os sobrepujava grandemente em autoridade e poder. Além disto, a capacidade que
eles tiveram de falar com Jesus, apóia a promessa da ressurreição de todos os
crentes.
2.
Escatologia. “E
os seus discípulos o interrogaram, dizendo: Por que dizem, então, os escribas
que é mister que Elias venha primeiro? E
Jesus, respondendo, disse-lhes: Em verdade Elias virá primeiro e restaurará
todas as coisas. Mas digo-vos que Elias já veio, e não o conheceram, mas
fizeram-lhe tudo o que quiseram. Assim
farão eles também padecer o Filho do Homem. Então, entenderam os
discípulos que lhes falara de João Batista” (Mt
17:10-13).
O
aparecimento de Elias no Monte causou uma pergunta na mente dos discípulos.
Baseado em Malaquias 4:5,6, os escribas judeus criam que Elias devia voltar
antes que o Messias viesse. Elias havia
aparecido no Monte, mas não tinha vindo em pessoa para preparar o povo para a
chegada do Messias (especialmente na área do arrependimento). Os discípulos
criam que Jesus era o Messias, mas queriam saber onde estava Elias. Jesus
respondeu que Elias viria primeiro e restauraria todas as coisas. Estava escrito
nas Escrituras que o Messias iria padecer muito e ser aviltado (por exemplo,
Salmos 22:14,16,17; Is 53:1-12). Jesus explicou que, na verdade, Elias já veio.
Mateus explica que os discípulos perceberam que Jesus se referia a João o
Batista (Mt 17:13), que havia assumido o papel profético de Elias – confrontando
o pecado com ousadia, e levando o povo a Deus.
Assim
como Elias, João Batista foi um profeta de confronto (Mt 3:7), ousado (Lc
3:1-14) e rejeitado (Mt 11:18). Como no caso de Elias, fizeram a João Batista
tudo o que quiseram. Elias foi severamente perseguido pelo rei Acabe e pela
rainha Jezabel, e fugiu para salvar a própria vida (1Reis 19). João Batista foi
decapitado (Mc 6:14-20). Tudo isto ocorreu, como dele está escrito (Mc 9:13).
Portanto, a presença de João Batista, o Elias que havia de vir, pregava com
muita penetração que Jesus era o verdadeiro Messias vaticinado pelos patriarcas
e profetas veterotestamentários.
III. A
ESPIRITUALIDADE DO MONTE – ÊXTASE SEM DISCERNIMENTO
ESPIRITUAL
Pedro,
Tiago e João sobem o Monte da Transfiguração com Jesus, mas não alcançam as
alturas espirituais da intimidade com Deus. Eles contemplam quatro fatos
milagrosos: a transfiguração do rosto de Jesus, a aparição em glória de Moisés e
Elias, a nuvem luminosa que os envolvem e a voz do Céu que troveja em seus
ouvidos. Nenhuma assembleia na Terra jamais foi tão esplendidamente
representada: lá estavam o Deus trino, Moisés e Elias – o maior legislador e o
maior profeta. Lá estavam Pedro, Tiago e João - os discípulos mais íntimos de
Jesus, os quais apesar de estarem envoltos num ambiente de milagres, faltou-lhes
discernimento em quatro questões básicas:
1. Os
discípulos não discerniram a centralidade da Pessoa de Cristo (Mt 17:3-8).
Os
discípulos estão cheios de emoção, mas vazios de entendimento. Querem construir
três tendas, dando a Moisés e a Elias a mesma importância de Jesus. Querem
igualar Jesus aos representantes da Lei e dos Profetas. Como o restante do povo,
eles também estão confusos quanto à verdadeira identidade de Jesus (Lc 9:18,19).
Não discerniram a divindade de Cristo. Andam com Cristo, mas não lhe dão a
glória devida ao seu nome (Lc 9:33). Onde Cristo não recebe a preeminência, a
espiritualidade está fora de foco. Jesus é maior que Moisés e Elias. A Lei e os
Profetas apontaram para Jesus. Tanto a Lei quanto os Profetas tiveram o seu
cumprimento em Cristo (Hb 1:1,2; Lc 24:25-27). Moisés morreu e seu corpo foi
sepultado, mas Elias foi arrebatado aos céus. Quando Jesus retornar, Ele
ressuscitará os corpos dos santos que morreram e arrebatará os santos que
estiverem vivos (1Ts 4:13-18).
O Pai
corrigiu a teologia dos discípulos, dizendo-lhes: “Este é o meu Filho amado,
em quem me comprazo; escutai-o”. Jesus não pode ser confundido com os
homens, ainda que com os mais ilustres. Ele é Deus. A Ele deve ser toda devoção.
Nossa espiritualidade deve ser cristocêntrica. A presença de Moisés e Elias
naquele monte longe de empalidecer a divindade de Cristo, confirmava que de fato
Ele era o Messias apontado pela lei e pelos
profetas.
2. Os
discípulos não discerniram a centralidade da missão de Cristo. Moisés e
Elias apareceram para falar da iminente partida de Jesus para Jerusalém (Lc
9:30,31). A agenda daquela conversa era a cruz. A cruz é o centro do ministério
de Cristo. Ele veio para morrer. Sua morte não foi um acidente, mas um decreto
do Pai desde a eternidade. Cristo não morreu porque Judas o traiu por dinheiro,
porque os sacerdotes o entregaram por inveja nem porque Pilatos o condenou por
covardia. Ele voluntariamente se entregou por suas ovelhas (João 10:11), pela
sua Igreja (Ef 5:25).
Toda
espiritualidade que desvia o foco da cruz é cega de discernimento espiritual.
Satanás tentou desviar Jesus da cruz, suscitando Herodes para matá-lo. Depois,
ofereceu-lhe um reino. Mas tarde, levantou uma multidão para fazê-lo rei. Em
seguida, suscitou a Pedro para reprová-lo. Ainda quando estava suspenso na cruz,
a voz do inferno vociferou na boca dos insolentes judeus: “desça da cruz, e
creremos nele” (Mt 27:42). Se Cristo descesse da cruz, nós desceríamos ao
inferno. A morte de Cristo nos trouxe vida e libertação. A morte de Cristo abriu
as portas da nossa prisão e nos deu liberdade. Moisés e Elias entendiam isso,
mas os discípulos estavam sem discernimento dessa questão central do
cristianismo (Lc 9:44,45). Hoje, há igrejas que aboliram dos púlpitos a mensagem
da cruz. Pregam sobre prosperidade, curas e milagres. Contudo, esse não é o
evangelho da cruz, é outro evangelho e deve ser
anátema!
3. Os
discípulos não discerniram a centralidade de seus próprios ministérios (Mt
17:4). Eles
disseram: “Senhor, bom é estarmos aqui”. Eles queriam a espiritualidade
da fuga, do êxtase e não do enfrentamento. Queriam as visões arrebatadoras do
monte, não os gemidos pungentes do vale. Mas é no vale que o ministério se
desenvolve.
É mais
cômodo cultivar a espiritualidade do êxtase, do conforto. É mais fácil estar no
templo, perto de pessoas co-iguais do que descer ao vale cheio de dor e
opressão. Não queremos sair pelas ruas e becos. Não queremos entrar nos
hospitais e cruzar os corredores entupidos de gente com a esperança morta.
Desviamos das pessoas caídas na sarjeta. Não queremos subir os morros semeados
de barracos, onde a pobreza extrema fere a nossa sensibilidade. Não queremos
visitar as prisões insalubres nem pôr os pés nos guetos encharcados de
violência. Não queremos nos envolver com aqueles que vivem oprimidos pelo diabo
nos bolsões da miséria ou encastelados nos luxuosos condomínios fechados. É
fácil e cômodo fazer uma tenda no monte e viver uma espiritualidade escapista,
fechada entre quatro paredes. Permanecer no monte é fuga, é omissão, é
irresponsabilidade. A multidão aflita nos espera no vale!(veja o caso do jovem
lunático – Mc 9:14-29).
4. Os
discípulos estavam envolvidos por uma nuvem celestial, mas tinham medo de Deus
(Mt 17:5,6). Quando
os discípulos ouviram a voz de Deus lhes falando diretamente, pois estavam
envoltos pela nuvem luminosa, tiveram grande medo. Eles se encheram de medo a
ponto de caírem de bruços. A espiritualidade deles é marcada pela fobia do
sagrado. Eles não encontram prazer na comunhão com Deus através da oração, por
isso, revelam medo de Deus. Jesus subiu ao Monte da Transfiguração para orar,
mas em nenhum momento os discípulos estavam orando com Ele (Lc 9:28,29). Eles
não sentem necessidade nem prazer na oração. Eles não tem sede de Deus. Eles
estão o Monte a reboque, por isso veem Deus como uma ameaça. Eles se prostram
não para adorar, mas por causa do medo. Eles estavam assombrados (Mc 9:6).
Pedro, o representante do grupo, não sabia o que dizia (Lc 9:33). Mas Jesus lhes
disse que não temessem (Mt 17:7). Deus não é um fantasma cósmico; Ele é o Pai de
amor. O medo de Deus revela espiritualidade rasa e sem discernimento.
CONCLUSÃO
Diante
do exposto acima, concluímos que os eventos ocorridos durante a Transfiguração
aconteceram para demonstrar que Jesus era de fato o Messias esperado (Mt 16:16),
e que a aparição de Moisés e Elias com Jesus confirmava a missão messiânica de
Jesus de cumprir a Lei de Deus e as palavras dos profetas de Deus. Os discípulos
ficaram deslumbrados com a presença de Elias e Moisés, mas logo perceberam que
eles foram embora, e que apenas Jesus ficou. Esses personagens tão importantes
no contexto bíblico não possuem glória própria, mas irradiam a glória
proveniente do Filho de Deus. Ele, sim, é o centro das Escrituras, do Universo e
de todas as coisas (Cl 1:18,19; Hb 1:3). Nada neste mundo poderá substituir a
presença de Jesus nem no culto nem em nossas vidas. Ao fim de tudo, que possamos
ver unicamente a Jesus, como os discípulos também o
viram.
Fonte: ebdweb
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