Texto Base: Mateus 5:17-20; Romanos
7:7-12
“Anulamos, pois, a lei pela fé? De
maneira nenhuma! Antes, estabelecemos a lei” (Rm 3:31)
INTRODUÇÃO
Com
esta Aula finalizamos o estudo do Decálogo, salientando que ele é um fundamento
sólido sobre o qual podemos construir nossa vida moral; é uma moldura que continua
sendo preenchida pelo andar diário no Espírito. Com relação ao Decálogo, Hans Ulrich afirma: (1)
O Decálogo é um modelo para o exercício
de boas obras. As multiformes obras de misericórdia e
diaconia, a defesa da honra, da propriedade e da vida do próximo, bem como as
ações sociais, que visam o bem-estar social e comunitário, emanam das versões
construtivas dos dez mandamentos. O cristão anda nas boas obras que Deus
preparou de antemão para ele (Ef 2:10).
O Decálogo é um modelo para a vida abundante.
Ele mesmo contém a promessa de bênção: “... faço
misericórdia até mil gerações daqueles que me amam e guardam os meus mandamentos"
(Ex 20:6; Dt 5:10). Repetidas vezes Deus promete Sua bênção aos que guardam
diligentemente Seus mandamentos: "Agora,
pois, ó Israel, ouve os estatutos e os juízos que eu vos ensino, para os
cumprirdes, para que vivais..." (Dt 4:1). Levítico 26:3-13; Deuteronômio
5:33; 7:12-26; 28:1-14 também mostram as bênçãos decorrentes da obediência aos
dez mandamentos. O profeta Isaías reconhece que, se tivesse dado ouvidos aos
mandamentos do Senhor, o povo escolhido não teria passado pelo exílio, mas sim
desfrutado da vida abundante. Então, a paz do Senhor seria como um rio e Sua
justiça, como as ondas do mar (Is 48:18).
O Decálogo é um modelo para a
transformação da sociedade. Ele não é apenas um modelo para o
exercício de boas obras e um meio para a vida abundante, é também um modelo
exemplar para a transformação da sociedade. A obediência simples ao Decálogo
transforma as atitudes do homem para com seu próximo. Em vez de assassinar um
inimigo pessoal, ele o abençoa; em vez de furtar, trabalha e ajuda ao
necessitado; em vez de dizer falso testemunho, pratica e diz a verdade; em vez
de roubar a mulher do próximo vive na pureza sexual e apoia o matrimônio
monogâmico; em vez de cobiçar, faz atos de misericórdia. Em vez de guardar para
si a fé e a experiência do senhorio de Cristo, o ser humano brilha como luz e
penetra como sal neste mundo (Mt 5:14-16); não conserva este mundo na situação
em que se encontra, mas transforma-o com o amor, a paz e a esperança de Deus.
Não se conforma com a injustiça, a miséria e a desonestidade generalizada. É um
exemplo de devoção e fidelidade a Cristo em seu lar, no trato com seus
vizinhos, no exercício de boas obras, na profissão e nos deveres e
responsabilidades civis, para que o reino do Senhor venha e Sua vontade seja
feita tanto nos céus como na terra.
I. O QUE SIGNIFICA “CUMPRIR A LEI”?
“Não
penseis que vim revogar a Lei ou os Profetas; não vim para revogar, vim para cumprir” (Mt 5:17). Aqui, o Filho de Deus está afirmando que veio
a este mundo para cumprir a Lei com todas as suas 613 disposições, ordenanças e
proibições. Ele conduziu a Lei ao seu final; ela está cumprida. Por que Ele o
fez? Encontramos a resposta quando lemos o versículo inteiro: “Porque o fim da
lei é Cristo, para justiça de todo aquele que crê” (Rm 10.4). Jesus cumpriu a Lei
para todos, mas Sua obra é eficaz apenas para todo aquele que crê.
Segundo Samuel
Rindlisbacher, o Senhor Jesus, cabeça da Igreja (Ef 5:23), validou toda a
Lei Mosaica, inclusive as 613 disposições, ordens e proibições, ao afirmar: “É mais fácil passar o céu e a terra do que
cair um til sequer da Lei” (Lc 16:17). Ele avançou mais um passo, dizendo:
“Não penseis que vim revogar a Lei ou os
Profetas; não vim para revogar, vim para cumprir” (Mt 5:17). Jesus, ao
nascer, também foi colocado sob a Lei: “vindo,
porém, a plenitude do tempo, Deus enviou seu Filho, nascido de mulher, nascido
sob a lei” (Gl 4:4). Ele foi criado e educado segundo os preceitos da Lei,
pois cumpria suas exigências. Todavia, foi essa mesma Lei que O condenou à
morte. Quando tomou sobre Si todos os nossos pecados, teve de morrer por eles,
pois a Lei assim o exige. Vemos que a Lei foi cumprida e vivida por Jesus, e
através dEle ela alcançou seu objetivo. Por isso está escrito que “... o fim da Lei é Cristo” (Rm 10:4).
Quando sou confrontado com a Lei Mosaica,
ela me apresenta uma exigência que devo cumprir. Deus diz em Sua Lei: “... eu
sou santo...” e exige de nós: “... vós sereis santos...” (Lv 11:44-45). Assim,
a Lei me coloca diante do problema do pecado, que não posso resolver sozinho. O
apóstolo Paulo escreve: “... eu, todavia,
sou carnal, vendido à escravidão do pecado” (Rm 7:14).
A lei expõe e revela nossa incapacidade de
atender às exigências divinas, pois ela nos confronta com o padrão de Deus. Ela
nos mostra a verdadeira maneira de adorá-lo, estabelece as diretrizes segundo
as quais devemos viver e regulamenta nossas relações com nosso próximo. Além
disso, a Lei é o fundamento que um dia norteará a sentença que receberemos
quando nossa vida for julgada por Deus. Pela Lei, reconhecemos quem é Deus e
como nós devemos ser e nos portar. Mas existe uma coisa que a Lei não pode: ela
não consegue nos salvar. Ela nos expõe diante de Deus e mostra que somos
pecadores culpados. Essa é sua função.
II. O SENHOR JESUS VIVEU A LEI
Deus enviou a sua Lei com os preceitos
morais, civis e cerimoniais para ajudar as pessoas a amá-lo com seu coração e
mente. Entretanto, na época de Jesus os lideres religiosos haviam transformado
a Lei de Deus em confuso emaranhado de regras. Quando Jesus falou sobre nova forma
de entender a Lei, Ele estava tentando fazer com que as pessoas se voltassem ao
seu significado original. Jesus não falava contra a Lei, mas contra os danos e
excessos aos quais ela havia sido submetida.
Os textos de Mateus 5:17,18 mostram a expressa
e total obediência de Jesus à Lei do Antigo Testamento, pois a Lei não pode ser
anulada. Jesus não veio como um rabino trazendo um ensino recém-elaborado, Ele
veio como o Messias prometido com uma mensagem que fora transmitida desde o início
dos séculos – “Não cuideis que vim
destruir a lei ou os profetas; não vim ab-rogar, mas cumprir”. Jesus
completa e transcende a Lei. Ele viveu a Lei. Ele cumpriu todos os preceitos.
Quanto
aos preceitos morais, o pr. Esequias Soares diz que os Dez
Mandamentos são representados pelos dois grandes mandamentos: amar a Deus acima
de todas as coisas e ao próximo como a nós mesmos (Mc 12:28-33). Na verdade, “desses
dois mandamentos dependem toda a lei e os profetas” (Mt 22:40). Trata-se de uma
combinação de duas passagens da lei (Lv 19.18; Dt 6.4,5). São preceitos que
foram resgatados na Nova Aliança e adaptados à graça, de modo que a Igreja
segue a lei de Cristo, ou seja, a lei do amor, e não o sistema mosaico (Rm 6:14;
13:9,10;Gl 5:18).
Quanto
aos preceitos cerimoniais, o Senhor Jesus cumpriu o sistema
cerimonial da lei na sua morte (Lc 24:46). As instituições de Israel com suas
festas, os holocaustos e os diversos tipos de sacrifícios da lei de Moisés eram
tipos e figuras que se cumpriram em Cristo (Hb 5:4,5; 1Co 5:7). Assim, as
cerimônias cessaram, mas o significado foi confirmado (Cl 2:17).
Quanto
aos preceitos civis, segundo o pr. Esequias Soares, Jesus
cumpriu também o sistema jurídico da lei. Com sua morte, Ele transferiu os
privilégios de Israel para a Igreja (1Pe 2:9,10). Jesus disse às autoridades
judaicas que "o Reino de Deus vos
será tirado e será dado a uma nação que dê os seus frutos" (Mt 21:43).
Com isso, Israel deixou de ser um Estado Teocrático. A Igreja é a plataforma de
Deus na Terra, a coluna e firmeza da verdade (1Tm 3:15).
Portanto, a Lei do Antigo Testamento deve
ser agora interpretada e reaplicada à luz de Jesus. Deus não mudou de ideia e a
vinda de Jesus fazia parte do plano de Deus para trazer novamente o ser humano
ao status quo da Criação.
III. A LEI NÃO PODE SER REVOGADA
Jesus posicionou-se claramente a favor
do código legal mosaico, pois disse: “Não penseis que vim revogar a Lei ou
os profetas; não vim para revogar, vim para cumprir” (Mt 5.17). “Porque em verdade vos digo
que, até que o céu e a terra passem, nem um jota ou um til se omitirá da lei
sem que tudo seja cumprido” (Mt 5:18).
Entretanto, Ele rejeitou com veemência as
ordenanças humanas e as obrigações impostas apenas pela tradição judaica
(compiladas, posteriormente, no Talmude), afirmando: “Porque, deixando o mandamento de Deus, retendes a tradição dos homens,
como o lavar dos jarros e dos copos, e fazeis muitas outras coisas semelhantes
a estas. E dizia-lhes: Bem invalidais o mandamento de Deus para guardardes a
vossa tradição. invalidando, assim, a palavra de Deus pela vossa tradição, que
vós ordenastes. E muitas coisas fazeis semelhantes a estas” (Mc 7:8-10,13).
A maioria dos líderes revolucionários se
desfaz de todas as ligações com o passado e repudiam a ordem tradicional em
questão, mas o Senhor Jesus Cristo não. Ele sustentou a lei de Moisés e
insistiu em que ela tinha de ser cumprida.
Jesus não veio para revogar a Lei ou os
profetas, mas para cumprir. Ele deixou bem claro que nem um “jota” ou um “til”
jamais passará da Lei, até que tudo se cumpra. O “jota” é a menor letra do
alfabeto hebraico; ocupa a metade da linha na escrita, é a décima letra e se
chama iode; o “til” é um pequeno
sinal diacrítico que serve para distinguir uma letra da outra. Jesus acreditava
na inspiração literal da Bíblia, mesmo que fosse aparentemente um detalhe
insignificante. Nada nas Escrituras, mesmo o menor “til”, existe sem
significado.
“...
até que o céu e a terra passem...”. Jesus não só cumpriu a lei, mas “até que o
céu e a terra passem” (significando até o fim do mundo) a lei não será
modificada. Nem um jota ou um til se omitirá da lei, nem o menor traço de uma
pena será colocado ao lado da lei de Deus. A afirmação de Jesus certifica a
absoluta autoridade de cada palavra e letra da Escritura. Tudo o que foi
profetizado na lei de Deus será cumprido, e os seus propósitos serão
alcançados. Tudo se cumprirá.
E Jesus continua dizendo:
“Qualquer, pois, que violar um destes
menores mandamentos e assim ensinar aos homens será chamado o menor no Reino
dos céus; aquele, porém, que os cumprir e ensinar será chamado grande no Reino
dos céus “(Mt 5:19).
Notamos que Jesus antecipou uma tendência
natural das pessoas de abrandar os mandamentos de Deus. As pessoas tendem a
atenuar, racionalizar os significados. Mas aquele, pois, que violar um destes
mandamentos, e ensinar outras pessoas a fazerem o mesmo, será considerado o menor no reino dos céus. O espantoso é
que tais pessoas são permitidas no reino, mas devemos lembrar que a entrada no
reino é determinada por sua obediência e fidelidade enquanto estiver na terra.
Como a Lei e os Profetas apontam na direção
de Jesus e dos seus ensinos, aquele que
os cumprir e ensinar será chamado grande no Reino dos céus. Aqueles que
tratarem qualquer parte da Lei como “pequena” e, portanto, passível de ser
infringida, serão chamados de “menores” e, provavelmente excluídos. Jesus
explicou aos seus discípulos que os homens responsáveis pela transmissão da
mensagem deveriam viver e ensinar cuidadosamente, levando em consideração a importância
da Palavra de Deus, se quiserem realizar grandes conquistas para Ele.
IV. A LEI E O EVANGELHO
A lei não foi dada como meio de salvação (At
13:39; Gl 2:16,21; 3:11), mas com a intenção de mostrar ao povo sua
pecaminosidade (Rm 3:20b; 5:20; 7:7; 1Co 15:56; Gl 3:19) e então encaminhá-lo a
Deus para a graciosa salvação oferecida por ele. Foi dada à nação de Israel,
apesar de conter princípios morais válidos para o povo de qualquer época (Rm
2:14,15). Deus testou Israel sob a lei como um exemplo da raça humana, e a
culpa de Israel provou a culpa do mundo (Rm 3:19).
A lei tinha atrelada a ela a penalidade da
morte (Gl 3:10); e a quebra de um mandamento tornava o homem culpado de todos
(Tg 2:10), já que as pessoas tinham quebrado a lei, estavam sob pena de morte.
A retidão e a santidade de Deus exigiam que a penalidade fosse paga. Foi por
essa razão que Jesus veio ao mundo: para pagar a penalidade por meio da sua
morte. Ele morreu como substituto para os transgressores da lei, apesar de ele
mesmo não ser transgressor. Ele não deixou a lei de lado; pelo contrário,
preencheu todas as exigências da lei cumprindo os mais rígidos requisitos
mediante sua vida e morte. Assim, o evangelho não derruba a lei, mas a
sustenta, e mostra como as exigências da lei foram totalmente satisfeitas pela
obra redentora de Cristo.
Portanto, a pessoa que confia em Jesus não
está mais sob a lei, está sob a graça (Rm 6:14). Ela está morta para lei por
intermédio da obra de Cristo. A penalidade da lei deve ser paga uma única vez;
já que Cristo pagou a pena, o crente não precisa pagá-la. É nesse sentido que a
lei perdeu o brilho para o crente (2Co 3:7-11). A lei era um preceptor até a
chegada de Cristo, mas, após a salvação, esse preceptor não é mais necessário
(Gl 3:20,25).
No entanto, enquanto o crente não está sob a
lei, isso não significa que ele está sem lei. Ele está atado por uma corrente
mais forte que a lei, pois ele está sob a lei de Cristo (1Co 9:21). Seu
comportamento está moldado não por temor à punição, mas por um desejo de agradar
o Salvador. Cristo se tornou a lei da sua vida (João 13:15; 15:12; Ef 5:1,2;
1João 2:6; 3:16).
Uma pergunta comum numa discussão quanto à
atitude do crente para com a lei é: “Devo
obedecer aos Dez Mandamentos?”. A resposta é que certos princípios contidos
na lei são de relevância duradoura. Sempre foi errado roubar, cobiçar ou
assassinar. Nove dos Dez Mandamentos são repetidos no Novo Testamento, com uma
distinção importante: não foram dados como lei (atrelados a uma penalidade),
mas como treinamento para a justiça ao povo de Deus (2Tm 3:16b). O único
mandamento não repetido é o preceito do sábado; os crentes nunca são ensinados
a guardar o sábado (isto é, o sétimo dia da semana – sábado).
O ministério da lei para os que não são
salvos ainda não cessou: “Sabemos, porém,
que a lei é boa, se alguém dela se utiliza de modo legítimo” (1Tm 1:8). E
seu uso legítimo é produzir o conhecimento do pecado e, assim, levar ao
entendimento. Mas a lei não é para os que já são salvos: “não se promulga lei para quem é justo” (1Tm 1:9).
A justiça exigida pela lei é cumprida
naqueles “que não andam segundo a carne, mas segundo o Espírito” (Rm 8:4). De
fato, os ensinamentos do Senhor no sermão do Monte estabeleceram um padrão mais
elevado que o estabelecido pela lei. Por exemplo, a lei disse: “Não matarás”.
Jesus, porém, disse: “Nem mesmo irai-vos”. Portanto, o sermão do Monte não
apenas sustenta a lei e os profetas, mas os intensifica e os conduz implicações
mais intensas (2) .
CONCLUSÃO
O nosso Senhor resumiu toda a lei ao dizer que o seu objetivo é levar os homens à plenitude do amor. Portanto, quer cumprir a Lei de Deus de todo coração? Ame! Contra o amor não há lei. Por quê? O amor é o cumprimento da lei. Em vez de decorarmos uma lista de "pode não pode", devemos fazer tudo baseado no amor divino, então cumpriremos a lei de Deus na íntegra. Disse o apóstolo Paulo: “... tudo nesta palavra se resume: Amarás ao teu próximo como a ti mesmo. O amor não faz mal ao próximo; de sorte que o cumprimento da lei é o amor" (Rm 13:9,10).
ebdweb
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