Texto Base: 2 Reis 5.1-10,14,25-27
“Então, desceu e mergulhou no Jor dão sete vezes, conforme a palavra do homem de Deus; e a sua carne tornou, como a carne de um menino, e ficou purificado” (2Rs.5:14).
V.P.: “Deus não opera milagres necessariamente segundo nossas expectativas. Ele faz da forma e no momento que lhe apraz”.
2 Reis 5:
1.E Naamã, chefe do exército do rei da Síria, era um grande homem diante do seu senhor e de muito respeito; porque por ele o SENHOR dera livramento aos siros; e era este varão homem valoroso, porém leproso.
2.E saíram tropas da Síria e da terra de Israel levaram presa uma menina, que ficou ao serviço da mulher de Naamã
3.E disse esta à sua senhora: Tomara que o meu senhor estivesse diante do profeta que está em Samaria; ele o restauraria da sua lepra.
4.Então, entrou Naamã e o notificou a seu senhor, dizendo: Assim e assim falou a menina que é da terra de Israel
5.Então, disse o rei da Siria: Vai, anda, e enviarei uma carta ao rei de Israel. E foi e tomou na sua mão dez talentos de prata, e seis mil siclos de ouro, e dez mudas de vestes.
6.E levou a carta ao rei de Israel. dizendo: Logo, em chegando a ti esta carta, saibas que eu te enviei Naamã, meu servo, para que o restaures da sua lepra.
7.E sucedeu que, lendo o rei de Israel a carta, rasgou as suas vestes e disse: Sou eu Deus, para matar e para vivificar, para que este envie a mim, para eu restaurar a um homem da sua lepra? Pelo que deveras notai, peço-vos, e vede que busca ocasião contra mim.
8.Sucedeu, porém, que, ouvindo Eliseu, homem de Deus, que o rei de Israel rasgara as suas vestes, mandou dizer ao rei: Por que rasgaste as tuas vestes? Deixa-o vir a mim, e saberá que há profeta em Israel
9.Veio, pois, Naamã com os seus cavalos e com o seu carro e parou d porta da casa de Eliseu.
10.Então, Eliseu lhe mandou um mensageiro, dizendo: Vai, e lava-te sete vezes no Jordão, e a tua carne te tornará, e ficarás purificado.
14.Então, desceu e mergulhou no Jordão sete vezes, conforme a palavra do homem de Deus; e a sua carne tornou, como a carne de um menino, e ficou purificado.
25.Então, ele entrou e pôs-se diante de seu senhor. E disse-lhe Eliseu: De onde vens, Geazi? E disse: Teu servo não foi nem a uma nem a outra parte.
26.Porém ele lhe disse: Porventura, não foi contigo o meu coração, quando aquele homem voltou de sobre o seu carro, a encontrar-te? Era isso ocasião para tomares prata e para tomares vestes, e olivais, e vinhas, e ovelhas, e bois, e servos, e servas?
27.Portanto, a lepra de Naamã se pegará a ti e à tua semente para sempre. Então, saiu de diante dele leproso, branco como a neve.
INTRODUÇÃO
Nesta Aula trataremos de Naamã e sua cura miraculosa. Ele era um ministro do alto escalão do governo da Síria, cuja capital era Damasco. A sua cura miraculosa ocorreu pela instrumentalidade de Eliseu, por meio de um método inusitado. Naamã possuía diversas qualidades -“chefe do exército do rei da síria, grande homem diante do seu rei e de muito respeito, o Senhor Deus dera livramento aos siros (foi usado por Deus), homem valoroso” (2Rs.5:1). Naamã tinha tudo, era influente e qualificado, mas havia um “porém”: era leproso (2Rs.5:1). Ser leproso significava viver à margem da sociedade, significava um futuro incerto e uma morte iminente, significava não ter nada. O que adianta ter tudo na vida e não ter nada? O que adianta conquistar o mundo inteiro e não ter esperança nenhuma, não ter uma vida normal com saúde e paz interior? O que adianta ter tudo na vida se essa pessoa caminha a passos largos para a morte iminente?
Nesta vida, a pessoa pode ser a mais importante do meio em que vive, pode ser a mais rica e influente, pode ser a mais bela, pode conquistar todos os óscares de melhor ator, pode ter conquistado o Nobel pela mais impressionante experiência científica, pode ser o mais destacado desportista, há sempre nessa pessoa um “porém”; havia um na vida de Naamã, mas Deus operou um grande milagre na vida dele, mas para o milagre acontecer havia uma condição: despir-se da soberba. Quando isto foi tirado e obedeceu à Palavra e Deus, o milagre aconteceu, não somente em seu corpo físico, também na alma! Certamente, este foi o maior milagre; pois, “que aproveita ao homem ganhar o mundo inteiro e perder a sua alma?” (Mc.8:36).
1. NAAMĀ, O CHEFE DO EXÉRCITO SÍRIO
1. Naamã, um comandante honrado
Naamã era um comandante da Síria admirado e respeitado por todos devido às suas muitas vitórias em batalhas. Esse destacado general havia conquistado tudo que desejava, porém havia perdido aquilo que mais prezava: sua saúde física. Ele era leproso e isto afetava a sua integridade, o convívio com a família amada e o deixava deprimido.
Naquela época, a lepra era o mal mais temido; não havia remédio para combater esse terrível mal. Essa doença afastava a pessoa do convívio familiar, dos amigos, da sociedade, de qualquer relacionamento pessoal. Essa doença espoliava qualquer ânimo de iniciativa de vida, despia a pessoa de qualquer esperança, só a morte era certa. A pessoa contaminada era obrigada a viver fora da cidade, e seus bens com os quais teve contato, e até mesmo a casa onde morava, deveriam ser destruídos e queimados, e quando avistasse qualquer pessoa deveria gritar: imundo, imundo! Essa era a situação de Naamã.
Não somente a lepra do corpo físico dominava Naamã, mas também a lepra do homem interior. Existia nele um terrível mal: a soberba. A Bíblia diz que a “soberba precede a ruína” (Pv.16:18). A única maneira de Naamã suplantar aquele mal era eliminar primeiramente a soberba que dominava todo o seu interior. Quando isso aconteceu, Deus operou milagrosamente em sua vida. É isso o que pode acontecer em qualquer ser humano.
2. A escrava, uma testemunha de Deus
O problema de Naamã era humanamente insolúvel, a morte se aproximava velozmente. Certamente, Naamã procurou a ajuda de seu deus sírio Baal-zebube, porém, esse falso e impotente deus não podia cuidar nem de si próprio, pois era apenas uma imaginação do ser humano. Só existia uma solução para o problema de Naamã: exercitar sua fé no Deus vivo e poderoso, no Deus de Israel, pois só Ele é o dono da vida, é o Criador da vida, é o Todo – Poderoso Senhor dos céus e da terra, só Ele é a solução para os problemas humanamente insolúveis. Mas quem iria abrir a porta da esperança para este grande general? Quem iria despertar a fé em Naamã no Deus vivo, único e verdadeiro? No Deus de Israel? A porta da esperança viria do meio mais improvável: uma escrava israelita, uma menina aparentemente sem nenhuma credibilidade.
Naamã havia conquistado tudo que desejava, porém havia perdido aquilo que mais prezava: sua saúde física; tornara-se leproso. A menina israelita, por sua vez, perdera tudo que mais amava, porém manteve saudável a sua fé. Apesar da indignação de ser raptada, de perder o contato com a sua amada família, de ser reduzida à vil escravidão, de perder a sua infância, de ter de servir a um tirano, inimigo de seu povo, e pior ainda, um leproso, apesar de tudo isso manteve firme sua confiança em Deus, mostrou-se disposta a testemunhar sua fé naquele ambiente hostil, oferecendo uma benção àquele que a ofendeu. Pregou ela: “tomara o meu senhor estivesse diante do profeta que está em Samaria; ele o restauraria da sua lepra” (2Rs.5:3).
A atitude e a fé dessa menina israelita nos dão a seguinte lição: nem sempre o ambiente onde vivemos, estudamos e trabalhamos vem a ser aquilo que gostaríamos, mas nunca deixará de ser um lugar de oportunidade onde nossa fé, mesmo com lágrimas, poderá ser semeada e mudanças alegres poderão ser colhidas (veja Salmo 126:6).
3. A caravana de Naamã
As boas novas de possibilidade de cura de Naamã logo se espalharam, chegando até ao trono do rei da Síria, Ben-Hadade. Aquele reino próspero e poderoso nada podia fazer em benefício de seu herói, mas o “fraco” reino de Israel, por ele saqueado, possuía homens de Deus com dons de cura. O opressor agora dependia do oprimido, o forte precisava do fraco, e dessa forma o nome de Deus seria exaltado entre as nações.
Entretanto, a burocracia distorceu a mensagem daquela menina mensageira. Ela dissera que havia um homem de Deus em Samaria, mas o comandante do exército e o rei da Síria entenderam que era o rei de Israel quem promoveria tal cura (cf. 2Reis 5:6). Em vez de verem a qualidade do “homem de Deus”, preferiram confiar em títulos e posições. Quantos não agem deste modo em nossos dias? A burocracia eclesiástica está aí distorcendo a simplicidade da mensagem do evangelho. O rei Jorão, rei de Israel, era apóstata; não possuía nenhuma autoridade espiritual e moral, apesar de estar pastor do povo de Israel.
Ben-Hadade enviou seu general favorito ao rei de Israel, com uma grande comitiva, um batalhão fortemente armado e uma considerável fortuna, a fim de encorajar a cooperação do rei Jorão: “encontrar o tal profeta milagroso”. Naamã levou à presença do rei Jorão, como retribuição à sua petição, a exorbitante quantia de 10 talentos de prata (350 kg), 6.000 siclos de ouro (68 kg) e dez vestes festivais (trajes de luxo adornados com pedras preciosas). Certamente uma parte daquele tesouro caberia ao profeta que o curasse.
A abordagem de Naamã foi direta e honesta, mas o rei de Israel interpretou mal aquele pedido, confundindo com um pretexto para provocar uma nova guerra (cf. 2Rs.5:7). Sua cegueira espiritual o impedia de enxergar a grande oportunidade que Deus havia proporcionado. Imaginem a repercussão internacional que seu reino poderia obter se o grande Naamã fosse socorrido pelo Deus de Israel? O rei Jorão sabia que Eliseu tinha esse poder, mas a idolatria que maculava sua alma o impedia de raciocinar com clareza.
II. O MERGULHO NO RIO JORDÃO
1. Eliseu não se impressionou com a pompa
Quando o rei de Israel acabou de ler a carta do rei da Síria, rasgou as suas roupas em sinal de medo e disse: “Por acaso sou Deus, com poder de tirar a vida ou dá-la, para que este envie a mim um homem para eu curá-lo de sua lepra? Como vocês podem notar e ver, ele está procurando um pretexto contra mim” (2Rs.5:7). Mas, quando Eliseu, homem de Deus, soube da reação de Jorão repreendeu a sua estupidez e sua incredulidade: “por que rasgastes as tuas vestes? Deixa-o vir a mim e saberá que há profeta em Israel” (2Rs.5:8). Eliseu se prontificou a receber Naamã. Não havia poder no palácio, pois todos ali eram idólatras; mas, havia um profeta de Deus em Israel com poder para purificar o comandante sírio e restaurá-lo.
Levaram, pois, o leproso Naamã à casa do profeta; certamente, com toda a sua pompa de autoridade. Porém, Eliseu desprezou isso, e não conversou com Naamã pessoalmente; apenas enviou um mensageiro com as instruções do que Naamã deveria fazer para ser curado de sua doença (2Rs.5:10); se ele obedecesse ao que foi prescrito, seria curado. Eliseu prescreveu que Naamã se lavasse sete vezes no rio Jordão. Eliseu mandou Naamã agir assim como uma simples demonstração de humildade e obediência. O general orgulhoso precisava entender que a cura jamais viria pela ação humana ou por meios naturais; ela viria, sim, milagrosamente, pela graça e pelo poder de Deus. Porém, era necessário se humilhar e obedecer à palavra do profeta de Deus. É claro que Naamã se recusou atender a receita de Eliseu; para ele isso era uma verdadeira humilhação (cf.2Rs.5:11,12). O orgulho e a desobediência não levam a coisa nenhuma!
2. A decepção e a cura de Naamã
Naamã esperava um modo mais solene e chamativo de cura; ele esperava que o profeta o recebesse com honras e que lhe tocasse com as mãos, mas a ordem foi de mergulhar sete vezes nas águas turvas do rio Jordão. A decepção de Naamã foi evidente (2Rs.5:11,12). Indignado, afirmou que as águas de sua terra nativa, Damasco, eram melhores do que as do Jordão. Percebe-se sem dificuldade que Naamã sofria de duas enfermidades: orgulho e lepra. A primeira precisava de cura tanto quanto a segunda.
Por fim, seus oficiais o persuadiram a obedecer ao profeta em algo tão simples (2Rs.5:13) – “Então os seus oficiais se aproximaram e lhe disseram: meu pai, se o profeta tivesse dito alguma coisa difícil, por acaso o senhor não faria? Muito mais agora que ele apenas disse: ‘lave-se e você ficará limpo”. Então Naamã desceu e mergulhou no Jordão sete vezes, conforme a palavra do homem de Deus, e a sua pele se tornou como a pele de uma criança, ficou totalmente limpo” (2Rs.5:14). Mas, para que isso acontecesse, Naamã teve de descer da carruagem do orgulho e obedecesse a palavra do homem de Deus. Como alguém bem disse: ”Ele engoliu o orgulho, e a lepra o deixou”.
Perante Deus não há lugar para soberba; Naamã precisava aprender esta lição. Se alguém busca uma bênção de Deus, que a busque com humildade e fé, ou nada receberá – “pois todo aquele que se exalta será humilhado, e o que se humilha será exaltado” (Lc.14:11).
3. Deus ainda opera milagres, e não misticismos
Eliseu prescreveu 07(sete) mergulhos do rio Jordão (2Rs.5:14). Por que sete e não outro número? A Bíblia não diz. Segundo os estudiosos, o número sete, que Eliseu usou, representa a perfeição de Deus na simbologia hebraica. Concordo com o pr. Claiton quando afirma que “tal fato não nos dá o direito de usar uma forma de numerologia em nossos cultos ou campanhas intermináveis. Podemos e devemos invocar as bênçãos de Deus, pois esperamos o seu agir milagroso. Onde Ele age não é preciso numerologia ou superstição, pois o poder de Deus está acima de tudo isso”.
Hoje, infelizmente, existem muitas formas de superstições em muitas das chamadas denominações evangélicas; e, individualmente, de modo consciente, ou não, muitos evangélicos estão praticando diversas formas de superstição. Isto é ruim! É sinal de que a Palavra de Deus não está sendo ensinada de forma satisfatória. Quem conhece e vive de acordo com a Bíblia Sagrada não pode deixar-se envolver por superstições. Contudo, ao que parece, existe, no momento, muito “fogo estranho” no altar.
-Hoje, fala-se em “fogueira santa”. Para que orar se bastará escrever nossos “problemas” numa folha de papel, e mediante uma oferta à altura do problema que se pretende resolver, queimá-lo no altar do “deus” fogo? Isto desvia o povo, privando-o da comunhão com Deus. Em lugar de Deus, usa-se o fogo. Isto é idolatria. Este foi e continua sendo um meio usado por Satanás para tornar o homem independente de Deus. Por que Deus, se o fogo pode resolver meus problemas, somente às custas de um “sacrifício” financeiro? Isto é superstição, e exploração! Dirão alguns: o fogo é usado, apenas, como ponto de contato no sentido de fortalecer a fé. Porém, nós entendemos que o nosso ponto de contato que nos liga a Deus é Jesus. Somente Jesus! Ele é o único mediador entre Deus e os homens (1Tm.2:5), o ponto de contato entre o homem e Deus.
-Fala-se em “benzimento” de água. Na atualidade, à semelhança da Igreja Católica, algumas Denominações Evangélicas estão “benzendo” copos com água. Isto é superstição! No futuro construirão o “Altar da Água Santa”. Todo problema relativo ao pecado será resolvido com a purificação da água santa do altar; isto é Satanás substituindo a purificação “pelo sangue”. Isto é idolatria! Nesse sentido, o Hinduísmo foi mais arrojado – “santificou” um rio inteiro – basta banhar-se no rio Ganges e estará purificado, segundo creem esses idólatras.
-Fala-se em “sacrifício” do Boi. Hoje, segundo se ouve dizer, estão exigindo o sacrifício do segundo boi de Gideão (Juízes 6:25). Segundo afirmam, se alguém possui dois imóveis, então deve doar o segundo à Igreja. Assim sucessivamente. Este é o sacrifício do segundo boi do pai de Gideão. Isto é superstição! Amanhã, talvez construam um altar ao boi, onde os sacrifícios serão oferecidos. Isto é abominável!
-Fala-se no poder da oração feita no Monte. Hoje, há quem pense que a oração feita nos montes é mais poderosa que as feitas em nossos templos. Isto é superstição! Amanhã, talvez, construirão altares nos cumes dos montes. Isto é pura superstição! Israel, quando se entregou à idolatria dos pagãos, também agia assim; cria-se em “deuses” que eram fortes nos altos e em deuses que eram fortes nas “planícies”; construíam, também, seus altares, nos altos.
-Fala-se em outras “aberrações” doutrinárias. É claro que seria cansativo enumerar, comentar sobre tantas crendices, baboseiras antibíblicas, superstições que estão sendo utilizadas para enganar os incautos. Tais como: “dia do descarrego”, “meia-noite de libertação”, “noite da quebra de feitiços”, “dia do óleo santo de Israel”; “corrente dos empresários”, “culto da sexta-feira 13”, “sexta feira forte”, “shampoo sagrado”, “vale do sal”, “manto sagrado”, “campanha dos 318 de Abraão”, e outras aberrações.
Podemos e devemos invocar o agir de Deus sem precisar utilizar-se dessas superstições citadas. Como bem disse o pr. Claiton, “onde Ele age não é preciso numerologia ou superstição, pois o poder de Deus está acima de tudo isso. E mesmo que não haja um milagre visível, Ele está agindo, pois a fé é confiar nEle, mesmo quando as coisas não acontecem do nosso jeito (Hb.11:13). Não por acaso, Jesus disse que “muitos leprosos haviam em Israel no tempo do profeta Eliseu, e nenhum deles foi purificado, senão Naamã, o siro” (Lc.4:27)”.
III. GEAZI É ACOMETIDO DA LEPRA
1. A rejeição dos presentes
Após a sua cura física e sentimental, a transformação na vida de Naamã foi completa - Deus mudou-lhe o exterior e o interior, e fez dele um novo homem. Disse Naamã: “eis que tenho conhecido que em toda a terra não há Deus, senão em Israel” (2Rs.5:15). Com gratidão, voltou a Eliseu a fim de recompensá-lo com uma grande fortuna pela bênção recebida (2Rs.5:15). O profeta alegrou-se, não pela fortuna que lhe foi oferecida, mas pela preciosidade de uma vida transformada e agora consagrada ao verdadeiro Deus. Eliseu sabia que aquele milagre não era obra dele e, sim, de Deus. Apesar de ser uma pessoa humilde e que tinha uma escola de profetas para manter, ele sabia que seria um erro terrível receber aquela recompensa. Eliseu achava injusto tirar proveito daquilo que Deus fizera através dele. Então, ele disse: “vive o Senhor, em cuja presença estou, que a não tomarei. E instou com ele para que a tomasse, mas ele recusou” (2Rs.5:16). A cura de Naamã foi um ato misericordioso de Deus, e que nenhuma soma de dinheiro poderia retribuir. Deus não atende os necessitados por um preço estipulado; se assim fosse, somente seria atendido quem pudesse pagar.
Naamã, agora, propôs servir somente a Deus por toda sua vida; disse ele a Eliseu: ”nunca mais oferecerá este teu servo holocausto nem sacrifício a outros deuses, senão ao Senhor” (ler 2Rs.5:17). A restauração espiritual jamais se fará se os instrumentos usados por Deus neste ministério cederem à tentação do vil metal, passarem a amar o dinheiro, a raiz de toda a espécie de males (1Tm.6:10). O amor do dinheiro promove a apostasia. Como, pois, poderemos combatê-la se não fugirmos destas coisas e seguirmos a justiça, a piedade, a fé, a caridade, a paciência e a mansidão (1Tm.6:11)?
2. Homens de Deus não se deixam vender
Naamã se converteu ao Deus de Israel e desejou recompensar Eliseu. O profeta, contudo, não aceitou nenhum presente dele (2Rs.5:16) - “Tão certo como vive o Senhor, em cuja presença estou, não aceitarei nada. Naamã insistiu com ele para que aceitasse, mas ele recusou”. A atitude de Eliseu ao recusar o presente de Naamã revela que os verdadeiros servos de Deus não negociam milagres e curas do Senhor por presentes ou favores humanos.
O comandante sírio obteve permissão para levar uma carga de terra em duas mulas de volta para sua terra natal a fim de poder adorar ao Deus verdadeiro na terra deslocada de Israel (2Rs.5:17) – “Então Naamã disse: se você não quer, então peço que seja permitido a este seu servo levar duas mulas carregadas de terra; porque este seu servo nunca mais oferecerá holocausto nem sacrifício a outros deuses, a não ser ao Senhor”.
Naamã exercitou sua fé, mesmo com o preconceito arraigado em seu coração, mesmo com a decepção na corte do rei Jorão, mesmo não entendendo a lógica do profeta, e agora, depois de curado, exercitou mais uma vez a sua fé na convicção de que o “Deus de Israel” o acompanharia de volta a seu país (2Rs.5:17).
3. Por ganância, Geazi é acometido da lepra (2Rs.5:21-24)
Geazi, estudante de teologia, servo de Eliseu, talvez cotado para suceder o seu mestre, não resistiu à tentação das riquezas materiais e tomou alguns bens do general sírio. Ele tinha um coração cobiçoso e, daí, intentou desvirtuar o ato gracioso de Deus, visando proveito próprio material. Nas suas transgressões, ele traiu Eliseu, mentiu a Naamã e a Eliseu, e desonrou o nome de Deus (2Rs.5:26). Assim sendo, Geazi abandonou a fé em Deus. Por causa da cobiça pelos bens terrenos ele foi julgado por Deus: ficou leproso durante toda a sua vida (2Rs.5:27). O apóstolo Paulo exortou a Timóteo da seguinte maneira: “Porque o amor do dinheiro é a raiz de toda espécie de males; e nessa cobiça alguns se desviaram da fé e se traspassaram a si mesmos com muitas dores” (1Tm.6:10).
Geazi é o tipo de obreiro materialista, mercenário. Ele apostatou-se da fé, trocou o Senhor pelo dinheiro, Deus por Mamom. Geazi engendrou um plano diabólico para tirar o máximo proveito daquela situação. Certamente o fascínio do lucro fácil causou um desequilíbrio na mente daquele cobiçoso discípulo, a ponto de usar o santo nome de Deus para justificar sua cobiça. Disse ele: “tão certo como vive o Senhor, hei de correr atrás dele e receberei alguma coisa” (2Rs.5:20). Aproveitando-se da euforia e da boa fé do novo convertido Naamã, usou o nome do profeta, inventando a chegada de novos hóspedes como pretexto para ganhar um pouco do que Eliseu recusou. E, como um pecado chama outro pecado, o jeito foi continuar mentindo para acobertar o seu deslize. Mas de Deus não se esconde nada. Deus fez com que Eliseu soubesse de tudo por meio de uma visão (2Rs.5:26). Geazi, embora conhecesse bem de perto os prodígios do Senhor, em lugar de exercitar, abandonou a sua fé, trocando o sustento de Deus por um modo “mais fácil” de prover o seu conforto.
Veja como são as coisas, um pagão estrangeiro foi curado, pela nobreza de sua fé, enquanto um israelita, um estudante de teologia, tomou o lugar do pagão, para a desonra de sua fé. Assim como Acã, Ananias e Safira, Judas Iscariotes, Geazi também vendeu sua alma por prazeres efêmeros. A cobiça desse jovem só lhe trouxe maldição, pois com a prata que surrupiou de Naamã, herdou também a lepra que antes era dele (2Rs.5:27). Geazi foi à procura de Naamã em busca de “alguma coisa” e terminou sem “coisa alguma”. Foi em busca de valores materiais, mas perdeu os valores espirituais. É um perigo quando alguém troca o “Ser” pelo “Ter”.
Geazi ficou à margem da sociedade israelita, pois os leprosos não tinham como conviver com os demais israelitas. Não pode haver comunhão entre a luz e as trevas.
CONCLUSÃO
A cura de Naamã constitui uma ilustração clássica do evangelho da graça. A maravilhosa graça de Deus traduz a bondade do Senhor e o seu desejo de favorecer o homem, de ser misericordioso com o ser humano, ainda que o homem não mereça esta benevolência divina, vez que pecou e se rebelou contra o seu Criador. Mas, apesar do pecado, Deus mostra seu amor em relação ao ser humano, por intermédio da sua graça.
Por ter sido comandante do exército sírio, Naamã era inimigo de Deus; humanamente falando, sua situação era desesperadora e impossível de solucionar, pois sofria de lepra. Por ser gentio, era estranho às promessas e à aliança de Deus, e não tinha direito à benção do Senhor (Ef.2:11,12). A graça de Deus, porém, o alcançou e Naamã só teve de se humilhar e agir conforme a instrução do Senhor. Por fim, lavou-se em obediência à Palavra de Deus e se tornou um novo homem com pele e coração renovados.
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Fonte: Luciano de Paula Lourenço
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